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Tendência III: significados tendem a ser gradualmente mais situados nas crenças, estados/atitudes subjetivas do falante em relação à situação.

MUDANÇA VARIAÇÃO MUDANÇA Mudança leva à variação Variação leva à mudança

F: é: nã: dependendo da PESca né? a pesca ali é assim ó tem a rede de cerco

que eles vão duas vezes no dia... ((est)) eles vão de tarde e vão de manhã cedo... ((est)) então eh: quer dizer ((interrupção do áudio)) (vão) passar a vista nessa rede ali... quando é outro tipo de PESca no caso eles vã::/ à procura da taINHA... ((est)) aí a tainha quer dizer eles podem até anoitecer eles pode sair ((sair)) hoje e só vim aMANHÃ... né tem uns que faz asSIM... e:: ((interrupção do áudio)) (qu)ando é na pesca da corvina... eles+SAI de manhã cedo... e só voltam de noite... ((est)) é tipo assim oito horaoit/+e meia nove hora dez HORA onze hora depende) (BARRA26MA4)

Características da entrevista governada/conduzida pelo entrevistador:

 O entrevistador está mais preso a um “roteiro pré-estabelecido” e – apesar dos momentos em que o entrevistado insere tópicos de interesse próprio – tenta garantir a aplicação de partes essenciais do roteiro.

 Existe maior dificuldade para alcançar o vernáculo.  O critério de comparabilidade

entre as entrevistas é fortemente garantido.

 Há um estilo mais monitorado no início da entrevista que caminha para um estilo menos monitorado ao longo da gravação

(dependendo do módulo selecionado pelo entrevistador).

nada... mas+ela quer dar LIÇÃO DE MORAL e não tem moral... tas me+entendendo? ela é bem assim... Aí:: tá mas+eu não sabia aí a minha cunhada ligou e ela assim “olha | se o Cicrano chegar aí e contar alguma coisa olha... tu::... tu dá razão pra ele porque+ele tava com razão...” a minha outra cunhada... IRMÃ DELA... ((espanto/riso da entrevistadora)) eu disse „o que que hou::ve?...‟ só que/ aí ela assim/ eu disse+assim „o que que houve?‟ “não porque os (guri) discutiram aqui o Cicrano chamou ela de Capitu e não sei o quê e se brigaram os dois...” eu digo „ai eu não acredi::to...‟ ((espanto/riso da entrevistadora)) eu BEM ASSIM NO TELEFONE „a Fulana brigou com o Cicrano? a/ a Fulana é alguma criança?‟ (risos da entrevistadora) “é eles tavam brincando aqui ela não gostou...” eu digo „ah:: tá bom‟ aí tá | por+ali passou (BARRA20FA8)

Características da entrevista governada/conduzida pelo entrevistado:

 O entrevistado praticamente guia a entrevista e o entrevistador faz o papel de ouvinte atento.  Existe maior facilidade para

alcançar o vernáculo.

 O critério de comparabilidade entre as entrevistas é fracamente garantido.

 O estilo inicial pode já ser muito próximo do estilo não

monitorado/casual, variando ao longo da entrevista em função dos temas e sequências textuais ativados pelo entrevistado.

Alguns entrevistados desviavam-se das perguntas propostas para tratar de assuntos de seu interesse e isso fica muito evidente em algumas entrevistas nas quais há uma verdadeira entrega ao assunto, através da mudança do tom da fala, de momentos de choro, raiva, mesclados com outros momentos de extrema alegria e gargalhadas. Alguns informantes falam de assuntos de foro muito íntimo, revelando preferências sexuais, experiências com o uso de drogas e segredos de infância, outros falam ainda sobre revelações religiosas e graves doenças.

Como vimos na seção 3.2.7, vários fatores atuam para que as entrevistas ora se apresentem mais governadas/comandadas pelo entrevistador e ora mais governadas/comandadas pelo entrevistado: a postura do entrevistador (mais ativo ou passivo), o perfil do entrevistado (mais falante ou mais tímido) e o que se entende por entrevista (mais como uma conversa ou mais como um momento para responder apenas o que o entrevistador perguntar).

Essa relação entrevistador-entrevistado no momento da realização da entrevista é importante por duas razões centrais: i) a metodologia de análise aplicada à entrevista, principalmente no que tange a questões estilísticas, precisa dar conta da possível variabilidade de assuntos abordados e dos modos de execução da entrevista; ii) os diferentes modos de percepção e realização da entrevista têm papel importante no uso dos RADs199.

Fant (2007), analisando as situações de negociação que se instauram na entrevista e o uso de marcadores discursivos, sugere que, por um lado, o entrevistado, por ter que se pronunciar por longos períodos, sente a necessidade de usar marcadores comprovativos (caso se sinta inseguro quanto ao conteúdo do que diz) ou pseudocomprovativos (caso se sinta seguro quanto ao conteúdo, mas inseguro sobre a atenção do interlocutor). Em contrapartida, o entrevistador sabe que deve estimular seu entrevistado e garantir que ele siga falando, por isso faz uso de estímulos como resposta aos marcadores.

Os comentários do autor sobre a situação instaurada durante a entrevista evidenciam que as considerações feitas com base em materiais dessa natureza devem ser relativizadas. O uso dos RADs em situação de entrevista pode indicar seu funcionamento na conversação espontânea, mas não podemos esquecer da artificialidade da situação. Nesse sentido, quanto mais pudermos saber sobre o momento da

199

Os aspectos concernentes à configuração da entrevista são aprofundados no capítulo 6 durante a análise.

realização de cada entrevista e como os interlocutores se relacionam com essa situação comunicativa e entre si, mais saberemos sobre o estabelecimento das funções dos RADs.

