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3. METODOLOGIA DE PESQUISA

4.1. RESULTADOS DA PESQUISA QUALITATIVA

4.1.2. Case MCA Desenvolvimento de Sistemas Industriais

A MCA Desenvolvimento de Sistemas Industriais foi fundada em 2005 e resultou da experiência profissional de dois jovens ex-funcionários da Fundação CERTI, em Florianópolis/SC e da necessidade dos laboratórios de metrologia de controle rigoroso da temperatura ambiental. A empresa desenvolveu um sistema em plataforma open source que permite acompanhar por intermédio da web/Internet a evolução da temperatura ambiental e de demandas decorrentes da variação da temperatura. Na ocasião, havia pouca disponibilidade de ferramentas em plataforma open source para aquisição de dados, controle e supervisão da temperatura ambiental.

Em 2007, a MCA Desenvolvimento de Sistemas Industriais se instalou na Incubadora MIDI Tecnológico do Sebrae/SC e foi graduada em 2010. Segundo depoimentos, essa vivência na incubadora foi relevante para viabilização e desenvolvimento da organização. Hoje, a empresa dispõe de 8 colaboradores, em sua maioria profissionais com formação em Engenharia, e atende a clientes de vários estados do Brasil. A MCA atua em diferentes áreas/segmentos de mercado, incluindo monitoramento de temperatura e umidade para cadeia do frio (saúde e alimentos), automação industrial (sistemas supervisórios e integração de sistemas), energia (sistemas de supervisão para eficiência energética) e smart buildings (sistemas supervisórios, telemetria e integração de sistemas).

No início das atividades, a MCA teve dificuldade de vendas em função da plataforma open source. A indústria nacional não estava acostumada a utilizar software livre e tinha preferência por soluções informatizadas fechadas. Havia também a desconfiança na continuidade do sistema e na disponibilidade dos serviços da organização. A solução encontrada foi agregar serviços ao software e criar mecanismos de receita recorrente, como o serviço de monitoramento dos dispositivos instalados. Atualmente, a MCA possui dois produtos principais: SENSORWEB e SCADABR; o primeiro automatiza o processo de leitura e controle de monitoramento da temperatura e umidade; enquanto o segundo envolve a elaboração de projetos específicos em plataforma open source em conformidade com a necessidade dos clientes. A MCA oferece também serviços de treinamento e consultoria para cada uma dessas soluções. Abaixo alguns depoimentos sobre a história da organização.

A MCA surgiu em 2005 [...] eu e o Vitor trabalhávamos juntos na Fundação CERTI. Eu trabalhava na área de TI e o Vitor trabalhava na área de instrumentação, na metrologia. Eu era responsável basicamente pelo data center, alguns servidores, trabalhava muito com software livre e ele era responsável pelo sistema de ar condicionado [...], lá que cuidava, tinha um rigoroso controle de temperatura por

causa dos laboratórios de calibração que tem lá (Sócio Proprietário e diretor

comercial, graduado em Engenharia em Controle e Automação Industrial).

[...] em 2007, a gente entrou na incubadora, no processo seletivo da incubadora e de lá pra cá a gente, basicamente, investiu muito com recurso próprio e fomento. A gente sempre buscou muito fomento, CNPQ e FINEP, pra desenvolver os produtos que a gente tinha em mente. Então o primeiro produto foi uma plataforma open source pra aquisição de dados e controle e automação, que é o SCADABR [...] (Sócio Proprietário e diretor comercial, graduado em Engenharia em Controle

e Automação Industrial).

Nossos produtos [...] o SCADABR e o SENSORWEB na verdade é uma solução, vamos dizer assim, mais de prateleira, tem um nicho específico. O SCADABR atende qualquer processo que tu medir, monitorar, supervisionar e construir telas para aquele processo. Então você vai desde um processo de manufatura, uma automação predial, automação residencial como o pessoal está usando [...] O SENSORWEB é [...] uma solução mais de prateleira, o cliente está bem definido, é uma área que a gente hoje tá trabalhando na saúde, área que tem legislação que obriga o pessoal a monitorar todo o ambiente onde você tem material, medicamento, substâncias que são perecíveis ao contato com temperaturas as vezes excessiva ou a própria temperatura ambiente (Sócio Proprietário e diretor comercial, graduado

em Engenharia em Controle e Automação Industrial).

