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ENGENHEIROS EM BELO HORIZONTE

No documento A TRAMA E O DRAMA DO ENGENHEIRO (páginas 132-135)

O CENÁRIO E OS ATORES

ALEMANHA JAPÃO FRANÇA REINO UNIDO EUA

4 OS ENGENHEIROS EM MINAS GERAIS

4.5 ENGENHEIROS EM BELO HORIZONTE

A virada do último século marca a nova dimensão de uma política dita “mineira”, que faz da negociação e da capacidade de conciliação seus signos e sua marca própria. Foi ela que engendrou uma cultura de todo particular que projetou Minas e seus homens políticos no cenário nacional, de um modo particular. ( Pimenta62)

A Escola de Engenharia de Belo Horizonte foi fundada em 1911, quatorze anos após a festa inaugural da cidade. Era uma nova capital para o estado de Minas, substituindo a anterior, Ouro Preto. Os estudos de Cardoso (1998) mostram todo o processo de criação e construção de uma das primeiras capitais planejadas63 do país, inspirada na reforma parisiense de Haussman, e na também planejada capital americana: Washington. O mundo mudava, o país mudava, a província mineira também queria entrar nos novos tempos. Era preciso um “monumento” à recente república. Uma cidade bem traçada, planejada, capaz de refletir a racionalidade, a ordem e o progresso dos novos tempos. Enfim, uma cidade que expressasse o “espírito positivo” da época. Poucos anos depois de sua inauguração, a nova capital mineira cria a sua própria escola de engenharia, reafirmando a nova ordem racional instituída.

Discutindo a transferência da capital, de Ouro Preto para Belo Horizonte, Cardoso (1998) aponta as restrições feitas à participação dos ex-alunos da Escola de Minas, na construção da nova cidade. Eram principalmente de ordem política, ligada à origem monarquista da escola de Ouro Preto. Contrapondo-se, portanto, aos ideais

62 Traduzido do original francês da tese de Pimenta, S. (1996: 43).

63 Agradeço a Otávio Soares Dulci por me lembrar que Aracajú e Teresina foram planejadas antes de

republicanos e positivistas da época, muito presentes entre os fundadores da nova capital mineira. Sobre a participação dos ex-alunos da Escola de Minas na criação de Belo Horizonte, comenta Carvalho, J. M.(1978: 84) que a contribuição destes foi: “por período curto e de modo limitado. Por razões políticas, Afonso Pena excluía os mineiros da Comissão Técnica criada em 1892 para planejar e construir a cidade. A presidência foi dada a Aarão Reis, ex-aluno da Escola Central e professor da Politécnica (do Rio de Janeiro)”.

Se os signos da modernidade acompanharam as novas instituições instaladas, outros valores simbólicos - seus heróis e seus mitos - fortaleceram as mais antigas. A cidade dos inconfidentes poetas (alguns formados em Coimbra) se tornaria “patrimônio da humanidade”, preservada em seu traçado elementar, que acompanha as curvas de nível da topografia montanhosa, e em suas igrejas barrocas. Parte da memória nacional, ela é sempre visitada e vê-la significa reconstruir um pouco o infinito desejo de liberdade. Um símbolo.

Outro símbolo, Gorceix. Este de um círculo bem menor, e por isso extremamente coeso. Mesmo que o “espírito de Gorceix” seja criticado, ao evocá-lo para a crítica, ressuscitam-no. E o “esprit-de-corps” se manteve, e se mantém vivo. A renovada abertura para o mais novo. A densa reflexão sobre o perene. Penso que são essas as diferenças que marcam as duas cidades e as duas escolas. Também se poderia dizer que as duas características guardam valores distintos, porém igualmente relevantes. Para Dias (1997), as relações políticas e intelectuais entre Ouro Preto e Belo Horizonte, “diga-se logo, foram de complementaridade” e, fundado no discurso dos inconfidentes mineiros, cita o trabalho de Ciro Flávio Bandeira de Mello:

“Na Minas Gerais republicana era mister buscar na tradição e na luta libertária a identificação do regime republicano com a nação, estratégia de confirmação da legitimidade da política em seu

momento de encontro com as origens e os heróis nacionais. Paralela a essas construções ideológicas, construiu-se de cal e pedra a nova capital que deveria casar, com seus projetos de futuro, as origens libertárias do passado.

Por esse viés, entendemos que a construção da nova capital mineira significou, no discurso republicano que a justifica e glorifica, não uma ruptura do tipo novo/velho, moderno/antigo, mas uma recomposição do tempo histórico dentro de uma legitimação da justaposição tradição/futuro. E a República trabalhou isso muito bem.”64

Belo Horizonte cresceu e seus jovens intelectuais modernistas65 tiveram viva participação nas medidas tomadas para a preservação do patrimônio histórico mineiro. Enquanto de Ouro Preto, mais precisamente da Escola de Minas, vários de seus ex- alunos viriam compor o corpo de professores da Escola de Engenharia de Belo Horizonte.

A Escola de Minas manteve um estilo próximo ao das “grandes escolas” francesas, de onde se inspirou. A escola de Belo Horizonte (hoje, Escola de Engenharia da UFMG), mesmo sem os traços mais característicos da “grande escola”, definiu-se, ao longo de sua história, como uma das maiores e mais eficientes do país. A última, mais diversificada, autodenominada “escola técnica de Engenharia”, teve grande contribuição na formação de um parque industrial também diversificado, na região que circunda Belo Horizonte (ver Singer, 1977). A primeira, sempre muito próxima das suas origens, construiu e consolidou a siderurgia, a exploração mineral, bem como as políticas que as sustentaram.

As décadas se sucederam e, cada vez mais, tornou-se distante o dia de pura aridez e poeira que marcaram a festa de inauguração da nova capital mineira. A indústria metalúrgica cresceu ao seu redor, e a vocação da região estava confirmada.

64 Dias (1997: 31) citando Mello (1996: 13).

65 Carlos Drumond de Andrade, Pedro Nava, Ciro dos Anjos, Aníbal Machado, Rodrigo Melo Franco

No documento A TRAMA E O DRAMA DO ENGENHEIRO (páginas 132-135)