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AGENTES INFECCIOSOS

2.1 O PAPEL DA ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DO CANCRO

A Enfermagem, como ciência e profissão autónoma, conforme Costa et al. (2005, p. 107),

“compreende conhecimentos científicos e técnicos, acrescido das práticas sociais, éticas e políticas vivenciadas no ensino, pesquisa e assistência” estimulando os Enfermeiros a

adquirir qualificações de maior nível e especializações em diversas áreas de intervenção. Na actualidade, a Enfermagem ocupa um papel de destaque nas equipas de saúde, constituindo o Enfermeiro o elemento que mais tempo dedica ao utente/paciente, pelo que, segundo Helman (2003) não se justifica a inexistência da sua intervenção no contexto da Prevenção do Cancro.

De acordo com o mesmo autor, o rácio de Enfermeiros disponíveis para a população varia nos diferentes países do mundo, sendo no Reino Unido e no Brasil o maior grupo de Profissionais de Saúde. A maioria dos Enfermeiros são do género feminino. A situação apresentada pelo autor, segundo a Ordem dos Enfermeiros, é semelhante à que se vive em Portugal.

O papel preponderante do Enfermeiro na assistência prestada ao indivíduo como um todo biopsicossocial, cultural e espiritual, no processo saúde/doença e, nomeadamente, no âmbito da prevenção do Cancro, quer em actividades individuais ou em grupos sociais requer competências além da esfera técnico-científica. A componente humana, a

O respeito da singularidade do indivíduo, como ser único e indissociável, do livre arbítrio consciente e informado, bem como de outros princípios éticos constituem aspectos que o Enfermeiro deve considerar na prática da Prevenção do Cancro.

Os Enfermeiros que exercem ou já exerceram a sua actividade profissional em instituições especializadas em Oncologia (Institutos de Cancro) tiveram, regra geral, uma preparação teórico-prática, humana e comportamental específica, o que lhes facilita o desenvolvimento de actividades de Prevenção do Cancro.

Os Cuidados de Enfermagem incluem actividades de Promoção da Saúde, Prevenção Primária e Secundária do Cancro, referindo Cutler (1999) que o Enfermeiro deveria constituir o profissional-chave, bem como o elo de ligação com os outros profissionais da equipa multidisciplinar de saúde.

A prática da Enfermagem preventiva é da competência de todos os Enfermeiros, sejam generalistas, graduados ou especialistas uma vez que, nos dias de hoje, o Cancro constitui uma problemática muito frequente, havendo necessidade de efectuar EPS tanto nos Cuidados de Saúde Primários quanto nos Diferenciados.

O Enfermeiro Generalista constitui, normalmente, a categoria mais representativa da classe nos Serviços de Saúde, pelo que deve ser capaz de prestar cuidados ao nível da Prevenção do Cancro, quer individualmente, quer em parceria com outros elementos da equipa de saúde (ONS, 2004).

O desempenho do Enfermeiro ao nível da Prevenção do Cancro é semelhante ao da prevenção, em geral. No entanto, acontece que o termo “cancro” é assustador, quer para o Utente dos Serviços de Saúde, quer para o Enfermeiro ou para outros Profissionais de Saúde, devido aos preconceitos, crenças e tabus a que está, ainda, associado. Assim, sucede, muitas vezes, recusarem ouvir falar do tema ou terem dificuldade ou constrangimentos em abordá-lo.

Alonso (2003), refere que o conjunto de conceitos de crenças e valores podem influenciar as interpretações das actividades de prevenção bem como o comportamento dos indivíduos.

No que concerne às crenças e valores dos Enfermeiros, Friedrich e Sena (2002), efectuaram um estudo sobre a práxis do cuidado no trabalho das Enfermeiras das Unidades Básicas de Saúde de Juiz de Fora-MG e concluíram que o cuidar em

Enfermagem é uma prática em mudança cuja actividade depende, também, de aspectos subjectivos da Enfermeira que a efectua.

O contexto cultural do indivíduo, assim como o contexto cultural onde estão inseridos os Cuidados em Saúde, podem facilitar ou dificultar a adesão do utente às práticas preventivas.

Os recursos técnicos, humanos e financeiros do Sistema Local de Saúde podem constituir elementos facilitadores ou não das práticas de prevenção. O Enfermeiro ao planear as suas intervenções de prevenção tem, necessariamente, de ter em atenção estes factores.

É imprescindível que o Enfermeiro conheça a comunidade onde intervém no âmbito da Prevenção do Cancro, pois só desta forma pode estabelecer uma relação de confiança com a população atendida. Relativamente ao aspecto mencionado, Oliveira (2003) considerou que os Profissionais de Enfermagem não estavam, ainda, preparados para esta prática.

As intervenções preventivas consistem, grosso modo, em dotar de conhecimentos, quer os utentes quer a população, quanto aos factores de risco do Cancro e às medidas preventivas, através de actividades de EPS individuais ou a grupos.

Ensinar e avaliar a aprendizagem de técnicas de auto-exame, como, por exemplo, mama e testículo constitui uma função do Enfermeiro, muito embora, também possa ser de outros Técnicos de Saúde.

Para além das actividades relatadas o Enfermeiro deve colaborar em técnicas de screening da cavidade oral, região uterina, rectal e mamas, com o objectivo de detectar alterações a esses níveis (Frank-Stromborg, 1997).

A realização de práticas educativas sobre o modo como detectar o Cancro deveria seguir protocolos (Guidelines), pois ajudam a população a decidir sobre os comportamentos preventivos assim como, a adesão a programas de detecção precoce e aconselhamento genético (ONS, 2004).

A intervenção da Enfermagem na educação profissional e pública, bem como nos serviços de detecção da doença, na investigação científica e nas políticas de saúde é considerada importante pela Oncology Nursing Society (ONS) dos Estados Unidos da

América. Esta pensa, ainda, ser necessária a implementação de estratégias para a Prevenção do Cancro, entre as quais a criação de guidelines para o screning do Cancro. A especialidade em Enfermagem Oncológica constitui uma necessidade que se vem sentindo, há alguns anos, e que a própria ONS reconheceu, uma vez que o Cancro constitui uma das principais causas de morte (ONS, 2004).

A inexistência, até ao momento, de uma especialidade em Enfermagem Oncológica, em Portugal, tem provocado um vazio no cuidado ao doente do foro oncológico. No entanto, começam a surgir as pós-graduações, mestrados e doutoramentos em áreas afins, como, por exemplo, Enfermagem Oncológica e Cuidados Paliativos.

CAPÍTULO III

DO DOMÍNIO CIENTÍFICO DO CANCRO CÉRVICO-UTERINO À SUA