• Nenhum resultado encontrado

soberania do Estado nacional nas relações internacionais A Paz de Westfalia terminou uma guerra de mais de 80 anos na Europa, e que foi considerada uma guerra mundial, em todos os continentes habitados A Ordem de Westfalia tinha

2.2 GLOBALIZAÇÃO E ESTADO NEOLIBERAL

2.2.3 Neoliberalismo e o Consenso de Washington

Conforme anota Batista, 85 em novembro de 1989, reuniram-se na capital dos Estados Unidos funcionários do governo norte-americano e dos organismos financeiros internacionais ali sediados - FMI, Banco Mundial e BID - especializados em assuntos latino-americanos. O objetivo do encontro, convocado pelo Institute for International Economics, sob o título "Latin American Adjustment: How Much Has Happened?", era proceder a uma avaliação das reformas econômicas empreendidas nos países da região. Para relatar a experiência de seus países, também estiveram presentes diversos economistas latino-americanos. Às conclusões dessa reunião, sintetizadas em princípios, orientações e modelos para que os países da América Latina e também os demais pretendentes a ingressar no clube do desenvolvimento, é que se daria, subseqüentemente, a denominação informal de "Consenso de Washington".

85

Canabrava Filho86 aponta que a reunião que ficou conhecida por Consenso de Washington é fruto da sistematização das formulações de um grupo de intelectuais liderados por Jonh Wilianson87, do Institute for International Economics, a serviço de instituições financeiras e do governo dos Estados Unidos, formulações essas que deram origem “ao

modismo da subordinação do Estado ao Mercado”. Na formulação de Willianson, os

recursos das instituições financeiras destinadas aos países em desenvolvimento estavam sendo desperdiçados, sem que as crises fossem resolvidas, o que os tornava inadimplentes. A solução, apresentada em forma de decálogo, consiste em clara demonstração de política econômica e valores que devem ser observados pelos países pobres e em desenvolvimento que são destinatários de empréstimos de instituições financeiras participantes, com reflexo não só no aspecto econômico, mas também no aspecto político e social. Para Franco88, “um

receituário como esse é claramente inspirado por uma visão mercadocêntrica do processo de desenvolvimento, freqüentemente chamada de neoliberal, que implica uma determinada concepção de padrão de relação entre Estado e sociedade.”

A seguir reproduzem-se os princípios adotados pelo Consenso de Washington, os quais passaram a nortear todas as ações das instituições que dele participaram, notadamente o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM). 89

Disciplina fiscal. Altos e contínuos déficits fiscais contribuem para a inflação e fugas de

capital.

Redução dos gastos. Despesas fiscais superiores à receita geram déficits públicos e oneram a

capacidade de investimento.

Reforma tributária. A base de arrecadação tributária deve ser ampla e as MARGINAL TAX

RATES moderadas.

86

CANNABRAVA FILHO, Paulo. América Latina pós-Consenso de Washington. Compondo uma nova cultura. Ver. Conjuntura. Outubro 2003. São Paulo : Nova Sociedade. 2003. p. 03.

87 John Willianson, economista norte americano é considerado um dos pais do Consenso de Washington.

88

FRANCO, Augusto de. Carta DLIS 26. Disponível em

http://www.augustodefranco.org/conteudo.php?cont=cartas_dlis&id=C0_33_12. Acesso em15/06/2005. p. 03- 04.

89

WILLIANSON, John. “What Whashington Means by Policy Reform” in John Williamson , ed., Latin

American Adjustment: How Much Has Happened? (Washington: Institute for International Economics, 1990). Disponível em http://www.funcex.com.br/bases/64-Consenso%20de%20Wash-MN.PDF. Acesso em

Taxas de juros. Os mercados financeiros domésticos devem determinar as taxas de juros de

um país. Taxas de juros reais e positivas desfavorecem fugas de capitais e aumentam a poupança local.

Taxas de câmbio. Países em desenvolvimento devem adotar uma taxa de câmbio competitiva

que favoreça as exportações tornando-as mais baratas no exterior.

