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bEirA intErior Sul

No documento Sabores Rurais Portugal (páginas 124-127)

O território integra ainda o Geopark Naturtejo da Meseta Meridional, o pri‑ meiro geoparque português, que desde 2006 faz parte das Redes Europeia e Glo‑ bal de Geoparques, sob os auspícios da UNESCO.

Património

Gastronómico

A agricultura da região caracteriza‑se pela predominância das culturas permanentes e da policultura, destacando‑se as produ‑ ções de fruticultura e citrinos, olivicultu‑ ra, horticultura, cerealicultura e a criação de ovinos, caprinos e bovinos.

A economia agropastoril predominan‑ te traduz o tipo de propriedades agríco‑ las de grande dimensão que caracterizam Idanha‑a‑Nova, com destaque para as cul‑ turas de regadio e a produção animal. O restante território caracteriza‑se sobretu‑ do por propriedades de pequena dimen‑ são. O setor agroalimentar tradicional está aqui representado por produtos de excelência como a produção certificada de carnes e enchidos, de azeite e de quei‑ jos, bem como por cereais, hortofrutícolas e plantas silvestres.

O consumo tradicional de carne de ca‑ prinos e ovinos não se restringe à alimen‑ tação quotidiana. É considerado como prato obrigatório nos dias de trabalhos agrícolas especiais e refeições que cele‑ bram datas assinaláveis da vida ou da his‑ tória local, nos dias santos dos padroeiros e festas tradicionais ou de família, datas em que era e é de rigor servir refeições melhoradas.

Um dos mais característicos pratos de carne da Beira Interior Sul são os Bo-

relhões, Burulhões ou Burrilhões, fei‑

tos a partir das tripas e bucho da cabra, e os ensopados e assados de cabrito ou borrego.

O Arroz de Fressura, prato típico de Penamacor, consumia‑se principalmente em casamentos. As carnes mais tenras da cabra eram assadas em forno de lenha; as

restantes carnes eram utilizadas na confe‑ ção de ensopado e as fressuras e as miude‑ zas eram refogadas e aproveitadas para a confeção deste arroz, ao qual se juntava, nalgumas freguesias, o sangue guardado aquando da matança.

Do leite de caprinos e ovinos sempre se prepararam excelentes queijos, como o Queijo Amarelo da Beira Baixa, e o Quei‑ jo Picante da Beira Baixa, fabricados à cabreira a partir de leite de ovelha e de cabra, coalho animal, o Queijo de Castelo Branco fabricado à ovelheira a partir de estreme e coalho vegetal.

O queijo queimoso da Beira Baixa não é picante por lhe ser adicionado qualquer tipo de ingrediente (pimentas, picantes, etc.). Essa característica tão apreciada e única é conferida pelo tipo de tratamento e cura. Este queijo apresenta característi‑ cas semelhantes ao queijo certificado pi‑ cante da Beira Baixa.

O concelho de Idanha‑a‑Nova detém a maior reserva de caça do país (50.223 ha). Monfortinho é uma das freguesias prefe‑ ridas pelos caçadores devido à grande di‑ versidade de espécies.

A Feijoada de Lebre de Monfortinho é consumida, desde tempos imemoriais, na época própria de caça desta espécie.

O rio Tejo sempre foi um recurso va‑ lioso de Vila Velha de Ródão ara a ativida‑ de piscatória. O tradicional provérbio das

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gentes de Ródão, “Pescador de cana, fome de esgana”, revela que a pesca à linha era insuficiente para assegurar a sobrevivên‑ cia da família, pelo que os pescadores ti‑ nham de arriscar a vida no rio para ga‑ rantir comida na mesa. Surgiram assim as Sopas ou Migas de Peixe do Rio com

Poejo, acompanhadas de peixe frito, que

continua a ser o prato mais tradicional do concelho de Vila Velha de Ródão.

Este território situa‑se também na área geográfica da produção dos Azeites

da Beira Interior – DOP, integrando o

tipo de Azeite Regional da Beira Baixa, que apresenta uma coloração amarela cla‑ ra levemente esverdeada, com aroma sui

generis e sabor a fruto.

O feijão-frade, sobretudo a espécie de cara verde, é um produto de excelente qualidade sobretudo na freguesia da Lar‑ dosa, concelho de Castelo Branco, devido às condições edafo‑climáticas excecionais daquela zona.

