• Nenhum resultado encontrado

2 – OS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO NO CÓDIGO CIVIL

2.1 Princípio da socialidade

2.2.3 Boa-fé e confiança

Boa-fé, palavra de origem latina, bona fides, tem o significado corrente de honestidade, confiança, ou no significado que lhe empresta o Dicionário Houaiss431, “retidão ou pureza de intenções; sinceridade, ou ainda, convicção de agir ou portar-se com justiça e lealdade com relação a alguém, a determinados princípios”432.

Na compreensão da natureza humana não é possível afirmar que o homem é um ser bom

428

Do contrato – teoria geral, p. 226.

429

Contratos, p. 42.

430

Não por outro motivo o Código de Defesa do Consumidor, no art. 31, estabelece a necessidade do direito à informação do consumidor sobre o serviço ou produto, assim como o art. 36 determina que a publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor a reconheça facilmente.

Claudia Lima Marques, Contratos no código de defesa do consumidor, p. 104. É o princípio básico da transparência, no dizer de Cláudia Lima Marques, contido no art. 4º, caput, do CDC: “A idéia central é a possibilitar uma aproximação e uma relação contratual mais sincera e menos danosa entre consumidor e fornecedor. Transparência significa informação clara e correta sobre o produto a ser vendido, sobre o contrato a ser firmado, significa lealdade e respeito nas relações entre fornecedor e consumidor, mesmo na fase pré-contratual, isto é, na fase negocial dos contratos de consumo.”

Francesco di Giovanni, La regola di trasparenza nei contratti dei consumatori, p. 11. Os italianos chamam a isso de trasparenza contrattuale: La novella dedica al profilo della trasparenza contrattuale un precetto

generale, dettato dall’art. 1469 quater del codice civile (“Nel caso di contratti di cui tutte le clausole o talune clausole siano proposte al consumatore per iscritto, tali clausole devono sempre essere redatte in modo chiaro e comprensibile”), ma lascia nell’ombra la questione relativa alle conseguenze derivanti dall’accertata violazione del precetto.

431

ou mau, isto é, que há pessoas que nascem totalmente boas e outras que são más, já que comportamentos bons ou maus estão em todos e decorrem de inúmeros fatores, não só de formação sócio-educacional, mas também genéticos ou patológicos, pois um indivíduo definido pela medicina forense como psicopata não terá ferramentas conscientes para avaliar a moralidade de sua conduta.

André Comte-Sponville pretende responder o que seja boa-fé, da seguinte forma: É um fato, que é psicológico, e uma virtude, que é moral. Como fato, é a conformidade dos atos e das palavras com a vida interior, ou desta consigo mesma. Como virtude, é o amor ou o respeito à verdade, e a única fé que vale433.

Como standard é crer na fidelidade alheia434.

Com a evolução da sociedade há um orgulho de, em primeiro momento, sermos melhores que nossos ancestrais, pois construímos uma sociedade mais civilizada, que tenta a todo modo manter o que de melhor se conquistou em respeito à raça humana, razão pela qual se ordena a vida a fim de coibir os excessos do passado que representaram abusos, ainda que se esteja longe de se descobrir a perfeição, mas sempre acreditando ser possível o encontro de uma sociedade idealizada.

Não por outra razão é de se entender a necessidade de se acreditar na bondade das pessoas, pois se a desconfiança no próximo for uma impressão cotidiana, não seria possível manter relações sociais sadias, pois somente a confiança em alguém pode gerar um adequado comportamento de conduta, com o escopo de melhorar as relações para a própria evolução da sociedade e nesse sentido os ordenamentos jurídicos são criados.

Michel Villey afirma que uma montanha não deixa de ser bela se não houver quem admire sua beleza, assim como um bom vinho se não existir quem o aprecie435, ou seja, há

432

BOA-FÉ. In: Novo Dicionário Aurélio da língua portuguesa, p. 265: “certeza de agir com o amparo da lei, ou sem ofensa a ela; ausência de intenção dolosa; sinceridade, lisura”.

