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A FIAT de Betim

No documento A TRAMA E O DRAMA DO ENGENHEIRO (páginas 188-193)

O CENÁRIO E OS ATORES

ALEMANHA JAPÃO FRANÇA REINO UNIDO EUA

84 Antes do governo JK algumas fábricas foram implantadas, sendo a FNM (Fábrica Nacional de

5.3.1 A FIAT de Betim

A fábrica de Betim foi inaugurada85 em 1975, através de capital privado italiano e do governo de Minas, para a produção de veículos de passeio e veículos comerciais leves. Em 1997, 21 anos depois, a empresa conta com um quadro aproximado de 24.000 empregos diretos e sucessivas premiações pelo seu desempenho. Foi a “Empresa do Ano”, em 1993 e a “Melhor Empresa do Setor e Automobilístico”, em 1994 e 1995 - títulos obtidos na avaliação “Melhores e Maiores” da revista Exame.

Pela sua “auto-imagem”, a empresa se percebe como uma firma inovadora. É o que dizem seus folhetos publicitários. (Fiat, 1996) O slogan 20 anos de inovação é utilizado para caracterizar sua atuação que, segundo a própria empresa, “vem revolucionando o mercado automobilístico brasileiro”. Essa idéia parte da própria

85 As negociações para a entrada da empresa italiana no país, contaram com a participação ativa do

antigo aluno da Escola de Minas, Amaro Lanari Jr. , que chegou a ocupar um dos primeiros cargos de presidência na Fiat brasileira. Lanari também esteve à frente dos negócios da USIMINAS por vários anos. São os mesmos atores sempre presentes, configurando uma elite, na qual estavam presentes os ex-alunos da escola de Ouro Preto, como resultado de uma relação educativa voltada para a formação de uma elite gerencial. Primeiro para o Estado e, em seguida, para as grandes empresas multinacionais.

instalação da fábrica em Minas Gerais, distante do principal parque automobilístico brasileiro, localizado em São Paulo. Decorre ainda, prossegue o informe, do fato de seus veículos serem, desde o início, menores, mais compactos e econômicos do que os similares nacionais; foi também a primeira empresa brasileira a lançar o carro movido a álcool; a primeira a lançar veículo com mil cilindradas (Uno Mille), um novo segmento em “carro popular”; a primeira a lançar o sistema “on-line”, voltado para a definição antecipada do consumidor sobre certas características do veículo adquirido: cor, componentes, etc. Além do mais, inaugurou em 1996, com o modelo Palio, o sistema de produção do carro mundial. Nas palavras de um dos seus diretores, a “missão” da empresa pode ser assim definida:

“O desafio da globalização, compromisso com o respeito ao cliente, paixão pela qualidade dos nossos automóveis, agressividade inovadora, organização de nossa rede e de nossos fornecedores. Continuar a investir em inovações, em produtos, em sistemas de gestão, na atenção aos empregados, aos clientes e serviços.” (Fiat,1996)

Chama a atenção a evolução de seu faturamento, que saltou de 1,4 bilhões US, em 1991, para 6,1 bilhões US em 1996. O número de funcionários cresceu também, mas em proporções significativamente menores (ver tabela 8), o que demonstra elevação nos seus padrões de produtividade.

Tabela 8:

FIAT: Evolução do emprego

Ano Nº de Empregados

1992 13.700 1994 17.653 1996 21.000 Fonte: material publicitário da Fiat

A produção diária de veículos gira em torno de 2.300 unidades, e a exportação é de cerca de 11.000 veículos por mês.86 Nas relações com o mercado, a FIAT tem

aumentado sua participação no mercado nacional, que evoluiu de 15%, em 1991, para 26,5%, em 1996. Estes índices resultam em grande parte dos investimentos realizados pela empresa, que afirma seu propósito de “superar a concorrência em termos de qualidade e capacidade produtiva”. A tabela abaixo indica o crescimento dos investimentos realizados nos últimos quatro anos:

Tabela 9:

FIAT: evolução dos investimentos

Ano Investimento em US$

1993 80 milhões

1994 186 milhões

1995 512 milhões

1996 (orçado) 517 milhões

Fonte: material publicitário

A empresa não faz grande investimento em P&D, já que sua matriz é localizada na Itália, onde a área de pesquisa é concentrada. Parte dos investimentos nacionais é aplicado na compra de equipamentos, segundo informações da empresa. Mas, embora a planta conte com vários equipamentos de tecnologia atual, ela é ainda pouco automatizada, quando se toma por referência o uso de equipamentos de base microeletrônica (ME). A base tecnológica da planta data dos anos 60, quando a fábrica foi planejada, e sua estratégia para automação ME restringe-se à substituição pontual de alguns equipamentos, o que ocorre ou pela obsolescência da máquina antiga ou pela exigência dos mercados.

86 O volume de exportações cresceu para 16.000 veículos no último mês de novembro de 97, em

consequência do pacote econômico editado pelo governo, que provocou a elevação dos juros e o IPI - Imposto sobre Produtos Industrializados. (Diário do Comércio, 18/11/97)

A empresa conta com um uso não elevado de CNC’s (Controle Numérico Computadorizado), incontáveis CLP’s (Controladores Lógico Programáveis). Segundo publicidade da empresa (1996), a planta tem instalados 38 robôs para “poupar os operários de tarefas incômodas”, o que não chega a ser um número elevado considerando a dimensão da planta. A pesquisa de Oliveira (1996), constatou que parte dos equipamentos ME incorporados à produção da Fiat estão instalados no interior das fábricas de autopeças fornecedoras no programa just-in-time.

