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5 . 2 . 2.1 - Neologismos

Celso Cunha j á teria dito que "a palavra está sem-

pre ligada à coisa que designa. Uma coisa nova exige uma de�

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nom1naçao nova , ou ' tendo em vi sta especificamente o nosso caso, uma interpretação nova (com, às vezes,termo novo) , sem­ pre mais expressiva para uma coi sa que necessariamente não é nova.

Darmesteter vê o fenômeno desta maneira:

Q uando a l í ng ua cria s e ntidos novos , da a palavras j a e xis t e n t e s f unç ; e s que lh e s eram até entio de s ­ conh e c idas . Sem pare c er atingir o lé xico, ela faz, na realidade, de s s a palavra uma verdad e ira palavra nova , por is s o qu e com e conomia de s om, da a uma me sma f orma f unç � e s dif e ren t e sBO,

Decorrente de conquistas recentes nas ciências, nas ar­ tes, nas letras, na i ndústria, no comércio, na tecnologia, estamos observando o número considerável de vocábulos que en­ tram em nosso idioma, criados e/ou recriados pela exigência do vertiginoso ritmo do progresso em todos os campos e pela con­ seqüente insuficiência do material lingüístico disponível.

Chamamos neologismos a essas palavras ou expressões no­ vas que se introduzem na língua.

Mário Barreto, dentre as condições para a existência de uma palavra ou expressão nova, destaca duas

[ . • • ] 1) hão <l t; satisfazer uma ne c e s s idade da lí ngua, de s ignando obj e tos, e xpre s sando ideias ou mati­

ze s duma ideia q ue care çam de palavras apropria­ das para s ere m s igni f i cados , 2 ) hão de obs ervar­ s e na s ua formaç ão as l e i s morfo l ó g i cas re l a t i v a s ã e s tru tura das pal avras s impl e s e primitivas e à ç on s tru ç ão das derivadas c ompos tas e j u s tap os tas 8 1.

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são variadas as fontes mais comuns de neologismos: no­ menclatura técnica , importação estrangeira, gíria, sendo que podem também resultar dos processos ordinários, utilizados pelo idioma na formação de vocábulos novos, isto é, da deri­ vaçao e da composição .

Se todos os neologismos têm direito a incorporar-se ao idioma, é coisa difícil de se responder . A história das pala­ vras é muito caprichosa, estando também sujeita a modas pas­ sageiras; sem dúvida, porém, muitas subsistirão . � claro que

há, além dos neologismos de uso geral, as criações indivi­

duais de cada escritor, que é no momento, o que mais nos in­ teressa .

Ana Maria Machado, quando se sente limitada pela norma lingüística, na direção a que se propôs seguir, não hesita em recorrer a quaisquer recursos se estes lhe oferecerem a solução expressiva para traduzir as suas vivênci as e percep­ çoes .

Observamos que a autora, no tratamento que dispensa ao vocabulário, é fiel à sua sensibilidade lingüística e, por isso, tende a contradizer e transformar tudo o que na reali­

zaçao do idioma se oponha à inevitável necessidade de coeren­ cia entre as fórmulas expressivas e as sensações por elas de­ sencadeadas. Atua de forma heterodoxa e revolucionária contra alguns hábitos tradicionais da expressão literária . Porém, todas as suas liberdades estilísticas vêm sempre regidas pela

já mencionada e sutil "consciência lingüística", que lhe dá as condições de "transgredir" quando necessário para atingir os fins propostos sem forçar as leis internas e imanentes do

106 idiom a .

A revolução idiom ática que empreende se baseia em profun­ do conhecim ento da língua, pois só aquele que tem pleno dom í­ nio do material com o qual trabalha pode alcançar os resulta­ dos evidenciados em suas obras .

Para que sua atitude "m otora" em relação ao uso com um chegue a ser tão com partilhada pelo leitor, é necessário tam­ bém toda a sua viva im aginação . Segundo Vossler

[ . , , ] s o 1 o e 1 a r t i s t a d e i n t e n s a f .a n t a s i a e s c a p a .z , d e c r i a r l a e xp r e s i õn q u e t r a d u z ca , s i n f a l s e a r l a , l a o r i g i n a l i d a d d e s u " m en c i Õn " p s í q u i c a . P o r e s o s e e m an c i p a , c u an d o e s p r e c i s o , d e s u co mun i d a d l i n g U Í s t i c a ; p a s a p o r e n c i ma o p o r d eb a j o d e l a s p a l a b r a s , m e d i an t e n o t a s , m e l o d i a s , r i tmo s , c o l o ­ r e s , l Í n e a s , i mâ g e n e s , g e s t o s , d a n z a s , e t c , 82

Ana Maria Machado, sempre que necessário ao em preendi­ mento literário a que se propõe, de acordo com a sua cosm ovi­ são, liberta-se das form as léxicas ou sintáticas consolidadas da língua ou lhes dá tratamento diferencial e peculiar, cri­ ando as formas originais, individuais e diferentes da sua "fa­ la". O valor expressivo e o profundo sentido de seus achados se incorporam naturalmente a "língua" social utilizada nos seus livros .

