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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE PROCESSOS DE INOVAÇÃO

2.3.1 Indicadores de desempenho de inovações

Segundo Moreira (1996), indicadores de desempenho são valores escolhidos para determinada grandeza e que servem como referência de comparação. Para a Fundação Nacional da Qualidade/FNQ (1995), indicador de desempenho é a relação matemática que mede atributos de um processo ou resultado com propósito de comparar com metas numéricas pré-estabelecidas. Indicadores de desempenho de inovação são medições/métricas objetivas que integram o sistema de avaliação e diagnóstico do desempenho de inovações de determinada organização (TRÍAS DE BES e KOTLER, 2011).

Segundo Radnor e Noke (2006), os indicadores de desempenho funcionam como bússola de orientação da jornada de inovação e permitem medir a eficácia das estratégias de inovação da organização, mesmo em ambientes de incertezas e turbulentos como os processos de inovação. Conforme Scherer e Carlomagno (2009), o desempenho de inovações deve ser medido sob diferentes perspectivas, conforme os objetivos corporativos e a estratégia competitiva da organização. Essa mensuração tende a demandar grande esforço da organização e requer disponibilidade de tempo e informações relevantes. Questões sobre dimensões de desempenho, abrangência e quantidade de indicadores devem ser respondidas na definição do modelo de avaliação de desempenho de inovações das empresas de base tecnológica.

Na literatura sobre inovação, há diversos tipos de indicadores de desempenho aplicados no contexto de nações e organizações. O Quadro 10 apresenta um conjunto de indicadores de desempenho de inovação que estão relacionados ao contexto de nações. Eles são aplicáveis no campo científico e tecnológico, na avaliação do desempenho de países ou determinadas regiões, no âmbito de insumos e resultados.

Quadro 10 – Indicadores de desempenho da Família Frascati Indicadores de insumo:

Valor do dispêndio interno bruto com P&D (DIBPD) e com C&T (DIBCT); DIBPD per capita e DIBCT per capita;

Pessoal total alocado em P&D e pessoal total em P&D por mil trabalhadores; Total de pesquisadores;

Percentagem do DIBPD financiado pela indústria, governo ou outras fontes externas; Percentagem DIBPD realizado pela indústria, pelo ensino superior e pelo governo; Dispêndio das empresas com P&D (DEPD) e DEPD/Produto Interno Bruto (DEPD/PIB); Pessoal total das empresas em P&D e pesquisadores no setor empresarial; Percentagem do DEPD financiado pela indústria, governo ou outras fontes externas;

Percentagem do DEPD realizado pelos setores da indústria de transformação, intensivos em P&D e pela indústria não-manufatureira; Percentagem do DIBPD realizado pela indústria não-manufatureira;

Dispêndio do ensino superior em P&D (DESPD) e DESPD como percentagem do PIB (DESPD/PIB); Pessoal total do ensino superior em P&D e pesquisadores no ensino superior;

Pessoal total do governo em P&D e pesquisadores do governo;

Orçamento do governo para P&D (OGPD), para defesa e para o orçamento Civil; Gastos orçamentários para programas específicos como percentagem do OGPD.

Indicadores de produto (resultados):

Número total de patentes solicitadas no país (PTP);

Número de patentes solicitadas por residentes (PRP) e por estrangeiros (PEP) e patentes solicitadas no exterior;

Taxa de dependência (PEP/PRP), de auto-suficiência (PRP/PTP), coeficiente de inventividade (PRP por 10 mil hab) e taxa de difusão (PE/PRP); Número de artigos publicados em periódicos científicos internacionais indexados no ISI;

Número de artigos publicados em periódicos científicos internacionais indexados segundo a área de conhecimento; Número de autores e produção bibliográfica;

Taxa de exportação/importação das indústrias intensivas em P&D;

Balanço de pagamentos tecnológicos – valor das receitas e remessas ao exterior relativas à compra e à venda de tecnologia.

O Quadro 11 contém os indicadores de desempenho de inovação utilizados pelo Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, na pesquisa sobre ciência e tecnologia e inovação no Brasil. Tais indicadores são: gasto per capita governamental em ciência e tecnologia, percentual de gasto em ciência e tecnologia, pesquisa e publicações científicas, patentes, pesquisadores, escolaridade, participação, incubadoras e exportação.

