• Nenhum resultado encontrado

ITENS [1] iniciadores iniciam turnos ah,bom, bem, olha

F: Não descasca pinto (est) entende? pregou mentira que tinha torrado fava pra plantar, se era pra poder o delegado perguntar “E fava torrada

3.1 ABORGAGEM FUNCIONALISTA

3.1.1 A ABORDAGEM FUNCIONALISTA E A ANCORAGEM COGNITIVO-COMUNICATIVA DA GRAMÁTICA

3.1.2.2 CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO E DAS FORMAS EM MUDANÇA

Percebemos que a definição ideal, e que nos falta, seria aquela que conjugasse todos os aspectos que ressaltamos e, portanto, propomos uma nova definição de GR, associando as três definições anteriores:

Gramaticalização é a mudança através da qual construções e/ou itens lexicais, usados pelos falantes em contextos pragmáticos e morfossintáticos altamente específicos, vêm a servir a funções mais gramaticais e, uma vez gramaticalizados, continuam a desenvolver novas funções gramaticais.

Vale destacar ainda que Traugott (2012) considera que o desenvolvimento de vários itens pragmáticos – inclusive aqueles com função metadiscursiva de busca de acordo, como os nossos RADs – é consistente com o processo de GR123. A autora argumenta que sendo a GR um processo pelo qual o material com mais conteúdo referencial torna-se mais esquemático e não-referencial – por exemplo, sinalizando as relações entre os elementos em uma cláusula e a perspectiva do falante sobre o que é dito – também “pode ser pensado como o desenvolvimento de funções procedurais124”(TRAUGOTT, 2012, p.19).

3.1.2.2 CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO E DAS FORMAS EM MUDANÇA

Para os objetivos desta tese, julgamos ser relevante detalhar nesta subseção: a) os Princípios de Hopper (1991), que versam sobre o processo de GR em fases iniciais e têm muito a nos dizer sobre como se dá o processo de mudança em si; b) os Parâmetros de Heine e Kuteva (2007), que tratam das características das formas em mudança e podem nos auxiliar a identificar detalhes sobre o processo, bem como os

123

Traugott (2012) salienta que entender o desenvolvimento de MDs como um caso de GR é assumir que esse é um processo essencialmente de mudança funcional.

124

estágios de mudança das formas em análise; c) o papel da frequência de uso para os rumos da mudança (Cf. BYBEE, 2003).

As pesquisas de Hopper (1987, 1991) têm tido importante papel de questionar as concepções de gramática estável vigentes até então. Com sua noção de gramática emergente, como já mencionamos, Hopper destaca o papel do discurso como ponto de partida para formas em processo contínuo de GR. Seu interesse principal não está somente nos estágios avançados e finais do processo em que há cliticização, fusão ou morfema zero, mas também na emergência, ou seja, em contextos e usos discursivos que dão início ao processo de GR de formas e estruturas linguísticas125.

Para poder identificar melhor os diferentes estágios de GR e a emergência de novas unidades gramaticais, Hopper (1991) formula cinco princípios que podem contribuir para a caracterização desse processo, especialmente em sua fase inicial:

Estratificação: Em um amplo domínio funcional, novas camadas estão continuamente emergindo. Conforme isso acontece, as camadas mais antigas não são necessariamente descartadas, ao contrário, podem permanecer, coexistir e interagir com as camadas mais recentes.

Divergência: Quando uma unidade lexical muda para um clítico ou afixo, a unidade lexical original pode permanecer como um elemento autônomo e sofrer as mesmas mudanças que itens lexicais comuns.

Especialização: Dentro de um domínio funcional, uma variedade de formas com diferentes nuances semânticas pode ser possível em um dado estágio. À medida que a gramaticalização ocorre, essa variedade de possibilidades formais diminui e um número menor de formas selecionadas assume significados gramaticais mais gerais.

Persistência: Quando uma forma sofre gramaticalização de uma função lexical para uma

125

Hopper (1991) ressalta a importância do trabalho de Lehmann na descrição de parâmetros de GR, contudo observa que tais parâmetros são mais aplicáveis a estágios avançados do processo, quando as mudanças envolvem morfologização. Hopper sugere que para os estágios iniciais do processo, outros cinco princípios, suplementares aos de Lehmann, devem ser considerados.

função gramatical, mesmo tendo um papel gramatical, alguns traços de seus significados lexicais originais tendem a aderir a ela e detalhes de sua história lexical podem ser refletidos em sua distribuição gramatical.

