Ao nível do património edificado, no concelho das Guarda, destacam‑se o Castro histórico do Jarmelo, a Anta de Pêra do Moço, a Torre de Menagem, não esquecendo a venerável Sé catedral. A re‑ cente classificação da janela manuelina existente nesta cidade assume inequívoca atratividade para o território. No Sabugal, sobressaem os cinco castelos e pelouri‑ nhos do concelho, a Aldeia Histórica de Sortelha e numerosas estações arqueoló‑ gicas, como a de Sabugal Velho, na fre‑ guesia de Aldeia Velha e Caria Talaya, na freguesia de Ruvina.
Este território é ainda cenário de gran‑ des tradições, como a capeia, festa brava em que o touro é lidado com “forcão”, re‑ alizada nas aldeias raianas do concelho de Sabugal, elevada recentemente à catego‑ ria de património cultural imaterial.
No artesanato, a riqueza do território continua viva na cestaria de Gonçalo e no cobertor de papa de Maçainhas, no conce‑ lho da Guarda, onde se encontra a última fábrica do país que ainda produz estes co‑ bertores de lã de ovelha, com o seu carac‑ terístico pêlo comprido e riscas coloridas.
Património
Gastronómico
Este território apresenta valores faunís‑ ticos e florísticos ímpares, a que se asso‑ ciam produtos regionais com processos ancestrais de fabrico.
O clima frio e a presença tradicional de lareiras propiciam a confeção de pratos assados na brasa, em especial os pratos de borrego e de cabrito.
Quer o borrego quer o cabrito são oriundos de rebanhos locais, cujo pasto‑ reio é feito em regime extensivo (utilizan‑ do técnicas tradicionais), o que se reflete na qualidade da carne, que é tenra e mui‑ to saborosa.
Da atividade da pastorícia resulta ainda a produção de queijos com espe‑ cial relevância para o Queijo de Cabra da Serra da Malcata, abundante em fregue‑ sias como Fóios e Vale de Espinho, bem como o Queijo Serra da Estrela – DOP e o Requeijão Serra da Estrela – DOP presente em diversas freguesias do conce‑ lho da Guarda. W W W .PR Ó-RAIA.P T
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No que concerne aos pratos de peixe, a gastronomia do Sabugal deve a sua ori‑ gem à presença do rio Côa, sendo a Truta de Escabeche um ex libris local. Também a caça tem a sua relevância sazonal, nos dois concelhos, sendo o coelho bravo, o javali, a perdiz e o Arroz de Lebre, alguns dos pratos preferido, quase sempre cozi‑ nhados ao lume, em panelas de ferro, uma vez mais devido à presença do fogo nos lares beirãos, facto que a restauração local valoriza e promove.
Quanto a enchidos, o Bucho Raiano, no Sabugal, e a Morcela da Guarda as‑ sumem papel de relevo pela autenticidade e enraizamento nos costumes da popula‑ ção. Em época carnavalesca decorrem ati‑ vidades gastronómicas ligadas às iguarias tradicionalmente cozinhadas pelo en‑ trudo nestas terras altas da beira, com o objetivo de consolidar as potencialidades gastronómicas de ambos os concelhos. À base destas iguarias simbólicas do territó‑ rio, são realizados eventos gastronómicos em que a adesão da restauração local tem vindo a revelar‑se numa oportunidade de evolução do setor de atividade.
Para além do bucho e da morcela, chouriça e farinheira são igualmente apreciadas e dignas de menção em qual‑ quer receituário gastronómico.
No concelho da Guarda, o Caldo de
Grão, composto por grão‑de‑bico, carne
de porco (pé, barriga e orelha), louro, ce‑ bola, azeite, alho, noz‑moscada, presunto ou chouriço e macarrão, é consumido tra‑ dicionalmente no S. João, uma das festas mais carismáticas da cidade da Guarda.
O caldo de vagens secas temperado com untura e farinheira cozida no interior é frequente à mesa em várias freguesias raianas.
A doçaria deste território é muito di‑ versa podendo citar‑se as míticas filhós feitas à moda da Beira Alta, os Biscoitos
da Guarda e Esquecidos da Guarda, a
Bola Parda, o Bolo Folar da Guarda, o
Pão Santoro de Pêga ou Bica de Azeite,
vários doces à base de castanha e mel, Pa‑ pas de Carolo e compotas, nomeadamente o doce de abóbora e a marmelada.
Sobremesa de eleição nestas terras é o
Requeijão com Doce de Abóbora, união
de sabores a apreciar.
Sabia que...
A especificidade do Mel da Serra da Malcata deve‑se ao isolamento privilegiado da zona e à riqueza em flores silvestres – urze e rosmaninho – das quais as abelhas extraem méis de excelentes sabores, dando origem a produtos como o mel de queiró, o mel com pólen e com geleia real. Outrora, o mel da região chegou a ser utilizado como uma pomada que se aplicava em feridas.
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SOPAs
Caldo de Grão
INGREDIENTES
Grão-de-bico Pé de porco Barriga de porco Orelha de porco Louro Cebola Azeite Alho Noz-moscada Presunto Massas SalPREPARAÇÃO
Coze‑se previamente o grão‑de‑bico e separadamente as carnes temperadas com sal.
Corta‑se a cebola e o alho e refoga‑se juntamente com o louro num pouco de azeite.
Junta‑se o grão, as carnes e parte das águas das cozeduras ao refogado. Juntam‑ ‑se as massas, que se deixam cozer. Reti‑ fica‑se o sal e tempera‑se com noz‑mos‑ cada.
carne
Cabrito
assado
INGREDIENTES
1 cabrito pequeno Banha Colorau Pimenta Alho SalPREPARAÇÃO
No dia anterior, limpa‑se e parte‑se o cabrito, temperan‑ do‑o com sal.
No dia, assa‑se em brasas de lenha.
SUGESTÃO
Faça um molho com banha, colorau, pimenta, alho e vai‑se pincelando o cabrito à medida que vai assando.