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7 7 podia pouco, mas eles eram uma porção, e por isso o tal leão

quase ficou muito louco .

Primeiro foi só um susto, com um zurro do burro.

E com a gaivota, que voou numa cambalhota e lhe jogou uma bolota .

O tico-tico picou com o bico, o tucano bateu com o ca- no .

Ele só ligou um tiquinho para as micagens do miquinho, mas ficou aflito com a cabeçada do cabrito . E, ainda por ci­ ma, aquele zumbido do mosquito . . . Ah, o leão teve um faniqui­ to . Tropeçou todo tonto no túnel do tatu.

Caiu, coitado, com os cascos do cavalo, aos coices . E quase se quebrou com o que aprontou a cabra - que granàe marrada !

Bem que o leão podia ser rei dos animais, mas não agüen­ tava mais.

Foi andando para trás, para trás, para trás . . . e aca­ bou fugindo . Para o lugar de onde tinha vindo .

Num grande abraço, o gato do mato e o cachorro do mor­ ro descobriram uma coisa boa : brigar pode ser útil, mas pra que bri gar à toa?

- Quem está na mesma tem que ser amigo .

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5 . 2 - Recursos Relativos à Estilística Lexical - .

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� necessário que esclareçamos o motivo pelo qual a urna parte de nossa tese que se constitui de itens aparentemente tão diversos, demos o título geral de Estil{stica Lexical .

Não vamos estudar aqui as diferentes opiniões e defini­ çoes de autores sobre os assuntos em questão. Apenas nos po­ sicionaremos em relação ao tratamento dado a esses ternas cu­ jos limites, às vezes, são tão flutuantes.

Ultrapassamos a definição de léxico corno sinônimo de di­ cionário, que seria o conjunto de vocábulos de urna língua. Começamos por um sentido especializado do termo que seria a partê do vocabulário correspondente às palavras, sentido este que se op6e à gramática "porque é a série dos semanternas da língua, visto através da sua integração em palavras"57.

Desse sentido especializado, fornos ampliando nosso campo de observação até chegarmos ao estudo da palavra de forma mais abrangente - a palavra utilizada nas várias modalidades com valor expressivo, sugestivo, encantatório até, despertan­ do uma tonalidade afetiva inesperada, nova ou renovadora.

Segundo Saussure, ao significado intelectivo de toda pa­ lavra, se apóia a função representativa da linguagem. J. Mat­ toso Câmara Jr. nos esclarece:

Um valor representativo des s es nem s empre é bem delimitado e ní tido, pois as palavr as da língua, com os s eus significados , não res ultam de um r a­ cio c í nio homogê neo e cons ciente sobre o mundo das coi s as, mas de uma atividade da inteligência in­ tuitiva, pro curando cons ubs tanc iar experiências par celadas, s em a vis ão de um conj unto. D aí o con­ flito en tre o lé xico us ual e a terminologia cien­ tí fica, onde en t r ou a linha dir etr iz de um pens a­ mento racional5 8

7 9 Trataremos sob a mesma égide - lexical - ocorrências com as palavras utilizando recursos de ordem morfológica , lexical propriamente dita e semântica .

Numa das várias maneiras de se dividir o campo da lin­ gllÍ stica , a lexicologia apresenta uma subdivisão morfológica . e outra semântica , tratando não só das palavras , mas também dos seus componentes .

O critério utilizado para a separação entre os fenôme­ nos é que deve ficar bem esclarecido .

O valor expressivo da palavra, a sua importância como elemento deflagrador de alguma singularidade no texto nos despertou a atenção para caracterizar determinado fenômeno . Sem ·a sua presença aquele texto não seria valorizado , sendo igual a tantos outros. Dai a importância de tal vocábulo e não de outro qualquer colocado aleatoriamente . Acreditamos que haj a uma escolha , intencional ou intuitiva .

Tratamos como lexicais os recursos morfológicos - deri­ vação , composição , flexão , dentre outros - , os baseados no vocabulário português propriamente di to - gírias , neologis­ mos/efeitos evocativos , para citar alguns - e os que chamamos de semânticos . Torna-se oportuno lembrar a relação do vocábu­ lo com o contexto; nenhum dos escolhidos teria a expressivi­ dade desejada tomado isoladamente .

Para selecionar quais os recursos que caberiam na últi­ ma divisão referida acima, nos valemos de certas especifici­ dades .

Inicialmente , partimos da definição mais geral de Semân­ tica que é o estudo dos significados das palavras , para de-

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pois ampliar esse estudo no sentido das relações entre os significados dessas palavras, da integração dessas palavras no pensamento, da manipulação expressiva que se pode obter através de palavras aparentemente banais, do vocabulário co­ mum do dia-a-dia que são mobilizadas visando a certos efei­ tos marcantes, como, por exemplo, decodificações, caracteri­ zações, comparações que veiculem um caráter de excepcionali­ dade, de perplexidade, de sutileza, operando num nível lin­ güístico bastante interessante e original se atentarmos que estamos utilizando o vocabulário comum de uma língua através de combinações tais que propiciem um tipo de linguagem, ins­ tegante uma forma renovadora de comunicação, circunscrita, evidentemente, �s estruturas que dão sustentação ao sistema da �Íngua. A quantidade e diversificação dos elementos de que se utiliza são manipulados de forma correta e em doses adequadas para que não haj a dúvidas na expressão, habi tuando o leitor a passar (até inci tando-o a que se comporte lingüis­ ticamente da mesma maneira) de um nível para outro natural­ mente, ocupando todos os espaços . Sente-se uma hábil pres­ são para que o faça já que essa outra "combinação das pala­ vras" vem embalada de forma bastante atraente. Há um jogo múltiplo e fascinante, onde leitor e autora são cúmplices,

instaurando uma nova (des)ordem de sentido.

Carneiro Ribeiro nos oferece uma idéia bastante ampla e interessante do que podem as palavras."os vocábulos substitu­ em-se em seus sentidos, irrad\am uns para os outros, enca­ deiam-se, penetram-se, usurpam os sentidos uns dos outros, auxiliam-se, irmanam-se, fundem-se, às vezes, na variedade

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