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3. INDICADORES DE QUALIDADE DE VIDA

3.2 Bem-Estar Subjetivo

A abordagem baseada na autoavaliação subjetiva tem atraído interesse graças à premissa, forte em várias linhas da cultura antiga e moderna no mundo inteiro, que fazer pessoas felizes e satisfeitas com as suas vidas é uma meta universal na existência humana (COSTANZA et al., 2007; STIGLITZ, SEN e FITOUSSI, 2009). Segundo o relatório da Comissão, uma longa tradição vê os indivíduos como os melhores juízes de suas próprias condições. Por exemplo, se considerarmos o medo das pessoas de crime veremos que é a percepção delas que influencia o seu comportamento (e bem-estar) no dia a dia e não a taxa de criminalidade oficial, diretamente (OCDE, 2009). Por isso, diversos autores têm utilizado as avaliações de bem-estar subjetivas como indicadores de qualidade de vida (COSTANZA et al., 2007). Além disso, esta a abordagem ainda conta com a vantagem da sua simplicidade: calcar-se nos julgamentos das próprias pessoas é uma forma conveniente de agregar várias experiências de forma a refletir as preferências próprias das pessoas (STIGLITZ, SEN e FITOUSSI, 2009).

Hoje, vários métodos fizeram o bem-estar subjetivo acessível à quantificação sistemática. A literatura separa a avaliação em três aspectos diferentes (STIGLITZ, SEN e FITOUSSI, 2009):

• Satisfação com a vida, ou seja, o julgamento geral de uma pessoa sobre sua vida num ponto específico do tempo;

• A presença de sentimentos positivos, ou seja, o fluxo de emoções positivas (como sentimentos de felicidade e contento, ou um senso de vitalidade e energia), momento a momento;

• A ausência de sentimentos negativos, portanto, o fluxo de emoções negativas (como nervosismo, tristeza ou depressão), momento a momento.

A satisfação com a vida, os sentimentos positivos e negativos são aspectos separados do bem-estar subjetivo que atendem a diferentes concepções da medição da qualidade de vida. Por exemplo, a satisfação com a vida como um todo (e em relação a âmbitos particulares, como trabalho, lar e vida familiar) envolve julgamentos de avaliação de como a vida das pessoas está indo (bem ou mal). Esta avaliação necessariamente requer um esforço de lembrança de experiências passadas. Por outro lado, sentimentos positivos e negativos envolvem medir em tempo real experiências prazerosas vividas pelas pessoas, ou brevemente após estas experiências tiverem ocorrido (STIGLITZ, SEN e FITOUSSI, 2009).

É claro que os três aspectos estão relacionados. As pessoas buscam satisfação fazendo escolhas que são baseadas em memórias e avaliações. No entanto, as pessoas não são completamente racionais (e muito menos racionais que no sentido da economia neoclássica), fazendo que tais ações gerem emoções, sentimentos momentâneos que podem ser positivos ou negativos (por exemplo, quando se erra numa escolha e esta, ao invés de melhorar a qualidade de vida de uma pessoa, produz o efeito contrário). No entanto, não se chegou a uma conclusão de qual dessas dimensões do bem-estar subjetivo importa mais, e para que. Por exemplo, não se sabe qual dos aspectos do bem- estar subjetivo tem maior efeito na saúde, mas algumas pesquisas sugerem que a presença de sentimentos positivos é um determinante mais significativo da saúde que a ausência de sentimentos negativos (STIGLITZ, SEN e FITOUSSI, 2009). Por outro lado, é interessante observar os resultados de uma pesquisa realizada entre os países da OCDE, que mostrou que o fato de a maioria das pessoas num país relatar uma alta satisfação com a vida não implica uma alta prevalecência de sentimentos positivos, enquanto que uma alta prevalecência de sentimentos positivos pode ir no mesmo sentido de uma alta prevalecência de sentimentos negativos.

