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Claro que, na perspectiva da presteza jurisdicional que legitimamente se exige do Poder Judiciário, os motivos e justificativas oferecidas pelo órgão fazendário não se sustentam.

Portanto, após analisar os episódios documentados, a conjuntura retratada no Procedimento judicial em foco, o quadro, ao tempo que consubstancia uma situação

inaceitável do ponto de vista da efetividade jurisdicional31, também denota que a conhecida morosidade da Justiça precisa ser combatida tendo em conta suas múltiplas causas, dentre elas, aquelas situações geradas pelo comportamento de certos órgãos públicos com muitas prerrogativas, as quais precisam ser melhor avaliadas quanto à dimensão, natureza e principalmente, a consonância com as necessidades da parcela da sociedade jurisdicionada. Isso, com efeito, porquanto enquanto o Poder Judiciário encontra-se comprometido com o atingimento de metas e com melhorias efetivas da gestão, certos órgãos da administração pública persistem atuando de forma randômica.

De acordo com Ferraz32, vê-se, portanto, um quadro revelador de um conjunto de fatores constitutivos de entraves sérios à marcha processual, decorrente não apenas do tempo técnico do processo, mas e principalmente, do tempo ocioso de espera ou morto durante o processamento, no dizer da sem o que o Poder Judiciário tenha mecanismos e forma legal, válida e regular de revertê-lo, diante do modelo legal protetivo e casuístico em prol tanto da Fazenda Pública propriamente, quanto dos seus advogados públicos ou Procuradores.

Sobre os últimos, diga-se, quando não atuam segundo as estritas regras do ordenamento jurídico processual (sistema de normas), alegam, p. ex., o que se encontra nas falas constantes das folhas 331-333, 334-336 do procedimento judicial acima destacado – no qual apresenta como motivos e justificativa para o quadro aqui realçado, limitações e deficiências orgânicas para atender ao volume de processos inseridos em suas atribuições.

Ou mesmo, no entendimento sufragado pelo egrégio Supremo Tribunal Federal, a partir da ressalva que se encontra no parágrafo único do art. 14 do Código de Processo Civil, na redação dada pela Lei nº 10.358, de 27.12.2001, segundo o qual estende-se aos chamados advogados públicos/Procuradores a mesma “imunidade” casuística destinada à advocacia privada, em julgamento unânime na Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI nº 2.652,

31 Pertinência argumentativa reforçada.

32 De acordo com FERRAZ, Leslie Shérida. Juizados especiais cíveis e a duração razoável do processo: uma

análise empírica. Rio de Janeiro: FGV Direito Rio, 2010, p. 5-6: Na verdade, o tempo do processo pode ser dividido em tempo técnico e tempo de espera. O primeiro tange às atividades processuais (produção probatória, audiências, decisão) e, portanto, pode ser minorado por meio da simplificação procedimental e/ou do aperfeiçoamento processual, a exemplo da Lei dos Juizados Especiais. Ao revés, o tempo de espera é reflexo da dificuldade do Judiciário processar as demandas na mesma proporção em que são distribuídas, o que causa filas de processos. É o que Mario Chiavario chama de tempos mortos e Tomé Garcia, de etapas mortas, concebidas como injustificados prolongamentos que separam a realização de um ato processual de outro, sem qualquer subordinação a um lapso temporal pré-fixado.

ajuizada pela Associação Nacional dos Procuradores de Estado – ANAPE, Relator Ministro Maurício Corrêa, julgada em 08.05.2003 e publicada no DJ em 14.11.2003.33

Assim sendo, quando diante do quadro de ineficiência acima delineado, as salvaguardas motivadoras deste trabalho servem, não apenas para colocar fora do alcance do juiz da causa órgãos e procuradores que – seja por deficiência estrutural, seja por falta de condições orgânicas – não praticam seus atos em tempo razoável e assim, amparados na lei, ampliam, v.g.:

a) o grau de insatisfação no desempenho do Poder Judiciário;

b) b) o não atendimento ao interesse coletivo arrecadatório confiado à Fazenda Pública; e

c) c) sobretudo desconsiderar, mercê de uma proeminência no mínimo questionável, o interesse privado do jurisdicionado envolvido em cada um dos processos que se arrastam para além, em muito, da duração razoável do processo (art. 5º inciso LXXVIII, da Constituição da República).

Consigne-se, não se nega que as limitações e dificuldades realçadas pela Procuradoria- Seccional da Fazenda Nacional de Petrópolis constituem fatores obstativos importantes e até certo ponto compreensíveis. Outrossim, no âmbito da 2ª Vara Federal de Petrópolis – no momento – após as gestões principalmente registradas no Procedimento Judicial nº

2009.51.06.000455-2, classe 15006, em 21 de maio de 2009, já destacado, propiciaram uma sensível melhoria no fluxo de processos de responsabilidade da Fazenda Nacional, conforme se observa no dia a dia da Secretaria da Vara Federal.

33ADI 2652 / DF - DISTRITO FEDERAL.AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.Relator(a):

Min. MAURÍCIO CORRÊA.Julgamento: 08/05/2003. Órgão Julgador: Tribunal Pleno.Publicação DJ 14-11- 2003, PP-00012 EMENT VOL-02132-13 PP-02491. Parte(s) REQTE. : ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROCURADORES DE ESTADO – ANAPE.ADVDOS.: MARCOS BERNARDES DE MELLO E OUTROS. REQDO.: PRESIDENTE DA REPÚBLICA.REQDO.: CONGRESSO NACIONAL. EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. IMPUGNAÇÃO AO PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 14 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, NA REDAÇÁO DADA PELA LEI 10358/2001. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. 1. Impugnação ao parágrafo único do artigo 14 do Código de Processo Civil, na parte em que ressalva "os advogados que se sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB" da imposição de multa por obstrução à Justiça. Discriminação em relação aos advogados vinculados a entes estatais, que estão submetidos a regime estatutário próprio da entidade. Violação ao princípio da isonomia e ao da inviolabilidade no exercício da profissão. Interpretação adequada, para afastar o injustificado discrímen. 2. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente para, sem redução de texto, dar interpretação ao parágrafo único do artigo 14 do Código de Processo Civil conforme a Constituição Federal e declarar que a ressalva contida na parte inicial desse artigo alcança todos os advogados, com esse título atuando em juízo, independentemente de estarem sujeitos também a outros regimes jurídicos.

Entretanto, estes são apenas alguns dos fatores integrantes do tema sob estudo, cujo objeto acha-se para muito além das deficiências pontuais postas em relevo para exemplificar como um defeito operacional longevo – e facilmente repetido por qualquer órgão fazendário – diante das franquias do Estado em desequilíbrio, e também inerentes a sua estrutura funcional, contrastam com as garantias constitucionais do particular na atualidade. Mercê da normatividade, da mentalidade e das práticas sob enfoque.

Nasce aí uma natural inquietação, ante a permanência de praxes processuais na arena público versus privado, decorrente dessa cultura assentada: na clássica e ultrapassada primazia do “interesse público” sem se atentar para a necessidade da adequada ponderação e, por conseguinte, em contrariedade a idéia de efetiva isonomia constitucional, de equilíbrio, de razoabilidade e de proporcionalidade e, nesse rumo, sem horizonte de ajustamento às conquistas expressas no sistema jurídico-constitucional vigente.

3 BASE LEGAL DO MODELO DE PREVALÊNCIA DO INTERESSE