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O Turismo como Alternativa de Desenvolvimento Regional

PARTE 2. SITUAÇÃO DO TURISMO NO POLO SERIDÓ

3.2. Ocupação Turística do Polo

3.2.2. O Turismo como Alternativa de Desenvolvimento Regional

A referência para o estudo do turismo na região do Seridó deve ter como ponto de partida as mudanças ocorridas na década de 1990 nas políticas públicas de turismo, quando foi estabelecida, pelo Governo Federal, através do Plano Nacional de Turismo (1991) uma nova postura sintonizada com o ideário da descentralização e da participação. É desse período o Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT, criado em 1994, com o objetivo de melhorar o produto turístico brasileiro por meio da participação dos municípios e de seus habitantes, conciliando crescimento com a preservação e a manutenção do patrimônio ambiental e histórico-cultural.

O Programa Nacional de Municipalização do Turismo - PNMT foi um Programa criado pelo governo federal que visou estimular o desenvolvimento turístico nacional, a partir da descentralização das políticas públicas de turismo e do fortalecimento do planejamento turístico nos municípios. O PNMT pretendia dotar os municípios brasileiros de condições técnicas e organizacionais para a formulação e gestão de políticas de turismo, através de seus Conselhos Municipais de Turismo e do Plano Municipal de Desenvolvimento do Turismo Sustentável.

O Rio Grande do Norte, seguindo as diretrizes da política nacional, adotou a revisão e atualização de políticas, programas e ações para adequá-los à realidade e dinâmica do novo conceito. Nesse desafio, vários municípios buscaram formas de se inserir no processo, uma vez que o turismo se apresentava como uma força econômica e era apontado como uma saída para o desenvolvimento regional.

É a partir deste contexto que surgem os primeiros esforços significativos do Governo para interiorização do turismo no Rio Grande do Norte, havendo a adesão de 86 municípios norteriograndenses ao PNMT.

Para o Polo Seridó, o PNMT foi importante na medida em que lançou as bases do turismo na região, permitindo que fossem identificadas potencialidades turísticas, além de incentivar, em função de trabalhos conjuntos, workshops, oficinas e palestras, o engajamento do setor público e de empresários.

Doze municípios seridoenses aderiram ao PNMT: Caicó, Currais Novos, Acari, Parelhas, Carnaúba dos Dantas, Ouro Branco, Santana do Seridó, Jardim do Seridó, Cerro Corá, Lagoa Nova, Florânia e Timbaúba dos Batistas, mas nenhum concluiu o processo de municipalização, com a implantação dos dois instrumentos básicos, o Conselho de Turismo e o Plano. Poucos conseguiram instalar o Conselho e nenhum formulou o Plano.

Essas dificuldades municipais não foram comuns apenas ao Rio Grande do Norte; em outros estados, os municípios não conseguiam atender aos mínimos requisitos necessários para o PNMT. Assim, como estratégia de ampliar o número de municípios na forma de parcerias, surge o Programa de Regionalização do Turismo – PRT, aproveitando para isso a base que o PNMT montou nos estados. Com a Regionalização, os municípios seriam capazes de se articular para coordenar conjuntamente seus esforços, tornando-se mais competitivos e garantindo melhores resultados nas suas ações de desenvolvimento do turismo local e regional.

Há uma profunda alteração na forma de conceber as políticas de turismo, passando de uma fase altamente centralizada para outra que preconizava uma grande descentralização. Também como resultado dessa nova orientação política foi prevista a criação de polos de turismo integrados, em novas áreas, que estariam associadas à expansão da infraestrutura. O Rio Grande do Norte, com o propósito de diversificar seu produto e criar alternativas para o turismo de sol e mar adotou essa orientação definindo mais 04 (quatro) polos turísticos para o Estado: Seridó, Costa Branca, Serrano e Agreste, além do Costa das Dunas. Em seguida (2001) lançou, com recursos do SEBRAE e EMBRATUR, um programa para Implantação de Roteiros Turísticos Temáticos, Segmentados e Estruturantes para todo o Estado. O objetivo era criar rotas turísticas para promover a identidade e a imagem do turismo no interior do Estado do Rio Grande do Norte e não apenas no litoral de Natal e Tibau do Sul10.

O Programa de Regionalização do Turismo definiu alguns objetivos: interiorização das ações do turismo, participação das comunidades; qualificação do produto turístico; envolvimento da base local e da população como protagonista do processo decisório; aumento da taxa de permanência e gasto médio do turista.

Desenvolvido para todo o Estado a partir de segmentos prioritários selecionados, os Roteiros Turísticos Temáticos estruturaram o turismo no Estado através da valorização do diferencial local, implantando produtos turísticos que destacavam as singularidades do Estado e de cada município. O estudo de formatação dos roteiros turísticos temáticos construiu uma espacialidade turística no território, destacando e enfatizando rotas temáticas de roteiros segmentados, sempre orientados do mar para o interior ao longo dos 400 km da costa atlântica do estado. Nesse estudo alguns municípios da região do Seridó foram incluídos nos roteiros turísticos11, a saber:

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O documento preconizava a importância de destacar os diferenciais da atratividade, fomentar as oportunidades de negócios, o desenvolvimento de fluxos turísticos, a ampliação da demanda por produtos e serviços, e, por conseqüência, a segmentação da oferta qualificando o destino, através da própria oferta e demanda.

