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soberania do Estado nacional nas relações internacionais A Paz de Westfalia terminou uma guerra de mais de 80 anos na Europa, e que foi considerada uma guerra mundial, em todos os continentes habitados A Ordem de Westfalia tinha

3. PODER JUDICIÁRIO

3.1 O ESTADO E A SEPARAÇÃO DE PODERES

3.2.2 Brasil Império

O início da história do Brasil pós-independência encontra a administração da justiça ainda baseada no sistema colonial. Inspirado pelo liberalismo em voga na Europa, Dom Pedro, “um maníaco pelo constitucionalismo”, no dizer de Melo Franco179; convoca a Assembléia Nacional Constituinte para que fossem firmadas as bases jurídicas do Brasil sob premissas tão avançadas para seu tempo quanto contraditórias entre si, como o era o próprio imperador, que queria uma Constituição Liberal, mas que não fossem tanto quanto às encontradas na Europa, notadamente na França, porquanto para ele eram “teorética e

metafísica e, por isso, inexeqüíveis”.180 Dom Pedro, na concepção de Nequete181, era um absolutista e seu “temperamento absolutista não podia tolerar o menor arranhão às

prerrogativas de que se julgava investido”, razão pela qual a Constituinte foi dissolvida em 16

de novembro de 1823 e um Conselho de Estado nomeado para dar cabo à missão de elaborar uma constituição que fosse mais afeita ao “constitucionalista” Dom Pedro.

Pelo projeto em votação na Constituinte Imperial (CI), conforme consta nos Anais da Assembléia Constituinte182, o Poder Judiciário era contemplado com a independência, organização funcional e administrativa e sua competência estava bem delimitada. Havia ainda instrumentos constitucionais de limitação no exercício do poder judicial, com a responsabilidade civil e criminal dos juízes de direitos pelos abusos e erros e ação penal

177

Op. Cit. p. 71.

178

CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil – o longo caminho. 4ª ed. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 2003. p. 112.

179

FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo : Forense. 1987. p. 43.

180

NEQUETE, Lenine. O Poder Judiciário no Brasil a partir da Independência. Vol. III. Império. Ed. fac- similar – Brasília : STF, 2000. p. 36.

181

Op. Cit. p. 37.

182

popular para os casos de crimes de suborno, peita ou conluio. O projeto institucionalizava também a inviolabilidade do domicílio, proibia juízos e tribunais de exceção, consagrava a publicidade processual, vedava tortura e qualquer outro tratamento infamante e sacramentava a instituição do Júri Popular com competência “só em matéria de crimes”. Como garantia de isenção e independência, o projeto previa a inamovibilidade relativa183 e restringia às possibilidades da perda do cargo do magistrado, o que somente poderia ocorrer por sentença proferida em razão de delito ou representação com “causa prova e conforme a lei”.

Pela Constituição outorgada em 25 de março de 1824184, que em muito se baseou no projeto e, tramitação na Assembléia Nacional Constituinte, consagrou a independência do Poder Judiciário, que seria exercido pelos juízes e jurados, que teriam competência no cível e no crime, cabendo aos juízes a aplicação do direito e aos jurados o pronunciar sobre o fato. Aos juízes cabia a perpetuidade (vitaliciedade), mas não se lhes concedeu a inamovibilidade e tampouco a imunidade, porquanto o imperador poderia “suspendê-los por queixas contra eles feitas”, mas somente perderia o lugar por sentença. Os juízes eram também sujeitos à responsabilidade civil por abuso de poder e prevaricação e contra eles se poderia intentar ação penal popular em acusação por suborno, peita, peculato ou concussão. A Constituição do Império185 previa a possibilidade da escolha do juízo arbitral e tornava o meio da conciliação

183 Art. 192. A inamovibilidade não se opõe à mudança dos Juízes letrados de primeira instância de uns para outros lugares, como e no tempo que a Lei determinar.

