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vereadores das Câmaras Suas atribuições, e Distritos, serão regulados por lei.

3.3 PODER JUDICIÁRIO NA CONSTITUIÇÃO DE

Abordar o Poder Judiciário sob a égide da Constituição de 1988 importa considerá-lo já sob o efeito da Emenda Constitucional nº 45, de 08.12.2004, curiosamente o dia da justiça206. É que assim como a Constituição Federal já não é mais a mesma, após 45 Emendas em menos de 17 anos, também o Poder Judiciário já não é mais o mesmo em sua essência do início da Carta de 1988. A Independência preconizada no artigo 2º da CF foi substituída pela composição heterogênica do Conselho Nacional de Justiça, integrado por magistrados, membros do Ministério Público e cidadãos indicados pelo Senado e pela Câmara Federal. O significado de harmonia corresponde também à possibilidade do chefe do Poder Executivo nomear todos os integrantes do principal órgão da cúpula do Poder Judiciário, o STF, sem ter que observar qualquer preferência para a origem dos magistrados. Pode, ainda dentro do significado de harmonia entre os poderes e controle dos poderes, indicar um terço de ministros do STJ dentre membros do Ministério Público e Advogados, e nomear os demais 2/3 dentre membros da magistratura. Cabe ainda ao Presidente da República a nomeação dos membros dos tribunais superiores, indicando o quinto constitucional, nomear os membros dos tribunais regionais (trabalhista, federal e os dois da classe de juristas dos Regionais Eleitorais).

Dentro do título IV, que trata da organização dos poderes, a CF-88 dedica ao Poder Judiciário o capítulo III. A leitura do Texto Constitucional revela a grande preocupação do constituinte em estabelecer um Judiciário dentro das linhas constitucionais anteriores. Ao Supremo Tribunal Federal destinou-se um novo papel: a guarda da Constituição. Porém, o

206 A idéia de comemoração está associada à outra comemoração, de natureza religiosa, relativa à festa da Nossa Senhora da Conceição. A oficialização da data deveu-se ao Ministro Edgard Costa do S.T.Federal, como se pode verificar do livro “100 Anos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo”, de João Gualberto de Oliveira, que atribui a iniciativa dessa comemoração à Associação dos Magistrados Brasileiros, cujo Estatuto, no art. 2º, inc. XI, determina a comemoração desse

evento, no dia 8 de dezembro de cada ano.

Contudo, é bem de ver que antes dessa data, a Lei 1.408, de 9 de agosto de 1951, em seu art. 5º, intituia o “Dia da Justiça” para ser comemorado em todo o território nacional, como feriado forense. Egard Costa, em seu livro “Efemérides Judiciárias” anota que foi em Natal, no Rio Grande do Norte, que se comemorou oficialmente, pela primeira vez, esse evento, por iniciativa do Des. Virgilio Dantas, em 1950, seguindo-se, nos anos posteriores idênticas comemorações em Florianópolis – SC (1951), Belo Horizonte- MG (1952), Fortaleza – CE (1953), Curitiba – PR (1955), Cuiabá – MT (1956), Salvador – BA (1957), Petrópolis e Niterói (1958), Distrito Federal (1959) e Brasília (1960). Nesta nova Capital do país, a data foi celebrada com um almoço de confraternização dos magistrados , presidida então pelo Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. Oficiosamente, a data já vinha sendo comemorada a partir de 1940, conforme se pode verificar do discurso pronunciado pelo Des. Hamilton Mourão, Presidente do TJ do Amazonas (cf. Revista Forense, vol. LXXXV (1941) e do discurso, proferido pelo presidente da OAB, em 7 de dezembro de 1940, por motivo do mesmo evento (Revista citada, de 1941, pag. 425).

STF não foi transformado em Corte Constitucional. Criou-se o Superior Tribunal de Justiça para a jurisdição infraconstitucional. Manteve-se a Justiça Federal e criaram-se Tribunais Regionais Federais, em número de cinco, estabelecidos por critério regional, como segunda instância da Justiça Federal. Enumeraram-se os direitos fundamentais conexos com a atuação do Judiciário, tais como: princípio do juiz natural; motivação da sentença; direito de ampla defesa e devido processo legal; mantendo-se outros instrumentos tradicionais tais como mandado de segurança, ação popular, habeas corpus, ação civil pública, entre outras. A constituição de 1988 trouxe grande alteração na organização e estruturação judiciárias, “ao intercalar, entre a Justiça de segundo grau e o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça, com competência principalmente para julgar causas oriundas dos Tribunais de Justiça, Tribunais de Alçada207 e dos Tribunais Regionais Federais”.208

Conforme o artigo 92 da CF, com a redação dada pela Emenda 45/2004, os órgãos do Poder Judiciário são: I – O supremo Tribunal Federal; I-A – O Conselho Nacional de Justiça; II – O Superior Tribunal de Justiça; III – Os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV – Os Tribunais e Juízes do Trabalho; V – Os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI – Os Tribunais e Juízes Militares; VII – Os Tribunais e Juízes Eleitorais; VIII – Os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. Fazem parte também do sistema judicial brasileiro os Juizados Especiais Estaduais e Federais, previstos no artigo 98 da CF e criados respectivamente pelas Lei 9.099/95 e 10.251/2001.

