• Nenhum resultado encontrado

Programa de Formação Superior e Licenciaturas Indígenas – Prolind

4 A EMERGÊNCIA DO DISCURSO DA DIVERSIDADE NAS POLÍTICAS

6.2 PROGRAMAS DE INCENTIVO À DIVERSIDADE NA GESTÃO EDUCACIONAL

6.2.10 Programa de Formação Superior e Licenciaturas Indígenas – Prolind

Conforme o site oficial do Ministério da Educação, o Prolind - Programa de Formação Superior e Licenciaturas Indígenas - foi elaborado em 2005 a fim de fomentar a criação de cursos de formação para educadores indígenas que integrem ensino, pesquisa e extensão, ao mesmo tempo em que estimulem o estudo de temas como as línguas maternas, a gestão e a sustentabilidade dos territórios e a cultura dos povos.

Ainda segundo o site do MEC, a seleção de projetos de cursos era feita por edital, sendo um programa fruto da iniciativa do Ministério da Educação, desenvolvida pelas secretarias de Educação Superior (Sesu), de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade (Secad), de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) e pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), em parceria com universidades federais, institutos federais de educação, ciência e tecnologia e instituições estaduais públicas.

O processo de formação proposto pelo Programa buscou possibilitar que os professores indígenas desenvolvam competências profissionais que lhes permitam atuar responsável e criticamente dentro da realidade intercultural, contexto em que as escolas que atendem aos índios estão inseridas, além de buscar estratégias para promover a interação dos diversos saberes que se apresentam e se entrelaçam no processo escolar, aliando os conhecimentos acadêmicos e universais a que todo estudante deve ter acesso e o saber étnico próprio do seu meio cultural que assume crescente relevância nos contextos escolares (TORQUATO JÚNIOR, 2015).

Atualmente, o conteúdo curricular da formação de professores indígenas deve considerar a territorialidade como categoria central a ser tratada em todas as dimensões dos componentes curriculares, o conhecimento típico e seus modos de produção e expressão, e a presença constante e ativa de sábios índios. Além disso, a escola deve estar em consonância com o conteúdo da formação do professor, com a interculturalidade, com o bilinguismo ou

106 multilinguismo, bem como nas especificidades dos contextos socioculturais expressas nas demandas educacionais e na participação comunitária (BRASIL, 2014).

6.2.10.1 Discurso do MEC

O documento do Prolind analisado é o edital de convocação nº 5 de 2005, mesmo ano de lançamento do programa, que contém suas diretrizes político-pedagógicas e convocou Instituições de Educação Superior públicas, federais ou não, a apresentarem propostas de projetos de Cursos de Licenciaturas específicas para formação de professores indígenas.

No ano de 2006 não houve edital, sendo o próximo lançado apenas em 2008, porém, nesse mesmo ano houve o Seminário Nacional de Avaliação do Prolind, realizado pelo MEC em parceria com o Programa Trilhas de Conhecimentos, a Funai e a Universidade de Brasília (UNB), em que foram debatidas as experiências de cursos de licenciatura indígena e elaboradas por meio do edital de 2005 e demandas para políticas públicas na área (BARNES, 2010).

Conforme o edital, o Prolind é uma iniciativa de formulação de programas especiais para formação de estudantes indígenas em nível superior e pelo acompanhamento da execução das políticas de educação escolar voltadas a esse grupo social.

O Prolind teve como meta o fomento à implantação de cursos de licenciaturas específicas para a formação de docentes indígenas que integrem ensino, pesquisa e extensão e promovam a valorização do estudo de temas étnicos relevantes, tais como línguas maternas, gestão e sustentabilidade das terras e das culturas desses povos.

O Programa também deu suporte à permanência de estudantes indígenas nas IES públicas federais e não federais a fim de desenvolver ações de ensino, pesquisa e extensão universitária integradas nas comunidades de origem dos estudantes indígenas, ofertando bolsas de estudo para alunos da graduação.

6.2.10.2 Análise dos Discursos do Programa de Identidade Étnica e Cultural dos Povos Indígenas - Educação Indígena e Prolind

Foi possível identificar que a intenção do Ministério da Educação ao significar a diversidade nos Programa de Educação Indígena e o Prolind teve o sentido de atender as

107 demandas específicas de um grupo particular, homogêneos em características culturais e costumes.

