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3 BASE LEGAL DO MODELO DE PREVALÊNCIA DO INTERESSE

4.2 Necessidade de mudanças no primeiro grau

Nessa direção, a análise contextual deve ser centrada no processo em primeiro grau de jurisdição, vez que em grau de recurso, seja no segundo grau, seja no âmbito dos Tribunais Superiores, salvaguardas importantes vem apresentando resultados proativos e reativos, bastante expressivos. Enquanto que o Projeto do Novo Código de Processo Civil tem como um de seus eixos facilitar a vida do jurisdicionado mediante, dentre outras diretivas, promover a isonomia entre as partes, maior diálogo entre estas e o juiz e eliminar o formalismo desnecessário, tudo informado por uma visão de processo enquanto método, cujo escopo é facilitar a decidibilidade. Portanto, como vê-se no Projeto de Lei nº 8.046/2010 ora da Câmara dos Deputados, é na base do sistema que a sociedade e as instituições precisam somar esforços de aprimoramento, já agora, em prioridade.

Como exemplo das melhorias processuais em grau de recurso, pode-se mencionar as limitações para o manejo de recursos dirigidos aos Tribunais Superiores, bem como o aperfeiçoamento dos requisitos de admissibilidade destinados particularmente às Relatorias, de modo a racionalizar, agilizar e permitir a solução em tempo razoável de matérias sub

judice.

Esse novo modelo constitucional e infraconstitucional tem como expressão maior, p. ex., no caso do Supremo Tribunal Federal os institutos:

a) da arguição de descumprimento de preceito fundamental decorrente da Constituição; b) a eficácia vinculante de decisões em sede de ações diretas de inconstitucionalidade e

de ações declaratórias de constitucionalidade; e

c) a obrigatoriedade de, nos recursos extraordinários, o recorrente demonstrar a repercussão geral das questões discutidas, consoante os §§ 1º, 2º e 3º do art. 102 da Constituição da República.

Esses instrumentos acham-se regulamentados pelas Leis nºs 9.882, de 31.12.1999, 11.417/2006, 9.868, de 10.1.1999, 11.418/2006 e 9.784, de 29.1.1999.

Já especificamente no âmbito do Superior Tribunal de Justiça tem-se a disciplina dos recursos repetitivos, objeto da Lei nº 11.672, de 8.5.2008 e mais recentemente, em relação à questão da admissibilidade de recurso, a Lei nº 12.322, de 9 de setembro de 2010, que

transformou o agravo de instrumento contra decisão que inadmite recurso extraordinário ou recurso especial em agravo nos próprios autos.

Outra inovação importante e que vem produzindo resultados expressivos na seara recursal, é a regra do art. 557 do Código de Processo Civil, com base na qual o relator monocraticamente impede o seguimento de recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto com a jurisprudência dominante do próprio tribunal, do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça.

Portanto, o conjunto normativo em apreço no âmbito recursal apresenta-se numa trajetória de clara mudança voltada para a efetividade jurisdicional. Persiste, no entanto, não obstante os avanços alcançados, no campo operacional, a prerrogativa do prazo em dobro para recorrer em prol da Fazenda Pública.

Com efeito, convive-se com uma estrutura normativa protetiva em nome do interesse público, que visivelmente põe cada vez mais em acentuada desvantagem o particular que figure no pólo ativo ou passivo de alguma lide.

Oportuno nesse rumo, lembrar considerações lançadas pelo então Ministro da Justiça Alfredo Buazaid na Exposição de Motivos do atual Código de Processo Civil, quando após pontuar que o processo civil atua não no interesse de uma ou de outra parte, mas no interesse de ambos os litigantes, assentou que:

5. [...] Diversamente de outros ramos da ciência jurídica, que traduzem a índole do povo através de longa tradição, o processo civil deve ser dotado exclusivamente de meios racionais, tendentes a obter a atuação do direito. As duas exigências que concorrem para aperfeiçoá-lo são a rapidez e a justiça. Força é, portanto, estruturá-lo de tal modo que ele se torne efetivamente apto a administrar, sem delongas, a justiça [...].

É preciso então, particularmente sob o pálio de nossa Constituição que se quer cada vez mais cidadã, examinar se esse desiderato primacialmente político, acha-se albergado no plano da efetividade ou apenas no campo programático.

Não se desconsidera, por razões já mencionadas precedentemente, que o interesse fazendário em juízo não pode ser tutelado em integral pé de igualdade com o particular. Até mesmo em razão de sua indisponibilidade decorrente do caráter coletivo e, portanto público inerente. Acontece que não obstante essa “faticidade”, surge como indispensável, consoante

até aqui realçado, verificar sua conformidade com as reais aspirações e conquistas da cidadania jurisdicionada.

Em outras palavras, é preciso examinar se o tema proposto revela para reflexão conteúdo fático, jurídico-processual e constitucional em sintonia, ou não, com a chamada Reforma Silenciosa da Justiça e em que medida.

Nessa direção, oportuno ter-se em conta a necessidade de se fortalecer as parcerias da vertente do Poder Judiciário inovador e construtor do futuro em sintonia com a principiologia constitucional aplicável ao Processo. Essa a Justiça servil de fato à democracia brasileira, nas palavras do Professor Joaquim Falcão, ao ensejo do I Prêmio INNOVARE, organizado pela Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getulio Vargas em conjunto com o Ministério da Justiça, a Companhia Vale do Rio Doce e a Associação dos Magistrados Brasileiros. E sendo assim, o modelo processual que não se mostre apto a realizar esses objetivos apresenta um perfil anacrônico.

Na linha das assertivas precedentes, calha destacar da fala do Professor a mensagem a seguir:

O Judiciário não se encontra mais sozinho diante da tarefa de reforma do sistema judicial. Executivo, Legislativo e a própria sociedade começam a reconhecer sua parcela de responsabilidade – e de possível contribuição. A convergência entre esses diferentes atores, porém, não impede, nem exime os juízes e suas lideranças de continuarem percorrendo os caminhos que, diariamente construídos em varas, juizados e tribunais, independem em larga medida dos outros atores envolvidos na Reforma.59

É com esse espírito que modestamente compartilho desse momento e busco a proposição que espero esteja em consonância com o eixo didático-científico deste Mestrado. Nessa linha, inovação é a palavra de ordem. Inovação naquilo que o conjunto dos jurisdicionados ganhem em eficiência, em eficácia e em efetividade.

59 CENTRO DE JUSTIÇA E SOCIEDADE DA ESCOLA DE DIREITO DO RIO DE JANEIRO DA

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS. A Reforma Silenciosa da Justiça. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2006. Prefácio.