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A Unidade Educacional de Palmeira dos Índios: contornos da expansão e da luta Não há melhor forma de introduzir a caracterização da Unidade Educacional de

PARTE I – PSICOLOGIA EM MOVIMENTO

3 UNIVERSIDADE EM MOVIMENTO: O DESENHO DA EXPANSÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

3.4 A Unidade Educacional de Palmeira dos Índios: contornos da expansão e da luta Não há melhor forma de introduzir a caracterização da Unidade Educacional de

Palmeira dos Índios do que resgatar em minhas memórias meu primeiro dia de aula em Psicologia, em agosto de 2008. Iria apresentar o programa da disciplina de Psicologia do Desenvolvimento 2 para o 5º período, a famosa primeira turma do curso. Planejei que faria uma atividade de apresentação inicial em que a turma iria desenhar os seus primeiros anos de UFAL e, a partir disso, cada um se apresentaria e traria suas retrospectivas e perspectivas.

E assim procedemos: cada um fez seu desenho e se apresentou, mas a professora recém-concursada surpreendeu-se em seu planejamento, por dois motivos: 1- em determinado momento da aula, os estudantes quiseram sair da sala para conversar com a Diretora Acadêmica da época, cujo trabalho desenvolvia-se na sede, em Arapiraca, mas que estava fazendo uma visita à Unidade. Os discentes queriam aproveitar esse momento para cobrar reivindicações anteriores que não foram levadas adiante e, considerando as raras aparições da diretora em Palmeira dos Índios, não poderiam perder essa oportunidade. 2- os desenhos envolviam, em sua maioria, sentimentos de frustração, tristeza, decepção em relação ao curso. O sonho de ser universitário esbarrava nas precárias condições que os discentes encontraram ao longo de seus dois primeiros anos de UFAL.

Tal resgate é relevante porque essas duas horas de aula fizeram-me mergulhar da forma mais consistente e dolorida na situação da expansão universitária e da Psicologia, assim como reconhecer a característica mais bela e tenaz dessa comunidade acadêmica: a luta. Além disso, esse primeiro dia foi um marco por iniciar as atividades acadêmicas no novo prédio da Unidade, que, como mencionamos, funcionava até o semestre anterior no CAIC.

A mudança do CAIC para a sede da Unidade deu-se em um cenário de intensas mobilizações dos primeiros estudantes de Psicologia e de Serviço Social e de seus docentes e técnico-administrativos. A Prefeitura Municipal de Palmeira dos Índios doou o terreno, em 2006, através da Lei Municipal nº 1.727, para a construção das instalações físicas da Unidade. Todavia, as obras só iniciaram-se em 2007, sendo a primeira etapa do prédio “inaugurada” em fevereiro de 2008. Naquele dia, houve uma aula inaugural, com o prédio ainda em obras e indisponível para uso, na qual se plantou mudas de árvores diversas no terreno (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, 2012), mas as aulas continuaram no CAIC.

Efetivamente, o prédio foi entregue para uso da comunidade acadêmica no final de julho de 2008, com as aulas iniciando-se em agosto. Situa-se no bairro Vila Maria, que, como falamos, é um bairro residencial, com casas de um pavimento, com “padrão construtivo simples, indicando que a maioria da população residente no bairro é de baixa renda” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, 2012, p. 14).

Inicialmente, ao redor da UFAL, havia poucos estabelecimentos comerciais como mercearias e pequenos mercados e sua rua não era pavimentada (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, 2012), além de duas UBS e uma grande e tradicional escola municipal de ensino fundamental. Ressalta-se que, nesses sete anos de funcionamento da Unidade, outras edificações foram surgindo em suas áreas próximas. Hoje, em sua vizinhança, temos prédios de mais de dois andares, ocupados por alguns professores e estudantes, sendo que a maior parte deles reside de forma temporária. Ainda, foi construída uma Unidade de Pronto Atendimento e uma creche municipal, bem como surgiram pequenos condomínios residenciais e as ruas foram calçadas. Por fim, recentemente o CESMAC mudou-se para o mesmo bairro, o que trouxe outros pequenos comércios, especialmente no setor de alimentação e uma inquietante comparação entre os prédios da IES pública, precário e com necessidades diversas de manutenção, e da privada, aparentemente bem estruturado e esteticamente agradável à visão23.

