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4 PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DE PSICOLOGIA: AS REPRODUÇÕES E RUPTURAS EM TELA

4.5 Bloco III – Práticas profissionais

Seixas (2014) explica que o Bloco III diz respeito às atividades eminentemente práticas em que se busca relacionar os conteúdos teóricos do curso com elementos do exercício profissional. São os estágios e outras atividades práticas que estejam explicitadas no PPC de modo geral ou nas ementas de disciplinas de forma específica. O autor discrimina três tópicos que podem ser estudados nesse bloco: objetivo dos estágios, a relação entre os tipos de estágios, os locais em que são realizadas as práticas e as atividades previstas.

No PPC em análise, estão previstos como campos de atuação: “Organizações governamentais e não-governamentais; centros comunitários, empresas e indústrias; Instituições educacionais (escolas, universidades, creches, orfanatos, centros de pesquisas). Instituições de saúde (ambulatórios, postos de saúde, clínica e hospitais); Institutos de pesquisas” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, 2009a, p. 3-4).

Para tanto, o PPC enfatiza as atividades obrigatórias de estágio. Coloca-se que o curso deve oferecer condições para estágios nas áreas Clínica, Escolar, Social/Comunitária e Organizacional. Registra-se que é papel da Universidade fornecer subsídios para a consecução dos estágios obrigatórios, considerando a realização de convênios e a presença de docentes

supervisores nas diversas áreas de atuação do psicólogo, além da criação de uma clínica- escola que atenda à comunidade. Determina-se, ainda, o acompanhamento do estagiário por supervisores de campo e acadêmicos, sendo os primeiros, os profissionais que estão no campo que irá receber o estagiário, enquanto que os segundos são os docentes da UFAL. A supervisão deve obedecer a proporção de um profissional para 15 alunos, no Estágio Básico, e um professor para seis alunos nos Estágios Específicos (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, 2009a).

Seguindo as DCNs, o PPC estabelece que os estágios devem possuir 600 horas, distribuídas entre os Estágios Básicos (160 horas) e os Estágios Específicos (440 horas). Os primeiros são divididos em Estágio Básico 1 e 2, com 80 horas cada e oferecidos nos 7º e 8º períodos do curso, respectivamente, permitindo ao estagiário atuar em duas áreas distintas. Já nos segundos, Estágio Específico 1 e 2, o discente deve escolher uma única área, sendo ofertados nos 9º e 10º períodos, respectivamente, com 220 horas semestrais (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, 2009a). O texto do PPC esclarece as diferenças entre ambos os estágios:

O Estágio Básico tem como função propiciar ao estudante um primeiro contato com os campos de atuação da Psicologia. Trata-se de um estágio supervisionado no qual o estudante acompanha e executa tarefas básicas (observação, descrição das atividades, coleta de dados, etc.) nos campos de estágio ofertados pelo curso.

O Estágio Específico propiciará ao estudante a prática efetiva em área de atuação da Psicologia. É o momento de o futuro profissional exercer as atividades que um psicólogo desenvolve na área e local, onde a Psicologia está inserida (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, 2009a, p. 55).

Acrescentamos que o PPC prevê a realização de estágios não obrigatórios, que são permitidos desde que aprovados previamente pelo colegiado do curso (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, 2009a). Compreende-se que tais estágios são, com relação à grade curricular, opcionais aos estudantes. Desse modo, seu cumprimento não é determinante para a conclusão do curso, mas sua carga horária pode ser utilizada para contabilizar atividades complementares.

Percebe-se, no texto do documento, o esforço em propiciar uma diversificação dos campos de trabalho, que está presente na previsão das possibilidades de atuação e na oferta em si desses campos. Essa previsão expressa o movimento de diversificação dos campos de trabalho do psicólogo (BASTOS; GONDIM, 2010), na medida em que há uma

descentralização da prática clínica e dos campos tradicionais. Assim, há um entendimento mais ampliado, por exemplo, do que seja a atuação em instituições educacionais, considerando não somente os espaços escolares como aqueles não escolares.

A cada semestre, há o engajamento de docentes em manter essa diversidade de modo que, em geral, as ofertas ultrapassam aquelas previstas no PPC: há possibilidades desde áreas clássicas, como a clínica, a escola e empresas, como também nos serviços associados às políticas de assistência social, nos serviços de saúde pública, em organizações não- governamentais, em clínicas de reabilitação, no campo jurídico, entre outros. Vale salientar que a maior parte dos estágios desenvolvem-se no setor público, em específico, em órgãos ligados às prefeituras municipais. Além disso, considerando que estamos no interior de Alagoas, com estudantes de diversas cidades, os estágios não se restringem a Palmeira dos Índios, ao contrário, há uma grande quantidade de campos em Arapiraca e já houve ações em outras cidades, inclusive Maceió. Muito embora, deve-se notificar que, à exceção de Arapiraca, estágios em outras cidades ocorrem em número bem menor do que demandam os estudantes.