Quanto à forma de medição, em se tratando de aspectos diferentes, cada uma das avaliações subjetivas é observada de forma particular:

• Na maioria dos casos, as medidas da satisfação com a vida são baseadas em respostas qualitativas, como sentimentos de “um pouco” ou “relativamente” feliz com a vida, ou outras escalas que avaliam a satisfação da vida. No entanto, esta forma pode gerar desvios com acabam por limitar a comparabilidade entre países. Outra forma é utilizar uma escala visual (chamada também de escada da vida), com pontos de referência explícitos (10, para a melhor vida possível, e 0 para a pior vida possível). Acredita-se que esta última se mostra mais efetiva em gerar avaliações cognitivas que sejam menos vulneráveis aos problemas de comparabilidade. Porém, mesmo com essa formulação, não é possível garantir a comparabilidade total das respostas, já que “pontos de referência podem ser diferentes ao longo do tempo e entre pessoas” (STIGLITZ, SEN e FITOUSSI, 2009, p.146);

• A presença de sentimentos positivos e negativos é medida por meio de um relatório que é feito por cada pessoa, seja em tempo real ou logo após um evento ter ocorrido. Estas medidas têm sido coletadas de forma menos frequente que as de avaliação da vida, e em amostras não representativas, uma vez que trata-se de um processo oneroso.

Um ponto importante desta abordagem é que ela possibilita a reflexão sobre a diversidade das visões das pessoas sobre o que é importante em suas vidas, e em que grau as diferentes dimensões estão sendo saciadas (COSTANZA et al., 2007; STIGLITZ, SEN e FITOUSSI, 2009). Costanza et al. argumentam que muitos dos indicadores objetivos meramente avaliam as oportunidades que os indivíduos têm para melhorar a qualidade de vida, ao invés de avaliá-la em si. Isto porque “a produção econômica pode ser mais bem vista como um meio para uma qualidade de vida potencialmente melhor (mas não necessariamente) e não um fim em si mesmo” (COSTANZA et al., 2007, p.269). Diferentemente, em vez de presumir a importância das várias dimensões da vida (por exemplo, a expectativa de vida ou bens materiais), as medidas subjetivas também podem tocar na importância percebida da dimensão (ou "necessidade") para o entrevistado (COSTANZA et al., 2007).

Na visão do relatório da Comissão,

[...] uma das promessas mais atraentes da pesquisa em bem-estar subjetivo é entregar não só uma boa medida do nível de qualidade de

vida, mas também um melhor entendimento dos seus determinantes, uma vez que é afetado por uma variedade de características objetivas (como renda, estado da saúde e educação) (STIGLITZ, SEN e FITOUSSI, 2009, p.148).

Por exemplo, diversas pesquisas de bem-estar subjetivo demonstram que os custos em termos de bem-estar associados ao desemprego são altos. Mesmo considerando nos cálculos a menor renda das pessoas desempregas, verifica-se uma avaliação da vida mais baixa, tanto comparando dados entre pessoas como quando olhamos a mesma pessoa ao longo do tempo. A conclusão sugerida por estas pesquisas é de que existem outros motivos além da queda da renda que afetam negativamente o bem-estar, como a perda de amizades, status e significado. Assim, esta abordagem contém informação que não é refletida em outros indicadores comuns, como a renda.

No entanto, o mesmo caso do desemprego pode ser utilizado para ressaltar uma dificuldade geral levantada pelo relatório da Comissão Stiglitz para o estudo dos determinantes do bem-estar subjetivo, que é fazer a distinção entre causas e correlatos. Não sabemos, por exemplo, se o desempregado relata satisfação com a vida mais baixa em geral porque a experiência de estar desempregado baixa essas avaliações (neste caso, desemprego causa insatisfação com a vida), ou que as pessoas que relatam avaliação da vida mais baixas são mais propensas a saírem de seus empregos ou de se manterem desempregadas por mais tempo (neste caso, avaliações cognitivas causam desemprego), ou que as pessoas mais afetadas por neuroses (um traço de personalidade) são instáveis em seus trabalhos e relatam avaliação da vida mais baixa que outros (neste caso, um terceiro fator delineia tanto as avaliações cognitivas como a experiência do desemprego). A mesma dificuldade se aplica quando estudamos os determinantes de um conjunto de outras características da qualidade de vida (por exemplo, saúde).

Outra consideração a ser feita diz respeito à variação que as avaliações podem ser decorrentes de fatores externos. Costanza et al. lembram que uma dimensão terá maior impacto quando é:

(a) associada a uma experiência mais recente; (b) é conceituada como uma parte de uma fase atual (e não anterior) da vida; (c) não é classificada como um exemplo extraordinário/extremo da experiência de alguém; (d) é julgada na presença de outros com características exemplares nessa dimensão (levando a utilizar o outro indivíduo como

um padrão para a comparação social); e (e) é valorizado pelos outros quem o individuo respeita (COSTANZA et al., 2007, p.272).