Esta, na verdade, parece ser a grande estratégia modernizadora da empresa. Em visita realizada à empresa em 1991, um engenheiro comentava: “estamos iniciando a implantação do sistema just-in-time, a partir de uma versão italiana, desenvolvida pela matriz da Itália”. De fato, esta versão não é apenas uma inovação organizacional, é também uma inovação financeira, na medida em que o sistema “on-line” de compra antecipada do veículo, significa que parte do pagamento é feita também em período anterior à entrega do veículo ao consumidor final. Para a empresa, este valor recebido torna-se capital de giro ou investimento em aplicações financeiras rentáveis.87

Um artigo publicado na grande imprensa88 comenta outro aspecto importante das atividades financeiras da indústria automobilística brasileira. São os bancos das montadoras, “os campeões de rentabilidade em 96”. Neste período, os três principais bancos de montadoras ( Volkswagen, Fiat e GM) ficaram entre os 20 bancos mais rentáveis do país, chegando a 51% a sua taxa de retorno sobre o patrimônio líquido, enquanto a rentabilidade geral do sistema financeiro era de 12,2%. Esta tendência, contudo, passou a reverte-se em 1997, face à concorrência de outras instituições do segmento de financiamento de veículos, além da própria desaceleração das vendas do

87 Agradeço esta informação prestada por Mário S. Salerno. 88 Folha de São Paulo, 03/08/97, caderno 2, pagina 4.

produto. Assim, já no primeiro trimestre de 97, a rentabilidade máxima dos bancos das montadoras era de 12,3% contra 10,1% da média dos bancos.

A origem desta rentabilidade estaria no fato de que “as montadoras podem captar recursos no exterior a taxas de juro de 6% a 7% ao ano. Ao mesmo tempo, as mesmas instituições financiavam a aquisição de veículos com taxas de juros de 3% a 5% ao mês”. O Banco Fiat que, em 1996, oferecia financiamento com juro médio de até 4% ao mês, em 97, operou com taxa de 2,99%, o que resultou na queda de seus resultados financeiros.

Tabela 10:

Rentabilidade dos Bancos das montadoras (% sobre o patrimônio líquido)

Período Banco VW Banco Fiat Banco GM

12/96 51 30,9 26,1 03/97 20 12,1 12,3 Fonte: Austin Asis89

Refletindo, talvez, as análises de Pierre Salama (1996), os investimentos financeiros constituem-se numa atividade bastante lucrativa das empresas90, o que termina implicando, muitas vezes, em reduzidos investimentos em equipamentos. Neste caso, as inovações organizacionais passam e se constituir numa estratégia fundamental, e a filial brasileira da Fiat é plena destas novidades.

No ambiente interno destaca-se a introdução das células de produção, ou UTE’s - unidade tecnológica elementar (Neves,1993); reduções na pirâmide hierárquica que forma a estrutura organizacional da empresa e, ainda, mudanças na organização do trabalho. As últimas caracterizam-se pela introdução do trabalho em equipes, do JIT

89 idem

90 O comentário do empresário Salvador Arena, presidente da Termodinâmica (maior “liquidez” em

96), ilustra bem esse movimento: “Ao comentar os resultados da empresa em 1991, disse que o lucro de 23 milhões de dólares conseguido na época era falso. Na verdade havia acumulado 21 milhões de dólares de prejuízos operacionais nos dois últimos exercícios. O lucro, explicou Arena, só foi possível graças à agiotagem financeira”. (Exame, 1996: 204)

interno, CCQ (círculos de controle de qualidade), CEP (controle estatístico de processos), entre outras. Estas inovações respondem às exigências do cliente, em termos de novos padrões de qualidade e de comercialização.

As relações com o ambiente externo são destacadas pelo uso do JIT externo, principalmente com os fornecedores estabelecidos na mesma região que a montadora.

Quadro 6:

FIAT: fornecedores instalados em MG91

1989: 35 1993: 50

1995: 61 (41 no cinturão industrial de Betim) 1996: 70

Fonte: Oliveira (1996).

Quadro 7

FIAT: Principais fornecedores

USIMINAS: 85% do total de aços utilizados na fabricação do veículo Microbat: fabricante de acumuladores

Nippon Denso: aparelhos de ar condicionado ELO: revestimentos acústicos

Oscar: painéis espumados

Sumitomo e Sielim: chicotes elétricos Anemmya: peças usinadas

Kadron: escapamentos Fonte: Oliveira (1996).

Conforme pode-se observar pelo Quadro 7, a Usiminas é um fornecedor de extrema importância. Para atender a Fiat, a siderúrgica instalou uma subsidiária, próxima à montadora, no município vizinho de Contagem, cuja finalidade é a realização dos trabalhos de estampagem para os veículos Fiat, numa relação de exclusividade.

No documento A TRAMA E O DRAMA DO ENGENHEIRO (páginas 188-193)