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Compreende-se ainda que os investimentos na Copa do Mundo, que vieram como consequência da escolha de Natal como uma das sedes do evento, não esta- vam previstos nos planos estratégicos elaborados para Natal e RM, ao contrário de outros casos, como o plano estratégico elaborado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro que cita, claramente, que uma das suas diretrizes é o apoio aos megaeventos, tais como as Olimpíadas, entre outros (RIO DE JANEIRO. SECRETARIA DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E GESTÃO, 2012, p. 89). Ao que parece, no caso de Natal, prevaleceu o oportunismo político gerado pelo evento da Copa, numa clara improvisação de metas já que não havia, previamente, qualquer intenção voltada para a promoção dos ditos grandes eventos, e tão pouco foi prescrita a construção de edificações icônicas, de impacto, monumentais. Entende-se que aqui prevaleceu o já mencionado “urbanismo flexível de projetos”, conforme Compans (2005, p. 123), que ocorre fora do escopo de um plano maior, estratégico ou não, que torna empírico o que deveria ser planejado, pensado, discutido. Em nome da urgência e dos encargos assumidos com a FIFA, passou-se um verdadeiro rolo compressor sobre a cidadania. É o que se percebe na reportagem do jornal Tribuna

do Norte (20 de novembro de 2009), que apresenta a visão da então governadora:

A governadora Wilma de Faria alertou para a importância de cumprir os prazos estipulados pela Federação Internacional de Futebol. “Estamos discutindo com a prefeitura a melhor forma de viabilizar esse importante projeto que é trazer a copa 2014 para o Rio Grande do Norte”, frisou, alertando que até 2012 a obra do Estádio das Dunas deverá está (sic) concluída.

Neste caso, o cenário de crise apontado por Vainer (2002) foi criado, entre- tanto, a solução apontada não foi acordada com os cidadãos, que até hoje – mesmo após a realização da Copa – assistem perplexos, e mal informados, ao desenrolar dos acontecimentos. Em relação, ainda, ao resultado do certame licitatório, é importante salientar que a PPP, estabelecida contratualmente mediante Concessão Administrativa a uma Sociedade de Propósito Específico, foi justificada pelo

Governo do RN nos seguintes termos54:

Para se viabilizar a construção da Arena das Dunas, o Governo do Estado e a Prefeitura do Natal resolveram criar um modelo jurídico do projeto que envolve a associação entre a Administração Pública e sociedades privadas, mediante reunião de capital e conhecimento, para realização mais eficiente e viável do empreendimento.

Portanto, dá-se nos termos apontados por Compans (2005, p. 116), que afirma:

[...] a parceria público-privada é justificada por estudiosos, autoridades e plane- jadores pela suposta ausência de competência técnica, agilidade, flexibilidade e capacidade de gestão das administrações locais para implementar projetos de grande complexidade ou gerir equipamentos e serviços públicos de maneira eficiente [...].

A urgência e a eficiência, em nome da viabilidade, foram, portanto, os pretextosapresentados para o estabelecimento desta PPP e para todo o encami- nhamento da execução das obras da Arena das Dunas e de seu entorno. Sobre o caráter “societário” das PPP’s, conforme Compans (2005, p. 115), vê-se, no contrato 01/2011 já citado, que caberá ao RN o ônus do pagamento do financiamento a longo prazo e à concessionária todos os bônus relativos à administração do estádio. Uma sociedade, portanto, desigual na partilha dos lucros e com forte impacto nos cofres públicos.

De acordo com o jornal Tribuna do Norte, em reportagem assinada por Dantas, A. (2011b), a “engenharia financeira” para o financiamento da Arena foi estabelecida da seguinte forma:

O Governo do Estado pagará pela Arena das Dunas, que sediará os jogos da Copa do Mundo de 2014 em Natal, mais de R$ 1 bilhão. Embora o valor da obra seja de R$ 400 milhões, bancados pela construtora OAS através de recursos próprios e empréstimo junto ao BNDES, o desembolso dos cofres públicos potiguares para a empresa vai representar, ao término do contrato de 20 anos de concessão, o equivalente a três Arenas. A engenharia financeira feita pelo Executivo para a construção da Arena das Dunas prevê repasses mensais durante 17 anos para a construtora. Esses repasses não terão qualquer ligação e/ou compensações com a possível receita auferida pela OAS da administração compartilhada do estádio. [...] A construtora é quem vai contrair o empréstimo de R$ 300 milhões oferecidos 54 Conforme consta no parecer emitido em resposta à solicitação de Licença Prévia feita ao CONPLAM-Conselho de Planejamento Urbano e Meio Ambiente de Natal, sob o número 00000.026126/2009-62. O parecer, favorável à licença prévia, foi emitido por Wilson Luiz Cardoso, do Clube de Engenharia, e Néio Lúcio Archanjo, do IAB/RN.

pelo BNDES e investir outros R$ 100 milhões, de recursos próprios, cobrindo o custo da obra. A partir do primeiro ano de operação do estádio, ou seja, em 2014, o Governo começará a pagar os R$ 400 milhões a OAS. [...] Ao final da (sic) contrato de 20 anos, incluindo os três de carência, o Governo do Rio Grande do Norte terá desembolsado R$ 1.288.400.000.[...]

Obra será autorizada no dia 24

A governadora Rosalba Ciarlini esteve ontem na Assembleia Legislativa para entregar o projeto em que empenha parte dos royalties mensais para fazer o depósito no Fundo Garantidor da Parceria Público Privada.[...] Durante o discurso em sessão extraordi- nária, Rosalba Ciarlini destacou a importância do projeto da Copa do Mundo de 2014 em Natal e frisou que as obras estruturantes, cujos financiamentos serão liberados pelo Governo do Estado, só serão executadas pela realização do mundial em Natal. “A visibilidade que a Copa dará não é apenas para Natal, que terá o turismo fortalecido, mas vai espraiar o turismo pelo interior”, disse a governadora. Ela explicou aos deputados que o Governo fez uma adequação do projeto da Arena das Dunas e conseguiu reduzir o valor da obra em R$ 40 milhões, deixando o estádio no total de R$ 400 milhões. “Essa será uma arena multiuso. Além de jogos de futebol, a arena será um moderníssimo equipamento para convívio social e atrairá para Natal grandes eventos nacionais e internacionais”, disse a governadora.[...]

Garantias serão dadas pelo Estado

A participação financeira do Governo na obra da Arena das Dunas não ficará restrita ao pagamento de R$ 1,288 bilhão. No financiamento que a empresa OAS, vencedora da licitação, fará junto ao BNDES, o avalista será o Estado. O Governo vai entregar como garantias bens imóveis, como o Parque Aristófanes Fernandes e a sede da Academia de Polícia. Além disso, ainda serão depositados pelo Executivo R$ 70 milhões em dinheiro.

As bases contratuais revelam uma arriscada manobra que comprometerá parte do orçamento do RN com o pagamento da dívida, que ofereceu como garantia bens imóveis e os royalties do petróleo essenciais ao equilíbrio orçamentário e financeiro do estado. Comprometem-se no longo prazo recursos que, possivelmente, poderiam ser utilizados de outras formas e com outras finalidades.