• Nenhum resultado encontrado

DO DOMÍNIO CIENTÍFICO DO CANCRO CÉRVICO-UTERINO À SUA PREVENÇÃO E CONTROLO

1. CANCRO DO COLO DO ÚTERO: INCIDÊNCIA E MORTALIDADE

O Cancro do Colo do Útero constitui um problema major de Saúde Pública, a nível mundial, uma vez que existem estimativas a apontar que, aproximadamente, 50% dos Cancros do aparelho reprodutor feminino se situam a este nível. A incidência global anual ronda os 371000 novos casos, com uma mortalidade de, aproximadamente, 190000 casos por ano (http://www.spginecologia.pt/uploads/cancro_colo).

Segundo Price (2001) é o segundo tumor mais frequente em mulheres com idades à volta dos 45 anos em, praticamente, todo o mundo.

A incidência das lesões precursoras dos tumores do Cancro do Colo do Útero ocorrem em mulheres em idades jovens, sendo na opinião de Herbst et al. (1992), por volta dos vinte anos de idade e, pontualmente, em grupos etários ainda mais jovens.

É um tipo de tumor que acomete, sobretudo, a população dos países sub-desenvolvidos ou em desenvolvimento, uma vez que está, intimamente ligado a factores de índole política, económica e sócio-culturais, onde os estilos de vida são pouco saudáveis. Em países como, por exemplo, a Espanha, já quase não se verifica a presença deste Cancro; por outro lado, no Brasil a sua incidência é bastante elevada.

No nosso país, a sua incidência tem sofrido flutuações, devido a factores políticos, económicos e sociais que se têm vindo a operar, bem como à constante entrada de emigrantes que tem originado picos na sua incidência, em determinadas regiões do país. A incidência do Cancro do Colo do Útero, segundo o Comité Consultivo Sobre a Prevenção do Cancro (Viena, 1999) é, à data, maior em Portugal (19/100000) e menor no Luxemburgo (4/100000). Na Dinamarca, Áustria e Portugal a taxa de mortalidade (6- 7/100000) é maior do que no Luxemburgo e na Finlândia (aproximadamente 1/100000). Em Portugal, como já foi referido, em 2002, verificaram-se 220 mortes por 100000 habitantes, provocadas pelo Cancro do Colo do Útero.

No distrito de Viana do Castelo, a incidência e a taxa por Cancro do Colo do Útero por 100000 habitantes, nos anos de 2001 e 2002, foi de 5 (3,8) e 9 (6,8), respectivamente (DGS/DSIA, 2002).

Segundo os dados da RORENO, na Região Norte, o número de casos por Cancro do Colo Uterino no ano de 2001 foi de 281 e no de 2002 foi de 313. Relativamente a estes anos as taxas específicas foram 16,9 e18,7 e as padronizadas 16 e 17,3 (Quadro 1)

Quadro 1– Incidência do Cancro e do Cancro do Colo do Útero em Mulheres por anos

Cancro em mulheres Colo Útero

Anos

N Taxa de

incidência N Taxa padronizadaTaxa

1995 3854 210,3 297 16,2 16,7 1996 4339 236 311 16,9 17,2 1997 3973 247,7 247 15,4 15,4 1998 3900 242,2 237 14,7 14,7 1999 4252 263,3 259 16 15,6 2000 4338 265,1 261 15,9 15,6 2001 4576 275,1 281 16,9 16 2002 4989 298 313 18,7 17,3

Fonte: Dados fornecidos por RORENO, Instituto Português de Oncologia, 1999-2000

No Quadro acima apresentado, no que concerne aos anos de 1995 e 1996, a população abrangia, para além dos cinco Distritos da Região Norte (Viana do Castelo, Braga, Vila Real, Brangança e Porto) os concelhos de entre Douro e Vouga, S. João da Pesqueira e Cinfães.

Na Região Norte verificámos um aumento do número e da taxa de incidência do Cancro do Colo do Útero, nomeadamente entre os anos 2000 e 2002. De acordo com a mesma fonte em 2000 a razão entre a Mortalidade (51) e a Incidência (261) foi de 20%.

Quanto ao Distrito de Viana do Castelo, segundo informação da Epidemiologista responsável pela RORENO, existem registos sem informação sobre Cancro, uma vez que o Registo Oncológico desta região não está a funcionar nas melhores condições. Nas últimas duas décadas as taxas de mortalidade específica por Cancro do Colo Uterino têm vindo a diminuir nos países onde existem programas de detecção precoce e de tratamento bem organizados (Alves O., et al., 2005).

Este Cancro pode ser evitado se a população tiver um estilo de vida saudável e utilizar medidas preventivas. Em fases iniciais se detectado e tratado precocemente apresenta índices elevados de cura, pelo que parece não existir justificação para que, no século XXI, ocorram mortes provocadas pelo mesmo.

Esta constatação tem preocupado investigadores e técnicos de saúde em geral, razão pela qual alguns estudos têm sido efectuados na tentativa de conhecer o comportamento desta doença.

Devesa e colaboradores (1987) referem que nas últimas décadas a diminuição das taxas de incidência e mortalidade por Cancro do Colo do Útero estava relacionada com vários factores, sendo de evidenciar o Teste Papanicolaou e o aumento do número de mulheres histerectomizadas, no período de 60 a 70, que contribuíram para a diminuição do risco de Cancro Uterino.