São muitas as plantas silvestres que eram utilizadas na alimentação das po‑ pulações locais, à semelhança do que se passava em muitas outras regiões: as acel‑ gas, os saramagos, as beldroegas, as leitu‑ gas, as merujas, as alabaças, os espargos, agriões e espinafres silvestres, e muitas variedades de cogumelos, sendo os mais consumidos nesta zona os localmente chamados criadilhas e tortulhos.

A acelga é uma planta rica em carote‑ nos e vitamina C, utilizada em receitas tí‑ picas da vila de Penamacor, como as Acel-

gas fritas, o Esparregado de Acelgas ou a

Sopa de Acelgas. Sendo um alimento de grande versatilidade, era também utiliza‑ do como alternativa alimentar em alturas de escassez de couves e outras hortaliças.

A doçaria deste território integra es‑ pecialidades de presença constante como a Tigelada, os Borrachões, o Bolo de Fes‑ ta/Páscoa, os Biscoitos de Azeite, as Bicas e as Papas de Carolo. As Papas de Carolo são um doce tradicional típico de todo o território da Beira Interior Sul, principal‑ mente em Alcains (concelho de Castelo Branco). O milho é moído grosseiramen‑ te, formando uns carolos que são utiliza‑ dos para confecionar uma papa de aspeto semelhante ao arroz‑doce. A quantidade de açúcar é relativamente reduzida, o que o torna um doce saudável, equilibrado e pouco calórico.

Na gastronomia desta região importa salientar os tão apreciados borrachões, tí‑ picos bolos secos confecionados à base de vinho, azeite, açúcar e aguardente.

Sabia que...

Noutros tempos o feijão‑frade era a base de sustento dos agri‑ cultores locais (os solos pobres eram apenas propícios ao cul‑ tivo de feijão‑frade e centeio), sendo inclusivamente utilizado como moeda (“ganhões”) de pagamento aos trabalhadores rurais, a par do toucinho e do centeio.

Sendo um alimento rico em potássio, fibras e proteínas vegetais, comia‑se simplesmen‑ te cozido e temperado com um fio de azeite. As sobras eram utilizadas para confecionar sopa

de feijão-frade, em grandes

panelas de ferro, que lhe confe‑ riam melhor sabor. Para apurar o aroma, incluía‑se uma rama de cebola na preparação do caldo.

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entradas

Acelgas

fritas

INGREDIENTES

Caules de acelgas Azeite Sal Para a polme: Ovo Farinha Água

PREPARAÇÃO

Lavam‑se bem os caules das acelgas e levam‑se a cozer em água e sal.

Escorrem‑se muito bem e envolvem‑se num polme feito com ovo, farinha é água.

Levam‑se a fritar em azeite.

SUGESTÃO

As folhas das acelgas podem ser aprovei‑ tadas para fazer esparregado.

RITOS E HÁBITOS

As Acelgas fritas eram consumidas tradi‑ cionalmente na segunda‑feira seguinte ao dia de Páscoa. Nesse dia as pessoas pre‑ paravam diversas iguarias que levavam à Ermida de Nossa Senhora do Incenso (Penamacor) onde, entre os respetivos festejos religiosos, comiam as suas meren‑ das. Entre essas iguarias estavam pastéis e pataniscas de bacalhau, ovos verdes ou omeleta de ovos com salsa, galinha corada e doces como as filhós de forma, o pão de ló e o bolo escuro de canela. Atualmen‑ te estes cozinhados quase desapareceram dos costumes alimentares desta festa e poucas são as pessoas que ainda levam merenda.

sopas

Sopa de Feijão-frade

INGREDIENTES

Feijão-frade (pequeno) Batatas Couve

Cebola (com a rama verde) Azeite

Água Sal

PREPARAÇÃO

Coloca‑se o feijão a cozer em água tem‑ perada com sal e com cebola cortada, in‑ cluindo a rama.

Quando o feijão estiver quase cozido, acrescentam‑se as batatas cortadas aos quadradinhos e deixam‑se cozer.

Quando estas estiverem quase cozidas, juntam‑se as couves cortadas de forma grosseira e rega‑se com azeite. Mantém‑ ‑se a cozedura até tudo estar macio.

Sabia que...

Na atualidade, este prato quase desapareceu dos hábitos alimen‑ tares diários, sendo‑lhe atribuído pouco valor, sobretudo entre os mais novos. Contudo, a Junta de Freguesia da Lardosa tem vindo a tentar recuperar a imagem do feijão‑frade como produto tradicional de prestígio. Para tal, realiza há vários anos a Feira do Feijão‑Frade, que tem consegui‑ do atrair centenas de visitantes à região.

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peixe

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