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C ONSEQUÊNCIAS PARA A E DUCAÇÃO : A REFORMA DO PENSAMENTO EDUCATIVO

TENDÊNCIAS EVOLUTIVAS DAS SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS

5. C ONSEQUÊNCIAS PARA A E DUCAÇÃO : A REFORMA DO PENSAMENTO EDUCATIVO

A ilusão racionalista de que a escola podia por si só prover todas as necessidades educativas da vida humana é destruída pelas profundas transformações sociais e pelo progresso da ciência e da tecnologia e das suas consequências no trabalho.

A emergência da sociedade de informação ou do conhecimento, como realidade económica das sociedades avançadas dos finais do século XX, tem consequências sociais, políticas e económicas que atingem os fundamentos teóricos e praxeológicos dos modelos sociais e educativos.

Sabemos que a par da imagem da sociedade de informação (trazendo benefícios sociais específicos, como o acesso a uma maior informação, a automação total das pesadas tarefas administrativas), surgem outras imagens de análise social que fundamentam teses sociológicas e económicas da realidade presente ou até prospectivas, pondo em evidência o impacte das novas tecnologias sobre o trabalho e a qualificação/desqualificação profissional.

Estas mudanças tornam o conhecimento e a informação variáveis centrais na economia e definem uma sociedade favorável ao desabrochar da criatividade intelectual e humana.

A importância e a centralidade do conhecimento fazem surgir um fenómeno novo que alguns teóricos (Drucker, 1995) denominam como economia competitiva do conhecimento e cuja implicação principal é a mudança de política económica que se mundializa e controla as economias nacionais, estabelecendo elos de interdependência globais.

Nestas condições, a educação e a escola situam-se no centro da sociedade.

Os conteúdos, a qualidade de ensino, o rendimento da escola e da escolaridade, no fundo, o desempenho da educação já não são mais, na opinião destas correntes de pensamento, preocupação exclusiva de governos e professores.

São questões públicas, prioritárias e fundamentais que ocupam um lugar político.

E, se as novas tecnologias, a sociedade do conhecimento e as novas teorias sobre a maneira como os seres humanos aprendem, têm implicações na concepção e gestão dos sistemas educativos, no papel da escola, na gestão e organização de empresas e de serviços públicos e das organizações do sector social, o papel da escola também muda, deixando esta de ser apenas um lugar para os jovens, para ser um parceiro dos adultos e das organizações.

Segundo esta concepção, a escola tende a constituir, na expressão de Nunes dos Santos (2000: 15), um espaço de diálogos, estimulando a criatividade, fomentando a descoberta e o desenvolvimento das capacidades cognitivas e intelectuais de professores e alunos, realizando abordagens transdisciplinares e interdisciplinares sem descurar o papel humanizante e social, a inserção profissional do homem e a diversidade cultural.

Por outro lado, o novo conceito de Educação, entendida como desenvolvimento total da pessoa, visa mais uma competência pessoal, do que uma competência profissional que se desactualiza rapidamente.

É preciso educar para que o indivíduo se assuma como actor, e tome parte activa nas opções e decisões políticas que lhe dizem respeito, abandonando o papel passivo de consumidor que o modelo anterior lhe oferecia.

As expectativas sociais sobre a Educação traduzem-se na resposta às exigências do desenvolvimento económico e social. Mas a função económica e social que lhe é pedida, neste novo contexto, é a de levar a ordem dominante a centrar-se naquele que se educa, a concentrar-se no desenvolvimento da pessoa, não apenas em determinados momentos da vida, confinados ao espaço escola, mas de acordo com estes, dando prioridade a um ou vários espaços educativos.

É uma perspectiva que preconiza o desenvolvimento do homem, enquanto ser humano e não como meio de produção. Já não se destina ao ser humano, enquanto agente económico, mas enquanto fim último do desenvolvimento.