433

Pequeno tratado das grandes virtudes, trad. Eduardo Brandão, São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 213.

434

Idem, p. 213: “É por isso que a boa-fé é uma fé, no duplo sentido do termo, isto é, uma crença ao mesmo tempo que uma fidelidade”.

435

Filosofia do direito p. 350: “Bonum est in re. Outra máxima de São Tomás: ela fornece a chave da noção clássica de direito natural. Bonum est in re. O bem ou o belo são qualidades inerentes ao próprio real. Para existir, não precisam de nós.

Uma montanha não é menos bela por não ter encontrado até o momento ninguém para admirá-la. Há beleza em longínquos planetas que ainda não foram visitados. Esta garrafa de vinho não é boa porque estou me deleitando com ela, estou me deleitando com ela porque é boa. E se Don Juan de Mozart é belo, isso não se deve (como parecem acreditar certos sociólogos) aos aplausos do público, mas é tocado em teatros lotados porque é belo em si mesmo.”

a beleza em si mesma, todavia, muito embora haja uma certa verdade em sua afirmação, é de se observar que também o conceito de beleza ou bondade é inerente a quem o aprecia, já que somente quem possui um paladar apropriado e gosto para beber vinho poderá atribuir à mencionada garrafa características boas. A montanha só será considerada bela se comparada a outras não belas. Há intrínseca uma comparação e um parâmetro anterior de quem o contempla, não podendo o objeto persistir como belo ou bom sem o auxílio do sujeito.

Caio Mário da Silva Pereira ao discorrer sobre boa-fé436 compreende que há princípios eternos, que decorrem da natureza das coisas, que devem ser obedecidos, não em razão da coação humana, mas em virtude da necessidade, porque estão acima das paixões dos homens e lhes norteiam a formação moral, e assim, desenvolveu-se a boa-fé, como decorrência da eqüidade natural. Eqüidade, o justo meio-termo de Aristóteles advém do Direito natural e se trata do sentir o justo inerente a todos.

Miguel Reale, por sua vez, entende boa-fé da seguinte forma:

Uma das condições essenciais da atividade ética, nela incluída a jurídica, caracterizando-se pela sinceridade e probidade dos que dela participam, em virtude do que se pode esperar que será cumprido e pactuado sem distorções ou tergiversações, máxime se dolosas, tendo-se sempre em vista o inadimplemento do fim visado ou declarado como tal pelas partes437.

Portanto, uma forma de conduta, tanto quanto uma norma de comportamento438.

Como uma crítica ao que afirma Reale, de que a boa-fé é uma norma de conduta prescrita em lei, faz-se necessário trazer as afirmações de Carnelutti439, que faz uma interessante indagação sobre a eficácia das leis: se a finalidade das normas de direito penal é evitar um comportamento que cause danos à sociedade, na medida em que tem a intenção de coibir a prática de crimes, ainda se for considerada a existência de regra que determina que ninguém se escusa de sua responsabilidade alegando desconhecer a lei, como então se justifica essa obediência à norma se a pessoa comum é leiga em direito, se não se dá uma instrução jurídica no cotidiano? Ou, ainda, como ele próprio afirma, o conhecimento do cidadão comum “não é mais do que tomar parte da cultura comum; ao contrário, haveria

436

Enciclopédia Saraiva do Direito, vol. 11, p. 485.

437

História do novo código civil, p. 241.

438

Idem, p. 242.

439

necessidade de que cada um de nós, em todo momento da vida, tivesse ao lado um jurista a quem pedir conselho sobre se podia ou se devia fazer algo”.

Larenz440 entende boa-fé ao estudar o princípio para qual lhe dá suporte, como o modo de transformar o personalismo ético, que é base da capacidade do homem para a autodecisão e a responsabilidade por si próprio, com o respeito à dignidade pessoal de cada ser humano elevado à categoria de imperativo moral supremo. É o princípio da boa-fé, que se fundamenta em uma convivência pacífica e prospera de pessoas em comunidade que somente é possível se houver confiança, mesmo que geral, senão comprovada, mas confirmada. Como diz: “Uma sociedade na qual cada um desconfiasse do outro se assemelharia a um estado de guerra latente entre todos, e em lugar da paz dominaria a discórdia. Ali onde se perdeu a confiança, a comunicação humana está perturbada em seu mais profundo”. (trad. livre)441.

