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Bloco II – Ênfases curriculares e disciplinas

4 PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DE PSICOLOGIA: AS REPRODUÇÕES E RUPTURAS EM TELA

4.4 Bloco II – Ênfases curriculares e disciplinas

Segundo Seixas (2014), esse bloco abarca duas dimensões do PPC: a descrição das ênfases curriculares e a matriz curricular, daí, constituir-se como aquele que concentra o maior volume de informações. O autor explica que esse e o terceiro bloco operacionalizam os pressupostos teóricos, filosóficos e pedagógicos, constantes na primeira parte.

Acompanhando as orientações de Seixas (2014), a dimensão das ênfases curriculares é composta pelos seguintes itens: foco das ênfases; perfil do egresso da ênfase; justificativa para sua criação; processo formativo dentro da ênfase e seu funcionamento interno. A matriz curricular, por seu turno, diz respeito às disciplinas em si e sua análise divide-se em dois grandes grupos de dados: a descrição da disciplina (nome, carga horária, localização na matriz do curso, ênfase a que pertence) e o conteúdo (eixos estruturantes e temas transversais).

Iniciemos, então, com a análise das ênfases curriculares. Nessa dimensão, a versão do PPC de 2009 mantém o mesmo texto do projeto original, com a proposição de duas ênfases curriculares: Psicologia e processos educativos e Psicologia e processos de prevenção e promoção da saúde (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, 2009a).

Após a explicitação das opções de ênfase, não há no PPC nenhuma outra referência ao tópico (nem na primeira versão, nem na de 2009), o que nos impossibilita de responder aos demais pontos elencados por Seixas (2014). Se o texto em si do PPC não apresenta mais detalhes sobre as ênfases, tampouco a prática de ensino as considera. O curso desenvolve-se em seu cotidiano com oferta de disciplinas independente disso: os estudantes não optam por uma ênfase em determinado momento, seguindo sua graduação com a obrigatoriedade de cursar todas as disciplinas da matriz curricular. Seus estágios e demais atividades acadêmicas também não giram em torno da escolha de ênfases, pois a oferta dessas atividades ocorre de modo independente dessa opção.

De fato, o que se observa está muito próximo da estrutura do Currículo Mínimo, ao menos em termos de manter um único caminho ao longo da formação. É preciso engendrar esforços que movimentem debates visando refletir sobre as ênfases e seu lugar no referido curso. Demarcamos que o NDE vem reunindo-se e refletindo sobre a construção de ênfases mais coerentes com o curso e com a realidade social local e sua estruturação na matriz curricular. Todavia, tem sido um processo lento, especialmente devido à disponibilidade docente, uma vez que a maioria tem estado sobrecarregado com outras demandas acadêmicas

ou em processo de doutoramento.

Em nosso entendimento, nessa reflexão, cabem algumas considerações acerca do caráter das ênfases curriculares nas DCNs. Nesse sentido, a despeito da proposta das DCNs de que as ênfases curriculares permitam uma delimitação de um ou mais domínios da Psicologia, o que propiciaria uma concentração de conhecimentos coerentes com determinadas demandas e vocações de um curso, estudiosos apontam a possibilidade de um especialismo precoce (CRUCES, 2006), o que feriria o aspecto generalista perfilado na formação. O caminho não seria esse.

Aqui, vale retomar Bernardes (2012) e seu desafio de ressignificar as ênfases de modo a romper com a lógica da psicologia aplicada, que constitui o Currículo Mínimo e que persevera com as DCNs. Para tanto, há que se ampliar o conceito de ênfase, inserindo-o em discussões temáticas da Psicologia e não em debates territoriais, em termos de domínios, que assumem um viés mais excludente em termos das escolhas dos estudantes.

