• Nenhum resultado encontrado

3 BASE LEGAL DO MODELO DE PREVALÊNCIA DO INTERESSE

3.2 Fortalecimento pontual do modelo

Some-se a isso o fato de que, do lado da desigualdade em prol da Fazenda Pública, não há sinal algum de mudança. Ao contrário, sempre que o cenário político permite, busca-se aumentar as chamadas prerrogativas fazendárias. Como exemplo, tem-se, em parte, o texto da

34HOUAISS, Antonio. Casuística. Disponível em: <http://houaiss/cgi-

bin/houaissnet.dll/frame?palavra=casuística#42883> Acesso em 1º abr 2010.

35 A propósito, v. Enunciado nº 50, das Turmas Recursais (JEF) da Seção Judiciária do Estado do Rio de Janeiro:

A prerrogativa de intimação dos Procuradores da Fazenda Nacional mediante vista dos autos, prevista no art. 29 da Lei nº 11.033/2004, não se aplica ao rito dos Juizados Especiais Federais.

Emenda Constitucional nº 62, de 9 de dezembro de 2009,37 objeto de ataque no Supremo Tribunal Federal pela Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI nº 4.357), ajuizada em 15/12/2009 pelos seguintes atores: Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – CFOAB, Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB, Associação Nacional dos Membros do Ministério Público – CONAMP, Associação Nacional dos Servidores do Poder Judiciário – ANSJ, Confederação Nacional dos Servidores Públicos - CNSP e Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho - ANPT (CF 103, 0IX), em face da Mesa da Câmara dos Deputados e Mesa do Senado Federal. Tal emenda instituiu o regime especial de pagamento de precatórios pelos Estados, Distrito Federal e pelos Municípios.

Segundo Cunha38, outra iniciativa, igualmente ilustrativa dessa realidade, é o recentíssimo ajuizamento no Supremo Tribunal Federal, pelo Presidente da República (art. 2º, inciso I, da Lei nº 9.882, de 3.12.1999) da Arguição de Descumprimento de Preceito

37 BRASIL. Constituição (1988), op. cit.: Emenda Constitucional nº 62, de 9 de dezembro de 2009. Altera o art.

100 da Constituição Federal e acrescenta o art. 97 ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, instituindo regime especial de pagamento de precatórios pelos Estados, distrito Federal e Municípios.

38 Informa CUNHA, Luiz Claudio Flores da [flores-cunha@hotmail.com] Acessado em 27 out 2010 que:

“ADPF questiona decisões judiciais que mandam União calcular o valor devido nos processos em que é ré A Presidência da República ajuizou Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 219), na qual pede ao Supremo Tribunal Federal (STF) que suspenda, liminarmente, a eficácia de decisões proferidas pelos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Rio de Janeiro que impõem à União o dever de apurar ou indicar, nos processos em que figure como ré ou executada, o valor devido à parte autora ou exequente. No mérito, pede confirmação dessa decisão. A União argumenta que não existe previsão legal para essa determinação dos Juizados Especiais, que "pretendem inovar o ordenamento jurídico pátrio". Segundo a ADPF, "referida obrigação não possui amparo em qualquer dos diplomas legais que tratam do assunto, quais sejam o Código de Processo Civil (Lei 5.869/73) e as Leis 9.099/95 e 10.259/01", que dispõem sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, no âmbito da Justiça Federal, e sobre sua competência. Violações Assim, segundo alegam o presidente da República e o advogado-geral da União que subscrevem a ação, tais decisões afrontam o princípio da legalidade, previsto no caput (cabeça) do artigo 37 e no inciso II do artigo 5º da Constituição Federal (CF), segundo o qual "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei". Violam também, segundo a União, o princípio da separação de Poderes, previsto no artigo 2º da CF, por invadir competência do Poder Legislativo, ao qual incumbe estabelecer deveres e obrigações por meio de lei. Ofendem, ainda, competência privativa da União para legislar sobre direito processual, prevista no artigo 22, inciso I, da CF. Ainda conforme a União, o procedimento contraria os princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, inscritos no artigo 5º, incisos LIV e LV da CF, bem como o caput do artigo 5º, que dispõe sobre a igualdade dos Poderes do Estado, sendo vedados aos órgãos do Judiciário acolher interpretação normativa que resulte em tratamento preferencial a qualquer das partes. Entendimento conflitante A União sustenta, ainda, que há diversos precedentes judiciais que adotaram entendimento oposto ao dos Juizados Especiais Federais do Rio de Janeiro. Cita, neste contexto, diversos julgados da Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Bahia, segundo os quais, "não é dever legal da ré proceder aos cálculos dos valores devidos na condenação, o que será feito em etapa executória da decisão, nos termos do artigo 604 do Código de Processo Civil (CPC)". Liminar Ao sustentar a necessidade de concessão da liminar, a União alega que só a Procuradoria-Regional da União da 2ª Região (RJ) foi intimada de aproximadamente 8 mil decisões judiciais que contêm determinação semelhante sobre apuração, pela União, dos valores devidos às respectivas partes, nos processos em que é ré. Se forem considerados todos os processos em curso nos Juizados Especiais Federais, este número sobe para 78.254 processos, conforme a ação. A União sustenta que não há outra possibilidade de recorrer contra tais julgados que não a ADPF, mas pede que, alternativamente, se o STF não conhecer do processo como ADPF, que o admita como Ação Direta de Inconstitucionalidade, já que as decisões impugnadas violam diversos dispositivos constitucionais. O relator da ação é o ministro Marco Aurélio. FK/CG Processos relacionados ADPF 219

Fundamental (ADPF) com o objetivo de suspender, liminarmente, a eficácia de Decisões proferidas no âmbito dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Estado do Rio de Janeiro as quais impõem à União a obrigação de apurar ou indicar, nos processos nos quais figura como ré ou executada, o valor devido à parte autora ou exequente.

E, por fim, o art. 1º-B da Lei nº 9.494, de 10 de setembro de 1997, introduzido pela Medida Provisória nº 2180-35, de 24 de agosto de 2001, do seguinte teor: “O prazo a que se refere o caput dos arts. 730 do Código de Processo Civil, e 884 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, passa a ser de trinta dias”.

Ou seja, segundo tal medida, passou-se de dez para trinta dias, o prazo para a Fazenda Pública devedora opor embargos.

Assim, considerado o formato legal até aqui descrito, numa perspectiva dialógica e como será destacado a seguir, existem muitas e respeitáveis posições doutrinárias discordantes do que foi realçado no Capítulo 1. Oportuno então consignar, nesse passo, as razões defensivas, pontualmente, do modelo de prazos diferenciados e em favor da Fazenda Pública, para na parte seguinte levantar-se aspectos que se colocam em contraponto reflexivo.