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vereadores das Câmaras Suas atribuições, e Distritos, serão regulados por lei.

4. CRISE E REFORMA DO PODER JUDICIÁRIO

4.1 Origem da Crise do Poder Judiciário

4.2.3 O Judiciário na ótica do Banco Mundial

Referindo-se de forma generalizada aos judiciários da América Latina e do Caribe, no Documento Técnico 319 – O Setor Judiciário na América Latina e no Caribe – elementos para reforma, o Banco Mundial (BM) afirma que o PJ em várias partes da América Latina e do Caribe tem experimentado em demasia longos processos judiciais, excessivo acúmulo de processos, acesso limitado à população, falta de transparência e previsibilidade de decisões e frágil confiabilidade pública. Ainda na visão do BM, a ineficiência da administração da Justiça é um produto de muitos obstáculos, incluindo a falta de independência do judiciário, inadequada capacidade administrativa das Cortes de Justiça, deficiência no gerenciamento de processos, reduzido número de juízes, carência de treinamentos, prestação de serviços de forma não competitiva por parte dos funcionários, falta de transparência no controle de gastos de verbas públicas, ensino jurídico e estágios inadequados, ineficaz sistema de resolução de conflitos e leis e procedimentos enfadonhos. De acordo Maria Dakolias, autora do documento, na verdade a coordenadora da equipe lotada na Unidade de Modernização do Setor Público do Departamento Técnico do Banco Mundial que produziu o documento, os judiciários na América Latina têm sido incapazes de assegurar a resolução de conflitos de forma previsível e eficaz, deixando de garantir direitos individuais e direito de propriedade. Tem se mostrado também incapaz de atender às demandas do setor privado e da população em geral, especialmente as de baixa renda.

Um dado importante na anotação do documento do BM é o reconhecimento de que o orçamento das cortes não tem sido suficiente para suprir as demandas do Judiciário, resultando na constatação de que “os juízes e os servidores trabalham em condições que não

estruturas das Cortes e a carência de tecnologia fazem parte da composição deste quadro”.255 Ainda assim, constata-se no documento que ao judiciário se imputa um estado de

crise que resulta no descrédito do judiciário perante a sociedade em razão da morosidade objetivando-se em razão dessa constatação uma alteração legislativa, estrutural, organizacional e de internalização de valores informados sob o prisma economicista, consentâneo com o crescimento da integração econômica, atendendo à demanda de um judiciário com padrões internacionais, consoante os ditames de organismo multilaterais como o WTO, MERCOSUL, NAFTA. Ou seja, deve o Judiciário ser reformado e conformado com a ordem mundial, alcançando o seu ideal pelo prisma econômico.

Por outro lado, o retrato do Judiciário descrito pelo documento, que reflete o posicionamento oficial do Banco Mundial, posto que aquela instituição confessadamente patrocina reformas judiciais em diversos países latino-americanos, tais como Argentina, Peru, Colômbia, Bolívia, Costa Rica, Panamá, é por demais sombrio e urgente a necessidade de reforma:

Ao contrário do ideal, o setor judiciário na América Latina não é eficiente, tampouco efetivo na garantia da legislação existente. Atualmente o sistema sofre de descrédito e da morosidade processual impedindo o desenvolvimento do setor privado e o acesso as Cortes. Primeiro, a população de forma generalizada não confia no Judiciário. Na Argentina, por exemplo, somente 13% da população acreditam na administração da justiça. No Brasil, 74% da população vêem a administração da justiça como regular ou insatisfatória. O pior caso talvez seja o Peru, onde 92% da população não confiam nos juízes. O quadro de pessoal do Judiciário , incluindo os juízes e pessoal do suporte bem como outros servidores públicos têm percebido que estão na raiz do problema e conseqüentemente dificultam a promoção de mudanças. Em termos econômicos, o Judiciário detém o monopólio da Justiça e, conseqüentemente apresenta incentivos para atuar de forma ineficiente. Assim, este setor proporciona serviços abaixo do ideal que por sua vez causa morosidade no julgamento dos processos.

Entende o Banco Mundial que o Judiciário é falho e, portanto, deve ser reformado para que atenda a duas estruturais globais: fortalecer e reforçar a democracia e promover o desenvolvimento econômico, que “não pode seguir em frente sem uma efetiva definição,

interpretação e garantia dos direitos de propriedade [...] promovendo o desenvolvimento do setor privado”. 256

Em conclusão as anotações sobre as visões sobre o Poder Judiciário, é possível verificar que há uma espécie de consenso de que o atual retrato do Judiciário no Brasil, tanto

254

CALMO, Eliana. Diagnóstico da Justiça. Revista da OAB, 67, Brasília - DF. 1998, p- 11.

255

BANCO MUNDIAL. Documento Técnico número 319. Elementos para Reforma. O setor Judiciário na América Latina e no Caribe. Trad. Sandro Eduardo Sarda. Washington, D.C. 1996.

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pela percepção da sociedade civil representada pelos entrevistados, quanto pelos integrantes do Poder Judiciário não difere muito do diagnóstico efetuado no documento formulado pelo Banco Mundial apontados como sendo a tônica dos Judiciários da América Latina e, portanto, passíveis de reforma. Não obstante, ainda com base nos tópicos anteriores, verifica-se que os objetivos parecem destoantes quando analisados conjuntamente.

A sociedade civil parece querer um Judiciário que seja o garantidor dos direitos conquistados ou outorgados, mas que se encontram positivados no ordenamento jurídico pátrio, bem como o poder responsável pela concretização daqueles que foram idealizados, mas ainda não implementados pelo Estado, notadamente pela omissão do Executivo ou Legislativo. Quer ainda a sociedade civil um Judiciário que internalize valores sociais e coloque a sociedade a salvo de interesses meramente comerciais, garantindo-lhes os direitos de terceira geração preconizados na Constituição Federal, através de um atuar transparente, eficiente, rápido e simples.

Por outro lado, querem os magistrados pertencer a um Poder Judiciário que atenda a todos os anseios da sociedade civil, transformando-se em poder garantidor de todas as promessas do Estado, e um receptáculo das esperanças da sociedade, porém, não querem a ela se submeter acreditando que não são em parte alguma causa da discrepância entre o ideal e a realidade.

O Banco Mundial, por seu turno, quer um Judiciário rápido, eficiente, independente, porém voltado a atender uma valoração econômica, atendendo mais aos interesses mercantilista do que meramente sociais, ou, ao menos, não levando em conta tão somente os aspectos sociais de determinado conflito.