Decategorização: Gramaticalização sempre envolve uma perda em termos de categoria e prossegue na seguinte direção: nome e verbo > outra categoria, nunca o contrário 126 (HOPPER, 1991, p. 22, grifo da tradução).

Esses princípios já foram aplicados por Valle (2001) na análise de sabe?, entende? e não tem? e acreditamos que eles sejam extremamente importantes para a observação dos estágios de GR dos RADs em estudo e para a nossa proposta de reconstituição de suas trajetórias de mudança.

O princípio da estratificação, ou seja, da possibilidade de coexistência de camadas em um mesmo domínio funcional, está ligado à relação variação-mudança-variação, já que formas inovadoras e antigas passam a conviver e disputar espaço tanto na fala dos indivíduos quanto nas manifestações linguísticas observadas em comunidade (cf. TAVARES, 2003). Acreditamos que a estratificação possa refletir também aspectos ligados a questões estilísticas, na medida em que tanto as formas inovadoras quanto as antigas podem apresentar nuances de significado associadas a caraterísticas do ambiente, da situação de

126

“Layering: Within a broad functional domain, new layers are continually emerging. As this happens, the older layers are not necessarily discarded but may remain to coexist with and interact with the newer layers. Divergence: When a lexical form undergoes change to a clitic or affix, the original lexical form may remain as an autonomous element and undergo the same changes as ordinary lexical items. Specialization: Within a functional domain, at one stage a variety of forms with different semantic nuances may be possible. As grammaticalization occurs, this variety of formal choices narrows and the smaller number of forms selected assume more general grammatical meanings. Persistence: When a form undergoes grammaticalization from a lexical to a grammatical function, so long as it continues to have a grammatical role, some traces of its original lexical meanings tends to adhere to it, and details of its lexical history may be reflected in its grammatical distribution. De- categorialization: Grammaticalization always involves a loss of categoriality and proceeds in the following direction: Noun and Verb > another category, never the reverse.”

comunicação, do indivíduo, entre outras, que, em certos contextos, condicionem a preferência por uma forma ou por outra.

Aplicando esse princípio aos RADs em estudo nesta tese, observamos que sabe?, sabes?, entende?, entendeu?, entendesse?, tá entendendo? e tás entendendo?, marcadores discursivos originados dos verbos cognitivos saber e entender fixados em P2 – formas que existem e são produtivas em um papel mais lexical –, variam dentro do domínio funcional da requisição de apoio discursivo, servindo a propósitos de organização discursiva.

Através do princípio da divergência, coloca-se o foco no caráter multifuncional dos itens que passam pelo processo de GR e na possibilidade de múltiplas trajetórias para itens com a mesma origem lexical. O princípio em si aponta para a bifurcação de caminhos entre unidades que seguem a rota lexical > gramatical ao mesmo tempo em que podem se manter como elementos autônomos, mas destacamos ainda a possibilidade de caminhos múltiplos com resultados diversos para as unidades que seguem do lexical para o gramatical. Tal princípio explica a existência de polissemias ou de formas etimologicamente iguais, embora funcionalmente distintas.

Apesar dos itens em análise não terem passado por mudanças morfológicas avançadas, como é o caso de clíticos ou afixos, ressaltamos a permanência dos itens lexicais de origem como unidades autônomas na língua – por exemplo, o verbo saber, que com o sentido “conhecer” teria dado origem ao uso como MD, continuou em uso como unidade lexical, desenvolvendo novas polissemias (e.g. reter na memória, ser erudito). Além disso, o uso como RADs, como é o caso de sabe?, por exemplo, pode ter derivado de duas trajetórias paralelas e não excludentes – uma em que o verbo, ao incidir sobre referentes (Sabe o prédio da Reitoria?), assume o papel de focalizador e posteriormente é deslocado para a posição final (O prédio da Reitoria, sabe?) e outra em que o verbo como cabeça de construção interrogativa é usado após informações novas com o papel de checar o conhecimento (Eu fui morar na Rua Vidal Ramos. Sabes onde é que é a Rua Vidal Ramos?) e após vários apagamentos aparece sozinho após a informação (Eu fui morar na Rua Vidal Ramos, sabe?) (VALLE, 2001).

