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4 A EMERGÊNCIA DO DISCURSO DA DIVERSIDADE NAS POLÍTICAS

6.2 PROGRAMAS DE INCENTIVO À DIVERSIDADE NA GESTÃO EDUCACIONAL

6.2.6 Programa Brasil Quilombola

Em 2004, o governo federal comandado pelo então presidente Lula criou o Programa Brasil Quilombola como uma política de Estado para as áreas remanescentes de quilombos, abrangendo um agrupamento de atos interdependentes aos diversos órgãos da estrutura

Diversidade

Inclusão educacional e social de pessoas com necessidades

93 governamental, com recursos devidamente previstos na lei orçamentária anual do Plano Plurianual que compreendeu o período de 2004 a 2007.

Vieira (2015) afirma que é a partir do governo Lula que ocorre o início da efetiva execução de políticas públicas de corte racial no país, em parceria com a atuação dos movimentos negros e alicerçada pela recém-criada Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – Seppir.

O MEC atuou no Programa Brasil Quilombola com a função de definir as prioridades da qualidade e da democratização do ensino da educação infantil até a superior, ao mesmo tempo em que buscou criar mecanismos para gerar oferta educacional para jovens e adultos ao almejar alfabetizar a população negra acima de 15 anos de idade, com ênfase no combate ao analfabetismo, além de incentivar a continuidade de estudos a fim de que os quilombolas conquistem a condição de exercer sua plena cidadania (BRASIL, 2004).

De acordo com Rodrigues (2010), o Programa Brasil Quilombola é um conjunto de ações descentralizadas entre órgãos dos poderes federal, estadual, municipal, além de organizações da sociedade civil, coordenadas pela Seppir, por meio da Subsecretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais.

O programa foi estruturado em quatro principais eixos: regularização fundiária; infraestrutura e serviços; desenvolvimento econômico e social e controle e participação da sociedade (RODRIGUES, 2010).

Conforme estudos de Barbosa, Braga e Rodrigues (2016), as comunidades quilombolas são grupos étnicos majoritariamente afrodescendentes que vivem em espaços urbanos ou rurais que atribuem a si próprios a descendência dos antigos quilombolas, dando notável importância a suas relações com a terra, o parentesco, o território, a ancestralidade e tradições culturais.

Prosseguindo com base nas análises de Barbosa, Braga e Rodrigues (2016), a questão dos quilombolas, principalmente sobre temas agrários, deixou de ser um “estado de coisa” para ser uma problemática política, tornando-se foco de decisões legais como foi o caso da inclusão do direito à titulação de suas terras na Constituição de 1988. Porém, apenas em 2004 o governo federal destina de fato um programa voltado diretamente à assistência dessas comunidades.

O acesso às políticas públicas capazes de atenderem suas demandas segue como pauta principal nas reivindicações dos diversos grupos sociais que historicamente não participam equitativamente desse processo, como é o caso das populações afrodescendentes e

94 comunidades indígenas. Em relação à questão agrária, o Programa apresenta a importância da regularização fundiária tomando por base o significado do território como primeiro elemento entre as comunidades e a construção de identidades (VIEIRA, 2015).

6.2.6.1 Discurso do MEC

Para análise do discurso do Programa Brasil Quilombola foram selecionadas duas publicações oficiais lançadas pelo governo federal, através da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), na primeira gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, nos anos de 2003 e 2004 respectivamente. Em ambos os documentos são descritas as ações sob a responsabilidade do MEC no âmbito dessa política pública.

Na publicação de 2003 há uma referência direta às diretrizes e ações do Ministério da Educação no âmbito do Programa Brasil Quilombola, com destaque para a promoção da igualdade racial como um dos pilares de atuação do governo federal comandado pelo então presidente Lula.

Consta no documento que a educação quilombola teve como a principal meta o fortalecimento do ensino e aprendizagem de crianças, jovens e adultos, com ações patrocinadas pelo fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e MEC, tais como: apoio à distribuição de material didático e paradidático para o nível fundamental em escolas situadas nos quilombos; suporte na capacitação de professores para atuação nessas comunidades; auxílio na ampliação e melhoria da rede física escolar nas áreas quilombolas.

O Ministério da Educação atuou através de duas principais ações para proporcionar o acesso à alfabetização, sendo estes o Quilombola Venha Ler e Escrever e o Brasil Alfabetizado.

A fim de facilitar a realização dos processos de trabalho envolvidos nesses projetos foi criada uma Agenda Social Quilombola, envolvendo ações a serem executadas, conforme consta no documento publicado em 2003, como a distribuição de 280 mil exemplares de materiais didáticos com conteúdos relacionados à história e à cultura africana e afro-brasileira, a capacitação de 5.400 professores da rede pública e a construção de cerca de 950 salas de aula para suprir a demanda dos estudantes quilombolas, a partir da elaboração de propostas de convênios com governos municipais e estaduais,

Conforme o documento publicado em 2004 pela Seppir, que explana as principais diretrizes do Programa, o governo Lula buscou readequar os princípios da política que orienta

95 a sua ação para as comunidades remanescentes de quilombo ao oportunizar a busca de superação dos entraves jurídicos, orçamentários e operacionais, que impediam a plena realização dos seus objetivos.

O reconhecimento legal de direitos específicos das comunidades quilombolas gerou proposições legislativas em âmbitos federal e estadual, promovendo a edição de portarias e normas de procedimentos administrativos conforme a formulação de uma política de promoção social para este segmento.

O Programa manteve uma interlocução contínua com os entes federativos e as representações dos órgãos federais nos estados, como o Incra, o Ibama, as Delegacias Regionais do Trabalho, a Funasa, entre outros, com objetivo de descentralizar e agilizar as respostas do governo para as comunidades remanescentes de quilombo.

O Brasil Quilombola foi estabelecido com base em quatro eixos para o delineamento das ações junto às comunidades remanescentes de quilombo. O primeiro é a regularização fundiária, relativa à resolução das questões de emissão do título de posse das terras desses grupos como uma alternativa de desenvolvimento; o segundo aborda a infraestrutura e serviços ao consolidar mecanismos efetivos para destinação de obras estruturais e construção de equipamentos sociais.

Além desses, há um terceiro eixo envolvendo o desenvolvimento econômico e da sociedade, ao firmar um modelo de crescimento sustentável baseado nas características territoriais e na identidade coletiva, visando à sustentabilidade ambiental, societária, cultural, econômica e política dos quilombolas; por fim, o foco no controle e participação social ao estimular a atuação dos representantes quilombolas nos fóruns locais e nacionais de políticas públicas, promovendo o seu acesso ao conjunto das decisões governamentais e seu envolvimento no monitoramento das ações sociais.