A Constituição também estabeleceu normas para regulamentar a magistratura brasileira, concedendo ao STF a iniciativa para elaboração de um Estatuto da Magistratura, cujo projeto está em andamento no Congresso Nacional, devendo ser observado os seguintes princípios: ingresso na carreira mediante concurso público, exigindo que o candidato seja bacharel em direito e tenha 03 anos de atividade jurídica, no mínimo; promoção por merecimento e antiguidade; acesso ao tribunal também por merecimento ou antiguidade; subsídios vinculados e não superiores 95% dos salários dos ministros dos tribunais superiores, que por sua vez têm como parâmetro 95% dos salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal, dentro outras prescrições. Concedeu-se ao magistrado as garantias da vitaliciedade, inamovibilidade, irredutibilidade de subsídio. Estabeleceu-se ainda a competência privativa dos tribunais para a eleição de seus dirigentes, bem como para administrar e superintender serviços e suas secretarias.

207 Já extintos com a Emenda Constitucional 45, que trata da Reforma do Poder Judiciário.

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Pode-se dizer que a Constituição de 1988 representa o ponto culminante de um processo gradativo de ampliação do âmbito de atuação e da independência do Poder Judiciário que adquiriu, ao menos normativamente, autonomia administrativa e financeira, sendo responsável pela elaboração de sua proposta orçamentária. Também por autorização constitucional da competência do Judiciário, por exercício dos tribunais, o provimento de cargos necessários à administração da justiça, ainda que sua criação decorra de ato do legislativo, mediante proposta do Judiciário. Ou seja, ao Judiciário cabe recrutar seus membros, desde que os cargos sejam criados por lei, com as exceções constitucionalmente previstas. O que leva Sadeck209 a afirmar que: “passou a caber quase exclusivamente ao

Poder Judiciário a organização e o recrutamento de seus membros, diminuindo-se ponderavelmente a influência de setores externos”. Não se pode concordar integralmente com

a assertiva. Se ao presidente da República cabe indicar totalidade da cúpula do Judiciário e de todos os tribunais superiores, não havendo qualquer reserva ou preferência para a magistratura de carreira no órgão máximo da organização judiciária, é incorreto dizer que ao Poder Judiciário cabe quase que exclusivamente o recrutamento de seus membros. O máximo que se pode concordar é que o recrutamento referentes aos magistrados de primeiro grau seja exclusivamente do Poder Judiciário, o que também não corresponde a totalmente verdadeiro, posto que os cargos são criados por lei e o orçamento do Judiciário deve ser adaptado ao orçamento do órgão a que pertence, União Federal ou Estado.

A estrutura funcional e estrutural do Poder Judiciário na concepção da Constituição de 1988 deveria proporcionar ao terceiro poder a condição necessária para atender à sua missão constitucional pelo vezo que a ela se destinou. Para tanto se organizou verticalmente o Poder Judiciário em órgãos de primeiro e segundo graus de jurisdição e órgãos de cúpula. Solidificou-se o princípio do duplo grau de jurisdição. Com exceção dos órgãos gerais de cúpula, e agora também o Conselho Nacional de Justiça, criado com a Reforma do Poder Judiciário, em todos os demais casos há tribunais de segundo grau e juízes de primeiro grau.

Não obstante, como reconhecia Rodrigues210, os órgãos competentes para recursos têm poder de revisão, mas não de mando. A assertiva precisa, com o devido acatamento, de uma atualização, porquanto se inicia um novo caminho com estabelecimento constitucional da súmula, de efeito vinculante (art. 103-A da CF), cabendo ao STF, em caso de decisão que não a observe, cassar a decisão judicial reclamada e determinar que outra seja proferida com ou

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Op. Cit. P. 15.

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RODRIGUES, Horácio Wanderlei. O Poder Judiciário no Brasil. In Rodrigues et all. O terceiro poder em crise : Impasses e Saídas. Rio de Janeiro : Fundação Konrad Adenauer. 2003. p. 19.

sem a aplicação da súmula, conforme o caso. Ou seja, uma vez que a decisão tenha sido sumulada através de reiteradas decisões pelo STF, torna-se obrigatória sua observância pelos juízos hierarquicamente inferior. Manteve-se a divisão federativa de justiças - União e Estados membros – e a distribuição territorial de seus órgãos. Horizontalmente estruturou-se a judiciário em justiça especializada e justiça comum. É especializada a Justiça Federal, em razão da qualidade do titular do direito em conflito, no caso a União Federal. As demais são especializadas em razão da matéria: (Trabalho, Eleitoral e Militar). Para a Justiça, estadual, comum se estabelece a competência residualmente.