De acordo com o princípio da especialização, em estágios iniciais do processo de GR, onde os significados das formas ainda apresentam-se mais concretos, pode haver um número expressivo de formas com diferentes nuances semânticas em um mesmo domínio

funcional, mas, com o avanço do processo, dá-se lugar a um número mais restrito de formas127 com significado mais geral, ou seja, mais abstrato. Entende? tem se especializado em contextos argumentativos e com a função de foco sobre a opinião do falante, enquanto sabe?, de uso mais generalizado, mostra-se como candidato mais adequado para assumir funções abstratas dado seu caráter menos marcado (VALLE, 2001).

O princípio da persistência merece destaque, pois prevê que, pelo menos em alguns estágios do processo, traços semânticos da forma original (item fonte) são mantidos na forma gramaticalizada (item alvo)128. Formulado como está, o quarto princípio parece atuar em uma só direção, ou seja, traços do léxico aderindo ao uso gramatical. Contudo, acreditamos que para os objetivos desta pesquisa há a necessidade de ampliação do princípio, podendo ser pensado menos em termos direcionais no sentido item fonte>item alvo e mais em termos de interdependência léxico-gramática.

Antes de mais nada, é importante relativizar a aparente separação entre léxico e gramática. O próprio processo de GR evidencia a clara existência de um continuum entre esses dois polos, ou seja, quando uma unidade lexical ganha características gramaticais isto não se dá de forma abrupta ou repentina. O processo envolve um gradiente de formas e funções que podem se sobrepor. Visto desse modo, o contínuo léxico- gramática e o próprio processo de GR não devem ser tomados como uma sequência linear de mudanças, mas como processo complexo em que ambiguidades e sobreposições funcionais são esperadas (HOPPER; TRAUGOTT, 2003).

Castilho (1997) vai além ao afirmar que as palavras, mesmo fora do enunciado, dispõem de propriedades gramaticais, semânticas e discursivas que apenas aguardam por ativações feitas no uso para assumirem certa funcionalidade na língua, e Hopper (1998) parece caminhar nesta mesma direção ao propor que:

127

Pode haver até mesmo a cessação da variação com a permanência de apenas uma das formas e o desaparecimento das demais. Este é o caso da variação, no francês de Quebec, entre mettons e par exemple no domínio funcional da exemplificação, em que o primeiro item se especializa no referido domínio, enquanto o segundo assume um outro papel no domínio da oposição (VINCENT; VOTRE; LAFOREST, 1993).

128

Este princípio contrapõe-se à visão de GR como perda, em que o ganho gramatical necessariamente acarretaria esmaecimento semântico (semantic bleaching).

Gramaticalização pode ser pensada como uma narrativa de salvação. É a tragédia de itens lexicais jovens e puros de coração, mas que carregam dentro de si a fatal falha do pecado original; seu inexorável enfraquecimento, já que vivem no mundo corrupto do discurso; sua queda nas garras da gramática; e a sua eventual redenção nas águas claras da pragmática129 (HOPPER; 1998, p. 147, grifo da tradução). O que Hopper sugere ao mencionar a “fatal falha do pecado original” é a presença de propriedades já funcionais nos item ainda enquanto unidades lexicais. Este olhar para a interpendência léxico- gramática pode não parecer muito distinto da descrição inicial do princípio da persistência, mas tem grandes implicações para o direcionamento das mudanças em que os RADs estão envolvidos. Estamos considerando que não somente traços semânticos do item fonte aderem ao item alvo, como também o próprio item fonte já carrega em si propriedades funcionais que direcionam e regem as possibilidades de mudança até o item alvo.