No tocante à dimensão da matriz curricular, analisamos as disciplinas obrigatórias42 e

suas respectivas ementas. Por ser a dimensão mais extensa e complexa, cabem maiores explicações sobre os procedimentos de análise. Tomando por base a estratégia de Seixas e colaboradores (SEIXAS et al., 2013), tais procedimentos seguiram com a leitura das ementas de cada disciplina e a busca de identificação de seu conteúdo em relação ao(s) eixo(s) estruturante(s) correspondente(s), frisando que a ementa pode ter elementos de mais de um eixo, assim, não necessariamente uma disciplina só possui um eixo de discussão. Além disso, buscamos levantar outras temáticas presentes no PPC de modo a identificar características do conteúdo disciplinar que fossem transversais aos eixos ou que sinalizassem especificidades acerca do curso, visando compreender melhor o ensino de Psicologia na Unidade de Palmeira dos Índios.

No artigo quinto das DCNs, lista-se os seis eixos estruturantes que devem compor a formação em Psicologia, os quais são constituídos por uma articulação entre conhecimentos, habilidades e competências necessários a essa formação: I - Fundamentos epistemológicos e históricos; II - Fundamentos teórico-metodológicos; III - Procedimentos para a investigação científica e a prática profissional; IV - Fenômenos e processos psicológicos; V - Interfaces 42 Limitamo-nos às disciplinas obrigatórias devido ao fato de que as eletivas não têm uma frequência de oferta

constante, ficando sob a responsabilidade do docente a iniciativa de ofertá-las em um semestre ou não. Por exemplo, já ocorreu de disciplinas terem sido ofertadas uma única vez, seja por professores efetivos ou substitutos, e não terem mais surgido na grade semestral em outros períodos. Assim, essa oscilação não permite uma análise mais consistente sobre as eletivas.

com campos afins do conhecimento; VI - Práticas profissionais (BRASIL, 2014a).

Conforme o quadro 01, em uma leitura geral das ementas, constata-se uma maior concentração de conteúdos no Eixo III, que trata dos procedimentos para a investigação científica e a prática profissional. Ainda é notória a distância entre os conteúdos dos Eixos I, II, III, IV e V e o eixo VI, que possui uma representação significativamente menor.

Em um primeiro olhar, há uma sugestão de uma maior ênfase nos procedimentos e instrumentos, sejam científicos e/ou profissionalizantes. Contudo, as discussões teóricas também possuem um peso significativo no curso, bem como os conteúdos advindos de outros campos, que estão bem representados ao longo de toda formação. O que parece desequilibrada é a relação entre a teoria e a prática, já que os elementos vinculados à prática profissional estão restritos, ao menos nas ementas, a cinco disciplinas.

Quadro 01 - Eixos Estruturantes

Eixos Frequência

I - Fundamentos epistemológicos e históricos 10 II - Fundamentos teórico-metodológicos 13 III - Procedimentos para a investigação

científica e a prática profissional

19 IV - Fenômenos e processos psicológicos 15 V - Interfaces com campos afins do

conhecimento

12

VI - Práticas profissionais 05

Fonte: a autora

Em sua investigação, Seixas (2014) observou nos currículos dos cursos de Psicologia uma maior presença do Eixo II, seguido pelo Eixo III. Para o autor, isso poderia indicar um viés conteudista, mais próximo à tradição do Currículo Mínimo, com uma hegemonia teórica em relação à prática profissional. Ao mesmo tempo, o autor reflete que o predomínio do terceiro eixo sinalizaria a ênfase em aspectos técnicos, mais voltados à dimensão profissionalizante. Em sua avaliação: “o descompasso entre a quantidade de conteúdos técnicos em detrimento dos teóricos é um forte indicativo de uma desarticulação aparente entre teoria e prática, sobretudo se levarmos em consideração além do Eixo C, a disparidade do Eixo B com o Eixo F” (SEIXAS, 2014, p. 194-195). Em seu entendimento, uma distribuição equânime entre os Eixos I, IV, V e VI pode indicar uma formação mais ampla e

generalista.