Percebe-se claramente que o amplo leque de direitos e garantias individuais previstos no artigo 5º da Constituição Federal e a previsão constitucional da judicialização de qualquer conflito lesão ou ameaça a direito colocou o Poder Judiciário em situação aparentemente privilegiada em relação aos demais poderes, porquanto a ele outorgou-se o poder de revisão dos atos administrativos do Poder Executivo, e a possibilidade de declarar inconstitucional norma oriunda do Poder Legislativo. Uma visão puramente normativa, ou seja, a simples leitura do Texto Constitucional destinado à organização do Poder Judiciário pode levar à percepção de uma superioridade hierárquica do judiciário com relação aos demais poderes, conforme assinala Rodrigues211, trazendo em sua conclusão também o posicionamento de Lacerda212, para quem os “juízes e Tribunais brasileiros como Poder situam-se acima dos

demais Poderes do Estado e gozam de notável autonomia de decisão”.

A estruturação formal dos poderes do Estado brasileiro, presente no Texto Constitucional, leva à percepção de que é atribuída ao Poder Judiciário uma superioridade hierárquica em relação aos demais – é a ele que compete o controle da constitucionalidade das leis e dos atos administrativos. Ao lado disso, pode interpretar a legislação vigente, atribuindo-lhe sentidos diversos do que pretendeu o legislador, bem como preencher as lacunas do ordenamento jurídico e a ausência de normas regulamentadoras da Constituição. Há ainda o fato de que suas decisões jurisdicionais, após transitarem em julgado, constituem coisa julgada, não podendo mais ser alteradas nem pelo próprio Poder Judiciário

A explicação para esta aparente situação de privilégio e de maior força em relação aos demais poderes pode ser encontrada no fato de que o Constituinte, ressabiado pelo longo tempo de um período de exceção, de ditadura e de diminuição do poder e prestígio dos demais poderes em relação ao Executivo, pretendeu fortalecer o Judiciário, como bastião para amparo em caso de novas situações lutas em defesa da cidadania e da democracia, procurando

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RODRIGUES, Horácio Wanderlei. O Poder Judiciário no Brasil. In Rodrigues et all. O terceiro poder em crise : Impasses e Saídas. Rio de Janeiro : Fundação Konrad Adenauer. 2003. p. 16.

estabelecer um real e não puramente normativo Estado Democrático de Direito, consoante preconizado no artigo 1º, da CF-88. Consoante Mathias213,

A Constituição de 1988 foi a que mais acreditou na solução judicial dos conflitos. Enfatizou a missão da Justiça humana, confiou-lhe a tutela dos direitos fundamentais, destacados por longa enunciação e singular alteração topográfica. Criou direitos, cuja fruição ficou vinculada à assunção, pelo juiz, de papel político ampliado e, até certo ponto, desafiador da tradicional inércia. Previu instrumentos de conversão da Justiça naquele serviço eficiente, célere, descomplicado e acessível sonhado pelo povo. Seduzida por essa Justiça diferente com que o constituinte acenou, a comunidade acorreu aos juízes e multiplicaram-se ainda mais os processos. Uma sociedade desperta pela cidadania, que é o direito a ter direitos, exercitou-a, esperançosa. E encontrou a mesma Justiça atormentada com suas carências e perplexa diante da profusão das demandas.

A configuração do aparato judicial prevista na Constituição de 1988 demonstra que o Poder Judiciário foi chamado para ser o ator principal de efetivação do Estado Democrático de Direto, concretizando a reconstrução do projeto de cidadania no Brasil, a possibilidade de transformação social pelo Direito. Não obstante, o Poder Judiciário pós-Constituição de 1988 não foi capaz de dar aos seus usuários a resposta esperada e corresponder à expectativa criada com a volta ao Estado Democrático de Direito. Em parte pelo próprio aumento de demanda, em parte pela própria incapacidade estrutural e organizacional de entender o momento que a sociedade almejava tornar realidade. A esperança transformou-se em decepção e gerou impaciência com o sistema Essas circunstâncias criaram um ambiente favorável às reformas do sistema judicial e um clima hostil à estrutura e à organização do Poder Judiciário, fatores estes que serão objetos de análise mais profunda no capítulo seguinte.

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LACERDA, Galeno. O juiz e a justiça no Brasil Revista de processo, São Paulo : Acadêmica, 1992.

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