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vereadores das Câmaras Suas atribuições, e Distritos, serão regulados por lei.

4. CRISE E REFORMA DO PODER JUDICIÁRIO

4.1 Origem da Crise do Poder Judiciário

4.2.2 O judiciário segundo os juízes

Também é de iniciativa da Associação dos Magistrados Brasileiros a encomenda de pesquisa ao Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro – IUPERJ sobre os magistrados, a estrutura e o funcionamento do Poder Judiciário no Brasil tendo como público alvo os magistrados brasileiros. A pesquisa resultou, levando em consideração o não conhecimento de outra no mesmo sentido, naquilo que talvez seja a primeira obra nacional sobre o assunto a levar em consideração o pensamento interno, a opinião dos magistrados sobre a própria instituição e o papel do juiz na formulação das políticas do Estado e no exercício da função jurisdicional244. A pesquisa foi realizada entre os meses de fevereiro e junho, de 1995, e teve a participação de 3.927 magistrados que responderam ao questionário encaminhado. Naquele documento observa-se que 26,6% dos magistrados entrevistados entendem que o Judiciário exerce um papel ativo no sentido de reduzir desigualdades sociais, enquanto 61,7% acreditam que o magistrado é apenas um fiel intérprete da lei.245

Evidencia-se pelas respostas dos entrevistados que o Poder Judiciário enfrenta uma grave crise, pois não consegue encontrar soluções para os problemas que o afligem e tampouco e eficiente em dar as respostas exigidas por seus “clientes”, prestando um serviço que não é defensável e tampouco atraente. Os magistrados entrevistados atribuem a crise “à

carência de recursos materiais, aliados ao excesso de trabalho e ao anacronismo do direito processual que favorece recursos protelatórios e aumenta o tempo de tramitação de um

242

Ib. Idem. p. 15.

243

___________Relatório de Gestão 2002 / 2004. Brasília-DF.

244

VIANNA, Luiz Wernneck. Et All. Corpo e Alma da Magistratura Brasileira. Rio de Janeiro : Revan, 1997. 3ª ed. 334 p.

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determinado feito”.246 Na opinião de quase 60% dos entrevistados, os magistrados estão sobrecarregados. Imputa-se a crise também ao fato de que a estrutura do Poder Judiciário não se ter modernizado, resultando em uma justiça morosa e cara para o usuário, conforme o entendimento de 72,9% dos entrevistados.

Individualmente os magistrados, de forma quase unânime reconhecem que o Poder Judiciário não cumpre eficazmente sua principal missão e precisa ser modernizado para atendê-la. Ainda que não se tenha o mesmo grau de coesão quando se apontam os motivos para esse descompasso entre missão e realidade, vê-se que os magistrados, dos mais variados graus de jurisdição não estão alheio à essa realidade e propugnam também pela realização de reformas, porém, cada proposta tem muito de sua idiossincrasia. Para a juíza trabalhista Adriana Raposo247, ainda que não concorde que o Poder Judiciário é ineficiente, aponta como razão para o problema a falta de independência do PJ para “proceder mudanças em sua

estrutura funcional” porquanto tal somente pode ser feito mediante lei, a cargo do Poder

Legislativo. O desembargador gaúcho Cláudio Maciel248, ex-presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros, acredita que a razão atual da crise do sistema judicial está na hipertrofia do Poder Executivo, que “tem a tendência de desconsiderar o valor e o significado

transcendente da ordem constitucional legítima, muitas vezes sendo colocado o interesse na execução de determinado plano de governo acima da própria intangibilidade do sistema constitucional vigente”. Para o Ministro Nelson Jobim249, atual presidente do STF, a demora nos julgamentos do Poder Judiciário reside na grande quantidade de recursos judiciais. "Demandar, representa para todos que têm condição de empurrar a demanda por mais

tempo, uma vantagem, inclusive, de natureza econômica. A pessoa não tem ônus por ter recorrido". O Juiz trabalhista Antônio Álvares250, do TRT da 3ª Região acredita que a “crise

tem seu fundamento num fato muito simples de perceber, mas difícil de solucionar: a ineficiência da burocracia para dar resposta às demandas do cidadão.” Para o juiz federal Roberto Nogueira251 o epicentro das crises históricas que desenham o perfil do Judiciário brasileiro desde os tempos coloniais é a concentração do poder e institucional sob o regime das cúpulas.