Na verdade, essa visão inicial da distribuição das ementas por eixo permite uma compreensão global do curso e de suas discussões, mas é preciso uma análise pormenorizada de como cada eixo é constituído para entender as propostas do PPC para a formação do psicólogo e como essa matriz se articula com os fundamentos teóricos, filosóficos e pedagógicos explorados no Bloco I.

O Eixo I é referente aos fundamentos epistemológicos e históricos, os quais devem permitir “ao formando o conhecimento das bases epistemológicas presentes na construção do saber psicológico, desenvolvendo a capacidade para avaliar criticamente as linhas de pensamento em Psicologia” (BRASIL, 2014a, p. 2). As discussões desse eixo envolvem disciplinas entre o 1º e o 6º períodos, concentrando-se no terceiro semestre (Quadro 02). Quadro 02 - Eixo I - Fundamentos epistemológicos e históricos

Disciplina Carga horária Período

Produção do Conhecimento: ciência e não-ciência 120 1º

Introdução à Psicologia 80 2º

Psicologia Social 1 80 3º

Metodologia da Pesquisa Psicológica 80 3º

Ética profissional 80 3º

Teorias e Sistemas Psicológicos 1 80 3º

Psicologia Social 2 80 4º

Teorias e Sistemas Psicológicos 2 80 4º

Técnicas de Exames Psicológicos 60 5º

Psicologia Social Comunitária 80 6º

Fonte: a autora

Nas disciplinas elencadas, há uma preocupação com os fundamentos históricos da Psicologia, seja em sua totalidade ou em temas específicos, e com a discussão sobre sua epistemologia. Embora esse eixo não seja o mais representativo na matriz curricular, suas disciplinas têm uma carga horária significativa em comparação com as demais que, em média, apresentam 60 horas/aula43.

43 Apesar das disciplinas desse eixo apresentarem uma carga maior, isso não se deve a uma escolha deliberada do curso. Na reformulação ocorrida em 2008, tentou-se diminuir a carga horária de boa parte dessas disciplinas de 80 para 60 horas/aula. Todavia, isso não foi possível e as disciplinas continuaram com uma carga horária maior, comparada aos demais eixos.

A presença menor do Eixo I nos currículos de Psicologia chamou atenção de Seixas (2014), que comenta que isso tem sido apontado como uma falha na formação, tanto em termos da constituição histórica da Psicologia em sua totalidade, como em relação à ampliação da discussão epistemológica, considerando não somente a Psicologia, como a ciência de forma geral. O cuidado com esse eixo é central para uma formação mais consistente, crítica e coerente com os princípios realçados no PPC:

Muitos dos aspectos formativos defendidos pelos cursos em sua proposta pedagógica, sobretudo na direção de uma formação mais generalista, pluralista, de perfil acadêmico-científico, crítico, dependem da inserção de debates dessa natureza dentro das graduações, uma vez que os fundamentos epistemológicos são essenciais para uma leitura ampla e plural da realidade (SEIXAS, 2014, p. 208).

Esses fundamentos também são ressaltados por Patto (2009), quando conclama a uma profunda revisão curricular. Como citamos anteriormente, a autora atenta que a formação em Psicologia deve ter uma sólida base filosófica que transcenda a ideia de um currículo plural no sentido de apresentação de uma diversidade maior de abordagens e áreas de atuação. O percurso formativo deve seguir outra trilha: é preciso “instrumentos teóricos para pensar as diferentes correntes teóricas que habitam o campo da ciência que escolheram” (PATTO, 2009, p. 34).

No Eixo II (Quadro 03), as discussões devem dar conta dos elementos teóricos e metodológicos que perfazem a ciência psicológica, isto é, são os “Fundamentos teórico- metodológicos que garantam a apropriação crítica do conhecimento disponível, assegurando uma visão abrangente dos diferentes métodos e estratégias de produção do conhecimento científico em Psicologia” (BRASIL, 2014a, p. 2).

