PARTE 1. CARACTERIZAÇÃO GERAL DO POLO SERIDÓ SERIDÓ
3.1. Caracterização Urbana do Polo Seridó
3.1.5. Patrimônio Histórico e Cultural
3.1.5.3. Bens Culturais de Natureza Imaterial
Na cultura seridoense predomina as manifestações e usos tradicionais e populares: dados da história, personagens e lendas; gastronomia típica; e artesanato. Um dos traços culturais inconfundíveis da população é a musicalidade. A região é um celeiro de bandas de música (16), como é o caso da Banda de Música Municipal Arnaldo Toscano de Medeiros (Florânia) que data do século XIX, destacando-se o município de Currais Novos, com a Banda Musical Maestro Santa Rosa e a Escola Municipal de Música Suetônio Batista. Já, o folclore na região é representado pelos encontros de cantadores de viola, principalmente em Currais Novos, sob a coordenação de poetas populares, e como também, Irmandades dos Negros do Rosário, pastoril e dança do espontão. Praticamente nos municípios não há espaços para a exposição dos trabalhos, eventos e/ou encontros, com exceção de Currais Novos, através do Espaço Cultural Monsenhor Ausônio de Araújo Filho, localizado ao lado direito da Matriz da Imaculada da Conceição e, em Caicó, Ilha de Sant’Ana.
QUADRO 09. Bandas de Músicas e Grupos Folclóricos e Artísticos
Municípios Bandas de Música Grupos Folclóricos e Artísticos
Banda Municipal de Acari Acari
Filarmônica Maria Felinto Lúcio Dantas
Pastoril, Associação Cultural Arraial do Arizão
Caicó Banda de Música Municipal Recreio
Caicoense Irmandade dos Negros do Rosário
Banda Governador Tarcísio Maia Carnaúba dos
Dantas Filarmônica Onze de Dezembro
Bonecos de Dona Dadi ou manulengos; Super Tudo (banda que utiliza sucata);
Grupo Sertão Vivo de Arte
Cerro Corá Não há Maculelê, capoeira e pastoril
Currais Novos Banda de Música Maria Santa Rosa Boi do Rei, Pastoril, Mamulengos João Redondo.
Equador Banda de Música Santa Cecília Quadrilhas
Florânia Banda de Música Mun. Arnaldo Toscano
de Medeiros Pastoril
Jardim do Seridó Banda Euterpe Jardinense Grupo dos Negros do Rosário com a Dança do Espontão
Jucurutu Banda de Música Francisco Batista dos
Santos Lula Folclorarte
Lagoa Nova Banda Municipal de Lagoa Nova GACEC Grupo Artístico Explode Coração, Quadrilha, Capoeira Cordão de Ouro Banda Municipal de Ouro Branco
Ouro Branco
Filarmônica Manoel Felipe Nery Quadrilhas
Parelhas Banda de Música 11 de Fevereiro Negros do Rosário da Boa Vista com a Dança do Espontão
Santana do Seridó Banda de Música de Seridó O Candeeiro (teatro), Coral de Santana São João do Sabugi Filarmônica Honório Maciel Cia de Teatro Valmira Morais, Violeiros
Serra Negra do
Norte Banda Municipal de Serra Negra do Norte Negros do Rosário Tenente Laurentino
Cruz Banda Marcial do PETI Pastoril Baixa do Matheus, Quadrilha
Timbaúba dos
Batistas Em formação Forró Elino Julião
Fonte: Fundação José Augusto, maio/ 2009.
Em relação aos costumes direcionados as manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas identificam-se o incentivo do Governo de Estado, através das Casas de Cultura Popular (quadro a seguir). Estas estão presentes em 07 municípios do Polo Seridó e são espaços físicos que fomentam a produção cultural da região. Os prédios, normalmente de importância histórica para a cidade, têm auditório, galeria de arte, biblioteca, pinacoteca, museu e salas para oficinas de artes plásticas e cênicas. As Casas oferecem cursos e oficinas de teatro, dança, artesanato, música, canto, cordel, poesia, artes plásticas, etc., bem como conserva, apresentam e permitem a visitação de coleções de objetos de caráter cultural ou científico, em museus e memoriais.