Por isso, é importante considerar a capacidade de adaptação das pessoas se quisermos interpretar as medidas para avaliar os determinantes do bem-estar subjetivo. Isto se dá pelo fato de que as pessoas julgam seu bem-estar em comparação com grupos de pares e não em termos absolutos (COSTANZA et al., 2007). Assim, se o padrão de vida geral evoluir pelo mesmo caminho das realizações individuais, os níveis de satisfação poderão se manter basicamente estáveis, sem ser impactado com o que acontece com as características objetivas que delineiam a qualidade de vida. Essas comparações relativas, normalmente feitas por meio da avaliação dos pares, exercem um efeito importante na avaliação de satisfação das pessoas. Por exemplo, o conhecido paradoxo de Easterlin, que demonstrava que a renda de longo prazo e a prosperidade material não são seguidas por ganhos similares nas avaliações da vida, pode ser explicado pela hipótese de que ganhos de renda relativos, comparados a outras pessoas da comunidade, importam mais para essas avaliações que melhoras em nível nacional da renda absoluta. No entanto, pesquisas recentes demonstram que o paradoxo de Easterlin não se aplica quando analisamos a satisfação com a vida de outra forma:

• Na comparação entre países, aqueles com um maior nível de PIB per capita realmente relatam maior satisfação com a vida;

• A relação entre satisfação com a vida e o logaritmo do PIB é geralmente linear, não se tornando plana com maiores níveis de renda;

• A relação entre o nível do PIB de um país e a média da avaliação da vida é similar com àquela que se aplica entre a renda dos indivíduos e as suas próprias avaliações da vida em cada país.

Por outro lado, o relatório da Comissão cita várias outras pesquisas que chegam à conclusão de que a renda relativa importa. A mesma discussão acontece quando são analisadas as relações de outros fatores além da renda com a satisfação da vida; até mesmo variações na saúde nem sempre afetam tal avaliação. Para Costanza et. al, as avaliações subjetivas de um indivíduo podem flutuar por conta de estratégias de reavaliação que ele faz, intencionalmente ou de forma inconsciente, baseadas em “história pessoal, auto-conceito, as comparações sociais, a seleção de objetivo, meta de implementação e realização” (COSTANZA et al., 2007, p.272-273). Estes aspectos

fazem com que o relatório da Comissão afirme que as pesquisas que medem o bem-estar subjetivo nem sempre se comportam da forma que seria necessário que se comportassem para que pudéssemos confiar nelas cegamente.

De um lado, há aqueles que acreditam que cada pessoa tem uma personalidade estabelecida geneticamente, e que mudanças nas circunstâncias externas podem levar apenas a mudanças temporárias no bem-estar subjetivo. Isto porque uma adaptação subsequente vai sempre forçar o bem-estar subjetivo de volta para um ponto do indivíduo determinado geneticamente. Uma forma de adaptação tão extrema como essa poderia sugerir que há pouca coisa a se fazer em termos de políticas para melhorar a qualidade de vida dos seres humanos. No entanto, a “a maioria dos proponentes deste ponto de vista agora parece estar inclinada em direção à visão de que a adaptação é menos completa.” (STIGLITZ, SEN e FITOUSSI, 2009, p.148). Mesmo assim, uma adaptação parcial implica que em certo grau os sentimentos e avaliações de bem-estar são imunes às condições de vida objetivas, o que pode até ser considerado como um ponto forte da natureza humana (uma capacidade de adaptação e resiliência), mas que também sugere uma insuficiência desta abordagem para todas as avaliações sociais. Como mencionado no primeiro capítulo, uma maior satisfação com a vida pode vir de uma ausência de esperança, daqueles que sofrem continuamente de privação. Do lado oposto, uma pessoa pode estar continuamente menos satisfeita por apresentar um padrão mais ambicioso. Por isso, a felicidade ou satisfação não pode ser vista como um conceito super dominante (OCDE, 2009, p.12).

Como coloca o relatório da OCDE,

[...] até que nós vivamos em uma sociedade de cidadãos "perfeitamente informados" cuja própria felicidade é influenciada por uma compreensão suficiente do progresso de suas sociedades, seria imprudente a recorrer a medidas de felicidade só para avaliar o progresso da sociedade (OCDE, 2009, p.12).