Ampliando as possibilidades de conceituação do neologis­ m os, nos apegarem os aos termos de ''criação vocabular", não, apenas, obviam ente, no sentido do que é inteiram ente novo, mas

do que é (re) aproveitado ou (re) interpretado tendo corno ba-

se a originalidade e a criatividade.

Senão vejamos o que podem os denom inar de neolo9isrno em Ana Maria Machado, tanto do .ponto de vista tradicional, quan-

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to da arnp li tude de significação ' que lhe podemos emprestar.' '

a - Nomes próprios ao contrário - Meu nome é Aziul - responde ela

* * *

• • . Estes sao meus amigos, Okram e Leafar.

* * *

- De -0nde voe� vem?

- De Osseva - responderá Leafar. Pr 57 O Superirnportante Projeto ZAP. Pr 61 b - Nomes próprios relacionados ao referente

- através de processos morfológicos Lar do Ratol do. R 12

A Sal tibancada Sirnonelli tem a honra de apresentar esta noite • • . Pr 33

Venham ver e ouvir as maravilhas do conjunto Os Viajei­ ros ! Bem 52

- através de processos semânticos Cera Raspa - Sai

Sharnpoo Cuca Fresca. R 13

.. • que aquele gatio nao era Quivira ("o que vira", ora é urna coisa, ora é outra). O 49

Sempre foi A nanse. Acho que na sua língua quer dizer aranha (percebemos isso através da etimologia). O 47

e - Criaç5es vocabulares propriamente ditas, termos nao dicionarizados

108 Acho que esses croco tós aí na cabeça dela • . . (empréstimo de Monteiro Lobato em Viagem ao Céu) . IQ 29

Então, inventou um nome que servia para qualquer coisa.

Era Cusfosfós . Pals 5

d - combinações de partes de palavras

- Minha Bisa v5 . . . Minha Bisa Beatriz . . .

. • . Comecei a pensar nela como minha Bisa Bia . Bisa 11

Bisa Bia Bel (título do livro)

- Isso é verdade - disse Ne ta Be ta. Bisa 48 e - Estrangeirismos

o estrangeirismo provém do desejo, absolutamente legí­ timo e fecundo, de novas criações . Por necessidade ou gosto artístico, o escritor não tendo em seu idioma expressão ade­ quad� vai buscá-la às línguas estrangeiras . Logo, os estran- geirismos não são mais que uma das formas do neologismo.

A adoção dos estrangeirismos é um fenômeno natural que revela a existência duma certa mentalidade comum . Aqueles po­ vos que dependem econômica e/ou intelectualmente de outros, nao podem deixar de incorporar, junto com os produtos e iéêias recebidas, determinadas formas de linguagem que não lhes sao próprias . Até o natural intercâmbio de civilizações favorece isso . O importante é não permitir exageros e limitar essa importação lingüística ao razoável e necessário, para não afetar·a essência do idioma nacional . Tornadas essas providên­ cias, o estrangeirismo traz muitas vantagens: aumenta o poder expressivo das línguas, atenua a diferença dos idiomas, tor­ nando-os mais compreensivos e facilita, por isso mesmo, a co-

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municação das idéias gerais .

Ana Maria Machado também não se vale irrefletidamente de termos estrangeiros, veículos de conceitos novos, mas pondera cuidadosamente sua assimilação dentro do contexto , tornando-os insubstituíveis por palavras da língua portuguesa ou por nao tê- las ou por não serem tão ?dequadas.

Encontramos o estrangeirismo: - conservando sua forma original

. .. incluíssem um tal de playground, assim mesmo com nome em inglês. PU 2

. .. naquele tempo nao tinha spray de matar insetos, . . • Bisa 23

E era uma festa de relâmpagos, luzes, gás neon, raio la­ ser . P 4

- aportuguesando-se

Era cristal verdadeiro, bisotê . Bisa 26

. • . chamava bibelÔ e ela diz que eram tão bonitinhos . Bi­ sa 26

o nome dele era Thomas Huxley, mas a gente pode entender mais se só chamar o homem de professor Tomás . GBP 1

f - significados inusitados para significantes tradicio ­ nais

• • . tinha mos quiteiro. Eu pensei que era uma criação par­ ticular de mosquitos . Bisa 23

- Criado-mudo? . . . Para que é que precisava de um coitado de um mudo para guardar penicos? Bisa 24

110 O quê ? Toucador? Ajeitar a touca na cabeça? Bisa 24

Baba de moça, Isabel . . .

Ai que nojo , Bisa , como é que você tinha coragem? Bi-

sa 25

5 . 2 . 2 . 2 - Efeitos Evocativos

Stephen Ullmann assim coloca a questão:

Mu i ta s pa l avra s devem a s u a expres s ividade e o s eu