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3 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PRIMEIRO MANDATO PRESIDENCIAL DE LUIZ

3.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS

A história brasileira não tem recorrências de um liberalismo econômico agressivo, pois o Estado sempre foi um alicerce social até mesmo para as elites, que viam no poder público alguma forma de satisfação. Ao contrário, muitos fatos de cunho antiliberal ocorreram, com destaque para o projeto nacional-desenvolvimentista (DINIZ, 1996).

A promulgação da constituição Federal de 1988, marco da redemocratização brasileira, trouxe mudanças acentuadas na educação do país, garantindo a sua inscrição como direito social inalienável, assim como a partilha de responsabilidade entre os entes federados e a vinculação constitucional de recursos para essa área.

No contexto da eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, houve uma reafirmação da política neoliberalista, marcada pela criação do Mare (Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado), com foco no dever de executar diretamente tarefas exclusivas que envolvem o emprego do poder ou que apliquem os recursos do Estado.

Um estudo de Eisenbach Neto e Campos (2013) afirma que, dentro do contexto neoliberal, a educação passa a ser vista como importante ferramenta para formar cidadãos como trabalhadores, adaptados aos valores e às formas de organização social do novo modelo cultural, deixando de ser algo inato ao ser humano, em que o aluno – cidadão – é considerado um importante fator de produção, portanto, um ser econômico produtivo.

O cidadão recebe uma educação alinhada com os interesses do Estado neoliberal particularista, não referenciada com direitos humanos e o bem estar coletivo, sendo necessário buscar novos modelos de aprendizagem e cidadania que resgatem o sujeito e as identidades sociais (EISENBACH NETO; CAMPOS, 2013).

No âmbito das políticas educacionais, destacaram-se, sobremaneira, as modificações de ordem jurídico-institucional, com o passar dos anos democráticos. São três alterações de grande importância nos textos legais: a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei nº 9.394/96); a aprovação da Emenda Constitucional que instituiu o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef) e do Plano Nacional de Educação (PNE – Lei nº 10.172/2001).

38 Segundo Dourado (2007), mesmo com o surgimento da LDB, Fundef e PNE, a gestão educacional a nível federal em meados da década de 1990 indicava uma gestão centralizada e de pouca eficácia pedagógica para provocar mudanças substantivas nos sistemas de ensino, o que gerou um cenário de hibridismo no plano das concepções e das práticas que, historicamente no Brasil, resulta em realidades educacionais excludentes e seletivas.

A eleição para presidência da república de Luiz Inácio Lula da Silva representou uma expectativa de rompimento com a tradicional direita neoliberal brasileira, uma vez que o candidato petista foi eleito por representar principalmente demandas populares e um maciço apoio das massas, além de carregar um discurso esquerdista presente desde a fundação do Partido dos Trabalhadores (SALLUM JR., 2008).

O período de governo do Lula tem características próprias no qual a compreensão acontece através do entendimento profundo do processo de construção de uma nova forma de Estado iniciada em 1995 no Brasil, pois foi ao mesmo tempo democrático do ponto de vista das relações com a sociedade e liberal na perspectiva econômica (SALLUM JR., 2008).

São dois os principais alicerces presentes nesse período: a Constituição democrática de 1988, com suas condições políticas e sociais garantidas ao povo, e o Plano Real de estabilização monetária, lançado em 1994, com um conjunto de reformas liberais que ultrapassaram a era Fernando Henrique Cardoso e estiveram presentes principalmente no primeiro governo lulista (SALLUM JR., 2008).

Os programas sociais elaborados pelo governo Lula no primeiro mandato podem ser considerados em grande parte como afirmativos, assistenciais ou compensatórios, e muitos foram desenvolvidos tendo como público alvo os mais pobres e os grupos sociais étnico- culturais historicamente excluídos (OLIVEIRA, 2009).

O setor da educação exerceu papel crucial na implementação de programas sociais dirigidos aos mais necessitados, pois algumas ações assistenciais estavam vinculadas à frequência escolar, como o Bolsa Família (programa de transferência de renda que condiciona, entre outros termos, o recebimento pecuniário pelas famílias à manutenção de crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos com frequência escolar) e o ProJovem (Programa Nacional de Jovens, voltado para jovens entre 15 e 29 anos, composto por cursos de qualificação profissional e social, em que os participantes recebem uma bolsa auxílio de R$ 100,00, desde que frequentem pelo menos 75% das aulas) (OLIVEIRA, 2009).

As execuções foram descentralizadas e repassadas ao nível local, através de acordos firmados entre o governo federal, estados e municípios. Essa área cumpriu relevante tarefa na

39 distribuição de renda aos assistidos, exercendo muitas vezes importante papel na seleção de públicos-alvo (OLIVEIRA, 2009).

Alguns críticos apontam que as características populistas do governo Lula se revelam pela defesa da ideia de que é possível um governo representar as diferentes classes sociais principalmente no campo social, episódio que indica os contornos do projeto de poder petista (MARQUES; MENDES, 2006).

É fato histórico que o então presidente Lula não cessou radicalmente a política econômica do seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, sendo esta uma garantia dada ao mercado para acalmar os ânimos daqueles que temiam sua eleição com receio de uma ação nacionalista (MARQUES; MENDES, 2006).

Contudo, é sabido que o governo petista iniciado em 2002 promoveu programas de distribuição de renda que mudaram o cenário de classes sociais brasileiras, utilizando de conceitos de investimentos públicos consolidados pelo economista inglês John Maynard Keynes e se aproximando de uma gestão desenvolvimentistas, porém, ainda alinhada com o mercado neoliberal (MARQUES; MENDES, 2006).

3.2 A POLÍTICA EDUCACIONAL NO PRIMEIRO MANDATO PRESIDENCIAL DE