Para Goffredo Telles Junior, o direito é obedecido por uma imposição racional nas pessoas, seguido voluntariamente442, visto que não poderíamos viver em sociedade se cada um fizesse o que bem entendesse, o que tornaria a vida em sociedade intolerável443. A adesão voluntária se dá pelo receio das conseqüências impostas pela norma jurídica, pois, conhecendo-se qual pode ser a reação do lesado, protegido pela norma, evita-se a prática de um determinado ato444.

O direito, que não se confunde com a moral, tem uma função organizadora, além de possuir em sua fonte leis morais surgidas em determinada sociedade, não sendo possível a existência do grupo sem que haja aderência a uma moral445, concluindo-se o que diz Reale: Realizar o Direito é, pois, realizar os valores de convivência, não deste ou daquele indivíduo, não deste ou daquele grupo, mas da comunidade concebida de maneira

concreta, ou seja, como uma unidade de ordem que possui valor próprio, sem ofensa ou

440

Tratado de derecho civil alemán, p. 58.

441

Idem, p. 59: Una sociedad en la que cada uno desconfiara del outro se asemajaría a un estado de guerra latente entre todos, y en lugar de la paz dominaria la discórdia. Allí donde se há perdido la confianza, la comunicación humana está perturbada en lo más profundo.

442

Estudos, p. 48.

443

Idem, p. 49.

444

Idem, p. 47: “Logo, se alguma coerção psíquica existe, ela é exercida pela eventual previsão, feita na mente de algum violador potencial, das conseqüências prováveis de um ato ilícito”.

445

VILLEY, Michel. Ob.cit., p. 60: “A vida em comum seria insustentável num lugar em que se roubasse, em que ninguém ousasse deixar o carro estacionado, nem a pá e picareta no local de trabalho, em que não se pudesse confiar em nenhuma promessa. Nenhum grupo de homens poderia sobreviver a longo prazo sem adesão a uma moral.”

esquecimento dos valores peculiares às formas de vida dos indivíduos e dos grupos446.

Partindo-se desse ponto de vista, é como fazer parte da cultura, qualquer um com grau normal de desenvolvimento mental saberá discernir sobre o certo e o errado, até porque desde criança se aprende normas de conduta: que algo é bom e uma outra atitude deve ser evitada, sendo cada um de nós apresentados às regras de civilidade desde que nascemos e assim caminhamos até o fim de nossa existência; poder-se-ia dizer que é um processo sem fim, quase como uma “tábula rasa” que vai sendo preenchida com os valores que a sociedade elegeu como importantes para o bom convívio. A família é a primeira a exercer esse papel de ensinamento, mas ela própria foi moldada pela cultura em que foi formada e assim se vai transmitindo, de geração em geração, aquilo que se julgou relevante, porém com as fortes influências da evolução dos conceitos.

Não é necessário consultar um jurista para a prática dos atos cotidianos, porque que se cada um, como diz o adágio popular, tem um pouco de médico e louco, igualmente tem de conhecedor do Direito.

É assim com o conceito de boa-fé, o viver e agir honestamente.

Em princípio pode parecer que a boa-fé passou a ser imposta à sociedade em razão de sua recepção pelo ordenamento positivo, mas ao contrário, a sociedade a impôs como valor fundamental de sua existência e harmonia, sem a qual não seria possível a simples convivência cotidiana, assim, com a lembrança do que diz Miguel Reale447:

O Direito é uma projeção do espírito, assim como é momento de vida espiritual toda experiência ética. Mas é, propriamente, o espírito como intersubjetividade objetiva, visto como ordena o ego e o alter na realidade integrante do nós. Na comunidade juridicamente ordenada os indivíduos não se dissolvem, nem se desintegram, porque é próprio do Direito, dado o seu caráter essencial de atributividade, tanto mas estabelecer nexos de cooperação, de interdependência e de complementariedade, quanto mais discrimina esferas autônomas de agir (...) Realizar o Direito, é, pois, realizar os valores de convivência, não deste ou daquele indivíduo, não deste ou daquele grupo, mas da comunidade concebida de maneira concreta, ou seja, como uma unidade de ordem que possui valor próprio, sem ofensa ou esquecimento dos valores peculiares às formas de vida dos indivíduos e dos grupos.