FIGURA 49. Casas de Cultura: Sobrado de Padre Brito Guerra, Caicó; e, Palácio Florêncio Luciano, Parelhas (à direita)
Fonte: www.fja.rn.gov.br.
Por sua vez, existem os Pontos de Cultura que são iniciativas desenvolvidas pela sociedade civil que, após seleção por edital público, firmam convênio com a Secretaria de Cultura do Estado e o Ministério da Cultura, e tornam-se responsáveis por articular e impulsionar ações que já existem nas comunidades como as que envolvem a Arte e Educação, Cidadania com Cultura e Cultura com Economia Solidária.
QUADRO 10. Museus, Casas de Cultura, Pontos de Cultura
Municípios Museus Casa de
Cultura
Ponto de Cultura
Órgão responsável pelo
Ponto de Cultura Projetos
Acari Museu Histórico
de Acari - - - -Centro Cultural Adjuto Dias Caicó Museu do Seridó Sobrado de Pedra Brito Guerra Ponto de Cultura da FJA
Assoc. Comu. Amigos da Casa de Cultura
Sobrado Arte do Sobrado
Carnaúba dos Dantas
Museu Nossa Senhora das Vitórias - Ponto de Cultura MINC - -Cerro Corá - - - - -Fundação Cultural José Bezerra Gomes Currais Novos Museu da Mina Brejuí Palácio dos Mineradores Ponto de Cultura da FJA Associação Comunitária Amigos da Casa de Caçuá de Cultura Equador - - - - -Florânia Palácio Cônego Stanislaw Piechel Ponto de Cultura da FJA
Assoc. Comunit. Amigo da Casa de Cultura
Baú de Arte e Cultura
Jardim do Seridó Museu Antônio Azevedo Maia Palácio Poeta Antônio Antídio de Azevedo Ponto de Cultura da FJA
Assoc. Comunit. Cult. dos Amigos da Casa de
Cultura
Revela-Arte
Jucurutu - - - -
-Lagoa Nova - - - -
-CONT. QUADRO 10. Museus, Casas de Cultura, Pontos de Cultura
Municípios Museus Casa de
Cultura
Ponto de Cultura
Órgão responsável pelo
Ponto de Cultura Projetos
Parelhas -Palácio Florêncio Luciano Ponto de Cultura da FJA Associação Cultural Amigos da Casa A Cidade de Parelhas Companhia das Artes Santana do Seridó - - - -
-São João do Sabugi - - - -
-Serra Negra do Norte
-Palácio Oswaldo Lamartine Ponto de Cultura da FJA Associação Comunitária e Cultural Amigos da Casa de Cultura Culturarte
Tenente Laurentino Cruz - - - -
-Timbaúba dos Batistas
Museu Histórico de Timbaúba
dos Batistas
Palácio Elino
Julião - -
-Fonte: Fundação José Augusto, maio/ 2009.
As festas das padroeiras são espetáculos inesquecíveis de fé e devoção na região. Momentos raros em que os devotos se inserem na polifonia festiva que são as homenagens aos santos que ajudaram os seridoenses na longa travessia até os dias atuais. Assim, ocorrem festejos que podem ser considerados eventos tradicionais da região. Presentes no calendário de todas as cidades seridoenses, estas festas têm o poder de redirecionar as práticas do cotidiano, onde toda a cidade se veste em louvor a seu (a) padroeiro (a), reforçando a identidade de uma região festiva e acolhedora. E, tem como destaque um volume considerável de visitantes/turistas deslocam, principalmente para os municípios de Currais Novos e Caicó, com a Festa de Sant’Ana, celebrada no mês de julho; e, a visitação ao Monte do Galo, em Carnaúba dos Dantas.
