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soberania do Estado nacional nas relações internacionais A Paz de Westfalia terminou uma guerra de mais de 80 anos na Europa, e que foi considerada uma guerra mundial, em todos os continentes habitados A Ordem de Westfalia tinha

3. PODER JUDICIÁRIO

3.1 O ESTADO E A SEPARAÇÃO DE PODERES

3.2.1 Poder Judiciário no Período Colonial.

3.2.1.2 Governos Gerais

Circunstâncias externas, notadamente o temor produzido pelas ameaças cada vez perigosas de novas invasões francesas levaram a Metrópole a modificar sensivelmente o sistema de capitanias, introduzindo o sistema de Governo-Geral, estabelecendo o Governador Geral (Tomé de Souza), o provedor-mor (Antônio Cardoso de Barros) e o ouvidor geral (Pero Borges), além dos provedores parciais. Pelo regimento do cargo de Governador Geral, de 7 de janeiro de 1959, era atribuição, dentre outras, prover nas coisas da justiça, direito das partes e negócios da real fazenda. Era o primeiro passo em direção à centralização judiciária da colônia, a despeito do monopólio que dantes era destinado aos donatários por determinação de El-rei, onipotência esta que sofreu limitação. Consoante Calmon164 o Regimento do Governador Geral pode ser considerado como a primeira Constituição Política do Brasil. A administração da Justiça no período dos Governos gerais foi marcada ainda pela excessiva vinculação do judiciário à Coroa, além da enorme desconfiança dos jurisdicionados para com

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COUTINHO, Milson. História do Tribunal de Justiça do Maranhão. 2ª ed. atual. Lithograf, 1999. p. 27.

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OP. Cit. p. 93.

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os magistrados e dos conflitos entre as instâncias de poder. Vários recursos e instrumentos provocavam atraso na decisão das causas.

Na análise de Wolkmer165 o advento dos Governadores gerais significou a evolução com a criação de uma justiça colonial e formação de uma pequena burocracia composta por um grupo de agentes profissionais, porquanto as capitanias se transformaram em espécie de províncias unificadas pela autoridade do mandatário-representante da Metrópole, com “um

sistema de jurisdição centralizadora controlada pela legislação da Coroa”. É que a primeira

autoridade da Justiça Colonial era o cargo particular de ouvidor, designado e subordinado aos donatários das capitanias. Depois, deram lugar os primitivos ouvidores a ouvidores gerais, com maiores poderes e mais independência em relação à administração política, que, conforme Schwartz166 “refletiu não só o desejo da Coroa de melhorar a situação da justiça,

mas também sua vontade de aumentar o controle real centralizado”. Trípoli167 complementa que o poder do ouvidor geral detinha um poder quase sem limites, sujeito ao seu próprio arbítrio pessoal; de suas decisões, na maioria das vezes, não cabia apelação nem agravo.

Contudo, o sistema judicial brasileiro colonial ressentia-se ainda da implantação de um órgão judicial colegiado. A exemplo do que ocorria em outras colônias portuguesas. A Coroa criou o primeiro Tribunal de Relação em 1587, que deveria ter sua sede em Salvador, mas este não chegou a entrar em funcionamento. A segunda tentativa ocorreu em 1590, mas apenas em 1609 foi instalado, sendo abolido em 5 de abril de 1526 em razão da invasão holandesa na Bahia. Somente em 1652 o Tribunal foi restaurado, por interesse da Câmara Baiana. Schwartz168, em sua obra a Burocracia e Sociedade no Brasil Colonial, dedica espaço especial para analisar a magistratura e a burocracia naquele período e toma por parâmetro o Tribunal de Relação da Bahia (A suprema Corte da Bahia e seus Juízes: 1609-1751). Nequete169 é ainda mais minucioso em sua pesquisa e na descrição do cotidiano, dos fatos e das circunstâncias que marcaram aquele tribunal ao longo de sua existência. Seguindo-se à Relação da Bahia instalou-se, em 1752 o Tribunal de Relação do Rio de Janeiro, e, em 1812, o do Maranhão e o de Pernambuco em 1821. Sobre a Relação do Maranhão a obra é de autoria do desembargador maranhense Milson Coutinho170 a obra mais completa. Esses tribunais tinham instância recursal, recebendo apelações e agravos, mas recebiam também ações novas nas áreas cíveis e criminal e do patrimônio estatal (competência originária), além

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Op. Cit. p. 53.

166

SCHWARTZ, Stuart B. Burocracia e Sociedade no Brasil Colonial. São Paulo : Perspectiva, 1979, p. 28.

167

TRÍPOLI, César. História do Direito Brasileiro. São Paulo : Revista dos Tribunais. 1936. Vol. I, p. 221.

168

SCHWARTZ, Stuart B. Buracracia e Sociedde no Brasil Colonial. São Paulo : Perspectiva, 1979, p. 295.

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de competência avocatória em situações de juízo criminal. Existe ainda menção às Juntas de Justiça, que teriam atribuições semelhantes a pequenos tribunais formados pelo ouvidor de uma de uma capitania e dois letrados adjuntos.

Estruturalmente a organização judiciária reproduzia, na verdade, a estrutura portuguesa, apresentando uma primeira instância, composta por magistrados singulares, distribuídos nas categorias de ouvidores, juízes ordinários e especiais, os quais se desdobravam em juízes de vintena, juízes de fora, juízes de órgãos, juízes de sesmaria, entre outros. A segunda instância era formada por juízes colegiados (os tribunais de Relação) e acima delas a Casa da Suplicação, uma espécie de tribunal de apelação. Consoante Wolkmer171, informado por Flory172 incluído neste sistema, em sua cúpula, encontravam-se também dois órgãos o supremo conselho institucionalizado e o desembargo do Paço:

Uma descrição completa do sistema judicial lusitano dos séculos XVI e XVII não pode deixar de destacar o supremo conselho institucionalizado e a esfera mais elevada de jurisdição, qual seja, o Desembargo do Paço. Já consagrado pelas Ordenações Manuelinas, o Desembargo do Paço não tinha função específica de julgamento, mas sim de assessoria para todos os assuntos de justiça e administração legal, embora causas de mérito especial que houvessem exaurido todos os outros meios de acordo pudessem ler levadas até esse órgão. De igual modo, cabia-lhe a elaboração e correção da legislação, a designação, promoção e avaliação do desempenho de magistrados. É certo que tais tribunais superiores (desembargo do Paço é Casa da Suplicação), mesmo sendo transferidos para o Brasil, em 1808, seguiram sendo sempre instituições remotas para a maioria dos brasileiros.