Waltereit (2011) inclui a perspectiva do falante nessa questão ao descrever as mudanças do advérbio francês bien até seu uso como marcador discursivo. O autor amplia a teoria da Invisible Hand de Keller (1990) para além das mudanças lexicais, sugerindo que a gramática é o resíduo das estratégias linguísticas usadas pelos falantes, os quais preferem uma ou outra construção a depender de suas vantagens retóricas ou comunicativas. Sendo assim, itens lexicais e construções em geral teriam certo potencial argumentativo ou usos estratégicos possíveis no discurso e os falantes, tirando vantagem disso, poderiam convencionalizar certos usos. O resultado da mudança vai depender do potencial argumentativo e estratégico do item fonte e das estratégias usadas pelos falantes.

Resumindo o que tratamos até aqui e dialogando com os itens em análise, propomos lidar com um princípio de persistência ampliado, como esquematizamos no quadro abaixo:

129

“Grammaticalization can be thought of as a salvation narrative. It is the tragedy of lexical items young and pure in heart but carrying within them the fatal flaw of original sin; their inexorable weakening as they encounter the corrupt world of Discourse; their fall into the Slough of Grammar; and their eventual redemption in the cleaning waters of Pragmatics.”

Quadro 4: Princípio da persistência ampliado Princípio da

persistência ampliado

Os RADs em relação ao princípio da persistência ampliado

1) Traços semânticos do item fonte persistem no item alvo.

A presença de estímulos após os RADs e de respostas completas como “entendi” após o uso de entende?, por exemplo, evidenciam a presença de traços semânticos do item fonte no item alvo. Além disso, o tipo de funcionalidade desenvolvida pelos itens como RADs – que atuam como focalizadores de partes do texto, responsáveis por checar o conhecimento do falante e colaborar com o processamento da informação – é, de modo abstrato, resquício do caráter ideacional do verbo de cognição relacionado a processos mentais.

2) Propriedades funcionais já existentes no item fonte persistem, direcionando os rumos da mudança até o item alvo.

O fato de verbos de cognição em várias línguas darem origem a itens discursivos (como vimos no cap. 1), por exemplo, y’know?, me entendes?, cachái, tu sais?, tu comprends?, indica que este tipo de verbo, ainda como unidade lexical, pode conter propriedades funcionais que impulsionam um certo tipo de mudança em várias línguas.

3) As estratégias discursivas originais usadas pelos falantes persistem no item alvo.

Ao usar os itens em análise em contextos de atos de fala diretivo, carregados de intersubjetividade inerente, os falantes direcionam a mudança e esta estratégia de uso inicial permanece marcada no item alvo, através da propriedade de interlocução inerente aos RADs.

Por fim, o princípio da decategorização, último a ser descrito, pode ser mais bem caracterizado se compreendido em termos de recategorização, ou seja, o item em GR perde traços da categoria-fonte para ser recategorizado de acordo com as propriedades da categoria- alvo.

Os itens em análise perdem características de verbos plenos, assumindo novas propriedades da categoria dos RADS: a) fixação da forma – fixação da forma em P2 (para o caso de sabe?, sabes?, entende?, entendesse?, entre outros); b) redução fonética – em muitos casos os itens em análise apresentam formas reduzidas e pronúncia acelerada como, por exemplo, tendesse? no lugar de entendesse? e tendeu? no lugar de entendeu?; c) maior mobilidade sintática e de

escopo – os RADs geralmente são pospostos àquilo que focalizam, o que muitas vezes pode corresponder a grandes porções de texto, e sua mobilidade é ampliada em relação ao seu uso na categoria-fonte, podendo ocorrer no final de proposições ou mesmo intra-constituintes (A filha, sabe?, do João), ainda que com menor frequência.

Os parâmetros de GR propostos por Heine e Kuteva (2007) também são levados em conta na presente tese, embora saibamos que em alguns momentos tais parâmetros e os princípios acima descritos se sobrepõem ou se intersectam, como é o caso da decategorização e da erosão que descrevemos abaixo juntamente com os demais:

a. extensão, isto é, o surgimento de novos significados gramaticais quando expressões linguísticas são estendidas a novos contextos (interpretação induzida pelo contexto) b. dessemantização (ou “apagamento

semântico”), isto é, perda (ou generalização) de significado

c. decategorização, isto é, perda de propriedades morfossintáticas características de formas lexicais ou de outras formas menos gramaticalizadas

d. erosão (“redução fonética”), isto é, perda de substância fonética130 (HEINE; KUTEVA, 2007, p. 34, grifo da tradução).