No entanto, apesar de todos esses problemas, é possível afirmar que as medidas de bem-estar subjetivas vieram para ficar. Os resultados são significativos especialmente por capturar elementos importantes para a felicidade e satisfação com a vida que dificilmente seriam capturados pela análise da renda, ou por meio da observação das chamadas medidas objetivas de qualidade de vida (STIGLITZ, SEN e

FITOUSSI, 2009; OCDE, 2009). Ambas as medidas objetivas e subjetivas devem ser utilizadas. A seguir, olhamos então para as chamadas medidas objetivas.

3.3. Capacidades

Ao invés de focar na percepção e no sentimento das pessoas, a abordagem das capacidades “amplia o conjunto de informações relevantes para valorizar a vida das pessoas, para além dos auto relatos e percepções” (STIGLITZ, SEN e FITOUSSI, 2009, p.151). A vida é entendida como uma combinação de vários “doings and beings” (chamados de funcionamentos) e a avaliação da qualidade de vida é feita por meio da liberdade que as pessoas têm para escolher entre as várias combinações desses funcionamentos (entendida como capacidades). O funcionamento é o termo utilizado para se referir às atividades e situações que as pessoas espontaneamente reconhecem como importantes. O termo também pode ser entendido como uma coleção das conquistas de cada pessoa (como saúde, conhecimento ou ter um trabalho que tenha sentido). Algumas dessas conquistas podem ser mais elementares, como estar seguro, e outras pode ser bem complexas, como conseguir se expressar em público sem timidez. Como as pessoas de lugares e condições diferentes possuem quadros de referência diferentes, os funcionamentos mais importantes dependem das circunstâncias e do objetivo do exercício. Nesta abordagem, o bem-estar de um indivíduo é um índice que resume os funcionamentos de uma pessoa (STIGLITZ, SEN e FITOUSSI, 2009).

Desta forma, o relatório da OCDE (2009) defende que o bem-estar humano pode ser considerado como compreendendo os resultados individuais e sociais. Alguns desses resultados são específicos para cada pessoa (o estado próprio do conhecimento, saúde, etc.), sendo agrupados como atributos de "bem-estar individual". Os atributos que são compartilhados (com aqueles que vivem dentro da mesma família ou vizinhança, por exemplo), ou refletem as relações entre elas (por exemplo, a extensão e a qualidade das relações com os outros), ou como uma sociedade é pacífica, resiliente, coesa, e podem ser agrupados como "bem-estar social". Os chamados indicadores de qualidade de vida "objetivos" incluem, por exemplo, os índices de produção econômica, taxas de alfabetização, expectativa de vida, e outros dados que podem ser obtidos sem uma avaliação subjetiva feita por indivíduos a ser avaliados (COSTANZA et al., 2007).

No entanto, a adoção do conceito da liberdade vem para expandir o intervalo de informação relevante acima das conquistas observadas, e olhar todo o intervalo de oportunidades para avaliar a vida das pessoas. Olhar só as conquistas pode ser enganoso, uma vez que, por exemplo, podemos observar um funcionamento baixo (baixa ingestão de calorias) que reflete uma escolha (no caso de um jejum voluntário). Neste sentido, o conceito de liberdade enfatiza a importância de empoderar as pessoas para que elas ganhem autonomia e sejam atores de seu próprio desenvolvimento (STIGLITZ, SEN e FITOUSSI, 2009, p.151). Como coloca Howarth, Sen propõe que os domínios complementares devem ser melhorados e reforçados em sociedades que visam alcançar significativo desenvolvimento: “seu argumento fundamental é que o bem-estar humano vai melhorar se as condições necessárias para apoiar o bem-estar forem adequadamente nutridas e cultivadas” (HOWARTH, 2007, p.660). Por isso, o relatório da OCDE (2009) coloca que estes ambientes ou atividades ou processos sejam considerados como objetivos intermediários necessários para gerar uma situação de elevação do bem-estar humano, ou seja, não representam o bem-estar em si. Uma importante vantagem desta abordagem é a maior facilidade de se juntar dados padronizados que são menos vulneráveis a comparações sociais e adaptação local, problema enfrentado nas avaliações de bem-estar subjetivas.

