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4 A EMERGÊNCIA DO DISCURSO DA DIVERSIDADE NAS POLÍTICAS

5.4 MÉTODO DE ANÁLISE DE DADOS

A base que orienta esse trabalho, como afirmado anteriormente, são os aspectos teóricos e metodológicos desenvolvidos na teoria do discurso por Ernesto Laclau, a fim de encontrar o sentido da diversidade nos discursos do MEC e como ocorre o populismo nesse contexto, dentro do recorte temporal estimado.

Ernesto Laclau criou uma teoria de análise política, mas não elaborou um método de exame, pois, de acordo com Laclau e Mouffe (2015), a ação de investigar o social não pode ser metodologicamente entendida como descrever a realidade.

Ao pesquisador cabe compreender a realidade não como um fenômeno natural cujas leis observadas podem ser generalizadas a todo e qualquer espaço social, e sim como uma construção discursiva flutuante, uma vez que a sociedade é composta por significados e práticas contingentes construídas discursivamente.

Como consequência, utilizar o método da teoria do discurso laclauniana ganha aspectos particulares sem a intenção de criar uma ferramenta precisa, rígida e definitiva, uma vez que o objetivo é utilizar um conjunto de noções teóricas ressignificadas que permitam compreender o objeto de estudo.

69 Segundo Wodak e Meyer (2001), Laclau faz uso de uma abordagem de análise dispositiva do discurso, voltada para origem da noção discursiva, baseada nas teorias estruturalistas do fenômeno discursivo, em consonância com Foucault, sendo uma abordagem epistemológica construtivista, negando qualquer realidade construída fora do discurso.

Ainda conforme os estudos de Wodak e Meyer (2001), os discursos fornecem o conhecimento e os conceitos de aplicação para a formação da realidade, bem como outras noções de sua constituição, sendo o primeiro a base da ação formativa que molda o real, que por sua vez se relaciona com a consciência. Logo, o discurso deve ser tratado como uma prática que sistematicamente forma os objetos a que se referem ou falam.

Se o discurso se retira da realidade em que foi formado, ou seja, se um significado fornecido for anulado, a parte real correspondente se torna sem sentido, ao passo que se o conhecimento contido em uma formação discursiva muda, outros significados são alocados para a mesma, a transformando em outro objeto e perdendo sua identidade anterior (WODAK; MEYER, 2001).

Para Laclau e Mouffe (2015), o discurso não se refere apenas a textos no sentido estrito, sendo um conjunto de fenômenos da produção societária de significado em que uma sociedade como tal é baseada, não restringindo o discursivo a uma dimensão do social, mas como tendo o mesmo significado que este, não havendo nada na realidade que seja determinado fora do discursivo.

Ao pautar o estudo na Teoria do Discurso de Ernesto Laclau, a pesquisa se caracteriza como pós-estrutural ao dar centralidade à linguagem na vida social humana como significado de autorreflexão, na inseparabilidade entre questões socioculturais e de poder, na defesa de que o significado não é definitivamente apropriado pelo significante, nem é pré-existente, é social e culturalmente produzido, e dá ênfase à indeterminação nos processos sociais e políticos (LEITE, 2014).

No presente estudo o sujeito político possui elementos pós-estruturalistas ao se constituir como identidades inacabadas, abertas, ambíguas e não essencialistas, por serem constituídas e baseadas em elementos caracterizados pela diferença e pela oposição, fundados nos antagonismos⁄agonismos subjacentes às relações de poder intrínsecas às relações sociais (LACLAU; MOUFFE, 2015).

Ernesto Laclau (2011) defende que não há verdade ou valor independente de um contexto ao se considerar que as identidades são formadas em dependência de um sistema diferencial discursivamente constituído, ou seja, nenhuma delas chegará a se constituir

70 plenamente por causa de aspectos antagônicos⁄agônicos deslocados em um discurso, pois os sentidos negados na dimensão política ficam sempre em circulação, mas não são eliminados das relações sociais por serem inseparáveis dos elementos identitários.

Analisar o tema diversidade no contexto dos programas do Ministério da Educação alicerçado no método epistemológico laclauniano é partir do princípio que essa temática ou mesmo essa palavra não se fecha em si mesma porque há um movimento de sutura que impede sua totalidade social, ou seja, a percepção de que seu sentido pode ser dado de variadas formas, levando em conta que os significados são construídos na prática discursiva dos diferentes contextos socioculturais.

Em outras palavras, eleger o tema diversidade é um meio de compreender os questionamentos da sociedade moderna ao refletir sobre inclusão e exclusão, a supressão de vozes e domínio do poder e diferenças, ao analisar políticas educacionais que abordam grupos sociais nesses requisitos. Portanto, é importante o uso de ferramentas teóricas capazes de esclarecer a heterogeneidade, a não suturação do social e a possibilidade de novos horizontes em favor de mudanças no desenho societário.

Os discursos que compõem essa pesquisa são os pronunciamentos do Ministério da Educação realizados por meio de publicações escritas oficiais, que contenham o conteúdo explicativo de cada programa direcionado ao fomento da diversidade no primeiro governo Lula. A escolha desses documentos ocorreu por conterem a visão, os objetivos, as estratégias e diretrizes do MEC enquanto organismo público federal responsável pela gestão educacional brasileira.

Inicialmente, foi feito o levantamento dos documentos e a leitura, seguindo com a identificação de elementos fixadores de sentidos e a análise utilizando componentes formadores da Teoria do Discurso de Laclau, entre eles: pontos nodais, agonismos⁄antagonismos, significantes vazios e flutuantes, deslocamento de sentidos, falta, elemento exterior constitutivo, articulação, discursos, formação discursiva e hegemonia.

Dessa forma é possível concluir quais sentidos de diversidade estiveram presentes nos discursos dos programas do Ministério da Educação voltados a essa temática dentro do corte temporal de 2003 a 2006.

71 6 ANÁLISE DO DISCURSO DOS PROGRAMAS EDUCACIONAIS DE INCENTIVO À DIVERSIDADE NO PRIMEIRO GOVERNO LULA (2003-2006)