Agir de boa-fé é um valor elevado da sociedade, motivo pelo qual ela sempre se

446

REALE, Miguel. Filosofia do direito, p. 701.

447

presume, sem que haja necessidade de que regra escrita imponha algo que lhe é inerente, do contrário não está se falando em comunidade, mas em outro tipo de grupo social que talvez não se conheça e espera-se não conhecer – o caos448, sobretudo porque o direito é uma necessidade de coesão da sociedade449.

Na evolução humana foi possível compreender que o agir honestamente era mais adequado a ponto de garantir a sobrevivência individual e do grupo e, com esta conclusão, Steven Pinker afirma450:

As pessoas fazem mais por seus semelhantes do que retribuir favores e punir trapaceiros. Freqüentemente têm atos de generosidade sem a menor esperança de retribuição, desde deixar uma gorjeta em um restaurante aonde nunca mais irão a atirar- se sobre uma granada para salvar seus irmãos de armas. Trivers, juntamente com os economistas Robert Frank e Jack Hirsheleifer, mostrou que a magnanidade pura pode evoluir em um meio de pessoas que buscam distinguir os amigos das horas boas dos aliados leais. Sinais de lealdade e generosidade sinceras servem como garantia das promessas do indivíduo, reduzindo a preocupação do companheiro quanto à possibilidade de vir a ser logrado. O melhor modo de convencer um cético de que se é digno de confiança e generoso é ser digno de confiança e generoso.

Com sentido que, mesmo diante de uma norma inconstitucional, seus efeitos podem ser mantidos em nome do princípio da boa-fé, como tem sido o entendimento dos tribunais, como do próprio Supremo Tribunal Federal, que garante a incorporação de direitos provenientes da boa-fé, mesmo diante dessa situação, como se vê na decisão proferida pelo Ministro Eros Grau como relator, nos termos da ementa a seguir:

Ementa: Agravo regimental no recurso extraordinário. Servidor público. Aposentadoria. Lei n. 2.271/94 do Estado do Amazonas. Lei inconstitucional. Efeitos. Princípio da boa-fé. Art. 37, caput, da CB. Ato administrativo. Anulação. Interesses individuais. Devido processo legal. 1. Este Tribunal firmou entendimento no sentido de que os proventos regulam-se pela lei vigente à época do ato concessivo da aposentadoria, excluindo-se do desconto na remuneração as vantagens de caráter pessoal. É plausível a tese do direito adquirido. Precedente. 2. Embora a lei inconstitucional pereça mesmo antes de nascer, os efeitos eventualmente por ela produzidos podem incorporar-se ao patrimônio dos administrados, em especial quando se considere o princípio da boa-fé. 3. Para a anulação do ato administrativo que tenha repercutido no campo de interesses individuais é necessária a instauração do devido processo legal. Precedente. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF, j.

448

AZEVEDO, Álvaro Villaça. Contrato: função, boa-fé, imprevisão, onerosidade, in Aspectos controvertidos do novo código civil, p. 34. Diz que o princípio da boa-fé “traz para a ordem jurídica um elemento de Direito Natural, que passa a integrar a norma de direito”.

449

VIARO, Mario. I principî generali del diritto, Padova: A Milani, 1969, p. 6: Ed è per questo che il diritto

costituisce quel principio di coesione sensa del quale la società si dissolverebbe nell’anarchia. 450

03/10/06, RE-AgR 359043, Segunda Turma)

Como conclui Villaça Azevedo451, a boa-fé é um estado de espírito e essência do entendimento dos seres humanos, o que faz crer que boa-fé nada mais é do que confiança e essa é sinônimo de todo o ordenamento, enquanto organização que visa assegurar um controle efetivo da sociedade, razão pela qual se desenvolvem as relações jurídicas.

