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3. NEGOCIAÇÃO COLETIVA INTERNACIONAL

3.6. NEGOCIAÇÕES COLETIVAS TRANSNACIONAIS NO MERCOSUL

O Mercosul começa a dar seus primeiros passos para instituir uma dimensão social no seu processo de integração regional. Tendo como um dos países membros o Brasil, faz-se relevante a análise do desenvolvimento das negociações coletivas transnacionais neste bloco econômico para entender como o país está incorporando este mecanismo de negociação internacional no contexto regional.

No início da década de 1990 as organizações sindicais dos países que hoje integram o Mercosul passaram a reconhecer a integração regional como importante proposição a ser discutida, adotando uma posição crítica acerca dos rumos da

integração, considerada, então, sinônimo de liberalização comercial e econômica, e temendo as possíveis consequências que sofreriam os trabalhadores dos países envolvidos no processo de integração, sendo a redução do nível de emprego, o estímulo ao dumping social e o aumento do desemprego as maiores preocupações dos dirigentes sindicais (VIGEVANI, 1997).

Essa preocupação levou os sindicatos a participarem mais ativamente do processo de integração, buscando evitar prejuízos sociais aos trabalhadores em prol da competitividade econômica, que motivara o processo de integração, tendo como principais bandeiras a luta pela ratificação das convenções da OIT e a elaboração de uma Carta Social ou de Direitos Fundamentais do Mercosul.

Assim foi que, ainda no início da integração regional, as entidades sindicais nacionais, por suas centrais, se uniram para conjuntamente influírem na formação do Mercado Comum de modo que nesse fossem levados em conta os legítimos interesses das categorias econômicas e profissionais afetados pelo processo de integração. Para isso foi criada a Coordenadoria de Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS), que reúne as centrais sindicais dos países componentes do Mercosul e de seus associados (Bolívia e Chile), constituindo, a partir de então, a estrutura organizacional laboral em nível regional para negociação coletiva supranacional (SOARES FILHO, 2007: 2/2).

Em dezembro de 1998 foi assinada a Declaração sócio-laboral do Mercosul, com o fim de aprofundar a dimensão social do processo de integração regional, considerando as principais convenções da OIT, os direitos fundamentais dos trabalhadores, e outros instrumentos legais concernentes aos direitos trabalhistas (GUNTHER, 2008: 110).

A Declaração Sociolaboral prevê como direito dos trabalhadores no âmbito do Mercosul a plena liberdade de associação e de ser representado por sindicatos em observâncias às legislações nacionais, destacando que “empregadores ou suas organizações e as organizações ou representações de trabalhadores têm direito de negociar e celebrar convenções e acordos coletivos para regular as condições de trabalho, em conformidade com as legislações e práticas nacionais”13.

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As Convenções da OIT que versam sobre a negociação coletiva têm sido bem aceitas pelos países do MERCOSUL, tendo todos os países membros ratificado a Convenção n. 98, que prevê o direito de sindicalização e negociação coletiva. A Convenção 154, sobre o incentivo à negociação coletiva foi ratificada por Brasil Argentina e Uruguai, e a Convenção n. 87, que trata da liberdade sindical, também foi ratificada pelos países membros, à exceção do Brasil (GUNTHER, 2008: 113).

As principais entidades sindicais com competência para representar os trabalhadores e defender seus interesses no âmbito regional são a Coordenação de Centrais Sindicais do Cone Sul, que reúne as Centrais Sindicais dos países membros, representando seus sindicatos laborais e seus trabalhadores; e o Conselho Industrial do Mercosul, que representa os empregadores nas questões sociolaborais no âmbito do Mercado Comum, podendo ainda os sindicatos de determinado setor, ou trabalhadores de uma empresa especifica, firmar acordos e convenções coletivas diretamente com as empresas e sindicatos patronais, assistidos pela Coordenação de Centrais Sindicais do Cone Sul (SOARES FILHO, 2007).

Percebe-se, portanto, que a negociação coletiva pode ser utilizada como um importante instrumento de coesão dos países do Mercosul, tornando o bloco mais homogêneo a partir da sua dimensão social, da uniformidade de condições e procedimentos no ambiente de trabalho; podendo, inclusive, concorrer para a instituição de marcos regulatórios no direito internacional do trabalho, e permitir a efetiva participação dos atores sociais no processo de integração regional, dando ênfase à observância dos direitos sociais no processo de integração.

Neste aspecto, merece destaque a primeira negociação coletiva firmada no âmbito do Mercosul, que resultou no acordo global assinado pela empresa Volkswagen da Argentina e do Brasil, e pelo Sindicato de Mecânicos de Automotores da Argentina, que destacava a “necessidade de estender acordos das relações entre capital e trabalho no âmbito do Mercosul” , e previa entre suas disposições: o intercâmbio de informações, reunião anual entre empresas e sindicatos, a prevenção de conflitos por meio do diálogo permanente, formação profissional homogênea, reconhecidos os cursos de capacitação em qualquer estabelecimento das empresas no Mercosul, entre outras (LIMA, 2006).

Segundo Jorge Rosenbaum e Octavio Racciatti (2006:119), esse acordo coletivo diferencia-se dos demais por não se tratar de negociação coletiva firmada entre um grupo multinacional e um sindicato ou federação internacional ou regional. Esse é um acordo celebrado, pelo lado do empregador, pelas respectivas subsidiárias da Argentina e do Brasil, e pelo lado dos trabalhadores, pelas correspondentes organizações ou comitês que os representam. Em certo sentido, é uma manifestação de um maior grau de descentralização da tomada de decisões e gestão local da empresa multinacional. Mas, ao mesmo tempo, é evidente que o acordo é parte da tendência internacional, já descrita, em direção ao estabelecimento de acordos regulatórios que constituem uma referência para as futuras relações entre as partes.

4. ACORDOS GLOBAIS: INSTRUMENTOS CONCRETOS DE NEGOCIAÇÃO