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O Plano Estratégico Natal Terceiro Milênio foi idealizado e executado pela Federação das Indústrias do Estado do RN (FIERN) em 1999e elaborado pela Estudos e Engenharias de Processos LTDA como forma de elaboração de um planejamento para os municípios da RMN, tendo em vista o crescimento acelerado dos municípios

envolvidos, bem como a perspectiva da implantação de projetos de impacto na região. Não é, portanto, de iniciativa de um órgão público.

Nesse caso, o capital se coloca à frente das iniciativas voltadas aos processos sociais transformadores, assumindo o papel destinado ao Estado, quer pela via desenvolvimentista e tecnocrática, quer pelo entendimento das questões urbanas via discurso político. É possível identificar nesse Plano elementos que, de acordo com

Bouinot e Bermils14 (1995, p. 13-14 apud LIMA JÚNIOR, 2010, p. 68-69), diferenciam

os planos elaborados pelo setor público daqueles elaborados pelo setor privado, ou seja: o Plano pouco cita as questões socioculturais envolvidas no processo, o que desconsidera a diversidade de atores envolvidos na construção e implementação do Plano; trata claramente o espaço urbano como um recurso natural a ser explorado como fonte de “vantagem competitiva”; e prega, claramente, a eficácia nas medidas sugeridas bem como as diretrizes apontadas, em detrimento de questões outras como justiça social e diminuição das desigualdades entre os cidadãos envolvidos.

De início diagnostica oportunidades que possam gerar desenvolvimento para a RMN, então com seis municípios. Indica projetos necessários para a evolução da infraestrutura, dimensiona os investimentos e traça o rumo das negociações político-institucionais para viabilização do Plano. Trabalha com vocações muni- cipais e demandas urbanas, levando em conta a sustentabilidade (meio ambiente). Identifica, como dito, as três principais forças motrizes para o desenvolvimento do RN: petróleo e gás, fruticultura e turismo. Da matriz FOFA apenas cita as forças, não citando, de início, as oportunidades, fraquezas e ameaças. Indica também a necessidade da mediação governamental para a viabilização do Plano, alertando para uma nova postura governamental necessária para o seu sucesso, conforme aponta Lopes (1998, p. 164).

A partir do Capítulo 2, avalia as principais capacidades motrizes da economia, começando pela fruticultura e polo gás-sal. Em seguida, analisa o turismo nos seguintes aspectos: identifica o turismo no Brasil como um grande filão já explorado, mas com muito potencial de crescimento; também identifica esse potencial no RN, embora incipiente frente aos principais destinos da Região Nordeste; identifica também o estado como polo de atração em função das belezas naturais; uma infraestrutura – a BR-101 – como importante fator para o desenvolvimento do turismo; apresenta como importantes os investimentos em infraestruturas, citando o Aeroporto de São Gonçalo do Amarante considerado como fator impulsionador do turismo no futuro e indica o provável esgotamento do Aeroporto Augusto Severo na sua capacidade em receber passageiros num futuro próximo.

14 BOUINOT J.; BERMILS, B. La gestion stratégique des villes: entre competition et cooperation. Paris: Armand Colin, 1995.

O Plano demonstra preocupação em definir as bases para o desenvolvimento da Grande Natal citando, inicialmente, a infraestrutura viária e o Porto de Natal como um desafio a esse desenvolvimento, associado à oportunidade de incrementar o turismo voltado às belezas naturais. Neste ponto, a matriz FOFA (LOPES, 1998) aparece mais nitidamente.