246

VIANNA. et all. Op. Cit. p. 277.

247

RAPOSO. Adriana Sette da Rocha. Crise no Poder Judiciário. Disponível em http://www.trt13.gov.br/revista/adriana1.htm, acesso em 27/09/2004.

248

MACIEL, Cláudio Baldino. O juiz independente no Estado Democrático. In: Âmbito Jurídico, ago/2001. http://www.ambito-juridico.com.br/aj/cron0148.htm. Acesso em 11.01.2005.

249

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. A Justiça em números. Brasília-DF. 2005.

250

Op. Cit. p. 2

251

NOGUEIRA. Roberto Wanderley. Lógica da reforma do Judiciário. Jornal de Brasília (DF), Brasília, Opinião, 3 de dezembro de 2004.

Institucionalmente também se reconhece a crise no Poder Judiciário. O STF já havia produzido um “Diagnóstico do Poder Judiciário”252 em 1974, baseado nas informações e opiniões dos magistrados, como subsídio para a Reforma do Poder Judiciário, onde se constatou que:

Quer-se que o Poder Judiciário se torne apto a acompanhar as exigências do desenvolvimento do País e que seja instrumento eficiente de garantia da ordem jurídica. Quer-se que se eliminem delongas no exercício da atividade judiciária. Quer- se que as decisões do Poder Judiciário encerrem critérios exatos de justiça. Quer-se que a atividade punitiva se exerça com observância das garantias da defesa, com o respeito à pessoa do acusado e com a aplicação de sanções adequadas. Quer-se que a independência dos magistrados corresponda ao exato cumprimento dos deveres do cargo. Quer-se que os jurisdicionados encontrem, no Poder Judiciário, a segura e rápida proteção e restauração de seus direitos, seja qual for a pessoa ou autoridade que os ameace ou ofenda.

A associação dos Magistrados Brasileiros iniciou uma campanha pela efetividade da Justiça. Umas das medidas práticas foi a formação de uma comissão para estudar, analisar e sistematizar as propostas apresentadas por magistrados de todo o país. Várias propostas já foram apresentadas criando mecanismos que possibilitem maior celeridade na tramitação dos processos e maior efetividade nas decisões judiciais, melhorando a qualidade do serviço prestado. Dentre as várias apresentadas, foram encaminhadas para o Ministério da Justiça e para os dirigentes das mais altas cortes judiciárias do país podem ser enunciadas: I- possibilidade de seqüestro de valores da Fazenda Pública pelo não pagamento de precatórios; II- qualificação de ato de improbidade o retardamento ou não pagamento de precatório; III- prisão civil por descumprimento de ordem judicial; IV- instituição de cobrança de juros progressivos; V- indeferimento de inicial com julgamento do mérito; VI- imposição de ônus de comparecimento ao advogado na audiência preliminar; VII interposição de agravo somente sob a forma retida, VIII, instituição de súmula impeditiva de recursos (ao invés da súmula com efeito vinculante), entre outras. 253

Mas é a opinião de Eliana Calmon, hoje ministra do STJ, que retrata com percuciência e honestidade a situação do Poder Judiciário. Para ela, o Poder Judiciário não aproveitou a oportunidade da Constituição de 1988, perdendo grande oportunidade de realizar uma mudança estrutural, gerando um “descompasso institucional que colocou o Poder Judiciário,

nestes últimos dez anos, em evidência, não havendo um só dia em que a mídia não leve aos

252

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Reforma do Poder Judiciário – Diagnóstico. Brasília, 1975. p. 14..

253

Associação dos Magistrados Brasileiros. Campanha pela Efetividade da Justiça. Caderno 01. Propostas da Comissão para a Efetividade da Justiça da AMB. Brasília, 2004. p. 5.

brasileiros uma nova faceta de seu mau funcionamento”. Para aquela juíza, os magistrados

preocuparam-se apenas com interesses corporativos quando fizeram lobbies na Constituinte resultando que:

Na atualidade, está a magistratura no cadafalso da opinião pública, com a instituição justiça na boca de inescrupulosos aproveitadores, especialmente daqueles que, por ignorância são atiçados pela mídia. Os juristas não têm soluções plausíveis. Os profissionais do Direito travam verdadeira guerra na preservação do mercado de trabalho, e os jurisdicionados, em perplexidade, amargam uma irracional espera na resposta do Estado-juiz254