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CAPÍTULO V MATERIAL E MÉTODOS

1. DESENHO E CENÁRIO DO ESTUDO

O estudo decorreu de uma forma faseada, devido aos diferentes tipos de estratégias planeadas. A observação dos contextos da investigação, dos actores, das actividades desenvolvidas pelos mesmos, dos instrumentos de registo utilizados e do meio envolvente foi efectuada durante, aproximadamente um mês.

Efectuámos reunião com os Profissionais de Saúde, por forma a clarificar determinados aspectos, apresentar o planeamento da investigação e combinar a melhor estratégia de recolha de dados. Após a mesma o planeamento sofreu algumas alterações.

A colheita de dados e a análise dos mesmos foi realizada, sempre que possível, concomitantemente, não havendo períodos preestabelecidos ou muito fixos, principalmente para alguns dos instrumentos previstos.

As últimas etapas do trabalho incidiram na interpretação dos dados e na redacção do relatório.

A opção do desenho metodológico constituiu um processo complexo de pensamento científico, com base na problemática e nos objectivos do estudo.

A pesquisa que realizámos consistiu num tipo de estudo descritivo, exploratório, cujo modo de investigação foi o estudo de casos “polilocalizado”.

Considera-se descritiva porque obrigou o pesquisador a observar, a registar e a analisar factos e fenómenos, sem os manipular (Cervo & Bervian, 2002).

A sua natureza exploratória permitiu ao investigador aumentar a sua experiência em torno do problema, ajudando-o a encontrar os elementos necessários que lhe possibilitassem o contacto com a população alvo, para obter os resultados desejados (Triviños, 1987).

Tendo em conta os objectivos da pesquisa, bem como a necessidade de conhecer e compreender o significado atribuído por diversos actores a fenómenos singulares, ou seja ao “quê” e ao “porquê” esta inscreveu-se, maioritariamente, no paradigma qualitativo, muito embora o estudo deva ser considerado misto, o que é típico de um “estudo de casos” deste teor.

A metodologia qualitativa de investigação utilizada, na opinião de Wilson (1977), citado por Tuckman Bruce W. (2005, p. 508) pode ser denominada como “(…) etnografia (…)” uma vez que se fundamenta em dois pressupostos que passámos a enunciar:

“(1) Os acontecimentos devem estudar-se em situações naturais, ou

seja, integrados no terreno.

(2) Os acontecimentos só podem compreender-se se compreendermos a percepção e a interpretação feitas pelas pessoas que neles participam.”

A abordagem qualitativa utilizada, de acordo com Bogdan e Biklen, citado por Tuckman (2005, p. 507), apresentou as seguintes características:

«1-A situação natural constitui a fonte dos dados, sendo o investigador o instrumento-chave da recolha de dados.

2-A sua primeira preocupação é descrever e só secundariamente analisar os dados.

3-A questão fundamental é todo o processo, ou seja, o que aconteceu, bem como o produto e o resultado final.

4-Os dados são analisados indutivamente, como se reunissem, em conjunto, todas as partes de um puzzle.

5-Diz respeito essencialmente ao significado das coisas, ou seja ao “porquê” e ao “o quê”.»

De acordo com Minayo (1994), a pesquisa qualitativa preocupa-se com o universo dos significados, motivos, aspirações, valores e actividades que, por sua vez, correspondem a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenómenos.

Este tipo de metodologia de investigação qualitativa pode, também, ser designada como método etnográfico, pois segundo (Mayan, 2001) é uma ferramenta útil para estudar e entender outras culturas ou mesmo grupos específicos de pessoas, e tem, como resultado final, uma descrição densa da natureza de um fenómeno.

Marcus e Liehr (2001) referem que este método é utilizado por Profissionais de Saúde para investigar variações culturais e estudar grupos de pacientes como subculturas

dentro de contextos sociais mais amplos. Para Kleinman (1998), a etnografia não é meramente uma metodologia das Ciências Sociais mas também, uma parte intrínseca da Antropologia Social e Cultural.

O método etnográfico, usando o estudo de casos, permitiu apreender a realidade do estudo.

De facto, segundo De Bruyne et al., referenciado por Lessard-Hébert et al. (1994) as metodologias qualitativas privilegiam dois modos de investigação (estudo de casos e estudo multicasos) que não devem ser confundidos com os modos de recolha de dados. Os “modos de recolha de dados” são as técnicas de recolha de dados e os “modos de investigação” as maneiras como os pesquisadores devem considerar a população alvo de estudo e a sua situação. Estes fazem-se em função dos objectivos teóricos da sua pesquisa.

Nesta investigação as análises realizadas tiveram a finalidade de descrever o mais completamente possível os fenómenos em causa podendo obter-se quer descrições e informações quantitativas, quer qualitativas ou ambas. Os procedimentos de amostragem são, nestes casos, flexíveis (Lakatos et al., 1991).

O estudo de casos “polilocalizado” realizado teve, como principal objectivo analisar, compreender e descrever as duas situações particulares, na tentativa de descobrir convergências ou divergências entre as mesmas. Baseou-se no estudo de cada uma delas, o que pressupôs a determinação de unidades ou categorias de análise e selecção das variáveis a estudar, isto é, saber quem, onde, quando e que aspectos analisar.

A pesquisa do tipo Estudo de Casos, na opinião de Fortin (1999, p. 164) consiste numa

“(…) investigação aprofundada de um indivíduo, de uma família, de um grupo ou de uma organização”.

Os estudos de casos (Ludke, 1986) com as suas características específicas permitem recorrer a diversas fontes de informação, apresentar os dados de forma clara e acessível, podendo utilizar-se o estilo narrativo, informal e mesmo a ilustração com figuras, citações, exemplos e descrições.