Essa notificação e outras observações conduzem-nos a ponderar sobre as dificuldades em abrir campos de estágio e mantê-los. O PPC é claro na afirmação de que a universidade deve prover campos de estágio obrigatório aos estudantes, contudo, tal provisão é responsabilidade quase exclusiva de estudantes e docentes, sobretudo, da Coordenação de Estágio. Estes devem viajar por Alagoas, visitando campos, avaliando a viabilidade e negociando a disponibilidade do estágio entre profissionais da Psicologia, coordenações e direções dos serviços, prefeituras, entre outros. Como ainda não há uma política de estágio da UFAL, praticamente todo trâmite, inclusive burocrático e legal, para a inserção do estudante depende da Coordenação de Estágio, que é de responsabilidade de um docente do curso.

Dessa forma, o campo torna-se mais restrito do que se desejaria devido à escassez de oferta em sua diversidade46, como também a não aceitação de profissionais e campos e às

dificuldades de acesso dos professores às instâncias responsáveis pelos campos. Ainda, deve- se mencionar os percalços para manter um campo de estágio, o que revela, em partes, as condições precárias em que se desenvolve o trabalho do psicólogo: muitos profissionais não atuam em tempo integral em um serviço, dividindo seu tempo em outros locais de trabalho. 46 Como exemplo dessa escassez, sublinhamos a possibilidade presente no PPC do campo da Psicologia

escolar/educacional estender-se por contextos escolares e não-escolares. Apesar disso, o estágio nessa área não consegue ultrapassar os muros das escolas, visto que suas poucas ofertas concentram-se em instituições de ensino regular.

Isso se desdobra na situação de alguns estagiários que têm dificuldade de cumprir a carga horária, já que seu supervisor de campo tem horários restritos no campo. Outra questão diz respeito às observações das práticas de profissionais de Psicologia e do local de estágio que, muitas vezes, não são coerentes com as discussões presentes no curso, levando a questionamentos sobre a pertinência de manter tal espaço (SANTOS, 2014).

Diante disso, Santos (2014, p. 76), que estudou o papel dos estágios no curso de Psicologia de Palmeira dos Índios, assim sintetiza as condições em que eles ocorrem:

Com o prazo curto de estágio, bem como a falta de campo, falta de espaço das estagiárias, entre outros problemas estruturais, percebemos, durante os encontros do grupo focal que as alunas sentem-se prejudicadas, por muitas vezes ter que realizar os trabalhos às pressas e, por isso, não sair da maneira planejada; serem inseridas em um campo de estágio que não foi o desejado, mas pela ausência de vagas tiveram que ficar sem a experiência na área e estagiar em outra. Então, as alunas não se sentem bem, mas têm consciência de que precisam realizar o estágio, mesmo que se sintam prejudicadas.

Para minorar essas condições, os professores buscam elaborar e registrar projetos de extensão de modo a absorver a demanda de cada área, em conformidade com a Lei de Estágio nº 11.788/2008 (BRASIL, 2015e). Essa solução pode ser positiva por direcionar algumas práticas em acordo com o projeto do curso, por um lado, mas, por outro, configura-se como uma potencial sobrecarga de trabalho, uma vez que, em determinadas áreas, o número máximo de estudantes por docente é facilmente ultrapassado – especialmente na área Clínica. Além do que nem todos os projetos de extensão contam com a parceria de algum profissional da Psicologia que assuma o papel de supervisor de campo, ficando a supervisão restrita ao professor do curso.

Prosseguindo com a previsão das atividades práticas, o PPC registra a necessidade de implantação dos Laboratórios de Psicologia Experimental e de Psiconeurobiologia (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, 2009a). No caso do primeiro, as atividades hoje ocorrem no laboratório de informática que serve a toda a Unidade, com softwares específicos para o desenvolvimento de experimentos em ambiente virtual. Já no segundo caso, o curso recebeu peças que representam o corpo humano em materiais sintéticos, mas estão alocadas em uma sala improvisada.

Fazemos menção também às atividades complementares obrigatórias requeridas no PPC, as quais totalizam 360 horas, divididas entre 240 horas de disciplinas eletivas e 120 em outras atividades. Neste caso, considera-se a importância de atividades práticas, como

estágios não-obrigatórios, participação em atividades de extensão, pesquisa ou monitoria, etc.

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