Processo de inovação. Conforme depoimento do proprietário, a MCA percebe a inovação como fator fundamental do desempenho da organização. Ela entende a inovação como estratégia de diferenciação competitiva, principalmente em relação aos grandes competidores nacionais. Os atuais produtos da empresa (Scadabr e o Sensorweb) representam inovação radical tanto em nível do modelo de negócio como do produto. A oferta dos produtos em plataforma open source representa uma inovação no modelo de negócio e a automatização da mensuração de temperatura por intermédio da web/internet foi inédita no mercado.

Os dados coletados indicam, no entanto, que o processo de inovação na MCA é ainda informal e pouco estruturado. Os poucos mecanismos utilizados na gestão das inovações são ainda básicos e carecem de formalização e sistematização. As fonte de ideias para inovações são basicamente clientes, através das demandas de serviços, sugestões de melhorias e feedbacks do dia a dia. A MCA também monitora a evolução de determinados mercados e procura desenvolver soluções que atendam necessidades de clientes específicos (nichos de mercado). Na opinião do entrevistado, a empresa carece de estrutura de pessoal adequada no processo de inovações, mas as inovações dispõem escopo, objetivos e metas previamente definidas. A gestão de inovações ocorre basicamente por meio de reuniões periódicas de avaliação, que possibilitam também a atualização de escopo.

Na percepção da MCA Desenvolvimento de Sistemas Industriais, a sua estrutura (e porte organizacional) não permite melhor estruturação dos processos organizacionais, pois isso poderia engessar e/ou reduzir o desempenho dos recursos já limitados da organização. No momento, a empresa investe na separação da área de inovações em 02 equipes, uma focada

nas melhorias do Scadabr e outra nas inovações do Sensorweb. A área de engenharia, responsável pelas inovações, está também envolvida tanto no desenvolvimento de novos produtos como na operacionalização dos produtos existentes.

No processo de inovação, a MCA utiliza recursos públicos provenientes de agências de fomento (FINEP, CNPQ, FAPESC, PRIME), mas grande parte das inovações são financiadas com recursos próprios, de proprietários da organização. Hoje, a empresa acompanha diariamente os editais de financiamento de inovações abertos e busca ampliar a submissão de projetos e a participação dos recursos externos no financiamento das inovações. A empresa não tem também qualquer participação de investidores externos no desenvolvimento de inovações, embora exista negociações em andamento. A MCA entende também que o processo de inovação está na a cultura da organização e que não dispõe de política formal de incentivo à inovações.

A MCA utiliza parceiros externos no processo de inovação, incluindo a Fundação CERTI e a Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (ACATE). Os depoimentos indicam também que a empresa já teve falhas no processo de inovação e que no passado o desenvolvimento de inovações estava desalinhado em relação à demanda do mercado. Essas falhas dificultaram a consolidação do negócio, mas contribuíram para ampliar o conhecimento tecnológico e melhorar a gestão de inovações na organização. Hoje, a MCA busca criar rede de informações, desenvolver inovações a partir de demandas de usuários potenciais e criar produtos específicos, com escala de demanda desejada.

Segundo depoimentos, a expectativa da MCA para os próximos anos é consolidar os produto atuais e intensificar o crescimento da organização. A empresa pretende também estruturar melhor seu processo de inovação e aprimorar a gestão das inovações. Abaixo contém depoimentos sobre o processo de inovação da organização.

Para nós a inovação é fundamental [...] uma empresa do nosso porte só vai se diferenciar se for inovadora e tiver diferencial. Se eu for vender um produto de prateleira, eu estou morto. Se eu for vender o mesmo produto que um cara de uma empresa grande [...] eu não vou pra frente (Sócio Proprietário e diretor comercial,

graduado em Engenharia em Controle e Automação Industrial).

[...] o Scadabr é um sistema que existe há muito tempo, na verdade a inovação dele está no modelo de negócio, o open source. [...] está criando todo esse auê, burburinhos, contatos que a gente tem por ser open source. Quando alguém busca software livre, o Scadabr na internet acaba caindo na gente. Então no Brasil não tem ninguém fazendo [...] O Sensorweb é uma solução um pouco mais radical, não só pelo fato de automatizar o processo mas pelo fato de já disponibilizar ele na internet (Sócio Proprietário e diretor comercial, graduado em Engenharia em Controle

e Automação Industrial).