Recorremos à abordagem quantitativa para quantificar todos os dados de interesse para a investigação.

A análise foi efectuada recorrendo ao software SPSS 12.0 (SPSS Inc., Chicago, Illinois, USA).

O cenário da pesquisa contemplou um estudo de casos, em dois locais distintos, daí se considerar um estudo “polilocalizado”.

Um dos cenários foi o Centro de Saúde de Barroselas e o outro o Centro de Saúde de S. Julião de Freixo com as Extensões de Saúde de Alvarães e de Vitorino de Piães, respectivamente.

A opção por estes Centros de Saúde esteve relacionada com os seguintes factores: conhecimento através do estudo exploratório prévio da implementação nestes Centros do Projecto Prevenção do Cancro do Colo do Útero e da motivação dos Profissionais de Saúde para colaborar, bem como a proximidade entre os contextos.

Passámos a caracterizar os dois Centros de Saúde, o seu enquadramento geográfico e funcionamento.

O Centro de Saúde de Barroselas ficava situado, aproximadamente, a 13 Km da cidade de Viana do Castelo que é capital de distrito e sede de concelho.

Barroselas, considerada semi-urbana, situava-se na proximidade de um pólo industrial e constituía uma freguesia administrativa deste concelho. Durante a investigação, por indicadores históricos, geográficos, demográficos, administrativos, económicos, sociais, culturais, entre outros, para além de um enorme anseio da população e da Autarquia foi elevada à categoria de Vila.

Esta freguesia com uma área de cerca de 8 Km2 ficava localizada sob a serra da Padela, no Vale do Neiva, estendendo-se até ao rio Neiva, fazendo fronteira com o distrito de Braga.

O Centro de Saúde abrangia as freguesias de Barroselas, Carvoeiro, Vila de Punhe, Portela Susã, Mujães e Alvarães que constituía a Extensão de Saúde.

A sede deste Centro de Saúde era em Barrroselas. As instalações, relativamente recentes, apresentavam condições físicas razoáveis, embora não correspondessem aos desejos e necessidades dos Profissionais.

Funcionava por Módulos, nos quais exerciam funções Médicos e Enfermeiros, prestando cuidados globais aos utentes. Estes estavam inscritos por Médico de Família, os quais prestavam assistência nas diversas áreas de intervenção. Os utentes que não tinham Médico de Família (estavam em lista de espera) eram atendidos de acordo com a disponibilidade dos Médicos existentes.

A freguesia de Freixo ocupava uma área de 544 ha (hectares) na margem direita do rio Neiva. Distava, aproximadamente, 17 km da sede de concelho (Ponte de Lima) e 25 km da sede de distrito (Viana do Castelo). Situava-se na encruzilhada entre Ponte de Lima, Barcelos e Braga.

Esta localidade e as freguesias de abrangência do seu Centro de Saúde tinham por base a exploração agrícola em minifúndio, como actividade económica principal.

O Centro de Saúde de S. Julião de Freixo pertencia ao concelho de Ponte de Lima e abrangia as seguintes freguesias: Navió, Poiares, Gaifar, Vilar das Almas, Sandiães, Ardegão, Freixo, Friastelas, Cabaços, Fojo Lobal, S. Lourenço do Mato, Calvelo e Vitorino de Piães, onde se situava uma Extensão de Saúde.

O Centro de Saúde com instalações provisórias há cerca de três anos, ocupava o 1º andar de um edifício que não estava adaptado ao funcionamento dos serviços, acarretando algumas dificuldades na gestão e trabalho da equipa.

Durante o ano de 2003 (início do trabalho de campo) exerciam funções no Centro de Saúde (sede) quatro Médicas e quatro Enfermeiros (três do género feminino e um do masculino) e na Extensão de Saúde de Vitorino de Piães uma Médica e uma Enfermeira. O Centro de Saúde não estava organizado por Módulos, pelo que as actividades Médicas e de Enfermagem eram distribuídas por áreas de intervenção, isto é os Médicos e os Enfermeiros prestavam os cuidados necessários sem terem famílias distribuídas.

O Director era um Médico que exercia a sua actividade em Ponte de Lima, bem como a Enfermeira Chefe do Centro, pelo que, apenas, esporadicamente, se deslocava ao mesmo. Havia uma Enfermeira que tinha funções de coordenação e era o elo de ligação com a Enfermeira Chefe. Aquela, para além das suas actividades de assistência aos utentes, acumulava as funções de coordenação do Centro (funções que pertenciam à Enfermeira Chefe do Serviço). No entanto, não tinha autonomia nem poder de decisão,

tendo que recorrer ao Director e/ou Enfermeira Chefe para resolver situações fora do seu âmbito de competências.

Em meados de 2004 o Centro de Saúde passou a ter uma Enfermeira Chefe, em presença física. A equipa multidisciplinar passou a ser constituída por 5 Médicos, 5 Administrativos, 3 Auxiliares, 1 Chefe de Secção e 5 Enfermeiros, sendo uma delas a Enfermeira Chefe.

Em Novembro de 2004 foi alargada a oferta de serviços à comunidade, criando a consulta de recurso, passando o Centro de Saúde a funcionar das 8 às 20 horas.

A Extensão de Vitorino de Piães, embora não fosse considerada um Módulo, como só existia uma Médica e uma Enfermeira, funcionava como tal, pois a prestação de cuidados era global. No entanto, por vezes, a Enfermeira era chamada a colaborar com os Enfermeiros da sede, nomeadamente na área de Visita Domiciliária.