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De acordo com Cintra (2012), a Ponte estaiada, que tem 1,8 Km de exten-

são, foi projetada pelo engenheiro italiano Mario de Miranda35 e foi construída

pelo consórcio Queiroz Galvão/Construbase. Miranda, M. (2008, p. 57) resume as características da Ponte por ele projetada:

Uma nova ponte no rio Potengi, construída na sua desembocadura no Oceano Atlântico, permitirá ampliar a área urbana até o litoral norte, com consequências positivas para o desenvolvimento econômico de toda a área. A presença do porto na desembocadura do rio requereu uma elevação do vão central de 58 m, compatível com o trânsito de grandes navios. A nova ponte é composta por dois viadutos de acesso e uma ponte estaiada central. A travessia total é de 178 m. Os viadutos de acesso têm vãos de 43 m, enquanto a ponte estaiada possui vão central de 212 m e dois vãos de aproximação de 94 m cada um, perfazendo um total de 400 m. Toda a estrutura foi executada em concreto protendido e é muito esbelta. O tabuleiro é formado por um par de vigas laterais, uma série de vigas transversais e uma laje de concreto. Os pilares principais, que têm aproximadamente a mesma altura, estão conectado as ao nível do tabuleiro por uma grande viga transversal que reforça o sistema dando-lhe a característica forma de H. [...] Os cabos são formados por um trançado de cordões de 15,7 mm, galvanizados, e protegidos exteriormente por 35 O Studio Di Miranda Associati é uma firma especializada em consultoria de Engenharia e

tubos de HDPE. [...] Os pilares principais foram construídos com o sistema de fôrma deslizante assim como a maior parte dos pilares36.

De acordo com O’Connor (1976, p. 141), as pontes estaiadas têm, basicamente, três soluções: em leque, em harpa e em leque modificado. No projeto da Ponte Newton Navarro, a solução adotada foi a do leque modificado, que “[...] tem as interseções dos cabos parcialmente separadas nas torres e é intermediário entre o leque e a harpa”. Diz o autor que as pontes estaiadas são constituídas de dois sistemas: um de vigas principais “[...] ao nível do tabuleiro apoiadas nos encontros e nos pilares, e de um sistema de cabos retos que partem dos acessos, passam sobre uma ou duas torres e dirigem-se ao vão principal”. Informa ainda que várias pontes antigas utilizaram a solução de cabos inclinados, mas que o desenvolvimento da tecnologia do estaiamento é recente e ocorreu primeiramente na Alemanha Ocidental, onde foram construídas nove pontes importantes entre 1955 e 1969 (O’CONNOR, 1976, p. 410).

Conforme Nakamura (2013, p. 1):

O uso de estruturas estaiadas para transpor obstáculos não é propriamente uma novidade. Pelo menos desde os anos 1940 pontes e passarelas sustentadas por cabos de aço (estais) são erguidas em todo o mundo para vencer médios e grandes vãos. Mas nos últimos anos, esse sistema construtivo vem apontando, no Brasil, como principal tendência para a construção de pontes e viadutos, em detrimento das pontes pênseis e fixas. As razões para isso vão desde a maior preocupação dos administradores públicos com o impacto estético desses grandes elementos na estética das cidades, ao aperfeiçoamento da tecnologia, que culminou em aços de alta resistência, estais e ancoragens mais avançados, bem como softwares que facilitaram e análise das estruturas.

Scalzi (1976) apresenta diversas características das pontes estaiadas e suas vantagens e desvantagens em relação aos outros tipos. Afirma que esta solução construtiva permite maior flexibilidade nas soluções para a superação de grandes vãos, a economia na construção, uma maior facilidade na manutenção e o fato

36 Do original, em inglês: The new bridge over the Potengi river, built nearby its outlet in the Atlantic

ocean, will permit the expansion of the urban area towards the north littoral, with positive fallout for the entire area’s economic development. The port on the interior of the mouth required a roadway elevation (58 m) compatible with the transit of large ships. The new bridge includes two access viaducts and a central cable-stayed-bridge; the crossing’s total length is 1782 m. The access viaducts run on 43.20 m spans, while the main (cable-stayed) bridge has a 212 m centre span and two 94 m approach spans, for a total length of 400 m. The structure is entirely of prestressed concrete and features a high slenderness. The deck is formed of a pair of side beams, a series of crosspieces and a concrete slab.The piers and pylons, of about the same height, are connected at decklevel by a huge crosspiece that grants stiffness to the transverse system by configuring a characteristic H shape. […] The stays are pairs of parallel strands 15.7 mm in diameter, galvanized, polyvinyl-chlorided and protected on the outside by HDPE pipes. […] The mains piers were built using climbing forms, just a large parts of the pylons were. Tradução de Luciano Barbosa.

de ser desnecessário qualquer tipo de técnica especial para o erguimento das estruturas, em virtude de poderem ser utilizados métodos convencionais de construção. Desperta a atenção o trecho no qual o autor apresenta visão peculiar das qualidades das pontes estaiadas:

Nos dias de hoje em que há uma consciência ecológica e o desejo de estar em harmonia com a natureza, a ponte estaiada possui aquela qualidade embutida onde a “forma segue a função”. Sua beleza inerente emana dessa qualidade e a ponte combina harmoniosamente com o ambiente natural37. (SCALZI, 1976, p. 16).

Percebe-se que as qualidades inerentes apontadas pelos autores estudados, características da solução dos estaios, apontam para aspectos que vão além daqueles peculiares às soluções meramente construtivas apontadas pela boa engenharia e normatizações técnicas padronizantes. O’Connor, Nakamura e Scalzi indicam que as pontes estaiadas podem ser soluções adotadas pelos construtores que buscam mais que custos menores, economia de material e/ou soluções racionais para edificações do tipo. Elas também podem ser uma opção estética e até ideológica, tendo em vista os aspectos plástico-formais resultantes do design do cabeamento e da disposição dos “leques”, que podem configurar uma harmonização com a paisagem natural. Um casamento, portanto, entre a boa técnica e o design, que permite liberdade de escolha na solução estrutural para cada situação específica. Como será visto a seguir, no caso estudado, um terceiro ator compõe esse trio de protagonistas: a construção do ícone urbano a serviço do turismo e do discurso político.