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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 FUNDAMENTOS DE PROCESSO ORGANIZACIONAL E PROCESSO DE

2.2.1 Processo de inovação

Há várias definições de inovação em função das diferentes aplicações, interpretações e teorias subjacentes ao tema. O Quadro 5 apresenta definições de inovação de diferentes autores/pesquisadores especializados no assunto. Duas definições são amplamente citadas na literatura sobre inovação. Na área de economia, a definição de Schumpeter (1984), que entende inovação como um processo de destruição criativa, que possibilita mudanças no estado de equilíbrio do mercado e que envolve a introdução de produto inovador, nova técnica de produção ou criação de novo mercado. Na área de gestão, a definição de Quinn (1986), segundo o qual inovação é um processo interativo e tumultuoso que liga fontes de saber às necessidades e expectativas de determinados clientes-alvo.

Quadro 5 – Definições de inovação

Schumpeter (1934) "Consiste na introdução de um novo produto no mercado significativamente diferente dos já existentes, implica um nova técnica de produção e a abertura de um novo mercado".

Utterback (1971) “[...] uma invenção que atingiu a fase de introdução no mercado no caso de um novo produto ou para novo processo, a fase do primeiro uso”.

Quinn (1986) “Um processo interativo e tumultuoso [...] que liga uma rede mundial de fontes de saber às necessidades sutilmente imprevisíveis dos clientes”.

Teece e Jorde (1990) "[...] a busca, a descoberta, o desenvolvimento, a melhoria, a adoção e a comercialização de novos processos, produtos, estruturas organizacionais e procedimentos”.

Comunidade Europeia (CE, 1996) "Consiste na produção, assimilação e exploração bem sucedida da novidade". Tidd e Driver (2000) "[...] pode ser vista como um conjunto de outputs respondendo a inputs, quer

dizer, o modelo chamado de linear. [...] gastos com P&D ou estoque de capital; em P&D são usualmente tidos com um input".

Tálamo (2002) "É a disponibilização de uma invenção ao consumo em larga escala".

Anthony (2012) "algo diferente do padrão estabelecido e que exerce impacto relevante sobre o desempenho da organização".

Tidd, Bessant e Pavitt (2008) "questão de conhecimento e criação de possibilidades através da combinação de diferentes de saberes em ambiente sob condições de incerteza"

Bautzer (2009) "algo que deve permitir, mesmo que momentaneamente, alguma diferenciação para a empresa"

Fonte: elaborado a partir de Serra et al (2008).

Na visão de Scherer e Carlomagno (2009), há inovação no contexto organizacional apenas quando ocorre impacto sobre processos e mercados da organização. Drucker (1986), por sua vez, define inovação como busca deliberada e organizada de

mudanças e oportunidades para melhorias no ambiente econômico-social. Anthony (2012) entende inovação como algo diferente do padrão estabelecido e que exerce impacto relevante sobre o desempenho da organização.

Para Tidd, Bessant e Pavitt (2008) inovação é uma questão de conhecimento e criação de possibilidades através da combinação de diferentes de saberes em ambiente sob condições de incerteza. Para Scherer e Carlomagno (2009) inovação requer intenção deliberada e a criação de ambiente propício para o desenvolvimento de novas ideias e inovações. Na visão de Bautzer (2009), há diferença entre inovação e melhoria contínua. Inovação é algo que deve permitir, mesmo que momentaneamente, alguma diferenciação para a empresa; enquanto melhoria contínua envolve ações que apenas sustentam a competitividade da empresa, em especial em termos de custo e produtividade. Tidd, Bessant e Pavitt (2008), no entanto, entendem que melhorias contínuas em processos ou produtos podem gerar vantagem competitiva e são mecanismos de inovação incremental no contexto organizacional.

A importância econômico-social da inovação tem sido abordada por diferentes autores. Segundo Drucker (2010), a invenção se tornou base de pesquisa acadêmica a partir da Primeira Guerra Mundial, quando se configurou como atividade sistematizada, realizada de forma planejada, organizada e com previsibilidade dos resultados. Em função disso, vários estudos sobre processos de inovação estão relacionados à pesquisa científica e tecnológica (Otani, 2008).

