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A desigualdade, a discriminação e as teorias raciais tratadas anteriormente não desapareceram nas práticas e representações coletivas. Perceber a realidade presente é essencial para a análise das mudanças e permanências desse quadro, tomando cuidado para não se deixar afetar pela ideologia da ‘democracia racial’ que nega persistirem classes sociais e castas étnicas no país.

Ao falar dos brasileiros afrodescendentes, percebe-se certa invisibilidade do negro, como se, pela miscigenação, não houvesse mais negros e fôssemos todos morenos (pardos). O próprio Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatísticas (IBGE) fornecia dados que sujeitavam o pensamento a essa ideia. De acordo com o IBGE (2000), em pesquisa relativa a 1999, 5,4% da população ainda se declarava negra (preta) contra 39,9% de pardos e 54% de brancos. O Quadro 1 abaixo identifi ca a distribuição por região.

Quadro 1. Distribuição da população por cor ou raça no Brasil e em suas regiões.(1)

Exclusive as pessoas que não declararam sua cor. (2) Exclusive a população da área

rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá.

Brasil e Grandes Regiões Distribuição da população por cor ou raça

(1) (%) – 1999

Branca Preta Parda Amarela Indígena

Brasil 54,0 5,4 39,9 0,5 0,2 Norte (2) 28,0 2,3 68,3 0,2 0,9 Nordeste 29,7 5,6 64,5 0,1 0,1 Sudeste 64,0 6,7 28,4 0,8 0,1 Sul 83,6 3,0 12,6 0,5 0,2 Centro-Oeste 46,2 3,5 49,4 0,4 0,5 Fonte: IBGE (2000).

Nova interpretação feita pelo IBGE junto ao Ipea, organizado em 2008, contraria a tese de ‘desaparecimento’ do negro. Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), é

possível compreender as desigualdades ainda recorrentes, pois, ao falar delas, não as atribuímos unicamente ao preconceito racial, mas a outros processos decorrentes do histórico escravocrata, os quais obstaram o desenvolvimento de brasileiros afrodescendentes e, também, indígenas.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sugere que, desde 2008, a população negra é maioria no Brasil. Analisando os Estados a partir de microrregiões é possível detectar localidades com concentração de negros. Pela nova metodologia, a população negra no sudeste e sul do país fi ca abaixo dos 40%. Mas, nas regiões norte e nordeste, em praticamente todas as localidades – com exceção das áreas de reservas indígenas – as auto-declarações apontam para mais de 75% de negros. Ainda, segundo o IPEA, em grandes trechos do Amazonas, do Pará, do Amapá e em pontos diversos da Bahia, Maranhão, Piauí e Tocantins, o mapa aponta que os negros são mais de 85% da população.

Ao ampliar essa leitura sobre a grande massa de cidadãos negros e negras, é importante colocar que são localizáveis as desigualdades sobre esse grupo racial. Para o IPEA, entre 1993 e 2007, a expectativa de vida foi maior para a população branca na comparação com a negra. O levantamento, retrato das desigualdades, é elaborado por meio de indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE).

Esses levantamentos também indicam que as mulheres negras ainda constituem o tipo de trabalhador que está sujeito a situações de trabalho mais precárias. Elas apresentam as maiores proporções no trabalho doméstico, que é de 21,4%. Esse percentual deve ser comparado com 12,1% entre as mulheres brancas e 0,8% entre os homens. Mulheres negras também são o grupo com as menores proporções de carteira assinada (23,3%); maior índice na produção para subsistência e trabalho não remunerado (15,4%); e último lugar na posição de empregador (1,2%).

O desemprego é apontado pelo Ipea como um dos indícios da maior precarização da situação das mulheres negras no mercado de trabalho. Enquanto elas apresentaram taxa de desocupação de 12,4%, em 2007, as mulheres brancas registraram desemprego de 9,4%, os homens negros 6,7%, e os homens brancos 5,5%, no mesmo período.

Outros dados indicam que, aproximadamente, dois milhões de domicílios resididos por negros se encontravam em favelas ou semelhantes, o que passou a representar um universo de, pelo menos, 8 (oito) milhões de pessoas. Por fi m, o estudo destaca o fato de que as maiores taxas de trabalho infantil estão entre os meninos negros nordestinos.