2.3 – Princípio da razoabilidade

O direito é aquilo que é moderado, logicamente moderável, no mais é um excesso que é repudiado pelo próprio ordenamento, como a teoria do abuso do direito ou todas as normas que exigem a boa-fé nas relações jurídicas. Moderação é o ato ou efeito de moderar, que significa manter a medida, conter os excessos e é usado em direito o sinônimo de razoável.

Chaïm Perelman indica o caminho desse raciocínio ao analisar o razoável e o desarrazoado em direito452, indicando a obra de Luiz Recaséns Siches, que desenvolveu a teoria de uma lógica do razoável. Assim, para Perelman, o “uso inadmissível do direito será qualificado tecnicamente de formas variadas, como abuso de direito, como excesso ou desvio de poderes, como iniqüidade ou má fé, como aplicação ridícula ou inadequada de disposições legais”, em suma o direito utilizado de maneira desarrazoada, o que constituí um limite ao que for excesso.

Distinguir o que é razoável é o que é moderado e não ocorre de maneira única e objetiva, mas se parte do contrário, já que o que desarrazoado é indicado com facilidade, pois é de fácil identificação, sobretudo porque se confunde com o injusto e nas palavras de Perelman: “o razoável não remete a uma solução única, e sim implica uma pluralidade de soluções possíveis; porém, há um limite para essa tolerância, e é o desarrazoado que não é aceitável”453. Aos mais conservadores essa aparência de incerteza, de que o razoável não se indica em um único caminho a seguir, pode suscitar críticas quanto a insegurança nas

451

Idem, ibidem.

452

decisões, que assim se fundamentam.

Uma visão positivista tenta adequar o direito em nome de uma segurança jurídica, como maneira de controle imposto à sociedade, sem permitir que a condição humana se manifeste e desenvolva toda sua criatividade na regulação das relações sociais, porém a criatividade faz parte dessa condição, não é possível imaginar relações humanas perenes, sem mudanças ao longo dos tempos e das trocas de experiências dos grupos sociais, razão pela qual se pode hoje aceitar como moral uma conduta que antes causava constrangimento. O que não muda é o ser humano se agrupar e não viver isolado sem as relações de intercâmbio, que o faz um ser social. Também faz parte da condição humana se apegar a conceitos pré-determinados que lhe tragam segurança, como forma de proteção em face do novo, do desconhecido.

Ao que parece um contra-senso, ora se busca o novo, ora se quer manter o conhecido, nada mais é do que uma qualidade muito humana, daí que se avaliar o que é moderado é o caminho mais adequado para fixar os limites dos direitos que a sociedade elegeu para ordenar suas relações.

Razoável é manter um equilíbrio e o princípio da razoabilidade é a imposição a essa manutenção eqüitativa das relações jurídicas, pois está ligado à razão, ou seja, à capacidade do homem em avaliar e moderar o que está sendo analisado.

No Código Civil encontra-se a determinação de razoabilidade em vários momentos, sempre ligados a uma distribuição equânime de direitos e obrigações, no sentido de manter a máxima suum cuique tribuere, motivo pelo qual a regra contida no art. 182, isto é, anulado o negócio jurídico, as partes são restituídas ao estado em que antes se encontravam, contudo essa é uma regra que mesmo não escrita teria validade, por decorrer de um princípio extraído do Direito natural, diferentemente quando a moderação é imposta pelo ordenamento, como na situação em que o valor da indenização será medido pelo grau de culpa de quem o praticou – parágrafo único, art. 944, CC.

No caso em exame, saliente-se que a Constituição Federal, no inciso V do art. 5º assegura o direito à indenização, sem especificar se essa é integral, já o caput do art. 944, CC afirma que o valor da indenização será medido pela extensão do dano, isto é, a indenização deverá ser integral, entretanto o seu parágrafo único limita a ordem ao dispor

453

que, “se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização”. Nada mais moderado do que esse mandamento,