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3. NEGOCIAÇÃO COLETIVA INTERNACIONAL

3.2 BREVE ESCORÇO DA NEGOCIAÇÃO COLETIVA

A negociação coletiva pressupõe a liberdade dos trabalhadores e empregadores de associarem-se de forma organizada e negociarem as condições de trabalho a serem observadas numa determinada empresa ou região, visando uma decisão conjunta, na qual sejam acomodados os interesses de todas as partes envolvidas.

Os primórdios da negociação coletiva remetem ao final do século XVIII, em um período de profundas mudanças sociais, econômicas e tecnológicas decorrentes da Revolução Industrial que começou na Inglaterra e espalhou-se, a princípio, pela Europa Ocidental e América do Norte. Esta época foi marcada por um grande fluxo de pessoas saindo dos campos para trabalhar nas fábricas, sem que estas novas relações de trabalho tivessem uma regulamentação mínima que garantisse proteção aos trabalhadores, que enfrentavam longas horas de trabalho, recebiam baixos salários e trabalhavam em ambientes inseguros (HAYTER, 2011: 01).

As precárias condições de trabalho, aliadas à notória fragilidade da atuação isolada dos trabalhadores, levou-os a perceber a necessidade de formar associações

organizadas para atuarem na defesa de seus interesses, quando passaram a exigir, de forma pacífica, melhores condições de trabalho, surgindo, assim, as primeiras organizações sindicais (HAYTER, 2011: 01).

Pressionados pelas novas associações de trabalhadores, e buscando evitar os movimentos grevistas e perdas na produção, as empresas aceitaram negociar com os representantes dos trabalhadores, a fim de alcançarems soluções pacíficas para os conflitos coletivos de trabalho, desenvolvendo-se, a partir de então, a negociação coletiva. Pretendia-se estabelecer condições mínimas de trabalho a serem observadas nas empresas, ou em determinadas regiões, criar condições de trabalho mais justas e relações laborais mais equilibradas (HAYTER, 2011: 02).

Em 1936, a negociação coletiva passou a ter sua importância internacionalmente reconhecida em relatório da OIT, que dava destaque à "crescente importância do acordo coletivo, como um elemento na estrutura social e econômica da comunidade industrial moderna. [...] Em muitos países, o acordo coletivo é agora um reconhecido método de determinar as condições de trabalho "(OIT, 1936: 265).

Não obstante as organizações internacionais endossassem e ressaltassem o importante papel das negociações coletivas nas relações de trabalho, houve bastante resistência às novas organizações de trabalhadores, seguidas das, ainda freqüentes, tentativas de enfraquecimento dos sindicatos.

Ainda assim o movimento social para criação de associações organizadas de trabalhadores foi expandindo-se, e, aos poucos, alguns países passaram a legitimar o direito à associação, promovendo alterações nas legislações nacionais para eliminar as restrições à criação de sindicatos e obstáculos legais ao direito à greve, admitindo o uso das negociações coletivas como instrumentos de regulação de salários e condições de trabalho.

Atualmente o direito à negociação coletiva constitui direito fundamental, aceito pelos membros da OIT ao incorporar-se à Organização, quando assumem o compromisso de respeitar, promover e viabilizar as negociações voluntárias entre empregadores e suas organizações, por um lado, e organizações de trabalhadores, por outro, para disciplinar as condições de trabalho entre essas partes.

A forma da negociação coletiva, como sistema de regulação das relações trabalhistas, pode se dar em diferentes modelos. Por um lado há o modelo de negociação estática, no qual as partes entram em negociação apenas de maneira circunstancial ou periódica, estabelecendo padrões de trabalho coletivos determinados e imediatamente configuráveis. Uma vez firmadas as normas ajustadas, não voltam a entrar em negociação até o cumprimento do prazo previsto, ou até que surjam acontecimentos que motivem uma nova negociação. Por outro lado há o modelo de negociação dinâmica, na qual as partes negociantes estabelecem uma série de instituições e procedimentos de caráter permanente (conselho de empresa, procedimentos de informação e consulta, mecanismos de exame de reclamações e de soluções de conflitos, etc.) que cumprem a função de adaptar as relações de trabalho às novas exigências e circunstâncias. Nesse modelo a questão do prazo ou duração dos instrumentos da negociação não é tão importante, uma vez que as instituições constituídas e os procedimentos estabelecidos permitem a atualização constante das cláusulas convencionadas, resolvendo e superando os conflitos que vão surgindo em uma negociação direta e contínua (OIT, 2000).

Os temas abordados nas negociações coletivas têm sido cada vez mais amplos e diversos. O objeto das negociações coletivas não mais se restringe à matéria remuneratória e às condições de trabalho, e não abrange apenas os direitos e benefícios diretos dos trabalhadores que são parte nos acordos, podendo vir a compreender os interesses dos trabalhadores considerados em sentido amplo (OIT, 2000: 72).

Além dos temas mais comuns, concernentes à remuneração e duração do trabalho, organização do trabalho, segurança e saúde, e formação e educação, temas como igualdade entre a mulher e o homem, e a não discriminação, tem ganhado espaço. Os instrumentos das negociações coletivas são utilizados ainda para institucionalizar modos de resolução de conflitos e de prevenção de greves, e tratar de temas como o assédio, a representatividade dos sindicatos e a reestruturação da empresa, embora os principais objetos das negociações coletivas ainda sejam os salários e a duração das jornadas de trabalho (OIT, 2008).

Outro tema que passou a ser discutido com maior frequência nas negociações coletivas é o compromisso dos sindicatos de fazerem concessões em termos de aumentos salariais, duração do trabalho ou de outras regalias em troca da segurança no emprego, com contrapartida dos empregadores de que não ocorra deslocalização da produção e do emprego. Tratam-se dos chamados acordos de flexibilidade, que têm o escopo de evitar demissões, e podem incluir matérias concernentes à contenção de custos, duração e organização do trabalho (OIT, 2008).

Esses conteúdos têm sido ampliados em função das novas realidades que enfrentam as empresas e as relações entre empregadores e trabalhadores, principalmente no tocante à internacionalização dos mercados, da globalização econômica, das transformações tecnológicas, do estabelecimento de novos padrões de produtividade, eficiência e qualidade, dos padrões referentes ao trabalho seguro, da valorização do trabalho na melhoria da competitividade da empresa, das novas estratégias e formas de organização e gestão empresarial e do trabalho, entre outros (OIT, 2000: 72).

Quanto aos propósitos da negociação coletiva trabalhista, Luiz Eduardo Gunther destaca a realização de pacificação social, quando a negociação contribui para o fim do conflito; e a capacidade de criar normas jurídicas para regular as relações de trabalho, com regras aptas a estabilizar a atividade produtiva (GUNTHER, 2008: 99).

A OIT, em Relatório da Conferência Internacional do Trabalho em 2008, enfatiza ainda o reforço da liberdade sindical e da negociação coletiva como fator capaz de contribuir para uma maior estabilidade econômica e social, ao atrair maior investimento direto estrangeiro (IDE) e contribuir para o aumento das exportações, melhorando a competitividade global e o desempenho econômico dos países que adotam essas práticas (OIT, 2008).