Prescreve também um macrozoneamento e uso do solo para a RMN, levando em conta o crescimento populacional e as consequentes demandas por serviços, dentre outras, condicionado pelas bacias hidrográficas, pelo uso do solo agrícola e pela cobertura vegetal. Trata ainda: da infraestrutura de saneamento e drena- gem; dos resíduos sólidos urbanos; da infraestrutura de transportes; do Porto de Natal, tendo em vista a fruticultura; da infraestrutura aeroportuária, quando cita novamente como oportuna a construção do Aeroporto de São Gonçalo; e do sistema de rodovias na Grande Natal, que considera ser de boa qualidade. Ainda com relação ao turismo, no Capítulo 7, identifica os pontos fracos, dentre os quais limpeza e segurança. Um melhor marketing para Natal é apresentado como uma recomendação, tendo sido citado em pesquisa realizada por meio de entrevistas feitas com os turistas.

Constam ainda no Plano recomendações quanto à construção de parques temáticos e complexos de entretenimento em Natal, inclusive no que diz respeito ao tipo de visitante/turista/consumidor desejado. Os planejadores explicitam em documento oficial o caráter excludente do PE para as cidades, como visto anteriormente. Recomendam no Capítulo 7, item 7.2.1, a construção do seguinte equipamento:

Complexo de Entretenimento - Parque Temático

Segundo trabalho realizado pela White Waters, fundamentado em estudos específicos de mercado, foi identificado elevado potencial para implantação imediata de um complexo turístico de entretenimento com parque temático, shopping, restaurantes e outras facilidades, na área de influência considerada, [...]. O trabalho considerou: Projeção de público com a exclusão da população de mais baixo poder aquisitivo (classe E) (grifo nosso).

O Plano trata de sugerir outras estruturas de suporte ao turismo, como o Complexo de Entretenimento - DowntownPier, que é uma proposta voltada para construção de um empreendimento turístico na região portuária de Natal, inte- grando o sistema aquaviário local com um Centro Náutico de Recreação e um terminal de passageiros para desembarque de navios turísticos internacionais, incluindo área de shopping, restaurantes e outras facilidades. Neste ponto, o Plano cita a necessidade da construção de uma nova ponte sobre o rio Potengi, que mais tarde viria a ser a Ponte Newton Navarro, dentro da perspectiva de transformações viárias na área da intervenção. Informam os planejadores que:

Projetos de natureza similar têm tido bastante sucesso em outras cidades do Brasil e exterior, auxiliando o processo de revitalização de áreas anteriormente decadentes. No caso de Natal, idealiza-se que toda a área do porto de Natal seja revitalizada incluindo também neste caso, o sítio histórico da Ribeira. (FIERN, 1999, p. 7.13).

Aqui, indicam a preservação e revitalização do patrimônio histórico como importante atributo da cidade para o incremento ao turismo. O Plano cita ainda a urbanização como importante questão a ser considerada, com ênfase em inter- venções nas praias da RMN:

A urbanização de áreas com elevado potencial turístico é importante requisito para atração de visitantes e estímulo para esta atividade econômica. Estão previstas intervenções dessa natureza em diversas dessas áreas na Região da Grande Natal, englobando obras como arborização de vias e parques, construção de calçadões para pedestres, padronização de barracas de praias, construção de sanitários públicos, pavimentação e iluminação de ruas e outras. (FIERN, 1999, p. 7.13).

Finalmente, o marketing é considerado como importante fator de divul- gação das localidades com vistas à associação destas com as belezas naturais e peculiaridades culturais:

Embora com participação ainda pequena, o mercado internacional não deve ser relegado e ações promocionais realizadas no exterior também devem ser realizadas. Deve-se lembrar que, principalmente neste caso, a imagem do estado a ser repassada deverá refletir tanto a realidade local preservando os valores éticos e culturais, como atender as expectativas do visitante. (FIERN, 1999, p. 7.18).

O Plano recomenda ainda a divulgação com uso intensivo do logotipo sím- bolo da marca Natal – Cidade do Sol, com o objetivo de difundi-lo em larga escala associando-o aos atrativos locais, “[...] de forma a proporcionar o não esquecimento da inclusão do Rio Grande do Norte nos roteiros turísticos planejados”.

Natal 2015: Bases Referenciais para o Planejamento