O arcabouço intelectual da abordagem das capacidades se calca em diversas noções (STIGLITZ, SEN e FITOUSSI, 2009). A primeira delas é o foco nos fins humanos e na importância de respeitar as habilidades das pessoas em buscar e realizar os objetivos que ele ou ela valorizam. Outra ideia importante é a rejeição do modelo econômico em que os indivíduos agem para maximizar seu auto-interesse e em que também se negligenciam as relações e emoções, e o reconhecimento da diversidade das necessidades humanas e prioridades. Em terceiro lugar, há uma ênfase nas complementaridades entre as várias capacidades de uma mesma pessoa (mesmo sendo valiosas por si próprias, muitas das capacidades são também meios para expandir outras, e alavancar essas interconexões aumenta a qualidade de vida) e a dependência delas nas características de outras e do ambiente onde a pessoa vive (por exemplo, uma doença pode espalhar de uma pessoa para outra e ser influenciada pela saúde pública e programas médicos). Uma última característica da abordagem das capacidades é o papel exercido pelas considerações morais e pelos princípios morais e sua preocupação central pela justiça, seja na forma de trazer cada pessoa num limite acima para cada capacidade,

seja garantindo oportunidades iguais para todos no “espaço da capacidade”. Nesta perspectiva, as políticas que visam o desenvolvimento humano devem expandir as oportunidades disponíveis para as pessoas, até mesmo de forma indiferente aos efeitos nos estados subjetivos das pessoas, uma vez que estes estados podem derivar da capacidade adaptativa que os indivíduos possuem. Esta capacidade, para esta abordagem, faz com que os sentimentos não possam ser a única medida para avaliar qualidade de vida.

Vários passos são necessários para a implementação da abordagem das capacidades. O primeiro deles é a escolha das dimensões. Enquanto alguns autores são fortemente a favor de se especificar uma lista única das capacidades centrais para que seja possível operacionalizar esta abordagem, outros são contra a utilização de uma lista estática baseada na visão de especialistas. Na prática, a maioria dos métodos utilizados nas aplicações empíricas seleciona as capacidades baseadas em (STIGLITZ, SEN e FITOUSSI, 2009, p.152):

• Tipo de dado disponível;

• Premissas a priori sobre o que as pessoas valorizam ou deveriam valorizar; • Listas com capacidades que já alcançaram alguma legitimidade política; • Pesquisas sobre o que as pessoas valorizam como importante;

• Processos participativos que trazem à tona valores e perspectivas das pessoas Este é uma etapa fundamental no desenvolvimento de medidas objetivas de bem- estar. Não obstante, Viveret coloca que o “risco da arbitrariedade é, permanentemente, o argumento mais forte contra todas as tentativas de modificar os indicadores de riqueza” (VIVERET, 2006, p.82). No entanto, o autor defende que a arbitrariedade só é real quando as escolhas permanecem ocultas, e que isto pode ser resolvido por meio da utilização de debate com todos os interlocutores da sociedade no desenho das dimensões do bem-estar. Este debate público, então, é bastante mais preferível que a definição de quais fatores entrariam num eventual indicador de qualidade de vida que fosse feito apenas por especialistas, a portas fechadas. Além disso, Viveret argumenta que a objeção da arbitrariedade pode ser feita perfeitamente em direção aos indicadores atuais, que foram concebidos para valorizar alguns aspectos e atividades em detrimento de outras, sem terem sido objeto de qualquer debate democrático.

O segundo passo é juntar dados e informações sobre essas dimensões. Aqui a dificuldade apresentada é que a maioria dos dados refere-se mais aos funcionamentos do que às capacidades. No entanto, vários funcionamentos, como saúde e educação, são determinantes para capacidades (como consumir, mover, participar), enquanto alguns dados referem-se diretamente aos direitos e liberdades das pessoas. Além disso, a informação sobre capacidades fica algumas vezes disponível por meio de pesquisas que investigam os motivos para os respondentes não fazerem alguma coisa (por exemplo, se as pessoas não consomem mais certo produto por preferências ou limitações) ou informações adicionais sobre a extensão da escolha que uma pessoa tem. De forma geral, podemos imaginar uma estrutura mais ampla em que tanto capacidades como funcionamentos servem para descrever as situações das pessoas (STIGLITZ, SEN e FITOUSSI, 2009).

Um terceiro passo envolve valorizar as diferentes capacidades. Esta valorização