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Fotografia 2 – Feira de artesanato da Fortaleza dos Reis Magos

Autor: Luciano Barbosa, 2013

Acesso

Segundo Barbosa (2013, p. 2), Moacyr Gomes informa em sua entrevista que:

O Forte dos Reis Magos teve nos anos 1960 uma reforma dentro do projeto de preservação e aproveitamento turístico. Procurou-se dar uma utilidade ao forte do ponto de vista de atrair a visitação. Eu fiz parte do grupo de arquitetos que fez a primeira ponte de aproximação na Praia do Forte, que eram João Maurício e o saudoso Daniel Hollanda, e eu vinha chegando naquela época.

A “ponte de aproximação”, referida por Moacyr Gomes, é descrita por Galvão (1999, p. 182-184) como “passadouro”. De acordo com o autor, a obra foi projetada e construída pela firma Planejamento Geral de Arquitetura e teve proposta, projeto e contratos encabeçados pelo arquiteto Moacyr Gomes da Costa. Aprovada pelo Patrimônio Histórico e alterada por sugestões do arquiteto Lúcio Costa, a obra foi iniciada em 1965 e concluída no mesmo ano.

Tratava-se, portanto, de dotar a Fortaleza de um equipamento essencial à sua visitação, que ligava a calçada da Avenida Café Filho à entrada principal da edificação. Tratava-se de dotar a cidade da primeira obra de mobilidade voltada

especificamente para um monumento histórico, no que viria a ser o início da exploração turística dos marcos arquitetônicos de Natal. “E por esse passadouro a Fortaleza ficou acessível ao povo, embora nas fotografias aéreas pareça uma desgraciosa cauda. O que importa é a sua utilidade na freqüência popular ao velho castelo” (Galvão, 1999, p. 184). Ao final dos anos 1970, quando a frequência à Fortaleza era de cerca de 25 turistas por dia, a ponte de aproximação ameaçava ruir, o que tornou a visitação precária e, por muitas vezes, só ocorria na maré baixa quando os visitantes caminhavam no leito seco do mar (TRIBUNA DO NORTE, 11 de julho de 1979, p. 3). Nos anos subsequentes, houve, pelo menos nos discursos, preocupação com a sua recuperação, o que levou à realização de obras paliativas que recuperaram parte da sua estrutura. Finalmente, no início dos anos 1980, a ponte foi demolida e substituída por um novo acesso por terra que permanece até os dias de hoje como o único acesso à Fortaleza.

Hazan (2003, p. 2) nos diz que: “em diversos momentos da história das cidades, governantes utilizaram construções para atribuir uma nova vitalidade aos espaços urbanos, seja através de templos, seja através de monumentos”. No caso da Fortaleza dos Reis Magos, entende-seque houve essa busca por uma nova “vitalidade” movida por uma real ligação afetiva do público em geral com o monumento, pelo discurso político e por interesses econômicos voltados para uma potencialidade turística que se percebia nos anos 1960 e que se confirmou a partir dos anos 1980. Potencialidade justificada e realizada em virtude da localização da Fortaleza, na ponta da entrada do rio Potengi e do Porto de Natal. No entanto, mesmo com todo o discurso de valorização do mais importante patrimônio histórico construído de Natal, ao que parece, o poder público, por meio dos seus diversos órgãos de administração e fomento à cultura, tem relegado a Fortaleza a um novo período de esquecimento e deterioração. Nas palavras de F, um dos profissionais da arquitetura entrevistados: “a Fortaleza parece ser uma coisa mais distante da gente, a gente não frequenta, não vai, e mesmo quando a gente passa pela ponte a gente não olha para aquele lado”.

Conforme a Tribuna do Norte (8 de junho de 2013), a linha do tempo que apresenta a “[...] disputa pela administração do Forte dos Reis Magos” é a seguinte:

2011

Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) aprova projeto do Governo Estadual para restauração da Fortaleza dos Reis Magos, orçado em R$ 150 mil. Os recursos não foram liberados e o projeto não saiu do papel.

2012

Fevereiro

Durante leitura da mensagem anual na Assembleia Legislativa, Governo anuncia incrementos na reforma do Forte, totalizando R$ 250 mil em investimentos. Serviço não realizado.

Agosto

Inspeção do Ministério Público para averiguar condições de conservação do Forte revela que documentos de cessão estavam vencidos há 37 anos. A constatação impede que o MPRN assine acordo para liberação de recursos para reparos emergenciais no monumento.

Setembro

Iphan nacional reapresenta pedido de cessão da Fortaleza dos Reis Magos ao Patrimônio da União.

Outubro

Governo do RN apresenta pré-projeto para restauração do Forte ao Ministério da Cultura, que solicita parecer do Ibram.

Dezembro

Ibram elabora documento com três páginas, onde levanta 13 questões sobre o projeto apresentado pelo Governo Estadual. O órgão federal aponta necessidade de maior detalhamento da proposta.

2013

Março

Iphan-RN apresenta projeto de restauração orçado em R$ 8 milhões para a Fortaleza dos Reis Magoscom recursos do PAC das Cidades Históricas. 17 de abril.

Após reunião em Brasília entre MinC, Governo do RN, Iphan nacional e Patrimônio da União, fica definido que a gestão do Forte seria transferida para o Iphan-RN.

24 de abril

Fundação José Augusto nega transferência da administração do Forte para o Iphan-RN e convoca coletiva de imprensa para comunicar criação de uma comissão adminis- trativa para conduzir projeto de restauração.

02 de maio

Em entrevista à Tribuna do Norte, a superintendente da Secretaria do Patrimônio da União no RN, Yeda Cunha, confirmou que a transferência da gestão para o Iphan-RN era “só questão de tempo e trâmites burocráticos”.

Em junho de 2013, a Fortaleza dos Reis Magos foi interditada a pedido do IPHAN-RN, o que constitui mais um desdobramento da incapacidade burocrática e administrativa dos políticos e tecnocratas de plantão que parecem não entender – ou não querer entender – a importância do Patrimônio Histórico de Natal, aqui representado pela Fortaleza, que constitui-se naquilo que de essencial buscam as cidades competitivas e as cidades que preocupam-se com a formação cultural dos seus povos, que são, respectivamente, a busca pela peculiaridade do atributo do lugar e o artefato enquanto condutor da história e dos saberes autóctones do povo natalense e Potiguar, de um modo geral.

Não é difícil entender que o sentido de uma naturalidade – ou de uma nacio- nalidade – passa pelo entendimento do saber pensar e do saber fazer de um povo, que costuram e ordenam, através dos tempos, os avanços tecnológicos e sociais desse povo, mesmo em terras de gente miscigenada e de imigrantes como é Natal, o que pode resultar no nascimento de uma identidade local na qual a sociedade heterogênea se reconheça. São as histórias e a construção de valores que nos levam a refletir sobre esse povo e sobre o conhecimento por ele produzido, que resultam num capital de enorme potencial, com capacidades para transformar a paisagem urbana e conduzir o desenvolvimento da economia local.

De acordo com a Tribuna do Norte (18 de maio de 2014), estão previstos para acontecer em breve serviços de restauração, revitalização e adequação da Fortaleza, com recursos do PAC Cidades Históricas, que serão administrados pelo Iphan-RN. Atualmente, estão em elaboração os projetos para as obras que têm orçamento de R$ 8,7 milhões. Esse é mais um desdobramento dessa sucessão de desencontros em torno da administração da velha Fortaleza que continua, até hoje, esperando melhores dias.