Em 1993, Colemman e colaboradores analisaram as taxas de incidência e mortalidade por Cancro do Colo Uterino em alguns países do mundo, bem como a tendência mundial das mesmas, no período de 1965-1985.

Em 1965 as maiores taxas padronizadas de mortalidade situaram-se na Dinamarca, na Roménia e em Portugal com 26,1/100000, 21,1/100000 e 18,9/100000, respectivamente. As menores taxas verificaram-se na Grécia (1,1/100000), Espanha (1,6/100000) e Itália (4,0/10000).

Na América Latina os estudos efectuados no Chile, Costa Rica, Panamá, Porto Rico, Uruguai e Venezuela demonstraram elevadas taxas de mortalidade, relativamente à maior parte dos países analisados.

A taxa padronizada mais elevada, em 1985, observou-se na Roménia (22,2/100000), enquanto em Portugal essa taxa foi de (4,3/100000). No período estudado, em Portugal é

de realçar uma diminuição considerável na taxa padronizada por Cancro do Colo do Útero.

Franco e colaboradores (1999) realizaram em 1993 um estudo longitudinal em mulheres com baixo nível económico, residentes na cidade de S. Paulo, Brasil e assistidas num serviço materno-infantil. A finalidade foi conhecer a história natural da infecção por HPV e a sua relação com cancro do cervix uterino. Da amostra constavam apenas as mulheres que não apresentavam lesões intraepiteliais escamosas e que tinham efectuado teste para HPV. Para os resultados dos testes foi utilizada a nomenclatura da OMS e a Classificação do Sistema Bethesda. Os autores chegaram às conclusões de que segundo o Sistema Bethesda a prevalência da infecção por HPV foi de 13,8% e o risco relativo de lesão intraepitelial escamosa associada à positividade do HPV foi de 5,8, enquanto pela nomenclatura da OMS o risco relativo foi de 1,4.

Na clínica ginecológica do Hospital Gaffreé Guinle, no Rio de Janeiro, entre 1990 e 1994, Alvarenga e colaboradores (2000) efectuaram um estudo numa amostra de 381 mulheres, com diagnóstico de cervicite, CIN I, II ou III e carcinoma invasor, das 3287 observadas.

Os autores constataram que na maior percentagem dos exames, a cervicite estava relacionada com modificações citopáticas associadas ao HPV, enquanto a menor percentagem dizia respeito a lesões de CIN III.

Neste estudo verificou-se uma diminuição progressiva da presença do vírus no exame citológico, à medida em que o grau da lesão era maior. Este facto pode significar que para ocorrerem alterações do epitélio do colo do útero, a presença do HPV só por si não é suficiente, sendo importante a presença de outros agentes, entre os quais o número de parceiros sexuais, a paridade, as infecções associadas, os factores genéticos e o baixo nível sócio-económico.

Para avaliar a correlação entre o exame colpocitológico de encaminhamento e dois exames num determinado serviço; uma colpocitologia e um diagnóstico histológico, foi efectuado um estudo em 213 mulheres, por Lapin e colaboradores (2000). As mulheres foram atendidas periodicamente nos anos de 1989 a 1991. Noventa destas mulheres encaminhadas apresentaram resultado de exame sugestivo de lesões HPV/CIN I e, 123 lesões sugestivas de CIN II ou III. Os autores concluíram que quer o resultado colpocitológico, quer o diagnóstico histológico sofreu alterações quando efectuado no

serviço de encaminhamento ou no serviço seleccionado para o efeito. Face às disparidades encontradas nos resultados os autores consideraram que os exames deveriam ser efectuados de uma forma mais criteriosa e por profissionais devidamente preparados para o efeito.

Entre 1960 e 1995, Levi e colaboradores (2000), analisaram a mortalidade por Cancro do Útero (colo, corpo e porção não especificada) em mulheres com idades compreendidas entre os 20 e os 44 anos de idade, em alguns países da Europa. Neste período os autores observaram que as taxas de mortalidade variaram entre 10,6/100000 na Roménia e 0,5/100000 na Finlândia. Ao início do trabalho, na Inglaterra, a taxa de mortalidade por Cancro do Útero era de 4,1/100000, passando para 2,6/100000 no período que decorreu de 1995 a 1998.

Na União Europeia, Portugal apresentava uma alta taxa de incidência e uma das maiores taxas de mortalidade por Cancro do Colo do Útero (17 por 100000), segundo Ferlay et al., 2001 e Pinheiro et al. 2003, referenciados por Medeiros et al. (2005). Estes, em virtude de não existirem estudos de prevalência na população portuguesa relativamente aos diferentes tipos de HPV, consideraram oportuno realizar uma Investigação sobre

“Characterization of HPV genotype profile in squamous cervical lesions in Portugal, southern European population at higt risk of cervical cancer”.

Os autores concluiram que existia uma alta prevalência de HPV-16 nas lesões escamosas intraepiteliais e no Cancro Cervical Invasivo, referindo que a vacina e o rastreio devem ser associadas como forma de evitar e prevenir a doença.

Em sintese, o Cancro do Colo do Útero afecta mulheres com idades que rondam os 45 anos, embora, actualmente, esteja a surgir mais precocemente. Constitui o segundo Cancro mais comum, em mulheres, a nível mundial, mesmo nos países onde existem programas de rastreio bem desenvolvidos. No entanto, tem-se verificado que a incidência tem vindo a diminuir à medida que os países evoluem (Kennedy, 2001). Contudo, em Portugal, como já mencionámos, tem vindo a aumentar.