Sobre o artesanato (quadro a seguir), a região do Seridó destaca-se pela arte do bordado. Este chegou à região com a colonização (séculos XVII e XVIII), sendo uma atividade, possivelmente, advinda da Ilha da Madeira (Portugal), a partir do bordado realizado a mão (MACEDO & GARCIA, 2008, p. 8. Na década de 1940, o bordado passa também a ser feito na máquina. São famosos aqueles produzidos em Caicó e Timbaúba dos Batistas.
A gastronomia, também, é um dos elementos mais marcantes na história do povo do Seridó, destacando-se principalmente pela carne-de-sol, galinha caipira, doces variados (rapadura, doce-de-leite, etc.) e chouriço. No entanto, algumas regiões possuem suas peculiaridades na culinária, como: Acari, com a linguiça de peixe e de camarão que é vendida, sobretudo, na vila de pescadores do Gargalheiras; Jardim do Seridó, com a buchada de bode e licores artesanais; Lagoa Nova, com o bife ao molho serrano; e, Caicó, pelos biscoitos (tarequinhos, sequilhos de goma de mandioca e raiva) e o queijo de manteiga. Apesar dos variados pratos típicos, inexistem restaurantes e bares direcionados ao turismo – exceto o município de Caicó -, com ambiente diferenciado, com destaque para o cardápio, a decoração, os utensílios, o vestuário e até mesmo o comportamento dos atendentes.
QUADRO 11. Elementos de Destaque da Culinária e Artesanato
Municípios Culinária Artesanato
Acari Linguiça de peixe e de camarão e bobó de camarão
Bordado, utilitários em cerâmica, pedra e madeira
Caicó
Carne de sol, biscoitos artesanais e queijo de manteiga e coalho, cachaça e manteiga de garrafa
Bordados em tecidos, argilas e arte sacra
Carnaúba dos
Dantas Galinha Caipira Crochê, fuxico, pinturas e biscuit
Cerro Corá Galinha Caipira Fibras, cerâmica, tecido cru e bordado rústico
Currais Novos
Carne de bode borrada, favada, tapioca, doce de leite e de goiaba, buchada
Arte sacra, ponto de cruz, bordados à mão, macramé, pedras preciosas, e a fabricação de bolsas, tapetes de palha, jarros ornamentais e filtros de barro
Equador Não há Crochê, macramê, ponto cruz
Florânia Paçoca com arroz de leite, filóis, buchada
Bordados à máquina, pintura em tecido e marchetaria (arte em madeira)
Jardim do
Seridó Buchada de bode e licores artesanais Bordados e biscuit Jucurutu Carne de sol, queijo de manteiga,
doce de leite e goiaba Renda renascença, redes, crochê Lagoa Nova
Galinha caipira, bife ao molho serrano, arroz da terra, bolo de macaxeira e doce de caju
Pinturas em sabonetes, cestas com palitos de picolé e biscuit
Ouro Branco Não há Crochê, patchwork, fuxicos
Parelhas Peixe de água doce assado, carne de sol e galinha caipira
Boneca de tecido, amostra de pedras semipreciosas
Santana do Seridó
Pé de moleque, panelada, Galinha
Caipira Bordado richelieu, ponto cruz, matiz
São João do Sabugi
Peixe de água doce, Doce Seco, Bala
de Cumaru Bonecos em tecido e artefatos em pedra
Serra Negra do Norte
Carne de sol, galinha caipira, queijo de manteiga e coalho, feijão verde, paçoca, arroz com leite e doces variados
Bordado
Tenente Laurentino Cruz
Pratos à base de macaxeira (bolo de macaxeira, vaca atolada, brigadeiro de macaxeira)
Confecção manual de redes, ponto cruz
Timbaúba dos Batistas
Carne de sol, queijo de manteiga,
galinha caipira Bordado
Fonte: Pesquisa de campo, abril/ 2009.
