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Bruand (1981), em sua obra basilar “Arquitetura Contemporânea no Brasil”, apresenta Oscar Niemeyer como o mais célebre arquiteto brasileiro. Diz o autor

41 Carlos Eduardo Alves era vice-prefeito na gestão de Wilma de Faria. Assumiu o cargo, em 2002, com a renúncia da então prefeita, e viria a ser reeleito em 2004, cumprindo inteira- mente seu segundo mandato até janeiro de 2009. Posteriormente, em 2012, reelegeu-se, novamente, prefeito de Natal.

que a ascensão profissional de Niemeyer foi “fulgurante” e ocorreu a partir de 1937 com a obra Creche Casa do Berço, a participação em diversos concursos públicos e a publicação dos seus projetos na revista P.D.F., órgão da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro (BRUAND, 1981, p. 104-105).

Desde o início, o arquiteto demonstrava qualidades que o levariam a impor sua grande originalidade ao cenário da produção arquitetônica brasileira. Destaca Bruand (1981, p. 105), como obra fundamental e reveladora do talento de Niemeyer, o projeto do Pavilhão do Brasil na Exposição Internacional de Nova York, em Parceria com Lúcio Costa, em 1939. O autor cita ainda, como obras importantes naquele início de carreira: o Grande Hotel de Ouro Preto e o Conjunto da Pampulha, em Belo Horizonte.

Bruand (1981, p. 152) resume ainda as ideias de Niemeyer em três pontos específicos: embora não alheio às transformações da sociedade, o arquiteto não deve se prender a preocupações sociais, mas deve se preocupar, acima de tudo, com seu ofício; passado e presente são coisas diferentes e os novos materiais libertam o arquiteto desse passado, que deve manifestar-se por meio de uma nova estética; e a arquitetura é arte e o arquiteto é um artista, desta forma, admite-se o puro funcionalismo.

O autor identifica ainda os elementos estruturais mais explorados por Niemeyer em seus projetos: o pilotis, como possibilidade de liberação de espaços no solo; arcos, abóbadas e rampas, como elementos de ruptura do esquema orto- gonal racionalista, como tradução de uma inclinação pelas linhas curvas e como desejo profundo de liberdade no campo formal; o emprego das “formas livres” como marquises e paredes curvas; e o tratamento dos volumes, elevado ao caráter escultórico, em que formas diversas, tais como as prismáticas e as esféricas, eram exploradas de forma harmoniosa e com resultados quase sempre satisfatórios (BRUAND, 1981, p. 152-168).

Bruand (1981, p. 181-182) vê surgir uma nova etapa na carreira de Niemeyer no projeto do Museu de Arte Moderna de Caracas. Nele, em que pesem as preocu- pações com a topografia e implantação, o arquiteto teria se libertado totalmente das considerações funcionais e econômicas, passando a explorar um ideal de pureza plástica, estabelecendo uma nova hierarquia dos valores arquitetônicos, o que acarretou uma mudança de estilo que gerou uma simplificação enfática dos elementos utilizados e a concentração da solução projetual numa forma “única, original” de fulgurante limpidez.

Mas seu apogeu viria com a projetação dos principais prédios de Brasília, na segunda metade dos anos 1950. O plano de Lúcio Costa para a cidade se apresentou como ideal para realçar a arquitetura das edificações que ali nasceriam. Conforme Bruand (1981, p. 183-184), os prédios de Brasília, projetados por Niemeyer, podem

ser classificados em três categorias: os palácios de pórticos; os edifícios compostos por jogos de volume simples; e os edifícios religiosos de planta centrada. Sobre a primeira categoria, os palácios de Brasília, destacada pelo autor como a mais inesperada, a mais clássica e homogênea, afirma:

Tocado pelo equilíbrio e harmonia das grandes realizações urbanas dos séculos XVII e XVIII, que eram englobadas indistintamente sob o rótulo de barroco por uma corrente muito difundida, Niemeyer não vacilou em procurar essas mesmas qualidades monumentais nos palácios de Brasília. Compreendeu o proveito que seus predecessores tinham conseguido tirar da galeria de arcadas ou de colunas que sustentam uma arquitrave; apreendeu imediatamente que esse meio de expressão, longe de estar ligado a um estilo hoje superado, conservava um valor permanente tanto no plano funcional, quanto no estético. Portanto, não hesitou em retomá-lo e transpô-lo para uma linguagem contemporânea quando surgiu uma ocasião favorável. De fato, ele o transformou no motivo básico de quatro dos cinco grandes palácios de Brasília: o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, o do Supremo Tribunal Federal e o último da série, o Palácio dos Arcos, sede do Ministério das Relações Exteriores. (BRUAND, 1981, p. 184).

Tendo sido Brasília o apogeu de Niemeyer, toda sua obra posterior viria a ser impregnada daqueles princípios formais e estruturais dos quais lançou mão naquele momento. A exploração das formas ao seu ponto máximo de ruptura com a lógica racional modernista e as ousadias estruturais que elevaram o uso do concreto ao estado bruto da arte urbana, foram uma marca da produção de Oscar Niemeyer na sua longeva vida que chegou aos quase 105 anos de existência. Após Brasília, o arquiteto produziu uma grande quantidade de projetos que o transformaram numa das personalidades brasileiras mais reconhecidas pelo talento em todo o mundo. Suas construções, à medida que brotavam por diversas cidades brasileiras, tornaram-se emblemáticas da sua produção, tanto pela coerência nas soluções plástico-formais adotadas, que levaria até seus últimos projetos, como também pela reconhecida capacidade que tinham, e ainda têm, de surpreender o espectador pela monumentalidade e, simultaneamente, pela pureza revelada pelas curvas e superfícies quase sempre de uma brancura ofuscante. Seria o nosso “fator uau!”, nas palavras de Arantes, P. (2012, p. 119), “isto é, a capacidade de impressionar, atrair o observador e reter na sua memória aquele objeto arquitetônico único”.

Nos seus últimos projetos42, Niemeyer conseguiu imprimir sua marca em

diversas situações nas quais colocou-se como arquiteto/celebridade convidado. E é aí que reside o principal interesse desta pesquisa: Niemeyer tornou-se uma marca, um rótulo, de boa e espetacular arquitetura. Tornou-se uma alegoria de si mesmo ao ser incumbido, à convite, de projetar diversos prédios em diversas

42 Podem ser citados, entre outros: o Parque Dona Lindu, em Recife (2006); a Estação Cabo Branco, em João Pessoa; a Praça da Soberania, em Brasília (2008); e a Torre de TV Digital, em Brasília (2008).

cidades brasileiras, que buscavam apresentar ao resto do país e ao mundo, uma arquitetura capaz de dotar essas localidades de um atributo único e exclusivo. Buscaram estabelecer uma diferenciação na concorrência interurbana, por meio da produção arquitetônica contemporânea. Uma tentativa, nem sempre bem sucedida, de espetacularização que elevou as edificações resultantes dessa estratégia ao mais alto grau do fetichismo – aqui de caráter sensorial ou sensual – pela forma e pela estética urbanas, em busca de uma distinção pela generalização. O “efeito uau!”, neste caso, tornou-se uma obsessão para os prefeitos e gestores públicos, que buscavam dividendos eleitorais ou mesmo eram movidos pela legítima vontade de tornar suas cidades lugares melhores para se viver. E é aqui que se dá o encontro

entre o arquiteto/marca e a cidade de Natal, pela terceira vez43. Já no final da sua

vida, Niemeyer é solicitado a projetar uma edificação impactante numa área de preservação ambiental da cidade, ideia concebida na primeira gestão do prefeito Carlos Eduardo Alves (2002 a 2005).