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Estrutura organizativa e competências das autarquias

Como referido anteriormente, a atuação ao nível municipal é valorizada pela OMS como sendo o nível de eleição para a implementação do Projeto

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Figura 2 – Municípios integrados na Rede Portuguesa de Municípios Saudáveis: casos de estudo.

Fonte: RPMS, LOURO, 2017.

Cidade Saudável. Tal operacionalização relaciona- se com dois fatores. O primeiro prende-se com a estrutura organizativa da autarquia e a forma como o Projeto é incluído nessa estrutura. Por exemplo, a inclusão do Projeto num departamento setorial, num departamento transversal ou de forma independente a qualquer departamento (comumente denominado de Gabinete Cidade Saudável) tem consequências ao nível da afetação dos recursos humanos e técnicos, financeiros e materiais a disponibilizar. O segundo fator diz respeito às competências inerentes à autarquia e a cada departamento. Assim, o perfil de implementação do projeto Cidades Saudáveis dependerá do seu posicionamento dentro da estrutura organizativa de cada autarquia, sendo

47 assim fortemente influenciado pelo conjunto de competências da Divisão ou Departamento onde se insere o PCS.

Como referido, a OMS sugere diferentes tipologias de enquadramento do PCS nas autarquias, pese embora a liberdade de opção por outras formas de implementação mais adaptadas à realidade. Considerando a realidade estudada, identificam-se as seguintes tipologias:

- PCS centralizado na Presidência ou em Departamento transversal diretamente ligado à Presidência – aqui surge o caso de Odivelas, onde o PCS está integrado numa Unidade Orgânica de 3.º grau – Gabinete do Observatório da Cidade (GOC), ligado à Presidência da autarquia;

- PCS centralizado em Departamentos de Saúde do Governo Local – exemplos de Oeiras e Loures. No caso de Oeiras o PCS está integrado na Divisão “Ação Social, Saúde e Juventude” (DASSJ) do Departamento “Coesão e Desenvolvimento Social” que intervém nas políticas municipais nas áreas da ação social, saúde, emprego e formação profissional, juventude e desporto. No caso de Loures, o PCS insere-se na Divisão “Inovação Social e Promoção da Saúde” do Departamento “Coesão Social e Habitação”;

- PCS centralizado noutros Departamentos do Governo Local – exemplos de Seixal e Amadora. No caso do Seixal, município que preside à RPMS, o PCS já teve um gabinete individualizado, mas, por motivos de reorganização administrativa, a presidência alterou o seu enquadramento. Assim, atualmente o PCS insere-se na Divisão “Desenvolvimento Social e Cidadania” integrada no Departamento de “Desenvolvimento Social e Desporto”. Já no município da Amadora, o PCS enquadra-se na Divisão de

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“Intervenção social” do Departamento “Educação e Desenvolvimento Sociocultural”.

Embora os municípios em estudo tenham optado por distintos modelos de integração do PCS na sua estrutura orgânica, existem competências comuns às divisões onde os PCS se inserem, a destacar:

- A colaboração com entidades da comunidade local (Amadora, Loures, Odivelas) e dinamização de redes de parcerias (Amadora e a Rede Social, Oeiras e a Comissão Municipal da Saúde, Loures e o Conselho de Comunidade);

- A articulação entre unidades orgânicas da autarquia para convergência intersetorial (Amadora, Odivelas);

- Prevenção, informação e educação para a saúde e estilos de vida saudáveis (Loures, Amadora), e colaboração na elaboração de instrumentos (Odivelas – Plano Local de Saúde do ACES Loures-Odivelas, Seixal - Carta de Saúde e Plano de Desenvolvimento Social e de Saúde).

A atuação das autarquias deve procurar a transversalidade das várias áreas com influência nos vários determinantes da Saúde. Neste sentido, é possível observar que várias divisões da estrutura orgânica das autarquias em estudo podem e devem ser integradas nas estratégias e trabalhos do PCS (Quadro 2). Contudo, em algumas das áreas de trabalho, as competências não se concentram exclusivamente nas autarquias, mas sim, simultânea ou exclusivamente, noutras entidades, tais como entidades da administração central, por exemplo, os Ministérios da Saúde e da Educação.

Considerando as competências das autarquias em estudo, é notória uma maior capacidade de

49 Quadro 2 – Competências das Divisões/Gabinetes onde se insere o PCS.

Fonte: Entrevistas às autarquias (Maio-Junho 2015) e Decretos- Lei relativos à estrutura orgânica e competências das autarquias - Portugal, Amadora (2013); Portugal, Loures (2013); Portugal, Odivelas (2015); Portugal, Oeiras (2014); Portugal, Seixal (2014).

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trabalho em algumas áreas (Quadro 3): na área “Habitação e Espaço Público”, todos os municípios apresentam várias unidades orgânicas com funções de planeamento, licenciamento, operacionalização e fiscalização de intervenções; na área “Educação”, identifica-se a gestão dos equipamentos e desenvolvimento de iniciativas em contexto escolar / educativo sobre temáticas associadas à Saúde e Estilos de Vida (ex.: adições, tabagismo, alcoolismo, alimentação, desporto); na área “Estilos de Vida” destaca-se a gestão de equipamentos e desenvolvimento de iniciativas de cariz desportivo; na área “Transportes e Mobilidade” as responsabilidades no planeamento de transportes, transportes municipais, trânsito e mobilidade, ou gestão da frota municipal. De referir que esta área é desenvolvida por vários agentes, desde a Administração Central, nomeadamente os Ministérios e Secretarias de Estado com competências de tutela, às empresas que operam os serviços de transporte; a área “Rede Social e Comunitária” desenvolve-se através de parcerias com entidades locais (públicas ou privadas) e de maior proximidade com a comunidade local; na área “Cuidados de Saúde” a atuação municipal é reduzida e está enquadrada nas estratégias e ações nacionais e regionais sob tutela da administração central; na área “Água e Saneamento” existem unidades orgânicas com competências específicas nesta área (exemplos de Odivelas e Seixal).

Neste sentido, pode dizer-se que as competências das autarquias as tornam elementos centrais para o desenvolvimento do Projeto Cidade Saudável pois a sua intervenção apresenta uma perspetiva multi-setorial e transversal. No próximo ponto será abordada a estratégia de atuação de cada caso de estudo no contexto do seu PCS, confrontando,

51 Quadro 3 – Correspondência entre os Determinantes da Saúde (DAHLGREN; WHITEHEAD, 1991) e Divisões da Orgânica das Câmaras Municipais.

Fonte: Elaboração própria com base nos Decretos-Lei relativos à estrutura orgânica e competências das autarquias - Portugal, Amadora (2013); Portugal, Loures (2013); Portugal, Odivelas (2015); Portugal, Oeiras (2014); Portugal, Seixal (2014).

desta forma, o potencial de ação das autarquias (apresentado neste ponto) e as ações realizadas em contexto do PCS.

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Estratégias de intervenção das autarquias no