• Nenhum resultado encontrado

Em relação ao objeto arquitetônico, entende-se que a exuberância formal das curvas em concreto do Parque e de sua Torre, no topo das dunas, provoca uma inusitada perspectiva que pode ser vista de diversos pontos da cidade, a quilômetros de distância. A construção em concreto armado apresenta a solidez da racionalidade modernista em contraponto à liquidez dos prédios emblemáticos da arquitetura contemporânea identificados nas cidades globais por Arantes, P. (2012), frutos da criação do time do star system. Não deve, no aspecto plástico-for- mal, ser associada à produção “genérica” das cidades globais (KOOLHAAS, 2006), consideradas suas características inerentes à solução projetual. Entretanto, o arrojo, aqui identificado na solução estrutural que conjuga balanços, cascas e gabarito, associado à intenção voltada à construção do ícone, identificada no discurso oficial, são característicos da produção arquitetônica voltada para a diferenciação e busca da construção de identidades pela atribuição de marcas, ou emblemas, às cidades. Entende-se, portanto, que esses “emblemas”, que caracterizam as cidades globais, são reproduzidos na realidade de Natal e são elementos “prestigiantes e

dinamizadores” da cidade no contexto de uma realidade na qual são adicionados, sempre, novos fragmentos que “[...] dão um sentido à cidade” (CRUZ, 2011, p. 86).

As estruturas arquitetônicas do Parque da Cidade apresentam uma outra característica peculiar à paisagem urbana das cidades globais. De acordo com Cruz (2011, p. 87), “[...] os novos monumentos urbanos não formam uma estrutura urbana, mas apenas a sua fragmentação, isolando e criando uma realidade própria no seu interior”. Enquanto esteve aberto, verificava-se na população um certo alheamento em relação ao Parque muito em função do seu isolamento físico em relação à malha urbana. Sua localização, à margem de uma avenida de grande e veloz fluxo de automóveis, favorecia uma certa invisibilidade, embora a torre, como dito, pudesse ser vista a partir de diversos pontos da cidade e mesmo a quilômetros de distância. Uma realidade interior, portanto, de forte e marcante arquitetura e de valorização da preservação ambiental, enquanto que exterior- mente a população pouco se apercebia desses elementos. Na reportagem do jornal

Tribuna do Norte (19 de julho de 2008), percebe-se o contexto de isolamento no qual

foi inserido o Parque:

A partir de amanhã os moradores de Natal vão ter mais uma opção para che- gar ao Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte. É que a Secretaria Municipal de Transporte e Trânsito Urbano (STTU) vai colocar uma linha circular de ônibus que vai permitir a integração de praticamente todos os bair- ros de Natal com o Parque e ainda vai atender aos usuários do San Vale. Serão 16 viagens por dia, de domingo a domingo, das sete da manhã às 17h50. [...] Atualmente, apenas duas linhas passam pelas imediações do Parque, o33A (Planalto/ Praia do Meio/Avenida Hermes da Fonseca/Candelária) e o 24 (Planalto/Ribeira/ via Prudente de Morais).

Cruz (2011, p. 87) afirma ainda que os monumentos nas cidades globais, construídos para se tornarem ícones de “puro consumo”, são objetos de divulga- ção pelo marketing e pela publicidade, em busca de uma “repercussão social” por meio das mídias gráficas ou virtuais. Sabe-se que a construção do ícone urbano é sucedida pelas respectivas campanhas publicitárias institucionais que os associam aos sítios urbanos e aos seus patrocinadores, e buscam a promoção do lugar e, muitas vezes, dos seus gestores. Como marca, foi associada a Natal em cartões postais, estampas de camisas, marca d’água em cartazes diversos, na divulgação de eventos, e diversas outras mídias de circulação local e nacional, durante os meses nos quais ficou aberto à visitação.

Com o fechamento dos equipamentos em 2009, as estruturas arquitetônicas do Parque deixaram de ser visitadas e, consequentemente, passaram a ser um exemplo de empreendimento fracassado. Verificou-se nos portfólios das agências vinculadas ao SINAPRO, anteriormente nominadas, que não foram utilizadas ima- gens do Parque ou de qualquer uma das suas estruturas em campanhas, anúncios

ou quaisquer outros meios de divulgação publicitária. Não houve, portanto, o sucesso midiático esperado e as consequentes rendas monopolistas relacionadas à exclusividade do monumento e à visitação turística, não podem ser auferidas e nem mesmo mensuradas.

As estruturas arquitetônicas do Parque da Cidade foram, pelo que se percebe no discurso político, construídas com vistas a dotar Natal de um ícone arquitetônico de repercussão nacional. A escolha de Oscar Niemeyer seguiu um roteiro comum a outras cidades do Brasil que procuraram na celebridade uma forma de conferir um emblema ao monumento, quase um certificado de qualidade, o que garantiria um certo consenso em torno da execução da obra em que foram gastos cerca de R$ 26.750.000,00 (ALVES, 2010, p. 87).

A obra acabada resultou num conjunto arquitetônico que representa e sintetiza a obra do seu projetista já que conta com os mais significativos elementos arquitetônicos por ele explorados ao longo de sua extensa carreira. No entanto, havia o risco potencial de transformar essa obra em mais uma obra de Niemeyer, como tantas outras, o que incluiria Natal no grupo de cidades com paisagem urbana banal pela repetição da fórmula onde mais do mesmo equivale à soma zero da semelhança pela diferenciação. Cabia ao gestor, portanto, buscar uma forma de convencimento e de apresentação do seu “sonho” à população, como demonstração da sua clarividência ao propor tão ambiciosa obra. Ao buscar um discurso coerente que associava a preservação ambiental à construção icônica, a gestão do prefeito Carlos Eduardo nada mais fez que colocar em relevo duas questões fundamentais dos nossos tempos, o que lhe conferiu legitimidade e aprovação popular, quais sejam: a valorização do ambiente natural como reserva indissociável da sobrevivência humana no planeta; e a importância da cultura como bem econômico, tendo a arquitetura como protagonista nesse processo. A arquitetura aqui se destaca como expressão máxima do zeitgeist, no qual a arte de massa tornou-se o grande fetiche midiático e a cultura do olhar, da imagem, tornou-se uma forma de obtenção de lucros e prestígio político.

De acordo com a Prefeitura Municipal de Natal (2014b), em seu portal de notícias, após os trabalhos de recuperação das estruturas que duraram cerca de 10 meses e custaram R$ 3,6 milhões, o Parque da Cidade foi reaberto em 05 de junho de 2014.