Retornando ao primeiro semestre de funcionamento da Unidade nesse bairro, detemo- nos a tratar brevemente da estrutura do prédio que, em nosso entendimento, já permite uma maior palpabilidade do processo de expansão universitária. Sigamos, pois: o Bloco 1, único até 2010, era composto pelo Setor Administrativo, Setor de Salas de Aula e o Bloco de Banheiros (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, 2012). No primeiro, havia uma pequena sala para as coordenações das duas graduações, uma sala da administração, uma sala para o Setor de Registro e Controle Acadêmico, uma sala coletiva para os professores, sala da secretaria executiva e outra para a coordenação da Unidade, que também funcionava como sala de (pequenas) reuniões, uma sala para a empresa copiadora, além de uma copa e banheiros. No setor de aulas, havia quatro salas de aula com capacidade para cerca de 50 23 Essa diferença entre as duas IES não se reduz à beleza dos prédios. Na verdade, ela nos permite colecionar

elementos para pensar o lugar do ensino superior público e privado no Brasil, em geral, e em Alagoas, em específico. Ora, como vimos, o financiamento do setor privado pelo Estado tornou-se crônico com a

consolidação do PROUNI e do FIES. E, em Alagoas, não tem sido diferente. Segundo Coral (2017), também se identifica o suporte público às iniciativas privadas – mormente administradas por nomes de famílias alagoanas tradicionalmente ligadas à política e à economia local -, com a cessão de terrenos para construção de faculdades e apoios diversos advindos das bancadas de senadores e deputados federais do Estado.

estudantes, além de duas outras – do mesmo tamanho que as de aula - destinadas à biblioteca e ao laboratório de informática. Já no último bloco, espremida entre os banheiros destinados aos estudantes, havia uma pequena sala que abrigava a lanchonete da Unidade, único espaço de convivência da comunidade acadêmica, embora fosse mínimo24.

Vale registrar que havia a previsão de sala para os Centros Acadêmicos – CA -, mas tal local ainda não havia sido definido, uma vez que todas as atividades, entre administrativas e acadêmicas, estavam amontoadas nos espaços descritos. Na verdade, a comunidade acadêmica buscou adequar-se às limitações espaciais e estruturais, que só não eram maiores pela forma como os cursos funcionam: Psicologia no período matutino e Serviço Social no vespertino. Mas, ao longo desse primeiro semestre de funcionamento, ficou notória a precariedade do prédio no tocante não somente à (in)disponibilidade de espaços para desenvolvimento das atividades – muitas vezes orientei estudantes em um batente da Unidade -, como às condições de ensino nas salas de aula.

Além disso, o projeto do prédio não considerou as alterações climáticas durante o ano na cidade. Palmeira dos Índios é uma cidade agrestina, que faz fronteira com o sertão e cujo entorno é constituído por serras. De clima tropical semiúmido, considera-se que se, por um lado, o inverno no município possui uma significativa queda de temperatura, o que deixa o tempo agradável e ameno, por outro lado, nos demais meses do ano, as temperaturas elevam- se demasiadamente. Destarte, as salas de aula eram muito quentes, dificultando o prosseguimento dos trabalhos. Eram, inclusive, recorrentes os casos de estudantes de Serviço Social, cujo curso é à tarde, no momento mais quente do dia, passarem mal, com queda de pressão. O calor insuportável, inclusive, levou alguns professores, em sinal de protesto, a darem aulas ao ar livre, em local do terreno ainda não construído. Vale salientar também, a ausência de equipamentos para a realização de atividades planejadas: de data shows a carros para fazer atividades de ensino, extensão, pesquisa e gestão, tudo era muito escasso ou inexistente (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, 2009b).

