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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 CARACTERIZAÇÃO DE EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA

Conforme Valério Netto (2006), empresas de base tecnológica (EBT) são empreendimentos que adotam tecnologias na produção de bens ou serviço, também chamadas de empresas de alta tecnologia. Para Marcovitch, Santos e Dutra (1986), EBT são empreendimentos criados para fabricar produtos que utilizam alto conteúdo tecnológico. Gonzalez, Girardi e Segatto (2009) definem EBT como organização criada a partir de tecnologias desenvolvidas no interior da empresa (ou oriunda de universidade, centro de pesquisa ou empresa privada), de capital nacional e que atua na fronteira tecnológica do setor/indústria.

O SEBRAE (2001) define empresas de base tecnológica como organizações de pequeno porte, que atuam em mercados pequenos e específicos, e comprometidas com o desenvolvimento e a produção de produtos e/ou processos inovadores. Essas empresas têm características como: aplicação sistemática de conhecimento técnico-científico, utilização de tecnologias inovadoras e proporção elevada de investimentos em P&D e de pessoal técnico especializado.

Conforme Tidd, Bassant e Pavitt (2008), há várias empresas de base tecnológica (EBT) originárias de spin-off de grandes empresas, universidade ou instituições de pesquisa. Em geral, grande parte dessas empresas spin-off mantém algum vínculo com a empresa-mãe para obter algum apoio financeiro e/ou técnico até a consolidação do empreendimento. O spin-off tecnológico é um mecanismo de transferência de tecnologia que permite aos novos empreendedores obterem conhecimentos e tecnologias de universidades ou centros de pesquisa para o desenvolvimento de produtos e processos organizacionais (Cozzi, 2008).

As empresas de base tecnológica são importantes. Elas criam benefícios econômico-sociais como: geração de empregos, desenvolvimento industrial regional, possibilitam a expansão de setores industriais de ponta ou pouco desenvolvidos e fortalecem a concorrência empresarial e a livre iniciativa (MARCOVITCH, SANTOS E DUTRA, 1986). Essas empresas têm também papel relevante no processo de empreendedorismo inovador regional e no desenvolvimento de inovações. Por isso, elas costumam receber apoios de governos, universidades, incubadoras de empresas, associações empresariais e grandes empresas da região, seja através de financiamentos, treinamentos, orientação jurídica, serviços tecnológicos, consultoria, infraestrutura, isenções, incentivos, apoio à gestão e transferência de tecnologia (COZZI, 2008).

Segundo Freitas e Muylder (2010) e Gonzalez, Girardi e Segatto (2009), as empresas de base tecnológicas são geralmente de pequeno e médio porte, atuam em setores de tecnologia, realizam atividades de P&D (Pesquisa & Desenvolvimento) e têm patentes registradas, colaboradores com elevada escolaridade e parcerias com universidades e/ou centros de pesquisa.

Uma das características das EBT é a carência de recursos financeiros, seja para operacionalização do empreendimento ou para aplicação em inovações. As linhas de crédito disponíveis exigem compromissos rígidos de pagamento e garantias reais de pagamento (PINHO, CÔRTES E FERNANDES, 2002). As EBT são geralmente empreendimentos de risco elevado, atuam com processo produtivo de baixa escala, têm reduzido grau de automação industrial, a tecnologia desenvolvida pode não gerar o retorno comercial esperado e apresentam deficiências na área comercial/marketing, como a falta de estratégias de vendas adequadas (GONZALEZ, GIRARDI E SEGATTO, 2009; FREITAS e MUYLDER, 2010).

Segundo Freeman e Soete (2008), as empresas de base tecnológica variam quanto ao perfil em relação à estratégia de inovação. Conforme a Quadro 16 – Perfil das empresas de base tecnológica quanto à estratégia de inovação, essas empresas podem ser classificadas como: a) ofensiva, quando através da introdução de novos produtos/tecnologias buscam atingir liderança técnica e de mercado em relação aos competidores; b) defensiva, quando priorizam apenas acompanhar a evolução tecnológica do mercado; c) imitativa, quando têm apenas a intenção de imitar os líderes e manter a defasagem tecnológica controlada; d) dependência, quando buscam desempenhar papel subordinado em relação à outra empresa mais forte; e) tradicional, quando atuam com processos não melhorados e oferecem produtos não inovadores; f) oportunista, quando costumam identificar oportunidades de mercado e promover inovações em função de demandas específicas identificadas.

Quadro 16 – Perfil das empresas de base tecnológica quanto à estratégia de inovação

Fonte: Freeman e Soete (2008)

Segundo Tidd, Bassant e Pavitt (2008), a taxa de mortalidade das EBTs gira em torno de 20% a 30% e que esta tende a ser mais baixa do que dos demais tipos de empreendimentos. As EBT têm barreiras de entrada mais elevadas (ex: necessidade de tecnologia especializada, mão de obra mais qualificada e investimento/capital inicial) e isso também dificulta o fechamento das empresas.

Estudo realizado por Gonzalez, Girardi e Segatto (2009) analisou o processo de criação de empresas de base tecnológica e revelou a existência de diversas dificuldades durante o processo de consolidação, como carências de recursos financeiros, problemas comerciais e deficiências na gestão do negócio. Segundo os autores, algumas dessas dificuldades estão relacionadas à supervalorização do negócio e ao fato do esforço do empreendedor está predominantemente concentrado na área tecnológica da organização.

O estudo de Santos e Pinho (2010) analisou no Brasil o crescimento das EBTs a partir do acesso a recursos financeiros externos e provenientes de agências de fomento. Os resultados do estudo revelaram que a taxa média anual de crescimento das empresas apoiadas

por agências de fomento foi de 20,9%, enquanto a das empresas não apoiadas foi de 15,3% ao ano. Rocha e Ferreira (2004) investigaram também os estados contemplados pelo Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI) e concluíram que o Estado de São Paulo possui a maior capacidade inovativa entre os estados da região sul-sudeste do país. Segundo os autores, São Paulo tem melhor infraestrutura, grande parque industrial, produção econômica elevada e significativo volume de riqueza. Todos esses elementos contribuem para a capacidade inovativa da região.

Estudo de Maculan (2002) sobre comportamento inovador e formas de organização das EBT graduadas revelou que tais empresas se estruturam em torno de ideias de novos produtos e de conhecimentos sobre determinada tecnologia. Os resultados revelaram também que essas empresas têm elevado conteúdo tecnológico, proprietários e funcionários com bom grau de instrução e capacidade de manter inovações ao longo da vida.

Estudo de Garnica e Jugend (2009) analisou a influência da Lei Federal Brasileira de Inovação sobre as EBTs e revelou que, embora tenha fomentado o desenvolvimento tecnológico cooperativo entre instituições de pesquisa e as empresas, a referida legislação tem sido insuficiente para melhorar a competitividade das EBTs.

Estudo de Da Luz, Kovaleski e Escorsim (2009) analisou o papel das incubadoras tecnológicas na promoção do empreendedorismo inovador e revelou que as incubadoras de empresas são mecanismo importante de fomento ao novos empreendimentos de base tecnológica e que nos últimos anos promoveram melhorias em busca da criação de ambientes convergente de inovação e do empreendedorismo, e de fortalecimento das relações universidade-empresa.