Schumpeter (1934) afirmou que a inovação tem sido o cerne de várias mudanças econômicas ocorridas e que se tornou o principal propulsor do sistema capitalista ocidental. Segundo o autor, a inovação contribuiu para introdução de novos bens de consumo, de métodos de produção ou transporte mais eficientes, de novas matérias-primas, de novos mercados e de formas inovadoras de organização. As inovações têm influenciado os movimentos cíclicos de transformação das economias capitalistas e contribuíram para a melhoria do desempenho e da lucratividade das organizações.

A atividade econômica tem grande impacto sobre o desempenho operacional e financeiro das empresas, mas a atuação da concorrência é que tem estimulado mais intensamente o desenvolvimento de inovações no ambiente organizacional (TIDD, BESSANT, PAVITT, 2008). A concorrência está cada vez mais agressiva e pressiona o lançamento de novos produtos e a necessidade de aperfeiçoamento dos processos organizacionais. Em verdade, a concorrência e o atendimento aos clientes são elementos fundamentais no estímulo ao desenvolvimento de inovações e no ambiente competitivo. Esses

elementos impulsionam a busca por inovações e a abertura de novos mercados, seja através do desenvolvimento de parcerias, da geração de novos conhecimentos tecnológicos ou do aumento no valor percebido das marcas comercializadas.

Segundo Antonhy (2012), nos últimos anos a expectativa de vida das grandes empresas foi reduzida, assim como as possibilidades de vantagem competitiva sustentável. Produtos considerados no passado diferenciados tornaram-se não diferenciados e as empresas de pequeno porte estão investindo mais rapidamente em processos de inovação. As grandes empresas precisam agora inovar de maneira constante e se adaptarem mais rapidamente às mudanças de mercado. Fleury e Fleury (1995) recomendam também que as empresas precisam hoje rever a estratégia competitiva, aperfeiçoar seus processos de inovação e intensificar os investimentos em inovações.

No contexto empresarial, a inovação não envolve apenas máquinas e equipamentos de última geração, mas a forma de fazer bens, serviços, processos e procedimentos (SILVA et al., 2009). As atividades de inovação requerem, por exemplo, equipes multidisciplinares, conhecimentos tecnológicos diferentes e a aplicação de ferramentas/recursos eficientes (FREITAS e MUYLDER, 2010). Segundo Oliveira (2010), as atividades de inovação são capazes de render retorno contínuo e benefícios financeiros e não financeiros significativos. Um exemplo é o treinamento em ferramentas de inovação, cujos conhecimentos poderão ser também aplicados em diversas outras tarefas/funções da organização. Conforme Godinho (2007), o processo de inovação deixou de atender apenas a curiosidade sobre princípios que regem o mundo natural e se tornou ferramenta estratégica de gestão de organizações.

De acordo com Oliveira (2010), muitas empresas dispõem de inovações ou realizam atividades de inovação, mesmo quando não possuem área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Para a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico/OCDE (1996) atividades de inovação são qualquer esforço empreendido pela empresa com propósito de melhorar o acervo tecnológico e promover inovações, incluindo aquisição de novas tecnologias, introdução de novos serviços, melhorias em processos operacionais e aquisição de conhecimentos externos.

Segundo Drucker (1989), exemplos de atividades de inovação são monitoramento e análise de oportunidades; avaliação de situações de sucessos e fracassos; execução de mudanças tecnológicas em processos ou na estrutura do setor industrial; promoção de mudanças com impacto sobre a percepção e disposição dos consumidores. O Quadro 6 apresenta uma lista de atividades de inovação relacionadas à área de Pesquisa e

Desenvolvimento (P&D) e à outras áreas/funções da organização. Mesmo não sendo realizadas por P&D, algumas atividades podem ser assim classificadas quando estão relacionadas à inovação na organização, como treinamento de pessoal, identificação de oportunidades, reorganização de atividades de negócios e desenvolvimento de novos métodos/estratégias de marketing.