Diante disso, o semestre que se iniciou com a mudança do CAIC para o novo prédio, terminou com uma reunião acalorada, literal e figurativamente, com a Diretora Acadêmica e a presença de toda comunidade acadêmica vestida de preto, em sinal de protesto pelas 24 Devido às constantes tentativas da comunidade acadêmica de adequar espaços conforme as demandas mais

emergenciais, nos primeiros anos de funcionamento desse Bloco 1, por várias vezes, houve reajustamentos e mudanças de setores. Assim, por exemplo, a sala dos professores virou no segundo semestre de atividade do prédio uma sala de aula, já que as primeiras quatro salas construídas não davam mais conta das turmas em aula de Psicologia e de Serviço Social. Para os 18 docentes em atividade na época, foi alocada uma sala de cerca de 2,5 por 3 m² (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, 2009b).

condições de trabalho e de estudo25. A referida diretora havia convocado professores para uma

reunião de avaliação do semestre que estava se encerrando e de planejamento do próximo ano. Entretanto, a comunidade acadêmica, especialmente estudantes de Psicologia e de Serviço Social, adentraram à sala com apitos, panelas, narizes de palhaço e gritos de ordem com a intenção de modificar a pauta e incluir discentes e técnico-administrativos na reunião.

De acordo com o Relatório da Reunião Geral26, a intenção era promover a discussão

das problemáticas enfrentadas pela comunidade acadêmica no que concerne

à infra-estrutura [sic] e condições de trabalho, o que vem inviabilizando as atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão com trancamento de disciplinas, discentes e docentes passando mal com a falta de refrigeração das salas, banheiros mal-funcionando [sic], material de péssima qualidade usado na construção, falta de identificação do prédio, laboratório de informática e biblioteca improvisados, guarita de entrada inacabada, falta de portões […].

O resultado da reunião foi a entrega dos abaixo-assinados dos estudantes e a obtenção de um conjunto de explicações da diretora acadêmica, as quais foram avaliadas pelo grupo como demasiadamente evasivas. Contudo, o maior ganho desse dia foi o fortalecimento do movimento estudantil e de sua união com professores e técnicos: “Entendendo que nada disso justifica a situação que passamos, o que mudou foi apenas o endereço, do CAIC para o bairro Eucalipto, vizinho à Vila Maria, permanecemos dispostos a manter ações de protesto”. E a consolidação do lema: “Se nós vamos brincar de Universidade, então tragam para nós brinquedos que prestem”27.

Assim, ao longo de 2009 e 2010, os protestos seguiram-se constantemente: em Arapiraca, na aula inaugural; em Maceió, com caminhada por vários blocos de aula e com a obtenção de reunião com a reitora e pró-reitores; e em Palmeira dos Índios, com caminhadas pela cidade e aulas na praça. O intuito era cobrar reivindicações anteriores, bem como compreender as razões para os atrasos nas obras do novo bloco do prédio28. Nesses primeiros

anos de vida da Unidade, recebemos de membros da gestão central - do período de 2007 a 25 Registramos que essa mobilização foi produto de reuniões prévias envolvendo a comunidade acadêmica,

além de ser ponto de discussão em muitas aulas de Psicologia e de Serviço Social, o que redundou na organização da pauta de reivindicações, bem como de abaixo-assinados dos estudantes entregues nesse dia à diretora. (Cf. Relatório de Reunião Geral do Pólo Palmeira dos Índios, de 09 de dezembro de 2008, Palmeira dos Índios/AL).

26 Cf. Relatório de Reunião Geral do Pólo Palmeira dos Índios, de 15 de dezembro de 2008, Palmeira dos Índios/AL.

27 Cf. Relatório de Reunião Geral do Pólo Palmeira dos Índios, de 15 de dezembro de 2008, Palmeira dos Índios/AL.

2015 - o carinhoso apelido de “polo-problema” devido à organização de mobilizações diversas e pelas constantes problematizações acerca do processo de interiorização da UFAL.

Essas passagens vinculam-se às observações de Dias Sobrinho (2010) quando ressalta que a “democratização” da educação superior resumida à expansão de matrículas e às ações afirmativas esbarra nas limitações vividas nas universidades públicas. Nestas, a conta entre o restrito orçamento público e estrutura necessária para um funcionamento saudável das atividades universitárias, especialmente a pesquisa, não fecha. Avaliando o REUNI, Lima (2011, p. 92) conclui que:

Trata-se do tripé: aligeiramento da formação profissional (cursos de curta duração, ciclos, exame de proficiência, cursos a distância); aprofundamento da intensificação do trabalho docente (relação professor/aluno, ênfase das atividades acadêmicas no ensino de graduação) e pavimentação do caminho para transformação das universidades federais em “instituições de ensino terciário”, quebrando a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão e decretando, efetivamente, o fim da autonomia universitária.