No PPC em análise, esse eixo estende-se por quase todos os semestres do Tronco Profissionalizante – à exceção do 5º, 9º e 10º períodos -, o que sugere uma preocupação maior com os aspectos teórico-metodológicos da Psicologia.

De modo geral, observa-se uma direção semelhante nas disciplinas: resgatar fundamentos teórico-metodológicos da Psicologia em suas diversas áreas. Assim, repete-se o procedimento de discutir esses fundamentos e como eles se inserem em cada área. Além disso, nas ementas, as discussões são pluriteóricas, buscando introduzir como as diferentes perspectivas refletem sobre a Psicologia em sua totalidade e sobre aquela área em específico. Essa observação vai ao encontro do estudo de Seixas (2014) que também constatou uma

maior presença, nos PPCs, de disciplinas pluriteóricas em detrimento daquelas uniteóricas, o que, em sua acepção, é algo desejável, considerando a necessidade de uma formação pluralista e generalista.

Quadro 03 - Eixo II – Fundamentos teórico-metodológicos

Disciplina Carga horária Período

Introdução à Psicologia 80 2º

Psicologia Social 1 80 3º

Metodologia da Pesquisa Psicológica 80 3º Teorias e Sistemas Psicológicos 1 80 3º

Psicologia Social 2 80 4º

Teorias e Sistemas Psicológicos 2 80 4º

Psicologia Hospitalar 80 6º

Psicologia Social Comunitária 80 6º

Psicologia Escolar/Educacional 1 60 6º Teorias e Técnicas Psicoterápicas 1 60 7º

Psicopatologia 1 60 7º

Psicologia Escolar/Educacional 2 60 7º Teorias e Técnicas Psicoterápicas 2 60 8º

Fonte: a autora

O terceiro eixo (Quadro 04) foi o mais recorrente em nossa leitura das ementas. Segundo as DCNs, o Eixo III trata dos

Procedimentos para a investigação científica e a prática profissional, de forma a garantir tanto o domínio de instrumentos e estratégias de avaliação e de intervenção quanto a competência para selecioná-los, avaliá-los e adequá- los a problemas e contextos específicos de investigação e ação profissional (BRASIL, 2014a, p. 2).

O peso maior desse eixo deve-se ao fato de que inserimos disciplinas que possuíam tópicos sobre procedimentos e instrumentos para a prática psicológica, tanto em relação à intervenção profissional quanto ao trabalho científico. Também incluímos disciplinas que refletiam sobre a prática do psicólogo, em seus diversos âmbitos.

e instrumentos necessários à prática psicológica. Em sua pesquisa, Seixas (2014) investigou se nas ementas havia predominância do ensino de instrumentos ou de procedimentos, concluindo que há uma maior presença desses últimos. Isso, em sua compreensão, pode ser indicativo de avanço para uma formação generalista na medida em que o estudo dos procedimentos em detrimento dos instrumentos em si pode propiciar uma visão mais abrangente.

Quadro 04 - Eixo III - Procedimentos para a investigação científica e a prática profissional

Disciplina Carga horária Período

Pesquisa em Ciências Sociais 120 2º

Metodologia da Pesquisa Psicológica 80 3º

Ética profissional 80 3º

Técnicas de Exames Psicológicos 60 5º

Processos Psicológicos Básicos 1 60 5º

Processos Psicológicos Básicos 2 60 6º

Psicologia Hospitalar 80 6º

Psicologia Social Comunitária 80 6º

Psicodiagnóstico 1 60 6º

Psicodiagnóstico 2 60 7º

Teorias e Técnicas Psicoterápicas 1 60 7º

Processos Grupais 2 60 7º

Psicologia Escolar/Educacional 2 60 7º

Problemas Escolares 60 8º

Psicologia Organizacional e do Trabalho 2 60 8º Teorias e Técnicas Psicoterápicas 2 60 8º Seminário de Pesquisa em Psicologia 40 8º