1 C O M U N I D A D E S Q U I L O M B O L A S N O P A R A N Á

Ainda sobre o trabalho, os dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatísticas (IBGE) e pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) mostram uma realidade mais precária enfrentada pelos negros no mercado de trabalho, em comparação com a enfrentada pelos não- negros, quando se consideram dados como as taxas de desemprego, a presença nos diferentes postos de trabalho e os valores dos rendimentos, entre outros. (BOLETIM DIEESE, 2002).

Abaixo, a Tabela 1 compara o percentual de negros e não-negros desempregados, mostrando como a desigualdade varia em seis regiões

metropolitanas.13

Tabela 1 - Taxas de desemprego total, por sexo e cor por regiões metropolitanas

do Brasil.

Regiões Metropolitanas

Negros Não-Negros

Total Mulheres Homens Total Mulheres Homens Belo Horizonte 19,9 22,4 17,9 16,1 19,9 12,8 Distrito Federal 23,0 25,2 21,0 17,2 21,2 13,3 Porto Alegre 22,7 24,7 20,8 14,9 17,9 12,5 Recife 22,4 25,8 19,8 19,1 23,3 15,3 Salvador 29,0 32,0 26,2 19,9 21,9 17,9 São Paulo 23,9 27,4 21,0 16,7 20,1 14,0

Obs: (a) Dados com base na média do período de janeiro a junho de 2002. (b) Negros – incluem-se

pretos e pardos. Não-negros – incluem-se brancos e amarelos. Fonte: Convênio Dieese/Seade (2002).

Ao situar o mercado de trabalho, observa-se que a pessoa de pele escura possui substancial desvantagem se compararmos com os indivíduos de pele clara, no que se refere à questão da remuneração e dos índices de empregabilidade. Isto fi ca evidente na reportagem feita pelo jornal Folha de S.Paulo (2008), que ratifi ca as difi culdades do trabalhador negro no êxito laboral. Desse modo, ao analisarmos o quadro acima, podemos observar que a mulher negra possui as menores oportunidades de emprego, em

13 Dados do Censo 2010 ratifi cam que os grupos raciais diferem no que diz respeito à doenças, longevidade, emprego, acesso a serviços e renda. Por exemplo, os rendimentos mensais de sujeitos autodenominados pretos (R$ 834), pardos (R$ 845) ou indígenas (R$ 735) são quase a metade do rendimento médio dos grupos brancos (R$ 1.538) e amarelos (R$ 1.574) (LAMARCA; VETTORE, 2012).

todas as regiões pesquisadas, enquanto o homem negro e a mulher branca dividem acirradamente o segundo lugar na conquista de emprego.

Embora a educação não seja sufi ciente para superar esse quadro, ela é um importante vetor de acesso ao emprego. Nesse tópico, a desigualdade se repete, dando indícios preocupantes quanto à garantia de um futuro menos desigual. Dos 28.234.039 estudantes do ensino fundamental, 52,0% são brancos, 43,1% são pardos e 4,5%, pretos. No ensino médio, que tem 3.760.935 alunos, as proporções correspondentes são 65,3, 30,1 e 3,3%, para brancos, pardos e pretos, respectivamente, e, cursando o ensino superior, existem 1.665.982 estudantes, sendo 78,6% deles brancos, 17,4% de pardos e 1,4% de pretos (IBGE, 1992).

É a partir deste cenário que percebemos a fundamental importância de refl etirmos sobre a situação das comunidades remanescentes de quilombos no Brasil hoje. Como são essas comunidades? Onde estão? Como vivem? Quem são estes ‘novos’ sujeitos sociais? Tais indagações são os mecanismos motores e estruturantes do presente trabalho e que, provavelmente nos conduzirão ao melhor entendimento e esclarecimento da situação destas comunidades em nosso país, atualmente, com intuito de difundir sua realidade e chamar a atenção frente aos segmentos governamentais.

Logo, ao tratarmos de práticas esportivas e atividades de lazer em grupos sociais específi cos, como os quilombolas, os quais, em geral, encontram-se em regiões, isolados e com baixo IDH, faz-se necessário considerarmos as políticas de esporte e de lazer, não de modo isolado, mas articuladas com outras formas de ações e políticas públicas. Para iniciarmos, efetivamente, nosso estudo, é necessário realizarmos algumas refl exões sobre a temática quilombola, fazendo uma leitura histórica atualizada destes grupos.