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Busca de solução negociada, ante os embaraços e as estratégias fazendárias

Diante da realidade exposta acima, após múltiplas tentativas de solução negociada entre o Juiz Federal titular e a Procuradoria-Seccional da Fazenda Nacional em Petrópolis, sem resultado satisfatório, foi instaurado na 2ª Vara Federal de Petrópolis-RJ o Procedimento judicial nº 2009.51.06.000455-2, classe 15006, em 21 de maio de 2009.

Inicialmente, a intenção era documentar adequadamente a situação realçada e deveras

26 Segundo NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil Comentado. 9

ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 385: Prazos próprios são os fixados para o cumprimento do ato processual, cuja inobservância acarreta desvantagem para aquele que o descumpriu, consequência essa que normalmente é a preclusão. Prazos impróprios são aqueles fixados na lei apenas como parâmetro para a prática do ato, sendo que seu desatendimento não acarreta situação processual detrimentosa para aquele que o descumpriu, mas apenas sanções disciplinares. O ato processual praticado além do prazo impróprio é válido e eficaz. Normalmente são prazos impróprios os fixados para o juiz e auxiliares da justiça. São, também, impróprios os prazos para o curador especial contestar (CPC 9º II) e para o MP falar nos autos como custos legis (CPC 82 e 83).

27 Daí, por exemplo, tem-se o resultado retratado nos índices revelados pela pesquisa sobre o Índice de

Confiança da Justiça – ICJBrasil, da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, medido entre outubro a dezembro de 2010: “A confiança da população na Justiça do pais caiu nos últimos três meses de 2010, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). O Índice de Confiança da Justiça (ICJBrasil), elaborado pela Faculdade de Direito de São Paulo da instituição, ficou em 4,2 pontos no último trimestre do ano passado. No trimestre anterior, o índice havia apresentado 4,4 pontos. O ICJBrasil monitora a confiança na Justiça desde 2009. Para o cálculo do índice, que varia de 0 a 10 pontos, foram entrevistadas 1.570 cidadãos em Minas Gerais, Pernambuco, no Rio Grande do Sul, na Bahia, no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Distrito Federal. Minas Gerais foi o estado com maior confiança na Justiça (4,4 pontos). Já Pernambuco foi o estado com menor índice 4,1 pontos). Ainda segundo a pesquisa da FGV, de todos os entrevistados, 46% informaram já ter recorrido à Justiça ou ter alguém que mora em seu domicílio que o fez. Entretanto, 64% dos entrevistados disseram que a Justiça é pouco ou nada honesta. O levantamento aponta ainda que 78% consideram o acesso à Justiça caro. Já 59% acham que a Justiça recebe influência política”De acordo com LINS, Roberto Monteiro. Tolerância "Zero" para a JT Judicializada. Revista Eletrônica Universo Jurídico, São Paulo, 2 mar. 2011. Disponível em: <http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/7597/Tolerancia_Zero_para_a_JT_Judicializada.> Acesso em 02 abr. 2011.

prejudicial à garantia da duração razoável do processo.

Teve-se em vista, outrossim, o próprio interesse da Fazenda Pública, considerada sua missão e sua visão institucional, mas, precipuamente, a realidade constituída por inúmeros casos envolvendo o contribuinte executado ou mesmo demandante – o qual naturalmente busca solução de sua pendência no campo tributário, fiscal e previdenciário junto à Fazenda Nacional, ou junto à Procuradoria correspondente, sempre em flagrante desvantagem no ambiente processual em estudo. Portanto, buscou-se criar um locus útil e demonstrativo do quadro vivenciado, de modo a sensibilizar e encaminhar alguma sugestão tendente a corrigir essa importante desconformidade.

Considerando que a realidade até aqui retratada envolve, basicamente, o dia a dia da Fazenda Nacional e de outras Procuradorias dos diversos órgãos pertencentes à União, cabe registrar a presença constante e um tanto diferenciada de sua autarquia Previdenciária. Em relação especificamente ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) os entraves enfrentados, na prática, consistem:

a) na falta de apresentação de cópia integral e legível de procedimentos administrativos referentes a determinados benefícios previdenciários – documentos fundamentais para o conhecimento amplo da causa pelo juiz – vez em certos casos, somente assim poderá determinar a quantificação do pedido e julgar o mérito da causa ou viabilizar o pagamento da quantia devida na fase de execução; e

b) não adotar o INSS providências a seu cargo já na fase de execução, seja sob a alegativa de não localizar o procedimento ou outro documento ou dados referentes a certos benefícios, por que pertencente a outras Unidades da Previdência Social – e estas nem sempre atendem entre si, com presteza, seja por que tem entendimento insistentemente contrário àquele expresso na sentença e na jurisprudência prevalente, e assim vale-se da via dos embargos à execução ou de outras formas de impugnação; enquanto o processo não consegue produzir a satisfação do direito reconhecido ao segurado.

E tudo isso fica sob o “manto” da clássica morosidade da Justiça. Retornando à situação específica envolvendo a Fazenda Nacional, em se tratando do processamento de execuções fiscais, consistem basicamente, mediante prática estratégica decorrente do conjunto de prerrogativas da Fazenda Pública e das respectivas Procuradorias:

a) em deixar os processos com vista e necessidade indispensável de manifestação ou providências dos Procuradores se avolumarem na Secretaria sem retirada – vez que a intimação e a contagem do prazo há que ser feita pessoalmente, isto é, mediante mandado por oficial de justiça ou com a entrega dos autos (art. 25 da Lei nº 6.830, de 22.09.1980); e

b) a despeito da praxe de se buscar prática cooperativa, no interesse da agilização do grande volume de processos; a vista, em regra, ocorre mediante retirada na Secretaria da Vara Federal dos processos pela Procuradoria e a posterior devolução no prazo de lei, com as providências pertinentes.

No entanto, esses acordos não são observados apenas unilateralmente e fora dos prazos ajustados, e isso gera o inexorável e sistemático represamento dos processos.

Essa situação já deu ensejo a várias providências do Juízo, tais como:

a) expedição de mandado de intimação de número elevado de processos, em razão do descumprimento da praxe legal e cooperativa acima referida;

b) intimações, ofícios, reuniões, “acordos de cavalheiro”, “buscas”, entregas compulsórias de grande número de processos retidos por longo prazo, reclamação verbal da Fazenda Nacional – durante os trabalhos da Corregedoria-Regional do Tribunal Regional Federal da 2ª Região na 2ª Vara Federal de Petrópolis, em julho de 2008, dentre outras; e

c) visitas recíprocas para se conhecer melhor as realidades em cada órgão, para assim se encontrar a melhor solução desse problema longevo.