4.1.2 DISTRIBUIÇÃO DOS INFORMANTES NA AMOSTRA BRESCANCINI- VALLE

Enfrentamos problemas para a distribuição equilibrada dos informantes da amostra investigada em células sociais.

É raríssimo encontrarmos, entre os moradores nativos, pessoas mais velhas com mais de quatro anos de escolarização, muitos têm de um a quatro anos de escolarização e outros nunca frequentaram a escola. Entre os mais jovens a situação é oposta, já que todos eles têm mais de sete anos de escolarização. Sendo assim, a distribuição dos informantes somente se dá de forma equilibrada na faixa etária intermediária.

Ainda que seja uma dificuldade para a análise que toma o indivíduo estratificado, essa distribuição irregular das entrevistas na amostra retrata a organização social da comunidade de fala. É possível que houvesse um ou outro indivíduo mais velho com escolarização um pouco mais elevada, mas isso é uma realidade pouco comum no bairro como percebemos através do relato dos próprios informantes:

Que antigamente do gi- da quinta em di- até a quarta, pra falar a verdade, da quinta em diante tinha que ir pro Centro, daí não tinha estrada, era- era tudo difícil, né? uns conseguiam porque assim tinha família que tipo tinha, vamos supor, uma família possuía engenho de fari::nha, daí já possuía mais terras (est) né? tinha como vender, vamos supor, essa (he) eu tenho uma família que possui um engenho, daí essa família tinha terras e tinha (hes) já tinha mais uma verbas que tinha condição de pagar o transporte, que no caso era bon- era de bonde e tudo, daí era mais fácil, agora quem não tinha, quem sobrevivia da pesca mesmo, tinha pesca, mas também pra pagar estudo não tinha, entendeu? era mais pra sobrevivência mesmo. (BARRA13MJ11-04:31)

Além disso, apesar de termos ouvido e feito o mapeamento200 de todas as 45 entrevistas, algumas delas foram descartadas da análise: a entrevista da informante 01, por ter revelado que na infância morou por quatro anos no Rio Grande do Sul; a entrevista do informante 41, que já é mais velho e apresenta problemas articulatórios que dificultavam a compreensão dos dados; a entrevista do informante 32, que apresenta muitas falhas na gravação; as entrevistas dos informantes 10, 17, 22, 25, 26 e 35 que não apresentam nenhuma ocorrência dos RADs em análise; as entrevistas dos informantes 03, 05, 11, 15, 37 e 40 que realizaram menos de 5 ocorrências do RADs em análise. Sendo assim, ficamos com um total de 30 entrevistas para a análise, sendo 17 delas com mulheres e 13 com homens (Vejamos o quadro 10201).

Essa distribuição faz com que as análises acerca das variáveis sexo, escolaridade e idade devam ser bastante relativizadas. Contudo, não consideramos que isso seja um problema para a análise variacionista, já que os resultados para as variáveis sociais dessa natureza não têm se mostrado relevantes para o uso dos RADs em pesquisas anteriores. Além disso, contamos com outras variáveis sociais e uma variável complexa estabelecida a partir das características da comunidade investigada, pois já apostávamos que as escolhas individuais e as variáveis sociais localmente pensadas nos diriam muito mais sobre o comportamento dos RADs do que as variáveis sociais clássicas. Mesmo assim, mantivemos as variáveis sociais sexo, escolaridade e idade nas primeiras rodadas apenas para termos um quadro distribucional.

200

Mais detalhes sobre o mapeamento feito nas entrevistas são dados na seção 4.3 deste capítulo.

201

O quadro sobre a amostra Brescancini-Valle foi feito para visualizar a distribuição dos informantes e está organizado em três faixas etárias, apresentando uma escala crescente de escolarização.

Quadro 10: Distribuição dos 45 informantes da Amostra Brescancini-Valle (2001-2010) MULHERES De 14 a 28 anos de idade De 33 a 48 anos de idade De 51 a 83 anos de idade BARRA01FJ8 * 18 anos 8 anos de escolarização BARRA02FJ8 14 anos 8 anos de escolarização BARRA03FJ9 16 anos 9 anos de escolarização BARRA04FJ9 17 anos 9 anos de escolarização BARRA05FJ10 17anos 10 anos de escolarização BARRA06FJ11 20 anos 11 anos de escolarização BARRA07FJ11 17 anos 11 anos de escolarização BARRA08FJS 24 anos Superior completo BARRA09FJS 28 anos Superior Completo BARRA46FA4** 33 anos 4 anos de escolarização **A entrevista 24 foi

extraviada e a

substituímos pela entrevista com a informante 46, feita no mesmo período da coleta na Barra da Lagoa BARRA18FA4 41 anos 4 anos de escolarização BARRA19FA8 33 anos 8 anos de escolarização BARRA20FA8 43 anos 8 anos de escolarização BARRA21FA8 42 anos 8 anos de escolarização BARRA22FA10 40 anos 10 anos de escolarização BARRA23FA10 48 anos 10 anos de escolarização BARRA33FB0 77 anos

Não frequentou a escola. BARRA34FB0

81 anos

Não frequentou a escola. BARRA35FB1 62 anos 1 ano de escolarização BARRA36FB4 69 anos 4 anos de escolarização BARRA37FB4 51 anos 4 anos de escolarização BARRA38FB4 59 anos 4 anos de escolarização BARRA39FB4 83 anos 4 anos de escolarização BARRA40FB4 58 anos 4 anos de escolarização

HOMENS