Quadro 11 – Indicadores de ciência, tecnologia e inovação aplicados pelo SNCTI

Indicadores Descrição

Gasto per capita

governamental em ciência e tecnologia

Valor em unidade monetária gasto pelo governo (federal, estadual, municipal) dividido pelo número de habitantes (federal, estadual, municipal) – R$/hab. Percentual de Gasto em

ciência e tecnologia

Percentual da receita orçamentária (federal, estadual, municipal) aplicada em ciência e tecnologia.

Pesquisa e publicações científicas

Percentual de artigos publicados por residentes (federal, estadual, municipal) em relação ao total de artigos (federal, estadual, municipal) indexados na base de dados. Patentes Percentual das patentes de residentes (federal, estadual, municipal) depositados no

INPI – Instituto Nacional da Propriedade Intelectual em relação a federação, ao estado, e município.

Pesquisadores Número de pesquisadores dividido por milhão de habitantes.

Escolaridade Número médio de funcionários das empresas com cem ou mais empregados que possuem diploma de graduação.

Participação Percentual de empresas inovadoras no total de empresas (federal, estadual, municipal)

Incubadoras Percentual de incubadoras de empresas existentes sobre o total (federal, estadual, municipal).

Exportação Percentual de vendas externas de produtos tecnologicamente mais sofisticados em relação ao total da exportação (federal, estadual, municipal).

Fonte: Rocha e Ferreira (2004)

No contexto das organizações, indicadores de desempenho focados em inovações buscam verificar a eficácia do desempenho do processo de inovação e diagnosticar a capacidade de inovação da empresa e sua evolução ao longo do tempo (TRÍAS DE BES E KOTLER, 2011). Fiates (1997) classifica os indicadores de desempenho de inovação no contexto das organizações em três categorias: indicadores gerais do processo de inovação tecnológica; indicadores de resultados do processo de inovação tecnológica e indicadores internos do processo de inovação tecnológica.

Os indicadores propostos por Forster (1986) são exemplos de indicadores gerais do processo de inovação tecnológica e incluem a mensuração do efeito gerado junto ao cliente

em termos de satisfação, medição de vendas, pesquisas de mercado, retorno de P&D, produtividade de P&D e rendimento de P&D. A proposta de Stahl e Steger (1977) contém exemplos de indicadores de caráter qualitativo e incluem originalidade (indicador que avalia o grau de novidade da inovação) e utilidade (o valor da inovação para a comunidade técnico científica).

Os indicadores proposto por Sbraggia (1984) são exemplos de indicadores de resultados do processo de inovação e medem o quanto a inovação impacta na empresa, no âmbito de faturamento e mix de produtos, economia, melhoria de processo ou nível de satisfação dos clientes. Outros exemplos desses indicadores são (Moreira, 1996): número de produtos novos por ano, percentual da receita proveniente de novos produtos, número de adaptações nos produtos existentes, número de sugestões dos empregados e número médio de funcionários envolvidos com P&D.

Os indicadores propostos por Vasconcellos (1992) são exemplos de indicadores internos do desempenho de inovação. Eles estão relacionados à avaliação dos níveis de: sintonia entre a estratégia tecnológica e a estratégia da empresa; capacitação tecnológica em relação aos concorrentes; integração entre P&D e as demais áreas funcionais; estruturação da área de P&D; adequação do sistema de informações tecnológicas; adequação dos recursos disponíveis para P&D; adequação do sistema de avaliação de P&D; adequação das técnicas de gestão de tecnologia; motivação, liderança e cultura da empresa.

Scherer e Carlomagno (2009) recomendam que os indicadores de desempenho de inovação utilizados pelas empresas sejam de quatro perspectivas/dimensões: contexto da inovação, processo de inovação, tipos de inovação e resultados da inovação. Esses indicadores mensuram aspectos de causa e efeito da geração de resultados de inovações.

Quadro 12 – Classificação Scherer e Carlomagno (2009) para indicadores de desempenho de inovação

Dimensões Indicadores

Resultado Percentual de produtos vendidos nos últimos três anos. Tipos de inovação Número de inovações radicais/total de inovações.

