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3. NEGOCIAÇÃO COLETIVA INTERNACIONAL

3.3. MARCOS NORMATIVOS DA NEGOCIAÇÃO COLETIVA

A negociação coletiva, associada à liberdade de associação, pode ser uma ferramenta útil e poderosa para o engajamento entre empregadores e trabalhadores em todo o mundo. É particularmente útil para trazer equilíbrio às relações de trabalho,

promover a igualdade de oportunidades no trabalho, e garantir bens coletivos e maior produtividade na empresa.

A Organização Internacional do Trabalho reconhece a importância da negociação coletiva, fixando importantes parâmetros legais para assegurar o livre exercício desse direito e promover sua maior aplicação e efetividade em todas as nações do mundo.

Em 1944, a Declaração de Filadélfia, referente aos fins e objetivos da Organização Internacional do Trabalho, parte integrante da Constituição da OIT, reconheceu a obrigação solene da Organização Internacional do Trabalho de fomentar, entre todas as nações do mundo, programas que permitam alcançar o reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva, considerando este, princípio plenamente aplicável aos povos de todo o mundo (GERNIGON, 2000: 21).

Em 1949 foi aprovada a Convenção n. 98, trazendo proposições sobre o direito de sindicalização e negociação coletiva. Embora não tenha apresentado uma definição de negociação coletiva, ou de contratos coletivos, delimitou aspectos fundamentais do instituto, estabelecendo como objeto da negociação, a regulamentação das condições de emprego e pregou o estímulo e fomento do pleno desenvolvimento e uso de procedimentos de negociação voluntária entre, por um lado, os empregadores e suas organizações e, por outro, as organizações de trabalhadores (GERNIGON, 2000: 23).

A Recomendação 91 da OIT, de 1951, trouxe a primeira definição de acordos coletivos, decorrentes da negociação coletiva:

Todo acordo escrito relativo às condições de trabalho e de emprego, celebrado entre um empregador, um grupo de empregadores ou uma ou várias organizações de empregadores, por um lado, e, por outro, uma ou várias organizações representativas de trabalhadores ou, em sua falta, representantes dos trabalhadores interessados, devidamente eleitos e autorizados por este último, de acordo com a legislação nacional (OIT, 1951).

A mesma Recomendação estabeleceu ainda o caráter vinculativo da negociação coletiva e sua precedência sobre os contratos de trabalho, ainda que reconhecesse como legítimas as estipulações inscritas nos contratos individuais que fossem mais favoráveis ao trabalhador (Recomendação 91 de 1951 da OIT.).

Em novembro de 1977, em sua 204ª reunião o Conselho de Administração da OIT aprovou a Declaração Tripartite de Princípios sobre as Empresas Multinacionais e a Política Social, que, ainda que sem força vinculante, representa um elenco de princípios que norteiam o comportamento da sociedade, e, de forma mais específica, das empresas multinacionais (GUNTHER, 2008: 109).

No que concerne às negociações coletivas, destacam-se na Declaração Tripartite as seguintes recomendações: a) observância ao direito dos trabalhadores de que a organizações representativas que considerem convenientes sejam reconhecidas para fins de negociação coletiva (n. 49); b) garantia, por parte das empresas, dos meios necessários para dar assistência aos representantes dos trabalhadores na conclusão de efetivas convenções coletivas (n. 51); c) que as empresas multinacionais devem facultar aos representantes dos trabalhadores nela empregados a condução de negociações com os representantes da direção da empresa autorizados a decidir sobre as questões objeto da negociação (n. 52); d) reconhecimento à garantia dos trabalhadores de não sofrerem ameaças no decorrer das negociações coletivas e enquanto estiverem exercendo seu direito de sindicalização (n. 53); fornecimento pelas empresas de dados efetivos e concretos e informações necessárias aos trabalhadores e entidades que os representem para a celebração de negociações coletivas eficazes (n. 55) (OIT, 1977).