O Estado do Rio Grande do Norte possui uma atividade turística, basicamente, em torno do sol e o mar, sendo os principais fatores motivadores do deslocamento do turismo no Estado. Existem poucos roteiros turísticos especializados no turismo cultural. Entretanto, as regiões não litorâneas tentam desenvolver a prática do turismo cultural, na medida em que as pessoas procuram lugares exóticos, principalmente, nas áreas que mantêm suas tradições preservadas.
Assim, dentro do turismo cultural, as pessoas deslocam-se por inúmeros motivos, seja pela gastronomia, artesanato, festas folclóricas ou cidades históricas. Logo, é preciso estar
preparado e, principalmente, consciente sobre a atividade econômica que irá gerar, pois o efeito multiplicador dentro de uma região é substancial, capaz de gerar vários empregos diretos e indiretos, motivando a economia da localidade (MOLETTA, 2004, p. 08).
É imprescindível que a atividade turística seja planejada e conduzida de forma harmoniosa, na comunidade receptora, pois a convivência com outro tipo de cultura poderá influenciar negativamente os povos nativos, causando-lhes sérios impactos (ambientais, sociais e econômicos) e fazendo-lhes perder a identidade, com o passar do tempo (MOLETTA, 2004, p. 07).
Então, a partir dos problemas identificados no diagnóstico do patrimônio histórico e cultural
que foram fundamentadas em pesquisas de fontes secundárias
(IPHAN, Fundação José Augusto, MUsA, etc.) e primárias (visitas aos locais e entrevistas com agentes da região), é recomendado para o desenvolvimento do turismo sustentável no Polo Seridó os seguintes itens:
a) Utilizar a melhor forma os recursos ambientais do destino, como: os sítios arqueológicos, principalmente, de Carnaúba dos Dantas, Currais Novos e Parelhas, onde já existem fluxos de turistas, como também, incentivar a visitação nas demais áreas do Polo do Seridó;
b) Respeitar a autenticidade sociocultural da comunidade local, ou seja, todas as categorias do patrimônio histórico cultural;
c) Assegurar a viabilidade econômica de uma operação de longo prazo, proporcionando benefícios socioeconômicos igualmente distribuídos a todos as partes interessadas do destino;
d) Garantir a infraestrutura turística (serviços e equipamentos de energia elétrica, saneamento, comunicações ou recolhimento de lixo), principalmente, nas áreas dos sítios arqueológicos e rurais; preservação e conservação dos atrativos urbanos, ou seja, dos edifícios históricos culturais, igrejas, galerias de artes, museus, etc.;
e) Estimular e investir na continuidade do inventário e avaliação do patrimônio histórico-cultural não tombado, realizados pelo IPHAN, MUsA e demais órgãos, visando compreender sua importância para ações de recuperação;
f) Realizar a manutenção dos conjuntos arquitetônicos e paisagísticos definidos pelo IPHAN e MUsA como significativos, bem como determinar sua capacidade de carga e formas adequadas de manejo de turismo em centros históricos;
g) Incentivar e investir no artesanato, principalmente nas comunidades pequenas, para obter maior visibilidade e credibilidade, de tal modo, deve-se estimular a organização de artesãos na forma de grupos, associações ou cooperativas; e/ou respeitar a individualidade de cada artesão. Se possível, promover a interação do turista com o modo de produção e criar espaços para exposições das mercadorias;
h) Investir e incentivar a propaganda e marketing dos atrativos histórico-culturais regionais, isto é, consolidar a idéia de que o atrativo é passível de visitação durante o ano inteiro, e não apenas durante uma estação do ano (ex.: nas festividades religiosas);
i) Capacitar e qualificar os prestadores de serviços turísticos e dos gestores municipais, visando prepará-los para o turismo histórico cultural.