Psicopatologia 2 60 8º

Trabalho de Conclusão de Curso - 9º e 10º

Fonte: a autora

Concomitantemente, o pesquisador também indagou sobre a natureza a que se destinam os instrumentos e procedimentos presentes nas ementas. Nesse caso, encontrou a seguinte resposta: 62,1% das disciplinas do Eixo C tinham caráter profissionalizante (SEIXAS, 2014). Entendemos que aqui há uma ênfase em um perfil técnico, eminentemente

profissional, mas que não considera de forma mais enfática o trabalho do psicólogo como pesquisador.

Esse tensionamento na formação entre o perfil técnico e o científico compõe a história da Psicologia no Brasil. Como vimos, antes mesmo da regulamentação da profissão, havia uma dicotomia entre um perfil técnico, profissional, conectado às demandas da sociedade, porém com fragilidades teóricas e científicas e outro acadêmico, com fundamento teórico e científico, mas com dificuldades de dialogar com as demandas sociais (MELLO, 2010a; CRUCES, 2006). Essa dicotomia também permeou a formação após a regulamentação e expôs a defasagem entre a preparação técnica e a formação científica. Na verdade, em muitos cursos brasileiros, em especial aqueles provenientes de IES privadas, a preparação técnica sobrepujou a científica, que ficou limitada a poucas disciplinas, isoladas das profissionalizantes. Não é à toa que estudiosas como Mello (2010a) e Weber (1985) alertaram para tal dicotomia na formação, como discutimos no segundo capítulo.

No PPC em análise, demarca-se que o perfil do egresso deve ter um caráter científico, crítico e reflexivo: com a “apreensão de uma postura consciente e responsável quanto à utilização de métodos e técnicas científicas, à avaliação e à produção de conhecimentos da Psicologia” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, 2009a, p. 8). Essa demarcação coaduna-se com o entendimento de que a formação em Psicologia deve valorizar o desenho de um profissional para além do técnico, visando à constituição de um perfil de pesquisador.

Seixas (2014) pontua que, nos dias atuais, o discurso da formação em pesquisa é frequente nos PPCs em Psicologia, o que demonstra sua força. Além disso, sua recorrência está afinada com as reflexões de muitos estudiosos que apontam a formação científica como uma via para a solução dos impasses formativos. Nessa altura, consideramos relevante acrescentar elementos da concepção de pesquisa que Andrade e Silva (2009, p. 204) delineia:

[…] qualquer pesquisa em si, não promove a reflexão crítica. Mas sim pesquisa compreendida como possibilidade de incitar a dúvida, a curiosidade, a crença na transformação do conhecimento, considerando a pluralidade da verdade, pensando de forma livre, com a ideia de que a aprendizagem é contínua e infinita.

De fato, a pesquisa possibilita a apreensão de novas leituras da realidade e problematizações sobre condições cotidianamente naturalizadas. Sua importância também reside na oportunidade de uma compreensão criativa acerca de métodos de investigação e/ou

intervenção, o que pode subsidiar a produção de formas diversas de trabalho em Psicologia. Diante disso, buscamos estudar esses aspectos no PPC de Palmeira dos Índios, especialmente porque, além de ser o eixo mais frequente, é o que perpassa todos os semestres, exceptuando-se o 4º período. Em nossas leituras, verificamos que, de fato, há uma maior menção nas ementas aos procedimentos e técnicas mais próximos à profissionalização, sendo a distância entre esses elementos e a prática científica relativamente acentuada - são treze e sete tópicos, respectivamente. Entretanto, isso é amenizado pela presença obrigatória do TCC nos dois últimos semestres e pela carga horária das disciplinas que enfocam a pesquisa. Indo além: ao observarmos sobre o que os temas profissionalizantes discorriam, percebemos que havia uma considerável quantidade de itens que apontavam para reflexões sobre a prática profissional (cerca de seis itens); e, mesmo quando se tratou de procedimentos e técnicas mais explicitamente (cerca de nove itens), isso foi feito dando maior relevo ao processo do que ao instrumento e si.