Seixas (2014) também tece comentários relevantes acerca do processo de expansão e diversificações das IES, apontando a adoção de um modelo de gestão e regulação baseados no modelo de mercado, especialmente o europeu, em que se realça aspectos como eficiência, concorrência e racionalização de custos. Conforme o autor, trata-se de uma “economização” da gestão nesse nível, o que redunda em aumento de matrículas, multiplicação de instituições pós-secundárias, diminuição de investimentos públicos, expansão do setor privado e controle estatal sobre o produto.

As assertivas dos autores supracitados podem ser ilustradas com o processo vivenciado diariamente em Palmeira dos Índios e contra o qual se luta basicamente com esforço do grupo de professores, estudantes e técnicos: a redução da Unidade a uma instituição meramente de ensino. Mesmo sem recursos, busca-se manter articulações entre ensino, pesquisa e extensão, no entanto, isso é feito às custas da saúde de muitos. Na verdade, o que se verifica é uma hierarquização das IES, em que há as universidades destinadas a maiores recursos e tecnologias e que se mantêm em pleno desenvolvimento de pesquisas e outras, cujo destino é serem como escolas de nível superior, com atividades essencialmente de ensino. Quando essas últimas ultrapassam tal divisão é com muita dificuldade e obstinação de sua comunidade.

2 foi entregue à comunidade acadêmica. Com esse novo bloco, a Unidade Palmeira passou a ser considerada a melhor das Unidades interiorizadas no tocante à sua infraestrutura, tamanha a precariedade dos demais locais. As novas instalações são compostas por dois pavimentos:

No piso térreo do edifício, foram instaladas a cantina com uma lanchonete, a área de convivência e uma sala destinada ao funcionamento de um centro acadêmico. Ainda no piso térreo estão localizadas 9 salas de professores, 2 salas de aula, 1 sala para multimídia, 1 miniauditório e 2 banheiros. No pavimento superior, foram construídas 7 salas de aula, 1 sala para atividades de pesquisa, 1 depósito e 2 banheiros. O acesso ao pavimento superior é feito através de uma caixa de escada e por uma rampa. Uma passarela foi construída interligando o Bloco 1 ao Bloco 2, possibilitando o acesso mais direto entre a biblioteca e o mini auditório (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, 2012, p. 13).

Fruto de reivindicações antigas, o Bloco 2 já nasce defasado, uma vez que a Unidade e suas atividades prosseguem em pleno desenvolvimento, necessitando de maior espaço para alocação dos grupos de pesquisa e de extensão e das ações aí desenvolvidas, como eventos acadêmicos e culturais. Além disso, outras demandas não foram atendidas, como a construção da clínica-escola29 e do laboratório de Psicologia, do restaurante universitário, da biblioteca e

do auditório e a obra foi entregue com diversos pontos de inconformidade em sua estrutura. Inclusive, devido a problemas na fundação dos prédios, ao longo desses anos, o tamanho das rachaduras foi aumentando de tal modo que, no segundo semestre de 2016, todo bloco Administrativo teve que ser removido para salas de aula, uma vez que essa parte da Unidade corre o risco de desabar. Hoje, está-se aguardando o início das obras de reparo no prédio.

Por último, cabe pontuar as dificuldades com recursos diversos: se, por um lado, tínhamos um prédio novo, aquisição de dois carros utilitários para desenvolvimento de nossas atividades, por outro, a dificuldade com material para trabalho permanecia. É o caso da biblioteca que “cresceu”, com a adaptação de mais uma sala de aula para receber sua estrutura, porém tinha deficiência com a literatura para ambos os cursos. Desse modo, salientamos que não é por acaso que a infraestrutura surge como uma das maiores pautas do movimento estudantil da Unidade, em especial do curso de Psicologia. São diversos os ofícios, abaixo-assinados e intervenções que chamam a atenção para as deficiências e 29 Aqui, cabe um outro destaque: com a transferência das salas de aula para o novo bloco, as antigas foram

adaptadas para receber as atividades da clínica-escola, e da disciplina de Processos Grupais, do curso de Psicologia, bem como a ampliação da biblioteca. O que se verifica, então, são mais espaços improvisados que não dão conta das ações aí empreendidas. Por exemplo, a acústica das salas da clínica não é adequada e o som das falas dos estagiários e dos usuários do serviço vazam para os espaços adjacentes.

ausências nesse quesito30.