[...] hoje somos em dez pessoas, cinco engenheiros, uma administradora, uma cientista da computação, dois estagiários e um designer. A área de engenharia é o

foco da empresa. A gente acaba agregando, mesmo sendo um produto de prateleira... o diferencial é a engenharia por traz, principalmente a engenharia do processo (Sócio Proprietário e diretor comercial, graduado em Engenharia em Controle

e Automação Industrial).

Na gestão desse processo [...] a gente tem um backlog de funcionalidades, melhorias tanto para o produto quanto para o processo e isso vai sendo registrado. Isso entra nas atividades, vamos dizer assim, mensais que a gente prioriza. Então a gente hoje tem um sistema que lá tem todas as atividades que a gente vai colocando [...] A gente vai cadastrando tudo e tem uma pessoa responsável por priorizar essas atividades dentro do cronograma (Sócio Proprietário e diretor comercial,

graduado em Engenharia em Controle e Automação Industrial).

A gente já tem parcerias para prestar esse serviço aqui. Por exemplo, em São Paulo a gente tem uma empresa parceira que vai dar suporte local para nós lá. Então se precisar se deslocar até o cliente, fazer alguma coisa, a gente não precisa ter estrutura lá, tem um parceiro lá que tem conhecimento na área e ele vai prestar esse serviço para mim (Sócio Proprietário e diretor comercial, graduado em

Engenharia em Controle e Automação Industrial).

Avaliação do desempenho das inovações. Na MCA Desenvolvimento de Sistemas Industriais, o acompanhamento e controle do desempenho do processo de inovação ocorre também de maneira informal e não estruturada. Há deficiências no acompanhamento da evolução do negócio e das inovações. Basicamente, a empresa tem uma planilha no Google Docs onde disponibiliza em base mensal alguns dados/informações sobre o desempenho da organização e das inovações. Os indicadores básicos são: vendas, número de usuários, pontos instalados, acesso ao site e números de contatos recebidos. Não existem metas de desempenho ou crescimento estabelecidas. Na avaliação das inovações, a empresa utiliza o retorno dos clientes sobre desempenho e satisfação em relação as inovações.

Os dados coletados indicam que a MCA não está satisfeita plenamente com os resultados das inovações. Em termos financeiro, a empresa não tem ainda consolidado suas principais inovações e o produto Sensorweb está ainda sendo financiando pelo produto Scadabr. O retorno financeiro do Scadabr está também apenas começando e há poucas inovações que geram a margem de contribuição desejada. O Sensorweb não consegue custear nem a estrutura de pessoal necessária para operacionalização.

No processo de desenvolvimento de inovações, a MCA faz benchmarking sobre técnicas e tecnologias utilizadas, e tem como referências empresas internacionais na sua área de atuação. Ela realiza também testes de produtos-piloto com clientes potenciais para validação de produtos em desenvolvimento e para verificação dos detalhes finais antes da entrega. No entanto, a empresa pensa em reduzir esta prática à medida que seus produtos sejam testados e adquira clientes reconhecidos pelo mercado.

Segundo depoimento do proprietário, a MCA Desenvolvimento de Sistemas Industriais necessita de ferramentas e metodologia para aprimorar a avaliação do seu processo

de inovação. Alguns processos da organização (incluindo o processo de inovações) deveriam ser melhor definidos, a avaliação deveria ser formalizada e ocorrer com periodicidade definida. Hoje, grande parte desse processo está na cabeça de dirigentes e funcionários da organização. Uma das metas da MCA é aumentar o número de pontos de sensores instalados, realizar mensalmente esse acompanhamento e ampliar os documentos compartilhados entre funcionários. Abaixo contém depoimentos da organização sobre a avaliação das inovações.

Se pegar os faturamentos dos últimos dois, três anos foi meio estável, foi meio padrão, a gente cresceu muito pouco. Mas esse ano a gente está com um faturamento já para dobrar comparado com o ano passado [...] Hoje a gente realmente está ainda num momento de instabilidade, tanto em termos financeiros, tanto em termos de mercado [...] Ah! vendemos aqui, mas será que isso realmente gera escala? Não sei ainda, será que vai dar, vai escalar? Então a gente tem alguns questionamentos não respondidos ainda. Então temos que melhorar o produto para escalar? Também temos. Então tem umas coisas que a gente tem que melhorar internamente (Sócio

Proprietário e diretor comercial, graduado em Engenharia em Controle e Automação Industrial).