Número de novas patentes; Número de novas ideias geradas;

Porcentagem de ideias selecionadas para experimentação; Tempo médio de experimentação;

Percentual de projetos implementados dentro do orçamento; Percentual de inovações externas à empresa.

Número de horas médias de treinamento em inovação por colaborador; Percentual de lideranças avaliadas conforme inovação;

Percentual da receita investido em inovação. Processo

Contexto

Trías de Bes e Kotler (2011) apresentaram também proposta de indicadores de desempenho de inovações que classifica os indicadores em quatro dimensões. Conforme o Quadro 13, esses autores propõem as dimensões: econômico, unidade de negócio/organização, eficácia/investimento e disseminação da cultura criativa.

Quadro 13 – Classificação Trías de Bes e Kotler para indicadores de desempenho de inovação

Tipo Indicadores

Vendas da empresa a partir dos lançamentos de novos produtos; Lucros a partir do lançamento de novos produtos;

Vendas da empresa a partir de inovações que não envolvem novos produtos; Lucros a partir de inovações que não envolvem novos produtos;

Redução de custos a partir da inovação; Retorno do investimento total da inovação. Quantidade de patentes;

Quantidade de inovações em produto, experiência do cliente, processo ou modelo de negócio; Quantidade de marcas;

Quantidade de ideias geradas por ano; Quantidade de projetos de inovações no fluxo; Quantidade de projetos de inovação em andamento; Investimento em P&D.

Taxa de sucesso de novos produtos; Tempo para comercializar;

Investimento médio por projeto;

Impacto médio do investimento por projeto bem sucedido; Despesas médias por projeto;

Ideias e projetos rejeitados;

Quantidade de anos como líder no setor.

Porcentagem de funcionários que produzem ideias; Porcentagem de funcionários que avaliam ideias; Taxa anual de ideias por funcionário;

Porcentagem de tempo despendido na inovação;

Quantidade de departamentos que inovam em base contínua; Tendência de assumir riscos.

Econômico

Intensidade

Eficácia

Cultura

Fonte: Trías de Bes e Kotler (2011)

O Quadro 14 apresenta a proposta de Marins (2010), que classifica também os indicadores de desempenho de inovação em 4 dimensões. A primeira (indicadores do empreendedorismo inovador) trata do empreendimento e busca mensurar a capacidade inovativa dos colaboradores, a atuação da liderança nas atividades de inovação e a capacidade de realização da organização, dentre outros. A segunda dimensão (indicadores de estrutura) trata do conjunto de instrumentos, estruturas e recursos necessários para modificação ou desenvolvimento de determinada tecnologia, e analisa a distribuição externa da atividade de inovação, a interação entre departamentos, equipamentos, sistemas e métodos organizacionais. A terceira dimensão, denominada indicadores de coordenação, busca mensurar a coordenação do esforço da inovação ao longo do tempo, sejam estratégicos,

parcerias, capacidade de realização ou portfólio de inovação. A última dimensão (indicador de valor) mensura quanto a inovação pode agregar valor à organização, a partir do lucro operacional inovativo, do time market, time to profit e do valor agregado.

Quadro 14 – Classificação Marins para indicadores de desempenho de inovação

Criatividade Número de ideias geradas pelos colaboradores da firma e convertidas em projetos de inovação em determinado período de tempo.

Project champions Número de colaboradores da firma que são responsáveis por impulsionar o início de um projeto de inovação a partir de determinada ideia.

Capacidade de realização

Número de projetos de inovação empreendidos pela firma que foram concluídos com sucesso em um período de tempo específico.

Controle de erros Propõe a avaliação do grau de formalização das práticas de controle de erros da firma a partir da escala: não existe relatório de não conformidade; existe relato informal de não conformidade; existe relatório formal de não conformidade.

Externalização Distribuição externa de atividades de inovação para desenvolvimento de novos produtos em determinado período de tempo.

Interatividade Percentual de novos produtos originados a partir da interação de pelo menos duas áreas (departamentos ou unidades de negócios) da firma em determinado período de tempo.

Recursos físicos Percentual do volume total investido da firma em dispositivos tangíveis à atividade de inovação em determinado período de tempo.