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 Roteiro do Turismo Cultural: Caicó, Acari, Serra Negra do Norte, Carnaúba dos Dantas, Jardim do Seridó, Parelhas, Currais Novos;

 Roteiro de Ecoturismo: Jucurutu, Serra Negra do Norte, Caicó, Carnaúba dos Dantas, Parelhas;

 Roteiro do Turismo de Negócios e Eventos: Caicó, Acari, Carnaúba dos Dantas, Currais Novos;

 Roteiro do Turismo Religioso: Caicó, Jardim do Seridó, Acari e Currais Novos;  Roteiro do Turismo Rural: Jucurutu e Currais Novos;

 Roteiro do Turismo Científico-Tecnológico: Currais Novos;

 Roteiro de Turismo Científico-Arqueológico e Paleontológico: Caicó, Carnaúba dos Dantas, Acari e Currais Novos.

Apesar desse esforço não houve nenhum avanço em termos de comercialização desses produtos, sem o engajamento ativo de todos os municípios ou na formação de um mercado forte, muito relacionado com o baixo fluxo de turistas para a região. Os roteiros, enfim, não saíram do papel. Mas a virtuosidade desse momento ficou na consolidação de uma imagem positiva de que alguns municípios já dispunham de potencialidades fortes, pontos principais do futuro desenvolvimento turístico na região, notadamente Caicó (presente em todos os roteiros), Acari e Currais Novos.

Evidencia-se que os dois programas, o PNMT e o de Regionalização, não foram capazes de induzir ou acelerar os níveis da oferta e da demanda. A infraestrutura receptiva continuou precária entre 2003 e 2008 e a demanda encontra-se estacionária, a depender apenas dos eventos tradicionais. Há carência de meios de hospedagem e a maioria dos municípios faz uso de hospedagem alternativa em residências particulares (Cf. equipamentos turísticos). Os turistas que se deslocam para a região nesses eventos, em sua maioria são familiares e amigos que visitam seus parentes durante esse período.

O governo Lula, em 2003, ratifica os ideais de gestão descentralizada e participativa, inaugurando um novo Programa de Regionalização – Roteiros do Brasil, pautado nas orientações contidas no Plano Nacional de Turismo (2003-2007), com o propósito de criar uma oferta de produtos e serviços diversificados, qualificados e exigidos pelo mercado nacional e internacional.

Avançando nessa perspectiva de orientar o desenvolvimento regional do turismo, espelhado nas diretrizes do Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil, o SEBRAE em parceria com a SETUR reforçou os argumentos da promoção e da estruturação e diversificação da oferta turística proposto no programa anterior, de 2001, e criou o projeto

Roteiros do Seridó. Agora a ótica é o mercado, com enfoque nos aspectos que são

determinantes nas estratégias de promoção e apoio à comercialização de produtos turísticos.

Diferentemente do anterior, o novo projeto foi apresentado através de guia e de site Roteiros do Seridó. Tomando como princípios norteadores quatro grandes atrativos do Seridó – a caatinga e a arqueologia; a religiosidade e a fé; a cultura e o artesanato; e, a gastronomia – estabeleceu como metas a serem cumpridas a captação de fluxo turístico para cinco roteiros: ecocultural, de aventura, pedagógico, da melhor idade e arqueológico. São roteiros que se entrecruzam nos oito municípios da primeira fase projeto (Acari, Caicó, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Currais Novos, Jardim do Seridó, Lagoa Nova e Parelhas), cuja conexão possibilita uma exposição temática ampla, embasada e sustentada em recursos que promovem os locais visitados. É uma iniciativa fundamental para o turismo regional, havendo estruturação integrada dos produtos e serviços turísticos da região, com o objetivo de criar oferta unificada através de roteiros regionais facilitando a divulgação,

agregando valor aos produtos e, principalmente, oportunizando roteiros diversos aos turistas.

Nesse trabalho foram estruturados 10 roteiros principais (Aventura Cultural no RN, Circuito Aventura no Seridó, Roteiro Arqueológico, Roteiro Ecocultural, Roteiro Mar e Sertão, Roteiro Pedagógico, Roteiro Seridó: Valorizando a cultura do RN, Roteiro da Melhor Idade, Roteiro de Aventura e Um Dia no Seridó), havendo ainda mais 06 simplificados: Turismo Cultural, Turismo Gastronômico, Turismo Rural, Turismo de Incentivo, Turismo de Natureza e Aventura e Turismo Pedagógico. Alguns desses hoje são comercializados por agências de viagens do RN como a Mandacaru Expedições, Dandara Tour, Vitória Régia Turismo.

Pensando numa melhor organização do turismo na região e estimulado pela política de criação de polos turísticos, instalada em 1992 na Política Nacional de Turismo, foi criado através do Decreto 18.429 de 15 de agosto de 2005 o Polo Turístico do Seridó.

Como reflexo dessas ações e considerando a necessidade de reunir os municípios da região com potencialidades turísticas objetivando o compartilhamento de propostas e responsabilidades, é instalado em 11 de julho de 2008 o Conselho do Polo Seridó. O Conselho foi criado com o objetivo de potencializar o desenvolvimento das localidades abrangidas pelo Polo Seridó, buscando a integração das ações do Governo Federal, alinhando-as com as políticas públicas do governo estadual, dos governos municipais e com a sociedade em geral, além de consolidar o Polo como destino turístico.

Apesar de todo esse esforço o turismo, até hoje, tem pouca expressão na região. Aos poucos a demanda turística começa a crescer, revelando uma força no turismo regional através das festas religiosas e populares.