[...] sobre mensuração do retorno... nosso próximo passo é tentar mensurar isso [...] Qual a qualidade que o sistema trouxe? Porque se eu ficar só no gráfico de temperatura, eu vou ser só mais um, eu tenho que agregar outra coisa. Qual o tempo que ele ganhou nesse processo, quais as melhorias que ele ganhou no processo, quanto evitou de perda, se teve alarme e teve ação em cima daquele alarme, evitou perder alguma coisa? (Sócio Proprietário e diretor comercial, graduado em

Engenharia em Controle e Automação Industrial).

[...] na avaliação tem algumas entregas claras e ao longo do mês ele são definidas as atividades pontuais, que é priorizada pelo cliente. Então esse processo é, vamos dizer assim, não é nem sempre, as vezes, muito claro e ah! ele é mensal, as vezes ele leva dois meses ou um mês e meio, vai muito do andamento do projeto. Ah, a atividade levou mais tempo para entregar, para fazer a entrega, obviamente a próxima reunião com o cliente para as próximas atividades vai demorar mais... (Sócio Proprietário e diretor comercial, graduado em Engenharia em Controle

e Automação Industrial).

Facilitadores, dificultadores e sugestões. Os dados indicam que o processo de inovação da MCA Desenvolvimento de Sistemas Industriais tem fatores dificultadores e facilitadores. A empresa tem, por exemplo, dificuldade para obter recursos financeiros externos, necessita de mão de obra qualificada, tem falhas na gestão das inovação e carece de melhor registro/documentação das atividades de inovação. Quanto aos facilitadores, a empresa dispõe de grande interação entre a equipe de pessoal, realiza workshops periódicos para promover a troca de informações e as inovações em desenvolvimento utilizam a mesma plataforma tecnológica. Além disso, os clientes atuais contribuem na evolução das inovações, seja participando da experimentação ou fornecendo feedback à organização.

Como sugestão de melhorias, a MCA Desenvolvimento de Sistemas Industriais entende que o processo de inovação nas empresas de base tecnológica pode ser aperfeiçoado com workshops de inovação periódicos. Esses encontros podem auxiliar na análise,

estruturação, documentação e avaliação do desempenho das inovações da organização. Esse mecanismo serve para promover a troca de conhecimento, melhorar a integração da equipe e efetuar a documentação de procedimentos/atividades de inovação da organização. Abaixo contém trechos de depoimentos sobre fatores facilitadores e dificultadores da inovação na organização.

[...] acho que alguns processos poderiam ser melhor definidos. Alguns processos periódicos, pontuais para isso ficar mais claro ou até muitas vezes registrado. Isso está tudo na nossa cabeça hoje (Sócio Proprietário e diretor comercial, graduado

em Engenharia em Controle e Automação Industrial).

Hoje a gente realmente está ainda num momento de instabilidade, tanto em termos financeiros, tanto em termos de mercado, ah! se consolidar no mercado, ser referência [isso é um dificultador]. Ah! vendemos aqui, mas será que isso realmente gera escala? [...] a gente tem alguns questionamentos não respondidos ainda. [...] temos que melhorar o produto para escalar? [...] tem umas coisas que a gente tem que melhorar internamente (Sócio Proprietário e diretor comercial, graduado em

Engenharia em Controle e Automação Industrial).

O desenvolvimento pontual em algumas áreas ou em outras pessoas, operação com outro, mas rola bastante troca de informação assim [um facilitador]. Então, acho, não vejo esse problema em retroceder por causa de uma saída de alguém, eu acho que a equipe acaba assimilando bastante essa evolução (Sócio Proprietário e

diretor comercial, graduado em Engenharia em Controle e Automação Industrial).

[...] acho que essa questão dos workshop é uma coisa importante, eu acho que é uma coisa que a gente está fazendo que é legal. [...] isso é complicado, porque de certa forma trava também. Uma empresa que nem a nossa documentar tudo que a gente faz é interessante (Sócio Proprietário e diretor comercial, graduado em

Engenharia em Controle e Automação Industrial).