Quadro 6 – Atividades de inovação típicas da P&D e de outras áreas da organização Atividades de inovação típicas de P&D Outras atividades de inovação

1. Pesquisa básica ou aplicada para adquirir novos conhecimentos e em desenvolvimentos em busca de invenções específicas ou modificações de técnicas já existentes;

1. Identificação novos conceitos para produtos, processos, métodos de marketing ou mudanças organizacionais;

2. A pesquisa básica é o trabalho experimental ou teórico realizado para adquirir novos conhecimentos sobre fenômenos e fatos observáveis, ainda pouco conhecidos, sem qualquer aplicação particular à vista;

2. Desenvolvimento de habilidades humanas por meio de treinamento interno ou compradas (pela contratação); o aprendizado tácito e informal – “learning by doing ”- pode também estar incluído;

3. A pesquisa aplicada também é uma investigação realizada para adquirir novos conhecimentos, mas é dirigida para um objetivo específico;

3. Via identificação de oportunidades para comercialização, resultante seja de sua própria pesquisa básica ou estratégica, seja da pesquisa realizada por outras empresas;

4. O desenvolvimento é o trabalho sistemático, que se apropria de conhecimentos novos adquiridos de forma a produzir novos materiais, produtos ou dispositivos, para implantar processos novos, sistemas e serviços, ou para melhorar substancialmente esses elementos caso já tenham sido produzidos ou implantados.

4. Compra de informações técnicas, pagando taxas ou royalties por invenções patenteadas (que normalmente exigem trabalho de pesquisa e desenvolvimento para adaptar e modificar a invenção de acordo com suas próprias necessidades), ou comprar experiência e k now-how por meio de engenharia, design ou outros serviços de consultoria; 5. Novos conceitos de produtos ou processos ou outros métodos novos

para estimar se eles são factíveis e viáveis

5. Pelo monitoramento dos competidores; e 6. Desenvolvimento e teste; 6. Pela utilização de consultores;

7. Pesquisas adicionais para modificar desenhos ou funções técnicas. 7. Via marketing e relações com os usuários;

8. Via suas capacidades de concepção e desenvolvimento de produtos; 9. Investimento em equipamentos, softwares ou insumos intermediários que incorporam o trabalho inovador de outros;

10. Reorganização dos sistemas de gerenciamento e todas as suas atividades de negócios;

11. Desenvolvimento de novos métodos de marketing e venda de seus produtos e serviços.

Fonte: Oliveira, 2010.

O processo de inovação pode envolver atividades simples como monitoramento e imitação de concorrentes e atividades mais complexas como aquelas que causam impacto sobre volume de vendas e estratégica competitiva da organização. Algumas inovações podem também ser difíceis de imitação pelos concorrentes, tais como inovações de diferenciação dos produtos, lançamento de produtos inéditos e desenvolvimento de tecnologias complexas (SCHERER E CARLOMAGNO, 2009).

De acordo com Drucker (1989), no processo de inovação, todas as áreas funcionais são importantes e conforme a inovação algumas áreas não relacionadas à P&D podem ter papel fundamental no desempenho do processo de inovação. As linhas que delimitam as contribuições internas (demais áreas funcionais) e externas (parceiros comerciais e organizações externas) às inovações são as vezes nebulosas e pode ocorrer sobreposição de atribuições conforme a natureza da inovação.

Parolin (2013) apresenta um estudo multicasos sobre atividades inovativas em organizações, sustentado no argumento de que para ser competitiva a empresa deve possuir estratégia baseada na inovação, o que requer capacidade interna e intensa transformação. Os resultados apontam para necessidade de encadeamento das atividades de inovação e de envolvimento de todos os funcionários da organização, não somente os que atuam em P&D. Segundo a autora, quanto maior o alinhamento entre estratégias de gestão e inovação, maior a probabilidade de melhor desempenho do processo de inovação.