184 A Constituição Imperial, como se vê no quadro abaixo, é a que teve maior longevidade até o momento e também a que proporcional e absolutamente foi menos alterada, contando apenas com uma emenda.

Constituição Promulgação Término Emendas Duração

Império 1824 1889 1 65 anos

República Velha 1891 1930 1 40 anos

Revolução de 1930 1934 1937 1 3 anos

Estado Novo 1937 1945 21 8 anos

Redemocratização 1946 1967 27 21 anos

Revolução de 64 1967 1969 --- 2 anos

Emenda Constitucional nº 1/69 1969 1987 26 18 anos

Nova República 1988 1999 28 11 anos

185 Paulo Bonavides informa que: “ Dominada pelas sugestões constitucionais provenientes da França, a Constituição Imperial do Brasil foi a única Constituição do mundo, salvo notícia em contrário, que explicitamente perfilhou a repartição tetradimensional de podres, ou seja, trocou o modelo de Montesquieu pelo Benjamin Constant, embora de modo mais

obrigatório antes da judicialização da questão, instituindo-se os juízes de paz, temporários e eleitos da mesma forma que os vereadores186. Estruturalmente a Constituição criou também um Tribunal com a denominação de Supremo Tribunal de Justiça, como instância final e também como instância originária em determinados casos, a exemplo do que ocorre atualmente. Os membros daquele Tribunal, no entanto, não elegiam o presidente, que era nomeado pelo imperador. A par da organização e estruturação do sistema judicial, a CI também enumerou direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros, conforme observa Nequete187:

No título VGIII, por outro lado, enumeravam-se as garantias dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros (art. 179, nº I, XXXV), reiterando-se a Independência do Poder Judicial: “nenhuma autoridade poderá avocar as causas pendentes, sustá-las ou fazer reviver os processos findos” (nº XII); ficavam abolidas as Corporações de Ofício, seus Juízes, Escrivães e Mestres (nº XXV); e determinava- se a organização, o quanto antes, de um Código Civil e Criminal, fundados nas sólidas bases da Justiça e da Equidade (XVIII). O artigo 178, traduzindo melhor que o artigo 267 do Projeto a Lição de Benjamin Constant preceituava “É só Constitucional o que diz respeito aos limites, e atribuições respectivas dos Poderes Políticos, e aos Direitos Políticos, e individuais dos cidadãos. Tudo, o que não é constitucional, pode ser alterado sem as formalidades referidas, pelas legislaturas ordinárias” E foi esse dispositivo que conferiu à nossa Constituição Imperial “aquele curioso e raro caráter de lei meio rígida e meio plástica, que permitiu reformas de discutível validade jurídica, como por exemplo, a da chamada Lei de Interpretação de 1840, que veio circunscrever os efeitos do Adicional, e que com tanta procedência, provocou os reparos dos juristas liberais durante toda a vida do Império”.

A magistratura brasileira imperial teve, no dizer de Wolkmer188, uma postura singular resultante de diversos fatores: corporativismo elitista, burocracia como poder de construção nacional e corrupção como prática oficializada. Anota-se primeiramente que ela não aderiu integralmente à nova realidade política. Alguns juízes foram leais à monarquia lusitana, enquanto outros apoiaram a ruptura, na maioria dos casos por conveniência. Também era marca característica da magistratura imperial, ainda como ranço do período colonial, o exclusivismo educacional, e o fato dela fazer parte da elite imperial e ser distante da população, transformando-se aos olhos da sociedade em agentes preparados mais para servir aos interesses da administração do que para fazer justiça. Essa realidade, aliada à lenta

quantidade e formal do que qualitativo e material. BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 14ª Ed. São Paulo : Malheiros. 2004. p. 363.

186 Art. 161. Sem se fazer constar , que se tem intentado o meio da reconciliação, não se começará processo algum. Art. 162 Para este fim haverá Juízes de Paz, os quais serão eletivos pelo mesmo tempo, e maneira, porque se elegem os