Laclau (2011) defende a ideia de que o sujeito político enquanto unidade racional e transparente que transmite um significado homogêneo para o campo total da conduta do indivíduo sofreu uma ruptura, sendo desprovido de um significado unificado e passando a ocupar posições diferentes no interior de um sistema, que seria o social discursivo.

Logo, o agente social pode ocupar várias posições de sujeito através das quais o grupo social é constituído, no âmbito de várias formações discursivas.

Segundo Laclau (2011), não há nenhuma relação prévia necessária entre os discursos que formam o indígena, por exemplo, enquanto nativo ou nômade, e as articulações discursivas que determinam sua atitude em relação à organização social, hierárquica e outras esferas nas quais o agente seja ativo.

Torna-se, portanto, impossível falar do agente social como se fosse uma entidade unificada e homogênea. Ao invés disso, é preciso abordar o agente social como uma pluralidade, dependente das várias posições de sujeito, através das quais o indivíduo é constituído, no âmbito de várias formações discursivas.

Para Laclau (1993), não é possível haver uma particularidade pura, que descarte inteiramente qualquer tipo de princípio universal, devido ao fato de que afirmar uma identidade puramente diferencial e distinta é o mesmo que afirmar que essa formação se constitui por meio de pluralismos e diferenças culturais, uma vez que a referência ao outro está presente com uma função constitutiva da construção identitária.

Isto significa que parte da definição de uma identidade está na construção de um sistema complexo de relações com outros grupos reguladas por princípios que transcendem todos os particularismos do conjunto.

Ao afirmar o sentido da diversidade como o direito da etnia indígena à autonomia cultural foi um argumento utilizado pelos programas do MEC que apenas se justifica em bases universais, uma vez que quanto mais particular for um grupo, menores são as condições de controlar o ambiente global em que está inserido e mais universalmente fundamentado terá de ser a justificativa de suas pretensões.

Além disso, uma vez que o outro é fundamental para constituir uma identidade, e se ambos estão apenas numa relação diferencial, há a sanção do status quo daquela relação intergrupal, sem interferência de ambas as partes em um ou outro, ou seja, cada

108 particularidade não desejaria nada além do que já é e possui, por meio de um desenvolvimento separado.

A posição discursiva da diversidade no Programa de Educação Indígena e no Prolind se estruturava naquele momento por meio da reivindicação de condições que os indígenas brasileiros não possuíam como o acesso à educação, contra uma ordem dominante que os excluía e os colocavam numa posição marginalizada confinados a um gueto.

O argumento em defesa da educação indígena foi estruturado com base na diversidade no sentido de sociodiversidade, multiculturalidade e interculturalidade dentro do contexto dos programas.

Os indígenas brasileiros historicamente sofreram com conflitos fundiários e deficiências na demarcação de terras, porém, este cenário exterior foi constitutivo de uma autoafirmação étnica que produziu um senso de pertencimento, defesa cultural e mobilização social por parte desse grupo, independente da tribo de origem.

Ao se afirmarem como identidade política, os indígenas organizam suas demandas próprias e reivindicaram a participação social, assim como outros grupos excluídos, podendo construir uma cadeia de equivalência em contraposição ao sistema que os exclui, formando uma ordem populista.

Mais uma vez, a solução é trazida pelo surgimento do povo, como um conjunto de demandas individuais articuladas, em que suas particularidades se anulam em nome de uma reivindicação maior (inclusão social), sem oposição ao poder opressor.

O hibridismo faz parte da construção do povo, estando ainda mais evidente na sociedade brasileira devido a sua heterogeneidade desde sua formação. Portanto, a demanda indígena isoladamente possui menor representação política que posicionada numa estrutura equivalencial de demanda popular, de caráter hegemônico e em disputa como um particularismo que deseja se posicionar como universal.

109

Figura 5 - Campo discursivo e sentidos em torno do significante vazio Diversidade no discurso do Programa Educação Indígena e Prolind

Fonte: Elaboração da autora.