Aplicações tecnológicas

Número de novos produtos gerados pela firma a partir da aplicação de nova tecnologia em determinado período de tempo.

Estratégia de inovação

Examina a existência de estratégias de inovação da firma e seu grau de alinhamento com a estratégia de negócios, considerando se: existe estratégia de inovação; existe estratégia de inovação formalmente deliberada; existe estratégia de inovação formalmente deliberada e alinhada à estratégia de negócios. Portfólio de projetos

de inovação

Identifica o perfil predominante dos projetos desenvolvidos pela firma, que podem ser: projetos de rotina; projetos de inovação incremental e de curto prazo; projetos de inovação incremental e de longo prazo; projetos de inovação radical e de curto prazo; projetos de inovação radical e de longo prazo.

Cadência Número de projetos de inovação que a firma é capaz de desenvolver simultaneamente com base em seus próprios recursos, sejam financeiros, materiais e humanos.

Parcerias estratégicas

Percentual de parceiros estratégicos nas atividades de inovação em relação ao número total de parceiros da firma.

Lucro operacional inovativo

Percentual do lucro operacional da firma oriundo de novos produtos em determinado período de tempo.

Time to mark et Mede o intervalo de tempo entre a concepção da ideia de novo produto e a sua disponibilização ao mercado.

Time to profit Mede o intervalo de tempo entre a concepção da ideia de novo produto e a obtenção de lucros provenientes do produto.

Valor agregado Percentual do valor agregado da firma em determinado intervalo de tempo proveniente das atividades de inovação.

DIMENSÃO 1: Indicadores do empreendedorismo inovador

DIMENSÃO 2: Indicador de estrutura

DIMENSÃO 3: Indicador de coordenação

DIMENSÃO 4: Indicador de valor

Fonte: Marins (2010).

Segundo Godinho (2007), os primeiros estudos acadêmicos sobre avaliação de desempenho de inovações foram realizados por Derek de Solla Price Ph. D. em Física e em História da Ciência (1965 e 1976), os quais estabeleceram a base quantitativa de indicadores de desempenho para a área de Ciência & Tecnologia.

Estudo realizado por Marins (2010), sobre atividades de inovação em economias emergentes, recomendou a utilização de dezesseis indicadores de desempenho, dos quais doze

foram validados para aplicação no contexto organizacional. Tais indicadores foram classificados em quatro dimensões: empreendedorismo, estrutura, coordenação e valor.

Stoeckicht e Soares (2009) estudaram a capacidade de inovação de 35 empresas dos setores público e privado com base nos indicadores: competências essenciais e conhecimentos críticos; monitoramento do ambiente; cultura e valores organizacionais; aprendizagem organizacional e criação de conhecimento; comunicação organizacional; criatividade e gestão de ideias; avaliação de desempenho, reconhecimento e promoção; recrutamento e seleção; retenção de talentos; desenvolvimento de pessoas; autonomia para inovar; modelos colaborativos de trabalho; papel das lideranças; rede de relacionamentos; gestão de acordos colaborativos; estratégia organizacional; estrutura e infraestrutura organizacional; geração de inovações; barreiras à inovação. Os resultados do estudo indicam que existe correlação positiva entre capacidade de inovação e gestão dos recursos do capital intelectual da organização.

O estudo de Maculan (2002) sobre comportamento inovador e formas de organização de empresas de base tecnológicas graduadas revelou que: as empresas graduadas valorizam formas diferenciadas de organização e de relacionamento com outros atores no processo de inovação; elas se destacam pelo comportamento pró-ativo em relação ao conhecimento e ao desenvolvimento de novos produtos; aparecem como "portadoras" de uma nova cultura empresarial orientada para inovações.

Machado e Carvalho (2013) desenvolveram, a partir da metodologia Minnesota Innovation Research Program (MIRP), um modelo de avaliação do ambiente de inovações que permite diagnosticar as áreas de desenvolvimento organizacional para inovação. Elaborado com base em procedimentos de análise estatísticas, esse modelo possibilitou reduzir o instrumento de coleta de dados, facilitou a obtenção de dados coletados, minimizou a dispersão do respondente e aumentou a confiabilidade dos dados sobre o ambiente de inovação, sem afetar o poder de explicação dos resultados.