Os autores ressaltam os ganhos pragmáticos e também a aquisição das propriedades estruturais de outros domínios a partir dos usos em novos contextos. Os parâmetros propostos integram aspectos pragmáticos (extensão), semânticos (dessemantização), morfossintáticos (decategorização) e fonéticos (erosão) organizados diacronicamente na direção extensão> dessemantização> decategorização> erosão, ou seja, quanto mais uma forma avança no processo de GR, mais afetada será pelos parâmetros assim ordenados. Ressaltamos, no entanto, que tal ordenação não é absoluta nem matematicamente precisa e acreditamos que pode haver casos em que

130

“a. extension, i.e. the rise of new grammatical meanings when linguistic expressions are extended to new contexts (context-induced reinterpretation);b. desemanticization (or „„semantic bleaching‟‟), i.e. loss (or generalization) in meaning content; c. decategorialization, i.e. loss in morphosyntactic properties characteristic of lexical or other less grammaticalized forms; d. erosion („„phonetic reduction‟‟), i.e. loss in phonetic substance.”

múltiplas forças atuem e os parâmetros sejam aplicados de forma não tão ordenada.

Dos quatro parâmetros, a extensão é aquele que mais nos interessa destacar no momento, já que enfatiza os ganhos e congrega três componentes que – ao mesmo tempo em que promovem um diálogo entre teorias – julgamos estar atuando diretamente sobre os RADs em análise: a) o componente sociolinguístico, que vincula o início da GR ao uso inovador de formas ou construções feito por um ato individual e replicado por outros falantes até atingir uma comunidade de fala inteira; b) o componente pragmático-discursivo, que envolve a extensão de um contexto habitual para novos contextos e o posterior espraiamento para contextos de uso mais gerais; c) o componente semântico, que está associado à troca de significados antigos por novos significados, impulsionada pelo novo contexto de uso131.

Vale destacar ainda que relacionada a todos os princípios e parâmetros até aqui comentados está a frequência de uso das formas em GR. Embora Bybee (2003) considere que a alta frequência de uso seja apenas indício de GR e não resultado dela ou motivação, a autora evidencia a importância do aumento da frequência no enfraquecimento de forças semânticas, nas alterações e mudanças fonológicas, na autonomia das formas e em sua extensão de uso para novos contextos.

Heine e Kuteva (2007) também enfatizam o papel da frequência de uso na extensão para novos contextos e na redução das formas em GR, além de apontarem que o aumento da frequência está relacionado ao uso obrigatório de itens que eram de utilização opcional. Contudo, alertam para a falta de evidências que atestem que a frequência seja diretamente responsável pela GR, ou mesmo que formas gramaticalizadas sejam mais usadas que os itens dos quais se originaram132.

131

Vale destacar ainda que se, por um lado, Heine e Kuteva (2007) propõem um parâmetro voltado à dessemantização, envolvendo perdas ou generalizações semânticas, por outro lado, propõem o parâmetro da extensão em que, em estágios iniciais da mudança, semântica e pragmática são dois lados da mesma moeda e novos significados são decorrentes de novos contextos de uso.

132

Para ilustrar essa afirmação, os autores mencionam que a observação de vários casos de GR sugere que, no geral, não são as formas mais frequentes de uma língua que servem de itens-fonte para a mudança (HEINE; CLAUDI; HÜNNEMEYER, 1991). Além disso, as formas gramaticalizadas nem sempre figuram como as mais frequentes. O verbo alemão drohen, por exemplo, é usado quase duas vezes mais como verbo principal (significando ameaçar) do

A frequência de uso, apesar de relevante, parece ser muito mais produto do que propriamente motivação para a mudança, ideia corroborada por Traugott (2010c) que, se por um lado, sugere que a frequência de uso possa ser encarada como motivação para a GR – já que a repetição é um importante fator para a fixação, congelamento e automatização das formas –, por outro lado chama a atenção para o fato de que deve haver alguma outra motivação para o aumento da frequência.

3.1.2.3 MOTIVAÇÕES: INOVAÇÃO EM CONTEXTOS DIALOGAIS E