Apesar dessa discussão ser permanente na Unidade, recorrente em atos, reuniões e documentos, desde então, esse tem sido o local de trabalho e de estudo de cerca de 480 pessoas, entre discentes, docentes, técnicos e terceirizados, número levantado em 2012 (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, 2012). Atualizando os dados, tem-se que, no primeiro semestre de 2016, havia na Unidade 415 estudantes matriculados, sendo 268 de Psicologia e 164 de Serviço Social31. Os professores são hoje 26 e os técnico-administrativos

10.

Pelo número de docentes e técnicos, torna-se notório o quão reduzido é o quadro de servidores da Unidade, o que restringe as possibilidades de diversificações de atividades docentes e dos técnico-administrativos, sobretudo, quanto à pós-graduação. Isso é particularmente presente quando observamos o processo de qualificação dos servidores. Há, atualmente, um importante processo de doutoramento pelo qual passam 9 professores de ambos os cursos, considerando o ano de 2016. Aqui, deve-se sublinhar que a maioria dos professores, doutorandos de agora ou de outrora, enfrentaram o exaustivo desafio de se qualificar sem licenciar-se completamente de seu trabalho. Isso ocorreu por vários motivos: 1- houve aqueles que já estavam cursando o doutorado quando foram nomeados, não podendo ter licença devido ao estágio probatório; 2- há os que cumpriram uma parte do doutorado com licença e, depois, retornaram ao trabalho mesmo ainda não tendo finalizado o curso, sendo que seu retorno deveu-se ao plano de qualificação da Unidade, de modo a permitir que outros pudessem licenciar-se; e 3- há aqueles que cursaram todo o doutorado sem a licença, por motivos diversos.

Como se pode deduzir, tal situação precariza ainda mais os cursos e a própria formação do professor, pois há um acordo informal entre os colegas de que, quando um docente está em qualificação, seja com licença ou não, aqueles que não estão assumem, de forma total ou parcial, suas atividades. Obviamente que a situação nos leva a concluir que todos ficam sobrecarregados, pois o colega que não está em qualificação assume mais atividades e aquele que está em doutorado e não teve licença, ou esta foi parcial, precisa se dividir entre as demandas da Unidade e da qualificação. Isso também se reproduz na qualificação dos técnico-administrativos, os quais se dividem entre o trabalho e a formação, 30 Informações extraídas do acervo do Centro Acadêmico de Psicologia.

31 Visando evitar repetições no texto, explicitaremos dados específicos sobre o grupo de Psicologia quando discutirmos a caracterização dos estudantes de Psicologia participantes da pesquisa no sexto capítulo.

inclusive, já houve quem perdeu a oportunidade de ingressar no mestrado por não ter quem o substituísse enquanto cursasse suas disciplinas de pós-graduação. Nessa altura, concordamos com o Plano Diretor do Campus Arapiraca:

É importante citar a deficiência da Política de Gestão de Pessoas para o Campus Arapiraca. As limitações de número de pessoal técnico administrativo e docente envolvem questões de dificuldades de contratação, de autorização de novas vagas, demora nos processos de concurso e licenças para qualificação de docentes e técnico-administrativos, sem causar ônus ao funcionamento do setor, ou curso, representa um problema relevante para o bom funcionamento do Campus. Aponta-se a necessidade de se formalizar uma política institucional de incentivo a qualificação profissional dos servidores e a complementação das demandas de novas contratações (UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, 2012, p. 19).

Em outro documento produzido pela comunidade acadêmica, em 2011, com sistematização da Professora Sueli Maria do Nascimento32, na época do curso de Serviço

Social de Palmeira dos Índios, foram levantados 10 pontos que expõem as condições precárias do trabalho docente na UFAL/Campus Arapiraca: 1- jornada de trabalho invisível e extenuante; 2- produtivismo acadêmico; 3- baixo ou nulo reconhecimento da produção acadêmica dos docentes mestres; 4- restrição de contratações de novos servidores; 5- deficitário incentivo à qualificação; 6- desproporcionalidade e hierarquização na modulação dos cursos em troncos; 7- restrições do trabalho docente pela ausência de servidores técnico- administrativos, além da ampliação de cursos ou de turmas pelo REUNI; 8- congelamento

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