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IDOSOS DE UBERLÂNDIA E O CONTEXTO TERRITORIAL

O censo demográfico de 2010 revelou que a população de idosos em Uberlândia cresceu 64% em dez anos. Em 2000, os mesmos eram 37.614

89 e, em 2010 eram 61.674, o que representava 10,2% da população total, que era de 604.013 habitantes e estavam concentrados, sobretudo, em bairros da região central (Figura 1). Os bairros que concentram mais idosos são Fundinho (26,9)%), Centro (24,8%), Lídice (22,8%), Martins (20,6%), Bom Jesus (20,1%) Nossa Senhora Aparecida (19,4%), Tabajaras (19,1%) e Osvaldo Resende (16,8%) (Tabela 1). Há setores do Centro que possuem concentração de idosos de 33,6% (setor 317020605000012), 31,1% (setor 317020605000005) e 30,0% (setor 317020605000002) e um setor censitário do bairro Fundinho com 32,8% (setor 317020605000047). A concentração de idosos nestes bairros é explicada pelo processo histórico. Esses são os bairros mais antigos da cidade.

Figura 1: População idosa em Uberlândia, 2010.

Em Uberlândia, há Centros Educacionais de Atendimento Integrado (CEAIS) que atendem a

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população idosa, com atividades de informática; hidroginástica e natação em piscina aquecida e coberta, sala de musculação; tricô; pintura em tecido; oficinas culturais com dança; coral; violão. O único critério para ter acesso às atividades dos CEAIS é ter idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

Tabela 1 – População idosa na região central de Uberlândia, 2010.

Fonte: IBGE (2010); HI - Homens idosos, MI - Mulheres idosas. Nenhum dos quatro CEAIS de Uberlândia está localizado na área de maior concentração de idosos. O mais próximo se localiza a cerca de 5 km da região central da cidade. A secretaria de Desenvolvimento Social explica que a prioridade da prefeitura é o atendimento à população de baixa renda e a região central tem população de alto poder aquisitivo.

O maior problema dos bairros Centro e Fundinho, que concentram o maior percentual de população idosa, é o trânsito. Por exemplo, a rua General Osório, uma via que faz a ligação do Centro com a região sul, possui fluxo de automóveis intenso, o que dificulta o deslocamento cotidiano ativo.

No início dos anos de 1980, a Prefeitura Municipal planejou um calçadão de pedestres na av. Afonso Pena entre o Fórum e a praça Tubal Vilela. Os

91 lojistas na época não concordaram com a ideia. Em 2009, a Prefeitura Municipal apresentou à sociedade uberlandense novo projeto de requalificação do centro, com modificação do sistema viário e criação de um calçadão de pedestres. Nesse projeto, os carros perderiam prioridade e os pedestres, ciclistas e ônibus seriam prioritários. A Câmara dos Dirigentes Lojistas pediu modificações ao projeto, por entender que “quem tem carro não iria mais ao Centro”, o que prejudicaria o comércio. O projeto ainda não saiu do papel.

O Centro e o Fundinho têm uma vida noturna intensa, estabelecida pela presença de bares, restaurantes, casas de shows, que atraem a população jovem. Mas, estes lugares possuem uma vocação histórica e cultural que poderia ser mais explorada, para o desenvolvimento de atividades diurnas, que permitissem a participação dos idosos, para que lá não seja apenas um lugar de passagem de automóveis.

Poderíamos falar da falta de arborização e calçamento regular que dificultam a caminhada dos idosos para realizar suas atividades cotidianas com mais segurança, mas também dizer que nestes bairros há muito comércio, há bancos, há praças. Talvez seja por isso que os idosos do Centro e do bairro Fundinho ainda não se mudaram para outros bairros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os sistemas de saúde estão orientados para atendimento das situações agudas das doenças crônicas. Entretanto, as estratégias de prevenção

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falham porque não consideram, para além dos aspectos patológicos das doenças, os fatores contextuais. Para doenças crônicas e atenção aos idosos é preciso promover uma reorganização dos processos de trabalho nos sistemas de saúde para considerar mais os determinantes sociais e o território. Se as ações de prevenção e promoção da saúde que atuam sobre os determinantes sociais (e sobre o território), com interdisciplinaridade e participação social, fossem práticas mais corriqueiras nas unidades básicas de saúde da família, teríamos uma atenção primária à saúde mais resolutiva.

A territorialização da saúde deve ser o mote da reorganização do processo de trabalho, sob um novo paradigma da saúde (abordagem social). Para melhorar a qualidade de vida das populações, sobretudo dos idosos, é preciso reconfigurar o território, para reduzir as vulnerabilidades e melhorar as condições que facilitem os deslocamentos ativos.

Programas de desenvolvimento social para a população idosa devem desenvolver ações que ampliem as redes sociais e os vínculos territoriais nos bairros onde mora, com comércio e serviços disponíveis a distância caminhável. Não basta melhorar as condições físicas das calçadas para que a população realize deslocamentos cotidianos ativos. É necessário que as pessoas sejam envolvidas na vida social, econômica, cultural, espiritual e civil do lugar.

Realizar atividade física regular e moderada pode retardar declínios funcionais e diminuir o aparecimento de doenças crônicas ou reduzir os efeitos. Todo programa de prevenção e promoção da saúde de idosos deve considerar a realização de projetos que ampliem a capacidade de envelhecimento ativo da população, com independência, participação,

93 assistência, auto-realização e dignidade. Para isso, não basta só a prescrição. É preciso envolver as redes sociais dos indivíduos, que poderão estabelecer normas sociais que anulem o estilo de vida e os hábitos não saudáveis.

As Cidades Saudáveis são amigáveis aos idosos. Projetos de construção de territórios saudáveis não podem esquecer da população de idosos. Entretanto, território saudável não significa somente boas condições físicas no lugar. Também devem oferecer oportunidades para que os indivíduos estabeleçam vínculos territoriais e interações sociais de qualidade.

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A JUVENTUDE, A INCLUSÃO