Em 1980, importantes consensos foram firmados pela Comissão de Negociação Coletiva durante os trabalhos preparatórios para a Convenção n. 154. Um deles foi o reconhecimento da possibilidade de fixar, por meio de negociação coletiva, condições mais favoráveis para os trabalhadores do que as previstas em lei. Outro ponto considerado fundamental para a eficácia das negociações coletivas foi a previsão de que deveria ser observada a boa-fé, como resultado dos esforços voluntários e persistentes de ambas as partes, evitando, assim, atrasos injustificados na negociação e sendo respeitados mutuamente os compromissos assumidos (GUIDO e GERNIGON, 2000: 13).

A Convenção n. 154, aprovada em 1981, trouxe o atual conceito de negociação coletiva firmado pela OIT:

Artigo 2 – (...) a expressão"negociação coletiva" compreende todas as negociações que se realizam entre um empregador, um grupo de empregadores ou uma ou mais organizações de empregadores, de um lado, e uma ou mais organizações de trabalhadores, de outro, para: a) definir condições de trabalho e termos de emprego; e/ou b) regular as relações entre empregadores e trabalhadores; e/ou c) regular as relações entre empregadores ou suas organizações e uma organização.

Para uma correta e eficaz utilização dos instrumentos de negociação coletiva, a Comissão Coletiva de Trabalho, confirmando a interpretação inicialmente feita na Conferência Internacional do Trabalho de 1951, estabeleceu o alcance dos termos previstos nas convenções e recomendações da OIT, ratificando o entendimento segundo o qual:

As partes são inteiramente livres para determinar, dentro dos limites da lei e da ordem pública, o conteúdo de seu acordos e, consequentemente, também a concordar com cláusulas que tratam de todas as condições de trabalho e de vida, incluindo as medidas sociais de qualquer tipo (OIT, 2000: 23).

Complementando a Convenção n. 154, outra importante Recomendação (n. 163) sobre a promoção da negociação coletiva foi aprovada em 1981, visando assegurar aos trabalhadores acesso às “informações necessárias para poder negociar com conhecimento de causa” (OIT, 1981).

A natureza voluntária da negociação coletiva, expressamente prevista no art. 4° da Convenção n. 98, é outro aspecto relevante, considerado fundamental para sua eficácia, segundo o Comitê de Liberdade Sindical da OIT. Por sua natureza voluntária, a negociação coletiva não pode ser imposta às partes. Da mesma forma o exercício eficaz do direito de negociação coletiva requer que as organizações de trabalhadores sejam independentes, e que as negociações prossigam sem interferências indevidas por parte das autoridades (GUIDO & GERNIGON, 2000: 13).

Um pouco mais recente é a Declaração da OIT relativa aos princípios e direitos fundamentais do trabalho, aprovada em junho de 1998, na 86ª Reunião da Conferência Geral, em Genebra.

A Declaração constitui importante instrumento legal de fomento à negociação coletiva, por meio da qual os Estados-membros reafirmam o seguinte compromisso, como membros da OIT:

Respeitar, promover e tornar realidade, de boa-fé e em conformidade com a Constituição, os princípios relativos aos direitos fundamentais que são objeto dessas convenções, isto é: a liberdade sindical e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva; a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou obrigatório; a abolição efetiva do trabalho infantil; e a eliminação da discriminação em matéria de emprego e ocupação (OIT, 1998).

Percebe-se, portanto, que a OIT, por meio de suas normas, princípios e atividades de cooperação técnica, vem desempenhando um papel de grande importância na promoção da negociação coletiva, especialmente na consolidação das diretrizes da negociação coletiva em caráter global, com o fim de torná-la viável e eficaz, assim como para que possa ser adaptada aos diferentes meios em que sejam realizadas, e às mudanças de caráter econômico, político e social. Desta forma possibilita a existência de maior equilíbrio entre empregadores e trabalhadores, abrindo possibilidades para novos avanços sociais.

3.4. NEGOCIAÇÃO COLETIVA TRANSNACIONAL: NORMAS PRIVADAS PARA