Esta ideia da Educação como um processo de construção contínua da pessoa humana, dos seus saberes e aptidões, da sua capacidade de discernir e de agir, levando cada um a tomar consciência de si próprio, e do meio ambiente que o rodeia e a desempenhar o papel social que lhe cabe, enquanto trabalhador e cidadão, introduz um outro conceito de

sociedade educativa de que nos fala Delors (1996), onde a Educação não se confina já à

escola, mas cria uma dinâmica entre instituição escolar e as alternativas educativas, fazendo com que a Educação não diga respeito só aos governos mas a todos.

E a nova perspectiva introduzida de o cidadão construir o seu próprio percurso, enquanto actor social, coloca o problema de opção de sociedade e correlativamente modifica o papel do Estado, abrindo outras opções políticas de organização.

Com efeito, neste contexto, o Estado tende a desempenhar um papel regulador e enquadrador, na medida em que deve garantir a coerência, definir as prioridades e abrir o debate sobre as opções económicas e financeiras e, se assim é, a Educação como bem colectivo não deve ser regulada pelo simples jogo do mercado.

Pressupõe antes uma regulação política conjunta, definindo com precisão o papel que cabe aos poderes públicos e à sociedade civil, o que tem como consequência novas formas de governabilidade, questão nuclear que envolve a problemática deste estudo.

CO N C L U S Ã O

Identificámos as tendências de mudança das sociedades contemporâneas, na medida em que não podemos dissociar na leitura do contexto geral que enquadra a problemática desta investigação, as relações que mutuamente se estabelecem entre Sociedade e Educação, a partir das quais nos é dado perceber melhor as implicações que as alterações económicas, políticas e sociais têm na reformulação do pensamento educativo e na reconversão das lógicas e racionalidades dos sistemas educativos e da sua administração.

Pensámos ter deixado explícito, neste capítulo, que no paradigma emergente das sociedades pós-industriais, a perda de importância dos factores de produção tende a ser substituída pela centralidade do conhecimento, além de que as várias transformações em curso, descritas nas diferentes esferas organizativas da sociedade (estado, economia, instituições), questionam os paradigmas convencionais das políticas educativas, colocando novos desafios à capacidade de adaptação da Educação no plano conceptual, pedagógico, gestionário e administrativo.

Na transição para o mundo actual das multinacionais, do liberalismo económico, da desregulamentação e da virtualidade, o paradigma de trabalho e a estrutura de emprego da sociedade industrial, a mobilidade profissional e laboral que se traduz no desempenho de várias profissões e vários empregos ao logo da vida, a questão do emprego/desemprego como questão de crescimento económico e desenvolvimento humano implicam que o verdadeiro desafio económico se centre na Educação, ou seja, naquilo que os cidadãos podem acrescentar à economia global pela expansão e melhoria das suas qualificações.

Nestas condições, compreende-se que o desenvolvimento e expansão da Educação no contexto actual residam na possibilidade de dar, a cada um, uma formação ao longo da vida, adequada às novas exigências.

Concretizar estes objectivos exige opções económicas sempre difíceis, sobretudo quando se regista, como é o caso nas sociedades europeias, a crise do Estado Providência, o que coloca a administração dos sistemas educativos perante a necessidade de procurar alternativas e diversificar fontes de financiamento.

As alterações institucionais decorrentes da mudanças de orientação sobre o papel e função reguladora do Estado e as novas realidades políticas e sociais, traduzidas na desintegração das certezas da sociedade industrial, no que se refere à ciência, à estabilidade e previsibilidade económica e profissional, levam os indivíduos a assumir o seu papel de actores sociais, quando colocados perante uma variedade de modelos e de opções.

Os modelos de organização do Estado tornaram-se inoperantes e percebe-se que o que está em causa é a necessidade de um novo contrato social.

O Estado tende, deste modo, a descentralizar o aparelho administrativo e a partilhar poderes com a sociedade civil, organizada pela redefinição de funções dos parceiros no actual contrato social e pelo alargamento de representação dos interesses à nova realidade social.

Perante o quadro esboçado, apresentámos as duas perspectivas dominantes na análise científica em Ciências de Educação e posicionámos a abordagem que faremos na alternativa pós-moderna.

CAPÍTULO II

A ADMINISTRAÇÃO E OS ACTORES NO ORDENAMENTO

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