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O BRASIL E SUAS GERAÇÕES DA INTERNET

No Brasil, a realidade não é diferente. Segundo a pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação no Brasil, de 2008, realizada pelo Cetic.br, um quarto dos domicílios brasileiros possuíam computadores e desses 71% possuem acesso a internet. Nessas condições, a juventude brasileira conta com 10 milhões de lares conectados à rede mundial. Segundo dados do IBOPE/Net ratings, os usuários da internet corresponderiam, no final de 2012, a um total aproximado de 72 milhões de brasileiros. Dados da PNAD 2014 apresentam um total de 55% dos domicílios alcançados pela pesquisa com a presença de computador e cerca de 96 milhões de brasileiros conectados à internet.

No conjunto da população acima de 10 anos de idade, o uso da internet é mais intenso entre os jovens de 15 a 17 anos de idade – com 34,6% de participação. Quando estendemos esse grupo às faixas de idade que corresponderiam às Gerações Y e Z, ou seja, tomando todos aqueles que, na data da pesquisa, tinham idades maiores que 10 e menores que 30 anos de idade, o acesso à internet encontra-se, para todas as faixas de idade, acima da média nacional.

A pesquisa revela que o acesso à internet para a faixa de idade de 10 a 14 anos (24,4%) é superior ao acesso realizado pela faixa de idade acima dos 30 anos (21,3%). Embora apresentem uma discrepância

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pouco significativa, esses números são reveladores na discussão dos impactos das TIC’s sobre as gerações.

A faixa com idades superiores aos 30 anos e inferiores aos 40 anos corresponderia, na sociedade brasileira, à parcela da população constituinte da geração X, nela se verifica que o uso da internet cai, de forma acentuada, quanto maior a idade, o que confirma a conclusão de que essa geração, quando absorveu o uso das TIC’s, já tinha alcançado a maturidade.

Analisando o grupo representante das Gerações Y e Z, observa-se a sua disposição e sua disponibilidade para, diante da consolidação da

internet, dar-lhe usos diversificados. Quando, no

entanto, comparamos essas gerações no Brasil com as correspondentes nos países ricos, há profundas diferenças. Nesses países, os jovens já constituem uma minoria da população, e as políticas públicas garantiram, à maioria, condições de acesso à modernidade, proporcionada pelas TIC’s.

No Brasil, a transição demográfica tardia nos posiciona com uma grande parcela de jovens na população. Segundo o Censo Demográfico do IBGE (2010) (Figura 1), são em torno de 45 milhões de jovens, nas faixas etárias de 15 a 29 anos de idade, o que corresponde à cerca de 23% da população brasileira. Esses jovens demandam escola, lazer, cultura, informação, emprego e têm, de maneira muito desigual, sido atendidos. São em torno de 73% inseridos no mercado – trabalhando ou à procura de emprego. Desses 73%, apenas 18% conseguem conciliar as atividades profissionais com os estudos, e apenas 14% só estudam.

A realidade brasileira torna-se dramática para o jovem, à medida que ele vai competindo em escala

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global, sem dispor de ferramentas que lhe possibilitem participar, efetivamente, do processo de automação vigente. São decisões próprias da juventude, estudar ou trabalhar, casar ou continuar morando com os pais, ter filhos, constituir um patrimônio. Tais decisões contribuem para a construção de valores, atitudes e preferências, que possibilitam a formação de uma personalidade num momento de experiências positivas, mas, também, para um conjunto de riscos que diferenciam a sua condição de adulto.

As condições das Gerações X e Y, na juventude brasileira, figuram preocupantes obstáculos quando comparadas às dos jovens dos países ricos, onde a juventude contou com amplas possibilidades de acesso aos serviços essenciais. Nessa comparação, adiciona-se um elemento, representado pela necessidade, cada vez maior, da formação de um

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capital social, para a gestão dos processos produtivos e das organizações da sociedade. Em outros termos, a preocupação com a juventude passa a ser fundamental para a criação de condições tanto de uma economia competitiva, quanto de uma sociedade inserida nessa Era da Informação.

Nesse cenário, nunca foram tão necessários os investimentos sobre a juventude. Superar o círculo vicioso da pobreza e da incapacidade de inserção no mercado de trabalho significa pesados investimentos em educação, que devem ser realizados, de modo prioritário, nas duas pontas desse setor, ou seja, na universalização da educação infantil – que com creches e escolas maternais ofereçam a possibilidade dos pais exercerem as atividades de trabalho, melhorando a renda das famílias – e na garantia de conclusão do ensino médio e acesso ao ensino superior, de maneira a qualificar as novas gerações às necessidades do mercado de trabalho.

Um passo expressivo, na direção dessa incorporação do jovem à realidade das políticas públicas, foi a aprovação, em 2010, da PEC da Juventude. Tal proposta, além de acrescentar a expressão “Jovem” ao Capítulo VII, Título VIII, da Constituição Federal, exige a implementação de um Estatuto da Juventude e de um Plano Nacional da Juventude, a serem executados nos próximos 10 anos, pelos governos federal, estaduais e municipais.

A aprovação dessa proposta de emenda constitucional foi precedida da criação do Conselho Nacional da Juventude em 2005, que também instituiu a criação da Secretaria Nacional da Juventude e do Programa Nacional de Inclusão de Jovens. Tais políticas ocorrem pela necessidade de mobilização da população brasileira, em torno de uma

111 resposta dos governos à nova realidade demográfica, mas também em razão do interesse, do próprio jovem, de ver garantidos seus direitos civis, entre eles, a inclusão digital, como política pública, para uma efetiva Sociedade Rede (CASTELLS, 2000).

As recentes mobilizações ocorridas em um número expressivo de cidades brasileiras são uma das demonstrações dessa maior interação entre a juventude, à medida que elas surgem, convocadas por bandeiras do movimento de estudantes – a luta pelo passe livre e a redução das passagens de ônibus nas grandes cidades –, por meio das comunidades sociais e incorporaram outras bandeiras da sociedade e da própria juventude.

Segundo pesquisas realizadas com manifestantes de diversas capitais, 38% dos manifestantes foram mobilizados em torno dos temas do transporte público, e outros 30% foram sensibilizados pelos temas da política, especialmente, o combate à corrupção. Em relação ao perfil desses manifestantes, a pesquisa aponta outros números reveladores: 52% são estudantes, 43% têm ensino superior completo, 43% têm menos de 24 anos – são representantes das gerações Y e Z –, 93% não se sentem representados por qualquer partido político, 49% tem renda superior a cinco salários mínimos.

A análise desse perfil permite-nos afirmar que, as manifestações foram um momento de particular demonstração do papel das redes sociais na mobilização de parcela da sociedade. O perfil desses manifestantes revela um público constituído por jovens das gerações webizadas pelas novas TIC’s. Empresas de monitoramento de redes sociais revelam que esses manifestantes, que recorrem às redes sociais, são, em sua maioria, jovens do

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sexo masculino, que não consideram mais os ícones revolucionários de seus pais, apreciam o

rock, o funk e o sertanejo como estilos musicais,

protestam revelando, de um lado, uma descrença nas instituições e organizações da política e, de outro, o reconhecimento na internet e nas redes sociais da ferramenta, que significa a organização de um novo modelo de sociedade e de construção de Cidades Saudáveis.