Abertura comercial. As tarifas devem ser minimizadas e não devem incidir sobre bens

intermediários utilizados como insumos para as exportações.

Investimento direto estrangeiro. Investimentos estrangeiros podem introduzir o capital e as

tecnologias que faltam no país, devendo, portanto ser incentivados.

Privatização. As indústrias privadas operam com mais eficiência porque os executivos

possuem um “interesse pessoal direto nos ganhos de uma empresa ou respondem àqueles que têm”. As estatais devem ser privatizadas.

Desregulação. A regulação excessiva pode promover a corrupção e a discriminação contra

empresas menores com pouco acesso aos maiores escalões da burocracia. Os governos precisam desregular a economia.

Direito de propriedade. Os direitos de propriedade devem ser aplicados. Sistemas judiciários

pobres e leis fracas reduzem os incentivos para poupar e acumular riqueza.

O valor do Consenso de Washington está em que reúne, num conjunto integrado, elementos antes esparsos e oriundos de fontes diversas, às vezes diretamente do governo norte-americano, outras vezes de suas agências, do FMI ou do Banco Mundial. Para Batista90:

“o ideário neoliberal já havia sido, contudo, apresentado de forma global pela entidade patrocinadora da reunião de Washington - o Institute for International Economics - numa publicação intitulada Towards Economic Growth in Latin America, de cuja elaboração participou, entre outros, Mário Henrique Simonsen”. Não se tratou, no Consenso de

Washington, de formulações novas, mas simplesmente de registrar, com aprovação, o grau de efetivação das políticas já recomendadas, em diferentes momentos, por diferentes agências.

Ainda conforme Batista91, a mensagem neoliberal que o Consenso de Washington registraria vinha sendo transmitida, vigorosamente, a partir do começo da Administração Reagan nos Estados Unidos, com muita competência e fartos recursos, humanos e financeiros, por meio de agências internacionais e do governo norte-americano. Acabaria cabalmente

90

Op. Cit. p. 85

91

absorvida por substancial parcela das elites políticas, empresariais e intelectuais da região, como sinônimo de modernidade, passando seu receituário a fazer parte do discurso e da ação dessas elites, como se de sua iniciativa e de seu interesse fosse.

O Consenso de Washington, de 1991, oblitera o Estado social e o próprio conceito de Estado nacional, fazendo surgir uma nova realidade, como anota Bobbio92, “o liberalismo é,

como teoria econômica, fautor da economia de mercado; como teoria política, é fautor do estado que governe o menos possível ou, como se diz hoje, do estado mínimo (isto é, reduzido ao mínimo necessário)”. A globalização, leia-se a globalização no seu aspecto econômico,

torna-se então um instrumento de propagação e convencimento da implantação das idéias neoliberais em todos os países, como única forma de alcance para inclusão e inserção no mundo globalizado, consoante os valores preconizados pelo consenso de Washington, com a visão central de mercado predominando sobre o Estado.

O Consenso de Washington, porém, não é unanimidade, a despeito da globalização. Mesmo dentre os seus defensores, existem ponderadas opiniões de que as políticas ali formuladas devem ser consideradas elementos de um conjunto mais abrangente, por ser insuficiente para, isoladamente, alcançar os resultados positivos esperados. Acredita-se que existe uma nova direção que considera os pontos do Consenso de Washington (ajuste fiscal, privatização, desregulamentação) como um componente específico dentro de algo mais amplo.

A crítica que se faz é a de que o Consenso de Washington sozinho não é apenas insuficiente, mas contraproducente. Porque, se a parte social não muda, não se consegue nem as melhorias econômicas pretendidas pelo Consenso de Washington. Então o pós-Consenso de Washington, ou, para alguns, o novo Consenso de Washington, seria o social junto com a economia e a política nem estadocêntrica nem mercadocêntrica, porém centrado na nova sociedade civil, ou seja, baseada numa visão sociocêntrica e numa outra concepção de relacionamento entre Estado e sociedade.

92

BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. 6.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. p.114.