Embora essas inserções devam ser valorizadas, consideramos que precisam ser também potencializadas. Se, por um lado, é verdadeiro que há disciplinas dedicadas à pesquisa, também é fato que as disciplinas mais técnicas pouco mencionam isso, mantendo o fosso entre ciência e técnica. Isso parte, em nossa acepção, não somente da inclusão de mais temáticas de pesquisa no currículo, mas, acima de tudo, do fortalecimento do tripé pesquisa, ensino e extensão. Nesse âmbito, deve-se mencionar que isso é contemplado no PPC, estando relacionado à constituição de uma política institucional de valorização desse tripé. Adicionamos, em específico, que tais políticas devem buscar estratégias que incentivem ações de pesquisa que, devido às condições da expansão da UFAL, anteriormente discutidas, são atravessadas por diversos obstáculos.

Sobre o Eixo IV (Quadro 05), fenômenos e processos psicológicos, tem-se que são aqueles que “constituem classicamente objeto de investigação e atuação no domínio da Psicologia, de forma a propiciar amplo conhecimento de suas características, questões conceituais e modelos explicativos construídos no campo, assim como seu desenvolvimento recente” (BRASIL, 2014a, p. 2).

Sendo objetos de estudo da Psicologia, os fenômenos presentes nas disciplinas listadas no quadro são discutidos a partir do 4º período do curso. Verificamos a presença de estudos clássicos em Psicologia, como o desenvolvimento, a aprendizagem e a subjetividade, mas outros temas também têm espaço, como as políticas públicas e a relação entre saúde mental e

trabalho (presentes, respectivamente, nas disciplinas Psicologia e Políticas Públicas e Psicologia Organizacional e do Trabalho 2). Com efeito, vê-se que os temas clássicos possuem maior destaque, mas deve-se mencionar que objetos de estudo que são mais coerentes com a construção de práticas críticas em Psicologia fazem-se presentes nas ementas – embora de modo não tão intenso -, como a reforma psiquiátrica, as relações de poder no trabalho, os processos de exclusão/inclusão no contexto educacional, entre outros.

Quadro 05 - Eixo IV – Fenômenos e processos psicológicos

Disciplina Carga horária Período

Psicologia do Desenvolvimento 1 80 4º

Psicologia da Subjetividade 1 80 4º

Psicologia e Políticas Públicas 60 5º

Psicologia da Subjetividade 2 60 5º

Psicologia do Desenvolvimento 2 60 5º

Psicologia da Aprendizagem 80 5º

Processos Psicológicos Básicos 1 60 5º

Processos Psicológicos Básicos 2 60 6º

Processos Grupais 1 60 6º

Psicologia Organizacional e do Trabalho 1 60 7º

Psicopatologia 1 60 7º

Problemas Escolares 60 8º

Psicologia Organizacional e do Trabalho 2 60 8º Inclusão escolar das pessoas com necessidades

educacionais especiais

60 8º

Psicopatologia 2 60 8º

Fonte: a autora

Tecendo relações com o estudo de Seixas (2014), percebe-se a repetição de fenômenos a que o autor se refere. Por exemplo, a disciplina de Processos Psicológicos Básicos possui as mesmas características das ementas estudadas por Seixas (2014), uma vez que esses processos básicos correspondem a fenômenos como sensação, percepção, consciência, memória, motivação, emoção, pensamento e linguagem. Além disso, a subjetividade, como objeto de estudo central em duas das disciplinas, também corrobora os resultados de Seixas (2014, p. 215):

Nas análises empreendidas, foi um objeto extremamente marcante nos currículos, aparecendo várias vezes de forma individual nas disciplinas. A produção do conceito de subjetividade interliga-se com a própria história da

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